Por Fernando Flores Cardoso
Introdução
Introdução
O melhoramento genético é um instrumento de grande
importância para a pecuária de corte, através do qual os criadores podem
aumentar a eficiência de produção e a lucratividade de seus rebanhos, por meio
de princípios genéticos. A criação de animais geneticamente superiores permite
utilizar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis. A produção ou
desempenho de um animal depende basicamente de dois fatores: da genética, ou
seja, dos genes que o animal possui, e do ambiente de criação, incluindo
alimentação, sanidade, manejo, etc. Assim temos que:
P = G + A + G*A
(P =
produção; G = genética; A = ambiente, G*A = interação entre genética e
ambiente). Considerando estes dois principais fatores que afetam o desempenho
dos animais, podemos aumentar a produtividade melhorando a qualidade genética
(G) e melhorando o ambiente (A) de criação. Ambos os fatores são igualmente importantes
e devem ser trabalhados em conjunto. Por outro lado, a presença de interação
G*A indica que os animais geneticamente superiores não serão necessariamente os
mesmos em diferentes condições ambientais. Por exemplo, a melhor genética em
ambientes adversos de criação está associada a fatores de adaptação e
rusticidade, entretanto, animais com tais características não deverão ser os de
melhor resposta nos ambientes mais favoráveis, que demandam genética altamente
especializada e com grande potencial produtivo. Deve-se salientar que não
adianta possuir animais geneticamente superiores se a alimentação é pobre ou
ter bons recursos alimentares se os animais são inferiores, pois em nenhum dos
casos o resultado será satisfatório. O melhoramento das condições ambientais
pode produzir resultados mais expressivos em curto prazo, como, por exemplo,
quando o produtor raciona um grupo de animais, mas, em geral, possui um custo
mais elevado e não é permanente. Já o melhoramento genético, embora não tenha
um ganho tão expressivo em um curto espaço de tempo, apresenta ganhos
constantes, cumulativos e que não se perdem. Quando o criador melhora
geneticamente seus animais o aumento de produtividade é
permanente. Um rebanho
de desempenho e qualidade superiores é um patrimônio para o criador e pode ser
formado pelo melhoramento genético sem custos elevados e em qualquer nível de
alimentação. De forma geral, a estratégia mais sustentável é buscar animais com
características genéticas compatíveis com o ambiente de criação que o criador
possui, em vez de alterar o ambiente para atender as necessidades de animais
não adaptados às condições locais. Para o melhoramento genético, os dois
princípios mais importantes são a seleção e os sistemas de acasalamento. A
seleção tem por objetivo que os melhores animais sejam aqueles que deixam um
maior número de filhos na próxima geração. Por outro lado, através dos sistemas
de acasalamento é possível determinar como serão combinadas as características
dos animais selecionados e planejar cruzamentos para explorar a heterose ou
“vigor híbrido” e a complementaridade entre raças com características
diferentes. O objetivo deste texto é orientar os criadores de bovinos de corte
para que, através da seleção e do acasalamento de seus animais, promovam o
melhoramento genético de seus rebanhos e aumentem a produtividade de suas
empresas rurais.
1 – Alguns conceitos básicos de genética
O objetivo desta seção é apresentar resumidamente alguns
conceitos básicos de genética para facilitar o entendimento do texto
subsequente. O leitor interessado em mais detalhes nesses conceitos poderá
encontrá-los em livros de genética e melhoramento animal, como p. ex. Bourdon
(2000), Falconer e Mackay (1996) e Lynch e Walsh (1998). 1.1. Gene, alelo,
lócus, cromossomo e marcador genético: Os genes são as unidades fundamentais da
hereditariedade, pois através destes são transmitidas as características de
pais para filhos. Cada gene é formado por uma sequência específica de
nucleotídeos do DNA (ácido desoxirribonucléico) que contém a informação para
produzir uma determinada proteína ou controlar uma característica. Por alelo
entende-se as várias formas alternativas do mesmo gene, enquanto que lócus é o
local fixo (posição) em um cromossomo onde está localizado determinado gene. Os
cromossomos consistem de uma longa sequência de DNA, que contém vários genes, e
outras sequências de nucleotídeos com funções específicas nas células dos seres
vivos. Os cromossomos, assim como os genes, existem aos pares nos bovinos.
