27 de nov. de 2011

PLANTAS FORRAGEIRAS PARA O SEMIÁRIDO


Por: Francisco Beni de Sousa
Pesquisador da Embrapa Caprinos
 
Búfel, Urochloa, Icó e árvores nativas
A Pecuária do Nordeste depende, basicamente, da pastagem nativa que teve a capacidade de suporte reduzida em decorrência do manejo inadequado da vegetação apresentando consequentemente baixo desempenho. Contudo, o potencial para elevar a produção animal é amplo, principalmente através da manipulação da vegetação e/ou através do uso de pastagens cultivadas ou de pastagens com propósitos específicos (legumineiras, capineiras, cactáceas, etc.).
Búfel e Urochloa
Resultados obtidos por vários pesquisadores, mostraram que o uso racional de plantas forrageiras adaptadas e selecionadas é viável e que essas forrageiras combinadas com a pastagem nativa permitem aumentar a eficiência da produção animal no Nordeste brasileiro..
Existem várias forrageiras que são recomendadas e devem ser usadas na formação de pastagens cultivadas e com propósitos específicos para a alimentação animal, especialmente na região semi-árida.
Leucena
Para formação de pastagens cultivadas podem ser usadas as gramíneas dos gêneros Cenchrus, Cynodon, Andropogon e Urochloa. O capim-búfel (Cenchrus ciliaris) possui várias cultivares desenvolvidas na Austrália (Biloela, Gayndah, Molopo), e no Brasil (Áridus e CPATASA 7754) além de ecotipos existentes na Bahia e Norte de Minas Gerais.
Guandu
O capim-gramão (Cynodon dactylon) apresenta excelentes características agronômicas, sendo uma boa opção para a formação de pastagens
cultivadas, para o enriquecimento de pastagens nativas, e para a produção de feno. O capim-Andropogon (Andropogon gayanus) cv. Planaltina e o capim-Corrente (Urochloa mosambicensis) também se constituem como opções para a formação de pastagens cultivadas.
Milheto
Na formação de banco de proteína ou legumineira, a leucena é uma das forrageiras mais promissoras para a região semi-árida, principalmente pela capacidade de rebrota durante a época seca, pela adaptação as condições edafoclimáticas do Nordeste e pela excelente aceitação por caprinos, ovinos e bovinos.
Cunhã
O uso da leucena em banco de proteína  para pastejo direto ou para produção de forragem verde, para produção de feno e de silagem,  para o enriquecimento da pastagem nativa e da silagem  de  gramíneas,  e para a produção de sementes, mostra-se como uma alternativa viável para a agropecuária. Outras leguminosas, tais como o guandu (cultivar Taipeiro) e a cunhã também podem ser usadas na

20 de nov. de 2011

O TAMANHO DA VACA DE CORTE E A PRODUÇÃO DE BEZERROS


A utilização de fêmeas F1 para produção de bezerros tem se tornado prática cada vez mais comum nos sistemas de produção do país. As principais razões dessa tendência são as possibilidades de exploração da maior precocidade sexual e da heterose materna (bezerros mais pesados à desmama) que essas fêmeas podem apresentar.

Existem inúmeras raças para cruzamento industrial, e todas com características muito boas, porém muitas destas produzem animais de grande porte, conseqüentemente aumentando o peso adulto das fêmeas. Além do mais, por muitos anos, e ainda em algumas propriedades, têm sido selecionados animais de grande porte.

Porém, o aumento do peso adulto, segundo revisão feita por Olson (1994), levará a uma redução da eficiência reprodutiva. Neste contexto, Olson (1994) descreve dois trabalhos nos quais os objetivos foram avaliar diferentes pesos adultos (pequeno, médio e grande) no desempenho reprodutivo do rebanho.


