17 de out. de 2020

A VIDA NAS FAZENDAS

Extraído do livro: 
A Moderna Agropecuária - O drama da sua evolução
2ª edição – 1993 Gilberto Moraes
(Prefácio de Gilberto Freyre)

Houve, em todas as épocas, uma atávica idealização super valorativa da vida dos campos a alimentar a nostalgia que dela sente uma boa parte de citadinos. Se os prazeres e o conforto crescente dos centros urbanos concorrem para o abandono e depreciação da vida campestre, por outro lado os inconvenientes e as amarguras da concorrência, o congestionamento das ruas, das praias, do comércio, do transporte, a massificação, a saturação de uma promiscuidade sufocante num clima de competição dolorosa, tudo isso faz pensar na largueza dos horizontes rurais como o doce refúgio do indivíduo da tirania do coletivizante ambiente das cidades. 
Não creio que seja muito elevado o número daqueles que se deixem seduzir totalmente pelas atrações urbanas a ponto de não se lembrarem com saudade ou inveja, em nenhum momento, de uma paisagem campestre. Sei que existe e conheço muita gente incapaz de dormir uma só noite numa
...verdadeira fobia à solidão, ao silêncio...

fazenda, possuída de uma verdadeira fobia à solidão, ao silêncio, e que só se sente em segurança e à vontade em meio ou próximo à multidão, ouvindo os ruídos familiares do organismo comunitário. 
Há também os que têm horror à poeira das estradas e os demasiados comodistas para os quais o campo lembra um esforço físico maior que o cos­tumeiro, uma caminhada mais longa, o exercício mais violento de montar a cavalo, um cotejo inglório com o vaqueiro ou com a camponesa. A mecanização e o automatismo da vida das cidades disfarçam e até estimulam as deficiências físicas, a preguiça mental e muscular, a volúpia das escadas rolantes e dos televisores. 
Posso imaginar que o homem da rua se sinta mais que desprotegido no campo. Inibe-se, paralisa-se. E que ele se acha condicionado pelo hábito da propaganda e do policiamento, dos quais já é um robô. Em casa, o citadino é instruído pelo rádio e TV, sobre as compras de que precisa (em nossa sociedade de consumo ele precisa cada vez mais de coisas) e na rua as regras do trânsito o levam com uma presença que se acentua progressivamente. 
Nada revela melhor a contraste que o sofrimento do homem do campo quando vai à cidade. Mesmo apreciando as maravilhas, ele se sente molestado; dorme mal, sufoca na prisão e acaba regressando antes do tempo, com verdadeira sensação de alívio.  
Acredito que no futuro se inverta o rumo do êxodo que se observa hoje do campo para a cidade. A descentralização rural acaba se impondo à centralização urbana. Imperativos de saúde pública forçarão o aperfeiçoamento das técnicas dos serviços coletivos, prescindindo-se da concentração de usuários, como ainda da construção de moradias que deverá sofrer uma revolução completa. A residência do futuro parecerá mais uma casa de campo que um apartamento. 
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Na era planetária, em que o mundo se transforma, segundo Mc Luhan, numa aldeia global, a diferença entre cidade e campo, que era de espaço-tempo, se reduz consideravelmente. A Europa, que não embarcou na aventura do arranha-céu, talvez se ajuste sem maiores dificuldades ao conceito de moradia do porvir, que implicará de certo numa desverticalização.
A meu ver as cidades se tornarão menos densas, se espichando até se encontrarem, constituindo uma superfície povoada contínua. Numa sociedade de consumo em massa, assistiremos ao dimensionamento mundial da indústria, dos serviços, com uma interligação orgânica dos seus sistemas e uma distribuição e circulação econômica que não permitirão espaços geográficos vazios. 
Até lá, e para ajudar a chegar, o homem do campo terá de treinar bastante para desempenhar tarefas muito importantes e que exigirão uma diversificação de qualidades superior à do citadino Até aqui foi possível desenvolver uma região e abandonar outras. Agora, só há um conceito de crescimento: o harmônico. Nunca a cidade dependeu tanto do campo quanto nos dias de hoje. Todo o país precisa despender um esforço enorme para integrar o campo no mesmo ritmo do progreso urbano.
A primeira dificuldade  é levar o homem da rua a conhecer a realidade dos sertões, fazendo-o perder as ilusões quanto à abundância de tudo e as facilidades da vida naquelas paragens. E se convencer de que, quando uma garrafa de leite está custando menos que uma de água mineral, quem está empobrecendo é o país e o pecuarista é quem está sofrendo a injustiça. 
Uma revista norte-americana enumerou as vantagens de se morar no campo. Estar fora do alcance das poeiras industriais, do excesso de ruído, das restrições dos eventuais racionamentos de gêneros, dos bombardeios em caso de guerra, dos rigores de uma ocupação militar. Além disso, não se precisa de propaganda para vender o que se produz tendo-se preço e mercado garantido. Esta última vantagem é muito relativa em nosso país, pois o tabelamento e as ameaças de importação aviltam os preços, espoliando os produtores. 
Mas, ainda assim, a vida nas fazendas oferece aspectos fascinantes. Vive-se um pouco daquilo de que, em geral, todos gostam. Faz-se pioneirismo e, mesmo quando não se experimenta algo inédito, se descobre coisa nova ou se ocupa terra virgem, a rotina sempre oferece um sabor de aventura.
De uma doença generalizada em nosso tempo é
certo que o campo é um refúgio: às neuroses.

