Magna Soelma Beserra de Moura
José Espínola Sobrinho
Thieres George Freire da Silva
1 INTRODUÇÃO
Conhecer a atmosfera do planeta Terra é uma das aspirações que vêm sendo perseguidas pela humanidade desde os tempos mais remotos. A partir do momento em que o homem tomou consciência da interdependência das condições climáticas e daquelas resultantes de sua deliberada intervenção no meio natural, como necessidade para o desenvolvimento social, ele passou a produzir e registrar o conhecimento sobre os componentes da natureza (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). A agricultura é uma das atividades econômicas mais dependentes das condições climáticas. Os elementos meteorológicos afetam não só os processos metabólicos das plantas, diretamente relacionados à produção vegetal, como também as mais diversas atividades no campo. Cerca de 80% da variabilidade da produção agrícola no mundo devem-se às oscilações das condições meteorológicas durante o ciclo de cultivo, especialmente, para as culturas de sequeiro, já que os agricultores não podem exercer controle sobre tais fenômenos naturais ( , 2009). A Agrometeorologia ou Meteorologia Agrícola é a área das Ciências Naturais que realiza o estudo das condições atmosféricas e suas interferências no meio rural, resultando em aplicação direta no planejamento e na tomada de decisões na agropecuária. De um modo geral, as variáveis meteorológicas que afetam o
crescimento, o desenvolvimento e a produtividade das espécies, principalmente das culturas agrícolas, são chuva, temperatura do ar, radiação solar, fotoperíodo, umidade do ar e do solo e velocidade e direção do vento (MONTEIRO, 2009). O Semiárido brasileiro é caracterizado por um conjunto de períodos com balanços hídricos negativos, resultantes da precipitação média anual inferior a 800 mm, insolação média de 2.800 horas por ano e umidade relativa anual média em torno de 50% (MOURA et al., 2007). Neste ambiente, onde o clima é uma das principais características, a ocorrência de secas e a precipitação concentrada em quatro meses do ano são determinantes para a sobrevivência das famílias, da produção agrícola e dos rebanhos. Dessa forma, este capítulo aborda os principais sistemas meteorológicos que ocasionam as precipitações no Semiárido brasileiro e traz um resumo dos mapas climáticos de chuva, evaporação, temperatura e umidade relativa do ar desse ambiente único no Brasil.
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2 SISTEMAS METEOROLÓGICOS RESPONSÁVEIS PELAS CHUVAS NO NORDESTE BRASILEIRO
O clima de qualquer região é determinado em grande parte pela circulação geral da atmosfera. Essa circulação resulta do aquecimento diferencial do globo pela radiação solar, da distribuição assimétrica de oceanos e continente e também características topográficas sobre este último. Padrões de circulação gerados na atmosfera redistribuem calor, umidade e momentum (quantidade de movimento) por todo o globo. No entanto, essa redistribuição não é homogênea, agindo algumas vezes no sentido de diminuir as variações regionais dos elementos climáticos, tais como, temperatura e precipitação, as quais têm enorme influencia nas atividades humanas (FERREIRA; MELLO, 2005). Do ponto de vista climático, a maior porção da região Nordeste do Brasil (NEB) é considerada semiárida por apresentar substanciais variações temporais e espaciais da precipitação pluviométrica e elevadas temperaturas ao longo do ano (AZEVEDO, 1998). Apesar das elevadas temperaturas registradas, as amplitudes térmicas máximas oscilam em torno de 6°C. Devido à localização no extremo leste da América do Sul tropical, a NEB está submetido a influencia de fenômenos meteorológicos que lhe conferem características climáticas peculiares, que a diferencia das demais
regiões semiáridas de todo o mundo (MOLION; BERNARDO, 2000). A
grande variabilidade no regime pluviométrico do Nordeste do Brasil é, em
parte explicada em função dos diversos fenômenos que influenciam a região. Segundo Uvo e Berndtsson (1996), quatro mecanismos governam o
regime de chuva da região NEB:
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que atua sobre o oceano
Atlântico é responsável pelas precipitações que ocorrem no centro norte
da região no período de fevereiro a maio. Os Sistemas Frontais ou Frentes
Frias (FF), que provocam chuva no centro sul do NEB, atuam nos meses
de novembro a janeiro. Já os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN)
que ocorrem na primavera, verão e outono (de setembro a abril), normalmente são mais frequentes no mês de janeiro. Por sua vez, os eventos El
Niño/La Niña/Oscilação Sul (ENOS), que são resultantes de alterações nos