Em um primeiro estudo, analisou o desempenho de raças compostas (Bos taurus) de diferentes raças, porém com peso adulto diferente, por três estações de monta, em 2 propriedades. Todas as novilhas foram inseminadas para primeira parição com cerca de 2 anos de idade, descartando as novilhas ou vacas que não concebiam. Os resultados são apresentados na tabela 1. Para os dois parâmetros reprodutivos estudados, percentagem de fêmeas ciclando e taxas de nascimentos, observou-se maiores valores para fêmeas de menor tamanho (P<0,05), tanto na 1a estação de monta (EM) / parição (novilhas), como nas demais (2a e 3a).
Tabela 1: crescimento e desempenho reprodutivo de fêmeas de diferentes tamanhos adultos

O autor relata que as diferenças foram mais pronunciadas no sistema onde a estação de nascimento era no outono, ou seja, em período de menor disponibilidade de alimentos. Neste caso, as vacas de maior tamanho adulto apresentaram taxas de nascimento e de ciclicidade 20% menor que os animais com tamanho adulto pequeno. Em situações adversas de alimentação, vacas de menor tamanho adulto teriam melhor desempenho, principalmente pelas menores exigências de mantença destes animais. Após três anos de observações, as relações entre as vacas que permaneceram no rebanho em relação

14 de nov. de 2011

O BOM CALOR TROPICAL

 Por: Manoel Dantas Vilar Filho (Dr Manelito)
Não temos um terço do tempo sob friagens radicais e neves espessas. O zootecnista inglês T. R. Preston (1977) num ensaio designado "Estratégia para produção de bovinos nos Trópicos", garantia que "... os trópicos oferecem possibilidade de rendimento por unidade de área e de viabilidade econômica, que superam em muito as perspectivas atuais e mesmo futuras dos países de clima temperado". Adiante, criticando: ".... as crenças ensinadas nos compêndios de Zootecnia sobre a especialização de bovinos para produzir leite ou carne", propõe que se confie"... sobretudo na função do rúmen" e não se ponham os animais a competir com o Homem pelo consumo de cereais e, por fim, afirma que "... já que necessitamos tanto de carne como de leite, a base de toda a estratégia pecuária racional é considerar as duas produções conjuntamente", fundamentando a genética de dupla aptidão.
A não ser para a pequena parte irrigável artificialmente, onde produzimos qualificadas frutas, existe um triste contraste entre as realidades - boas e más - da zona seca e os mecanismos institucionais de lidar com elas, desde o Ensino/Pesquisa até a política de produção e Assistência.
A chamada Civilização do Couro foi a fase mais próspera da economia nordestina. Técnicos argentinos, falando sobre o Chaco Seco de lá (1980) - que tem a mesma extensão que o nosso Polígono das Secas, afirmam: "... de acordo com nossa experiência, quanto mais seca a região, sempre que se disponha de pasto e água, tanto maior é a produção pecuária. E mais: "... estamos em condições de afirmar que todo plano puramente agrícola nestas regiões está, de antemão, condenado ao fracasso. O risco das colheitas é demasiado grande para ser a base da exploração". 
O Brasil, com o Nordeste seco bem incluído tem a vocação e o destino de ser, também, a grande nação agropecuária, sobretudo pecuária, do mundo. Basta neutralizar mentes coloniais e ter a dignidade de estabelecer uma política decente de financiamentos rurais, calcada em parâmetros tecnicamente corretos e ajustados para cada região fisiográfica. Tomando o Brasil como referência para pensar o Brasil e a peculiar semiaridez do Nordeste para o Nordeste.
O Nordeste é seco. O inverno é um pequeno intervalo de tempo entre dois estios que, às vezes, se emendam. A grande vocação das terras secas é pecuária de ruminantes e isso já começa a ser considerado, graças a Deus. Por mais óbvia que seja, quase sempre é preciso repetir uma mesma idéia até cansar! Há uma dramática não-decisão em relação à semi-aridez do Nordeste. Os moradores do semi-árido são credores do Brasil.
À medida que se está ideologicamente revogando a "filosofia da água", do "combate à seca" - a água passando a ser buscada para resolver o problema da sede, o uso primordial e sem alternativa que água tem e não o da fome, como "fator de produção" excludente, e vai clareando o caminho técnico-cultural-político de viver em sintonia com a Natureza desse mundo áspero, bonito, possível e mal tratado do sertão das águas desarrumadas, a pecuária de múltipla função, sobre vegetais perenes, integrada por bovinos, caprinos e ovinos, bem adaptados ao ambiente, recriará a civilização do couro em novas bases e o semi-árido poderá se transformar, também do ponto de vista da produção e da prosperidade, num belo pedaço do Brasil. A raça das plantas, como a raça dos animais, para cada latitude é um fator fundamental.
O semi-árido - Por uma perniciosa deformação cultural, em larga medida, brasileiros ainda se mantêm com o umbigo e a mente, presas do estrangeiro, como que cultiva um complexo de inferioridade, colonial, negativo, menor. Um estadista paraibano - João Suassuna - já escreveu num documento de Governo (1926): "somos um povo sugestionado pela política inferior do decalque". No trabalho na terra, essa anomalia se

