Kepler
Euclides Filho - Embrapa Gado de Corte
Geraldo
Ramos de Figueiredo - Embrapa Gado de Corte
1. Introdução
Analisando-se
a pecuária de corte de regiões tropicais percebe-se que a produção de bovinos
com esse propósito vem sendo baseada, de modo geral, em genótipos de origem
zebuína ou com grandes proporções de genes de animais Bos indicus. Além da relação direta com o clima, essa
predominância pode ser creditada a várias razões, algumas das quais contaram ou
ainda contam com a participação proposital do homem. Dentre elas, válida
especialmente para o continente africano e Índia, podemos destacar a que diz
respeito à presença de animais dessa espécie, quer sejam nativos por origem, ou
mesmo introduzidos há centenas de anos, e portanto, totalmente adaptados; a
segunda razão é resultante de introduções de animais dessa espécie seguida de
cruzamentos absorventes. Nesse caso, grande parte do sucesso, pelo menos o
inicial, fundamentou-se, muito
possivelmente, nos benefícios da heterose obtida
com os primeiros cruzamentos e provavelmente, na combinação fortuita de efeitos
genéticos aditivos importantes. Um dos maiores exemplos dessa situação pode, de
modo geral, ser observado na América Latina Tropical e, particularmente, no
Brasil onde a presença de bovinos de origem européia já era constatada nas
primeiras décadas após seu descobrimento. Esses animais e seus descendentes,
oriundos de cruzamentos ou não, tiveram e têm importância fundamental na
ocupação, no desbravamento, na colonização, na alimentação, no trabalho, no
transporte, enfim, no desenvolvimento do país. Mais recentemente, além de
continuarem marcando presença, passaram a se constituir em importantes
componentes de uma cadeia produtiva de fundamental importância social e
econômica para diversos países localizados em regiões tropicais e subtropicais.
Provavelmente, a definitiva introdução do Zebu indiano no Brasil tenha ocorrido
por volta de 1903, a partir de observações e estudos realizados pelo
Zootecnista Joaquim Carlos Travassos, citado por Santhiago, A.A (1986).
Utilizando-se, principalmente, do periódico Tropical Agriculturist
surpreendeu-se com o fato de os ingleses, colonizadores do Ceilão, não tivessem
introduzido ali um só exemplar das raças inglesas, povoando o país apenas com
gado indiano. Posteriormente, concluiu que na Índia existia inúmeras raças de
gado com boa conformação para peso e produção de leite, que, embora não
pudessem rivalizar com as raças européias, melhoradas ha mais de séculos, tinha
a vantagem incontestável da grande rusticidade e a resistência aos principais
parasitos presentes em nossas condições de clima mais ou menos semelhantes às
das regiões de origem. Pode-se concluir, a partir das
observações dos estudiosos da época, que as raças zebuínas deixavam a desejar
nos aspectos produtivos quando comparadas às européias que, entretanto, não se
adaptavam às condições médias do clima tropical. Um século depois, e
principalmente nas duas últimas décadas, as diferenças de desempenho
produtivo
entre as raças continuam existindo, mas se estreitaram de forma significativa,
como resultado dos trabalhos de criadores isolados, associações, instituições
de ensino e pesquisa, de técnicos em geral e a mudança de filosofia em
julgamento de animais que, além das características raciais, passaram a dar
importância aos aspectos relacionados à produtividade. Estas ações têm
contribuído efetivamente para a melhoria genética dessa espécie resultando em
aumento da produtividade final do setor. A busca por genótipos adaptados às
nossas condições médias de clima e com características produtivas semelhantes
aos dos animais europeus, provenientes de processos de seleção seculares, é um
anseio antigo e exacerbado nos dias de hoje em função das mudanças que vêm
ocorrendo na economia mundial com reflexos em todos os setores da economia,
particularmente no da pecuária de corte. Segundo Euclides Filho & Cezar
(1995), as dificuldades de se incorporarem novas áreas ao processo produtivo; o
fortalecimento do Mercosul a competitividade de outras carnes e a necessidade
de estruturar sistemas de produção que sejam produtivos e sustentáveis,
induziram profundas mudanças no perfil tecnológico da pecuária de corte. Neste
novo cenário, todo e qualquer empresário da pecuária de corte, para se manter
no negócio, deve tornar a atividade competitiva, eficiente e eficaz. Dentro
desta nova perspectiva, o uso de cruzamentos entre Bos taurus e Bos
indicus deve ser analisado como forma de se aumentar a produção e a produtividade de carne de qualidade em nossas condições. Diversos trabalhos, dentre eles, os de Euclides Filho et al. (1994); Rosado et al. (1991a); Norte et al. (1993); Silva & Pereira (1986); Filten et al. (1988); Manzano et al. (1986); Ribeiro & Lobato (1988); Alencar et al. (1994); Barcellos & Lobato (1992), indicam melhores desempenhos de animais mestiços em relação aos puros. Apesar disto, o uso desta ferramenta como forma de se obter melhorias no segmento da pecuária de corte, tem sido motivo de controvérsias: no passado, provavelmente devido à não observância do adequado ajuste do binômio genótipo ambiente, uso de programas sem objetivos definidos, mão-de-obra e infra-estrutura inadequadas, o não atendimento das maiores exigências nutricionais de animais com maiores potenciais de desempenho, etc. fizeram que muitos produtos mestiços fossem, pejorativamente, denominados “tucuras”. Atualmente, ao lado destes entraves que, ainda não foram totalmente resolvidos pelos diversos segmentos da cadeia produtiva, surgiram outras ameaças aos mestiços; os criadores