O crescimento populacional exigiu ao longo da história , a intensificação da produção agrícola , o que aconteceu pelo progressivo encurtamento no intervalo de abandono das áreas de plantio entre os períodos de cultivo . Na aurora da agricultura este intervalo ou pousio podia durar décadas , e proporcionava o “repouso ” necessário para a completa regeneração do solo . Um pousio reduzido significava maior produção por área , mas também progressiva degradação , tanto que alguns pesquisadores atribuem o desaparecimento de muitos povos à exaustão de suas terras . Assim teria acontecido com a Civilização Maia , com a Grécia antiga e com o Império Romano . Também os desertos da China, Pérsia, Mesopotâmia e o próprio Saara, seriam seqüela da devastação dos solos agrícolas . Outros pesquisadores , no entanto , entendem que não se deve exagerar o papel da influência humana . Com base em imagens de satélite que mostram o recuo do deserto em determinadas regiões do globo , afirmam que a natureza é muito mais poderosa e prevalece sobre as interferências da sociedade , que por sua vez , produziria apenas resultados regionais e aleatórios .
A desertificação não acontece apenas em regiões semi-áridas; estas, entretanto são , naturalmente mais propensas. Para Vasconcelos Sobrinho , “o equilíbrio ecológico instável que se observa nos espaços semi-áridos brasileiros torna-os suscetíveis à desertificação [...] um deserto atípico , diferenciado do típico deserto saariano , mas com as mesmas implicações de inabitabilidade”. Considerado uma das maiores autoridades em ecologia na América Latina , este pesquisador pernambucano alertava: “Surgida uma seca prolongada, ou operada uma intervenção inamistosa do homem , principalmente através de queimadas sucessivas, desmantela-se a estrutura ecológica precária e implanta-se o deserto ”. A partir de seus estudos a SUDENE identificou quatro “Núcleos de Desertificação ” em : Gilbués (PI ), Irauçuba (CE), Seridó (PB) e Cabrobó (PE).
O Ministério do Meio Ambiente avalia que o Nordeste brasileiro tem uma mancha quase do tamanho do estado de Sergipe afetada , em diversos graus , pela desertificação , e considera uma superfície dez vezes maior como “suscetível ”. Na Bahia, embora não haja nenhum “Núcleo de Desertificação ” na intensidade dos acima citados, existem áreas com evidências de progressiva aridização, como : a margem esquerda do Lago de Sobradinho, nos municípios de Remanso , Casa Nova , Pilão Arcado e Barra ; o Raso da Catarina; o oeste baiano ao longo de afluentes do rio São Francisco; áreas de restinga do litoral norte e áreas do nordeste do estado . Entretanto , a degradação verificada nestas áreas é considerada reversível . Assim como a ação humana provoca a “desertificação ecológica ”, pode fazê-la retroceder com reflorestamentos ou com sistemas agroflorestais e silvipastoris (culturas , árvores , pastagem e animais numa mesma área ), capazes de prolongar o equilíbrio cíclico de: chuvas – armazenamento de água no solo – transpiração vegetal - chuvas .
O que é apenas uma probabilidade estatística para os climatologistas, desenha para o sertanejo um cenário inquietador. Vivendo uma realidade já tão severa , é agora afligido pela possibilidade de um semiárido ainda mais seco .
- O sertão vai virar deserto ?
A pergunta acende debates que estão longe de uma conclusão . Enquanto seguem as pesquisas , só temos um caminho a seguir : o da precaução . Devemos contribuir para atenuar o “provável ” aquecimento , e, felizmente , muito podemos fazer neste sentido . Um recente trabalho coordenado pela FAO destaca o “grande potencial inexplorado ” de seqüestro e armazenamento de carbono nos solos sob pastagens dos sistemas pastoris e agropastoris das regiões secas . Devemos também , buscar a sustentabilidade e a preservação dos ambientes naturais , antes pela incontestável necessidade de preservar as riquezas naturais para as próximas gerações , independentemente de que a tese do “aquecimento global ” se confirme ou não . Quanto ao estado de espírito a adotar frente à incerteza do clima futuro , lembremos o que diz um ilustre criador de cabras do Cariri paraibano :
José Caetano Ricci de Araújo
Eng° Agrônomo e Produtor Rural
Ipirá – Bahia
Artigo publicadono jornal A Tarde em 28/08/2010.
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