Jurandir Melado |
Por: JURANDIR MELADO
Engenheiro Agrônomo - Consultor
Engenheiro Agrônomo - Consultor
O
enfrentamento dos problemas relacionados ao aquecimento global e as
ações para atenuar as suas causas e conseqüências serão provavelmente a
primeira grande luta a envolver toda a humanidade, independente de
raças, credos ou nacionalidades.
O
aquecimento global, considerado até pouco tempo assunto exclusivo da
comunidade científica (e para muitos, de ficção científica), tornou-se
hoje tema de interesse geral, sendo discutido em todas as esferas, com
os “vilões” se revezando no interesse dos estudiosos e da mídia. Os
efeitos aparecem por toda parte; do derretimento de geleiras em todo o
mundo ao furacão “Catarina”, ocorrido no Brasil em março de 2004, que
tornou necessário re-escrever os livros de ciência que diziam: “É
impossível haver furacões no Atlântico Sul” (Gore, 2006).
Recente
relatório da FAO “Livestock’s long shadow” (Longa sombra da pecuária)
colocou a produção pecuária mundial como uma grande vilã, colocando-a
quanto a produção CO2 (ou equivalente), acima do sistema mundial de
transportes, consumidor voraz dos combustíveis fósseis. Este relatório
descreve em detalhes o impacto da criação de animais, ruminantes ou não
sobre o aquecimento global.
Os
valores se apresentaram assim tão elevados, por incluir no total não só
todas as espécies animais da porteira para dentro, como também toda a
cadeia produtiva da pecuária, incluindo o transporte, grande consumidor
de energia fóssil. A realidade, porém é que a pecuária tem mesmo grande
responsabilidade pelo aquecimento global, começando pelo desmatamento e
queimada de florestas para o estabelecimento de pastagens e chegando à
produção de metano pela fermentação ruminal e a fermentação anaeróbica
dos dejetos.
O
principal estrago ocorre na hora do desmatamento e queimada, já que a
queima de cada hectare de floresta, com 250 T de matéria seca, lança ao
espaço 500 T de CO2. Com a posterior lavra do solo para a agricultura,
ocorre a “queima” da matéria orgânica reduzindo seu teor. Supondo uma
redução de 3,50% para 1,5%, são mais 80 t de CO2 lançados no ar.
A
fermentação ocorrida no rumem de um bovino de corte em pastejo, produz
de 40 a 70 kg/animal/ano de metano (CH4), gás que tem um “efeito estufa”
25 vezes mais potente que o CO2., resultando entre 1 e 1,7 t/animal/ano
de CO2 equivalente. No processo metabólico dos ruminantes, perde-se na
forma de metano, de 2% (rações concentradas) a 18% (pastagem de má
qualidade e baixa proteína bruta) da energia bruta fornecida pelos
alimentos. Sendo um valor aceito como médio, em torno de 6% (Primavesi,
2007).
A fermentação ocorrida no rumem de um bovino de corte em pastejo, produz de 40 a 70 kg/animal/ano de metano (CH4), gás que tem um “efeito estufa” 25 vezes mais potente que o CO2. |
Em
sistemas com confinamento intensivo, onde a dieta pode chegar a 90% de
alimentos concentrados, a produção de metano poderá ser reduzida para 2%
da energia bruta ingerida. Porém, ocorre a transferência do problema
para a área agrícola, produtora dos grãos. Estas áreas, quando ocorrem
problemas de arejamento (compactação ou encharcamento) e o aporte de nitrogênio, sejam
pela adubação mineral, orgânica ou mesmo pela fixação biológica,
resultando em presença de nitratos, o óxido nitroso (N2O) que é 250
vezes mais eficiente na retenção de calor (efeito estufa) que o CO2.
Outro problema sério das criações intensivas (confinadas) de animais é a
grande quantidade de dejetos produzidos, cuja fermentação anaeróbica produz o metano.
Visto que a produção de metano não pode ser dissociada da pecuária e que a atividade pecuária não pode ser suprimida nem mesmo reduzida, o que então poderá ser feito, para reduzir os seus efeitos no aquecimento global? Muita coisa pode e está já sendo feita! Porém numa escala que ainda longe da desejável e necessária! Já existem tecnologias capazes de mitigar os efeitos da pecuária sobre o aquecimento global, algumas delas capazes mesmo de transformar a pecuária de vilã, em heroína, contribuindo para o seqüestro de carbono atmosférico.
Na
realidade, o aumento da camada de gases de efeito estufa é apenas uma
das causas do aquecimento global. Esta camada de gases funciona apenas
como um cobertor, que não tem a capacidade de aquecer, mas sim de
conservar o calor do corpo, neste caso a Terra.
Na realidade, o aumento da camada de gases de efeito estufa é apenas uma das causas do aquecimento global. |
Um
solo sem cobertura vegetal ou com cobertura escassa, como ocorre com as
pastagens degradadas ou em regime de super-pastejo, são verdadeiros
espelhos devolvendo calor ao espaço na forma de ondas longas ou radiação
infravermelha. Em todo o mundo existem muitas áreas que emitem calor em
excesso (acima de 300 W/m2), contribuindo para o aquecimento global. No
Brasil estas áreas se concentram no Semi-árido Nordestino e agora
lamentavelmente também nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, em que a
cobertura vegetal permanente foi substituída por culturas que não
conseguem manter folhas verdes o ano todo e com isso o serviço ambiental
de vaporização de água no ar (e que retira calor do ar), atendendo a
demanda atmosférica. Para deixar mais claro, o que queima mais a sola do
pé descalço às 13h da tarde, com o mesmo sol a pino: a areia