de animais puros zebuínos modernizaram seus critérios de seleção priorizando características de importância econômica, como fertilidade, qualidade de carne, ganho de peso, rendimento etc. e passaram a utilizar de programas de seleção modernos e eficientes. Como resultado, observamos o grande incremento em produtividade obtido pelos Zebu, constituindo, também, em alternativa segura para os produtores comerciais. Além disto, a colocação na indústria frigorífica de uma grande quantidade de animais mestiços provenientes de outra atividade, animais estes, sem as características desejáveis para corte, causaram certa retração no mercado de mestiços, desestimulando os criadores que utilizam de cruzamento industrial para produzir carne de qualidade de forma eficiente. Dentro deste cenário, a decisão de adoção desta ferramenta , mais do que nunca, deve ser
indicus deve ser analisado como forma de se aumentar a produção e a produtividade de carne de qualidade em nossas condições. Diversos trabalhos, dentre eles, os de Euclides Filho et al. (1994); Rosado et al. (1991a); Norte et al. (1993); Silva & Pereira (1986); Filten et al. (1988); Manzano et al. (1986); Ribeiro & Lobato (1988); Alencar et al. (1994); Barcellos & Lobato (1992), indicam melhores desempenhos de animais mestiços em relação aos puros. Apesar disto, o uso desta ferramenta como forma de se obter melhorias no segmento da pecuária de corte, tem sido motivo de controvérsias: no passado, provavelmente devido à não observância do adequado ajuste do binômio genótipo ambiente, uso de programas sem objetivos definidos, mão-de-obra e infra-estrutura inadequadas, o não atendimento das maiores exigências nutricionais de animais com maiores potenciais de desempenho, etc. fizeram que muitos produtos mestiços fossem, pejorativamente, denominados “tucuras”. Atualmente, ao lado destes entraves que, ainda não foram totalmente resolvidos pelos diversos segmentos da cadeia produtiva, surgiram outras ameaças aos mestiços; os criadores de animais puros zebuínos modernizaram seus critérios de seleção priorizando características de importância econômica, como fertilidade, qualidade de carne, ganho de peso, rendimento etc. e passaram a utilizar de programas de seleção modernos e eficientes. Como resultado, observamos o grande incremento em produtividade obtido pelos Zebu, constituindo, também, em alternativa segura para os produtores comerciais. Além disto, a colocação na indústria frigorífica de uma grande quantidade de animais mestiços provenientes de outra atividade, animais estes, sem as características desejáveis para corte, causaram certa retração no mercado de mestiços, desestimulando os criadores que utilizam de cruzamento industrial para produzir carne de qualidade de forma eficiente. Dentro deste cenário, a decisão de adoção desta ferramenta , mais do que nunca, deve ser
precedida de criteriosa
análise do sistema de produção e dos diversos segmentos componentes da cadeia
produtiva. A heterose é, e continuará sendo, uma importe forma de melhoria dos
índices produtivos, porém, não pode ser indicada com solução eficiente para
todos os sistemas de produção, principalmente para o Brasil, país de dimensões
continentais e, consequentemente com grandes diferenças climáticas. As
indicações do uso de cruzamentos devem ser reorientadas no sentido de
demonstrar suas vantagens em ambientes propícios com o foco principal na
produção de carne de qualidade, sem contudo, desmerecer as demais vantagens que esta ferramenta pode
oferecer quando centrada em projetos bem elaborados.
2. Principais trabalhos de cruzamentos realizados no Brasil.
2.1. Cruzamento Absorvente
PRODUTOS BRS |
3.
Cruzamentos visando formação de novas raças.
3.1. O Indubrasil
Com o aumento do efetivo zebuíno, obtido por importações ou através de cruzamentos absorventes e as dificuldades de novas importações de gado da índia impostas pela Peste bovina, os criadores da época, principalmente os do Triângulo Mineiro, passaram a buscar novas alternativas de melhoria dos planteis existentes. Observaram, então, que os produtos oriundos de acasalamentos entre raças, apresentavam melhores desempenhos de pesos, ganhos de peso e precocidade, uma conseqüência benéfica dos efeitos da heterose. Segundo Santiago, A.A.(1975), desses acasalamentos, a princípio desordenados, surgiu um novo tipo, de pelagem geralmente branca ou cinza, orelhas muito grandes, cupim e
Com o aumento do efetivo zebuíno, obtido por importações ou através de cruzamentos absorventes e as dificuldades de novas importações de gado da índia impostas pela Peste bovina, os criadores da época, principalmente os do Triângulo Mineiro, passaram a buscar novas alternativas de melhoria dos planteis existentes. Observaram, então, que os produtos oriundos de acasalamentos entre raças, apresentavam melhores desempenhos de pesos, ganhos de peso e precocidade, uma conseqüência benéfica dos efeitos da heterose. Segundo Santiago, A.A.(1975), desses acasalamentos, a princípio desordenados, surgiu um novo tipo, de pelagem geralmente branca ou cinza, orelhas muito grandes, cupim e
barbela bem desenvolvidos. O desconhecimento dos
padrões das raças zebuínas e as dificuldades de distinguir os Zebus puros de
mestiços de alta cruza com gado europeu levaram a maioria dos criadores a darem
maior importância a animais com as características deste novo grupamento, ou
seja, com barbela e umbigos avantajados, cupim volumoso e orelhas grandes e
pendulosas. Esta era a forma de se diferenciar Zebu de europeu. Os trabalhos de
formação e seleção da nova raça ocorreram com mais intensidade na região de