RESUMO
Este trabalho analisou as séries temporais de precipitação e do número de dias de chuva na região
Nordeste do Brasil com o propósito de identificar as áreas mais susceptíveis às estiagens mais
prolongadas. Os dados utilizados neste estudo foram obtidos da Agência Nacional de Águas (ANA)
e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), para o período de 1935 a 2000.
Foram construídos mapas do coeficiente de variação e do número de dias chuvosos para os períodos
anual, seco e chuvoso. Os resultados deste trabalho permitiram concluir que os valores dos coeficientes
de variação da precipitação e do número de dias chuvosos no semiárido são maiores do que no litoral,
agreste e noroeste da região Nordeste do Brasil. Os maiores valores de coeficiente de variação são
associados aos menores valores de precipitação e do número de dias chuvosos. A variabilidade da
precipitação é maior no período seco do que no período chuvoso. A alta variabilidade da precipitação
e do número de dias de chuva são fatores limitantes na agricultura de sequeiro nas microrregiões
localizadas nas áreas semiáridas do Nordeste do Brasil.
Palavras-chave: coeficiente de variação, número de dias de chuva, períodos secos e chuvosos.
1. INTRODUÇÃO
A precipitação é uma das variáveis meteorológicas
mais importantes do ciclo hidrológico, pois influencia várias
atividades humanas, tais como, a agricultura, a pesca, a pecuária
e, principalmente, o abastecimento de água para o consumo
humano. Essa variável tem sido bastante estudada em diferentes
regiões do mundo em face de sua importância na manutenção
dos ecossistemas naturais, tal como na Guiana (Shaw, 1987);
Áustria (Ehrendorfer, 1987); Estados Unidos (Guttman et al., 1993; Arnaud et al., 2002); Iran (Modarres e Silva, 2007) e
Brasil (Chaves, 1999; Chaves e Cavalcanti, 2001; Silva et al.,
2003; Silva, 2004).
As secas se constituem num sério problema para a
sociedade humana e para os ecossistemas naturais (Dinpashoh
et al., 2004). Nesse sentido, diferentes metodologias têm sido
utilizadas para analisar a variabilidade da precipitação. Silva et
al. (2003) estudou a variabilidade da precipitação no Estado da
Paraíba com base na teoria da entropia. Dinpashoh et al. (2004)
encontraram coeficientes de variação (CV) da precipitação
pluvial no Iran variando entre 18% ao norte, onde se situam as
regiões montanhosas, e 75% no sul do país. Modarres e Silva
(2007) avaliaram a tendência da precipitação pluvial também no
Iran e observaram que o CV médio da região é 44,4%. Apesar
da precipitação média anual no Iran ser baixa, variando de 62,1
mm na estação de Yazd a 344,8 mm na estação de Shiraz, a sua
variabilidade é baixa. Resultados semelhantes foram obtidos
por Silva et al. (2003), quando analisaram a variabilidade
da precipitação no Estado da Paraíba com base na teoria da
entropia. Eles constataram que a variabilidade da precipitação
é menor nos locais e períodos com baixa pluviosidade, do que
no litoral e durante o período chuvoso no estado.
Como a variação sazonal da precipitação exerce forte
influência sobre as condições ambientais, muitos pesquisadores
vêm desenvolvendo estudos com base no número de dias
chuvosos (Brunettia et al., 2001; Seleshi e Zanke, 2004; Zanetti
et al., 2006;
Modarres e Silva, 2007). Brunettia et al. (2001)
observaram que o decréscimo no número de dias chuvosos na
Itália é mais significativo do que a redução dos totais anuais da
precipitação. Por outro lado, Silva et al. (2009), analisando a
variabilidade anual e intra-anual da precipitação e do número
de
dias chuvosos para o Estado da Paraíba, observaram que os
coeficientes de variação da precipitação e do número de dias
chuvosos nas microrregiões do Cariri, Seridó e Curimataú são
maiores do que nas estações localizadas nas microrregiões do
litoral, agreste e brejo paraibano. Com base no número de dias
com chuva (NDC) é possível se ter uma idéia da intensidade
da precipitação, pois ao se analisar a chuva em intervalos de
tempo distintos é possível identificar qual a sua intensidade e
variabilidade espacial em termos quantitativos e qualitativos
(Fischer et al., 2008).