valores da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no oceano Atlântico
(Dipolos), os Ventos Alísios e a Pressão ao Nível do Mar (PNM) exercem influência nos padrões re chuva no NEB com maior ou menor intensidade a depender da localização dos estados na região. Além desses mecanismos, podem-se destacar, também, as ondas de leste, que são responsáveis
pelas chuvas no leste do NEB entre maio e agosto; a atuação das Linhas de Instabilidade (LI), dos Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM)
(FERREIRA; MELLO, 2005), e o efeito das brisas marítima e terrestre na
precipitação. Em função destes fenômenos que influenciam a origem e a formação das precipitações pluviométricas na Região pode-se afirmar que o Nordeste Brasileiro possui pelo menos cinco regimes pluviométricos diferentes, conforme descritos abaixo e apresentados na Figura 2:
Regime pluviométrico de Quixeramobim: onde as maiores precipitações ocorrem nos meses de março e abril e se originam, principalmente, pelo posicionamento da Zona de Convergência Intertropical;
Regime pluviométrico de Salvador: as maiores precipitações se verificam em abril e maio r são originadas das Ondas de Leste;
Regime pluviométrico de Olinda: as maiores precipitações ocorrem em maio e junho e, como no regime de Salvador, dependem das
Ondas de Leste;
Regime pluviométrico de Caetité: as maiores precipitações ocorrem em novembro e dezembro e são resultantes das Frentes Frias
vindas dos Polos;
Regime pluviométrico de Remanso: as maiores precipitações
ocorrem em dezembro e janeiro e podem ser originadas por vários
mecanismos como: as Frentes Frias vindas dos Polos e os Vórtices
Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN).
Os principais sistemas que originam e influenciam as chuvas no Nordeste brasileiro são descritos a seguir:
- Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)
É considerado o sistema gerador mais importante de precipitação sobre a região equatorial dos oceanos Atlântico, Pacifico e Índico, assim como sobre áreas continentais adjacentes. Esse sistema é visualizado em imagens
de satélite como uma banda de nuvens convectivas que circunda a faixa equatorial do Globo Terrestre, formada principalmente pela confluência dos ventos alísios dos hemisférios Norte e Sul (CAVALCANTI et al., 2009).
De maneira simplista, pode-se dizer que a convergência dos ventos faz com
que o ar quente e úmido ascenda, carregando umidade do oceano para os
altos níveis da atmosfera ocorrendo a formação das nuvens.
A ZCIT é o sistema meteorológico mais importante na determinação de quanto serão abundantes ou deficientes as chuvas no setor norte do NEB. Normalmente, a ZCIT migra sazonalmente de sua posição mais ao norte, aproximadamente 14ºN em agosto-setembro para posições mais ao sul, aproximadamente 4°S em março-abril. A ZCIT é mais significativa sobre os oceanos e por isso, a Temperatura da Superfície do Mar (TSM) é um dos fatores determinante na sua posição e intensidade. Eventos significativos de chuvas no Nordeste brasileiro ocorrem com mais frequência em anos
em que a ZCIT atinge posições extremas ao sul do Equador, por isso diz-se
que a ZCIT é o principal mecanismo responsável pelas chuvas que ocorrem
no norte do NEB, durante sua estação chuvosa principal, entre fevereiro e
maio (FERREIRA; MELLO, 2005).
- Sistemas Frontais ou Frentes Frias
É outro importante mecanismo causador de chuvas no NEB que está
ligado à penetração de Frentes Frias vindas do polo sul (FF) e que chegam
a atingir até as latitudes tropicais entre os meses de novembro e janeiro. As
frentes frias são bandas de nuvens organizadas que se formam na região de confluência entre uma massa de ar frio (mais densa) e uma massa de ar quente (menos densa). As FF são facilmente identificadas nas imagens de satélite e geralmente se deslocam de sudoeste para nordeste sobre o continente e oceano Atlântico adjacente. Algumas vezes, estas alcançam latitudes muito baixas sobre
o oeste da Amazônia e também ao longo da costa NEB, interagindo com o
ar quente e úmido tropical, produzindo chuvas fortes sobre o continente, no
litoral NEB (CAVALCANTI et al., 2009).
- Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN)
Os VCAN que atingem a região NEB são sistemas meteorológicos caracterizados por centros de pressão relativamente baixa que se originam na
alta troposfera e se estendem até os níveis médios, dependendo da instabilidade atmosférica (CAVALCANTI et al., 2009). Formam-se no oceano Atlântico, entre os meses de outubro e março, e sua trajetória normalmente
é de leste para oeste, com maior frequência entre os