Finalmente, marcador genético é uma porção de DNA que tem sequência e posição
dentro do genoma conhecidas, possuindo ao menos dois alelos distintos
(polimorfismo). Os marcadores genéticos são frequentemente usados para
caracterizar a predisposição a doenças e os atributos produtivos e de qualidade
dos animais. 1.2. Fenótipo e Genótipo: O fenótipo é a produção ou aparência de
um animal. É a expressão observada ou aquilo que medimos nas várias
características dos animais. O fenótipo ou produção de um animal é influenciado
pelo ambiente e pelas informações genéticas que ele possui. Como exemplo,
podemos dizer que o fenótipo de um touro para peso ao sobreano é de 300 kg aos
550 dias de idade. A palavra genótipo pode ser empregada de diferentes formas -
veja Bourdon (2000). Quando se refere ao genótipo de um animal, representa o
conjunto de todos os seus genes – o seu potencial ou mérito genético – do qual
seus descendentes receberão uma amostra aleatória. De forma mais geral,
genótipo pode ser usado para referir grupos de animais de composição genética
semelhante ou do mesmo tipo biológico. Um exemplo é designar de "genótipos
adaptados aos trópicos", aqueles grupos ou raças de animais que possuem
combinações de genes favoráveis à tolerância ao calor, aos parasitas e à
radiação solar. Finalmente, de forma muito mais específica, podemos referir
como genótipo o par de alelos que o animal possui para um determinado gene,
como veremos nos itens 1.3 e 1.4 a seguir. O genótipo é fixado no momento em
que o animal é gerado e não se altera durante toda a sua vida. Do ponto de
vista do melhoramento genético, o foco é no genótipo em vez do fenótipo, pois
sua progênie será exatamente a mesma, independente de quão bem ou mal o animal
for alimentado. Veja que um touro que pese 300 kg aos 550 dias pode possuir e
passar aos descendentes genes que lhes permitam pesar 550 kg na mesma idade, se
a alimentação destes não for restrita. 1.3. Dominância e recessividade Os
alelos de um gene podem ser dominantes ou recessivos. Alelos dominantes se
sobrepõem e mascaram os efeitos de alelos recessivos. Um exemplo de dominância
ocorre na presença de chifres, e se acasalarmos um touro mocho da raça Angus
com vacas aspadas, a progênie
será toda mocha. Neste caso, o caráter mocho é
dominante e a presença de chifres é recessiva. Também em bovinos a pelagem
preta é dominante sobre a pelagem vermelha. Em alguns casos não existe
dominância entre os alelos e seus efeitos se somam, produzindo progênies
intermediárias. Na raça Shorthorn, se acasalarmos um animal de pelagem vermelha
com um de pelagem branca, a progênie será rosilha e, portanto, uma mescla das
duas anteriores. Também a maior parte da variação genética em características
quantitativas (pesos, ganhos de peso, perímetro escrotal, intervalo entre partos,
etc.) é devida a efeitos aditivos de um grande número de genes. Um exemplo de
dominância é apresentado na Figura 1, onde (B) e (b) são usados,
respectivamente, para representar o alelo dominante preto e o alelo recessivo
vermelho. Um macho homozigoto preto (BB) é acasalado com uma fêmea vermelha
homozigota (bb) para produzir progênie heterozigota (Bb) que será
fenotipicamente preta. O acasalamento entre estes heterozigotos produzirá
progênies pretas e vermelhas na proporção de 3:1. 1.4. Homozigotos e heterozigotos
Os animais podem ser homozigotos ou heterozigotos em relação ao par de alelos
de um determinado gene. No exemplo da Figura 1, o macho preto (BB) e a fêmea
vermelha (bb) são homozigotos em relação à pelagem, pois os alelos neste par
são iguais. Por sua vez, a progênieé heterozigota (Bb), pois os alelos do par
são diferentes. O acasalamento entre homozigotos produz progênie uniforme, já o
acasalamento entre heterozigotos produz uma gama de genótipos e fenótipos.
Usando o exemplo anterior, quando acasalamos entre homozigotos pretos (BB) ou
vermelhos (bb) a progênie será toda uniforme, idêntica aos pais. Contudo, se
homozigotos BB e bb são acasalados a progênie será toda heterozigota (Bb). O
acasalamento entre heterozigotos pretos (Bb) produzirá animais pretos (BB -
homozigotos e Bb - heterozigotos) e vermelhos (bb).
2 – Ferramentas para o melhoramento genético
2.1. Seleção A seleção é o processo de decidir quais
animais serão os pais da próxima geração. Se os animais mantidos ou adquiridos
para a reprodução possuírem um “valor genético” superior ao dos eliminados,