A variabilidade da precipitação na região Nordeste do
Brasil exerce forte influência na agricultura de sequeiro, que
também é afetada pelas temperaturas elevadas e altas taxas de
evaporação registradas na parte semiárida (Silva et al., 2006). A
variabilidade intra e inter anual na precipitação é provocada por
diferentes sistemas atmosféricos que atuam na região Nordeste
(Silva et al., 2005), destacando-se os Vórtices Ciclônicos
em Ar Superior, Distúrbios Ondulatórios de Leste, Zona de
Convergência Intertropical, Zona de Convergência do Atlântico Sul e os Sistemas Frontais. Esses fenômenos influenciam
diretamente e indiretamente a ocorrência de chuvas sobre a
região do Nordeste do Brasil (Graef e Haigis, 2001; Silva,
2004; Andreoli e Kayano, 2007). Além disso, entre os eventos
meteorológicos no Atlântico Norte, geradores de ondas que
podem atingir o litoral do Brasil, estão os ciclones extratropicais
e os distúrbios africanos de leste (Innocentini et al., 2005).
A posição mais ao sul da Zona de Convergência
Intertropical, nos meses de março a abril, provoca acumulados
significativos de precipitação, e atinge sua posição mais ao norte
nos meses de agosto e setembro, no período mais seco do norte
do Nordeste (Graef e Haigis, 2001). Por outro lado, Chaves
(1999), com base em dados diários de precipitação, dados da
reanálise do NCEP e dados de TSM, observou que as anomalias
positiva e negativa de precipitação sobre o sul do Nordeste
são associadas, respectivamente, às fases positiva e negativa
do fenômeno ENSO. E, ainda, que essa associação pode se
dar diretamente através da variação zonal da célula de Walker
ou indiretamente através dos efeitos desta variação sobre as
condições atmosféricas da região Amazônica, ou ainda através
de teleconexões. O padrão chuvoso está associado à intensa
convecção sobre o leste da Amazônia e deslocamento da alta
da Bolívia (AB) para leste, escoamento em baixos níveis da
Amazônia para o sul do Nordeste e intensificação dos alísios de
nordeste sobre a costa setentrional da América do Sul. No padrão
seco verifica-se a AB a oeste da sua posição climatológica,
escoamento em baixos níveis direcionado da Amazônia para
latitudes ao sul e enfraquecimento dos alísios de nordeste sobre
a costa norte da América da Sul (Chaves, 1999).
A Zona de Convergência do Atlântico Sul geralmente
provoca chuva acima da média nas regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste do Brasil. Porém, quando ocorre uma variabilidade
na sua posição média, esse sistema pode ocasionar anomalias
de precipitação no sul da região Nordeste do Brasil (Chaves
e Cavalcanti, 2001). O conhecimento da variabilidade inter e
intra-anual da precipitação é bastante útil para vários propósitos,
inclusive na formulação de estratégias para a implantação de
culturas de sequeiro em regiões semiáridas. Dessa forma, o
presente trabalho tem como objetivo analisar a variabilidade
espacial da precipitação e do número de dias chuvosos na região
Nordeste do Brasil, com vistas à identificação das áreas mais
susceptíveis às estiagens prolongadas.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Localização da área de estudo
A região Nordeste do Brasil (NEB) está situada entre os
paralelos de 01° 02’ 30” de latitude sul e 18° 20’ 07” de latitude
sul, e entre os meridianos de 34° 47’ 30” e 48° 45’ 24” a oeste do meridiano de Greenwich. Essa região tem por limite ao norte e
ao leste o Oceano Atlântico; ao sul os