6 de nov. de 2011

A MÁFIA APOCALÍPTICA DO CARBONO


 Quando se fala sobre o semi-árido logo vêm a nossa memória as reportagens sobre o efeito estufa, desertificação seqüestro de carbono entre outros presságios malignos que nos remetem ao apocalipse.
Parece que falar do fim do mundo como autopromoção é uma coisa nova  pois, assustar as pessoas e provocar pânico à sociedade desinformada é sempre motivo de chamar atenção. Na verdade, desde a época dos antigos egípcios feiticeiros e bruxas já faziam previsões de destruição. Vale lembrar as dez pragas do Egito, e olha que eles andavam a pé, seriam o efeito das emissões de gases das chaminés das pirâmides?
 Em quase todas as civilizações do mundo narrações apocalípticas sugerem uma origem comum e ancestral que foi sendo deturpada pela transmissão oral. Esta visão assume por vezes, um caráter ecológico, ao propor que a mensagem do apocalipse se refere à capacidade que o homem civilizado tem para destruir o mundo.
Sendo assim, a milhares de anos alguns privilegiados detinham informações que as utilizavam conforme a sua necessidade para amedrontar a grande turba de desinformados que, por muitas vezes pagavam  altos tributos através de sacrifícios e oferendas a seus sarcedotes para que estes aplacassem a ira dos deuses .Por esse motivo não me causa surpresa em ver muita gente hoje em dia utilizar-se desse expediente para ganhar destaque na mídia prevendo cataclismas desertificadores para o nosso nordeste.
Não duvido do poder do homem em piorar as coisas, mas também não posso duvidar da capacidade que o ser humano tem para se reerguer e vencer desafios. Conheço propriedades no semi-árido totalmente destruidas por uma má gestão e utilização de técnicas erradas e logo alí do outro lado da cerca seu vizinho tirando leite, fazendo queijo e ganhando dinheiro. A mesma terra o mesmo clima, e qual a diferença? Simplesmente conhecimento técnico específico.
Estudar o semi-árido respeitar as suas limitações. Investir em técnicas simples mas, de efeito. A idéia é unir todas as informações sobre o semi-árido em um só modelo. Especializar nossos agrônomos, zootecnistas e veterinários para resolver os  assuntos do sertão. Então o sertanejo ficará esperto  quando em algum site, jornal ou tv, um vidente moderno de paletó e gravata  sentado confortavelmente em seu apartamento de cobertura de frente para o mar, tentar se projetar na mídia rogando pragas e ameaças sobre o futuro do sertão. Em vez de se preocupar com a ira dos deuses apocalípticos é bem mais abençoado e saudável arregaçar as mangas e partir para a ação. E que deus nos proteja.

Cezar Mastrolorenzo
Fazenda Tombador – Itatim-Bahia
(Produtor Rural)

Pensamento do mês