A intimidade com
a natureza favorece muito a emoção criadora do homem, renovando-o em cada trabalho campestre, como se todos os dias fossem diferentes. 
A construção de uma casa, de um simples galpão, de uma ponte, a fundação de uma lavoura dão ao camponês uma alegria mais intensa e mais consistente que ao citadino qualquer obra mesmo mais importante. O homem massa das concentrações urbanas jamais conhecerá a alegria e a liberdade do centauro dos pampas nem do rei das montanhas. Um arranha-céu poderá ser um palácio em saudáveis alturas, mas não perderá nunca o caráter de lar coletivo e, de certo modo, de uma prisão. 
Em vez da multidão, um belo rebanho de ovelhas brancas ou um rodeio de pampas ou uma tropilha de tordilhos. Caminhar alcançando o horizonte sem fim em vez das congestionadas calçadas com filas, faixas de segurança e a ameaça constante do tráfego. Sõ no mar e no campo se tem necessidade de binóculos. 
Na planície ou na serra, o homem está mais perto de si mesmo, mais consciente da sua dignidade. Na rua ele é fragmento da alma coletiva, molécula da onda humana que se agita. Conheci vários doentes à espera da morte que exigiram quartos de hospital dos quais se ouvisse bastante barulho de gente. Homens da cidade com terror à solidão e que se avizinharam da pior de todas porque desconhecida. 
Uma grande fazenda bem organizada ostenta um pouco do fascínio de um quartel posto avançado da civilização, em meio do deserto e de uma fábrica. A televisão num lugar assim é uma festa. O homem do campo está sendo o maior beneficiário da tecnologia que, entretanto, resultou da aglomeração urbana.
Mas, essa paz bucólica, tal clima de estímulo para uma personalidade criadora, para unia imaginação fecunda, precisa ser aproveitada para um trabalho mais nobre ainda, de alto rendimento cientifico e técnico. O apogeu da antiga da antiga agroindústria açucareira nordestina, a dos engenhos e banguês, criou um clima de cultura estimulante, do qual resultou uma elite que dominou uma quadra da nossa história
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política. Ainda hoje em alguns engenhos remanescentes, se encontram bibliotecas riquíssimas, denotando o bom gosto e o elevado grau de conhecimento da época. Atualmente, com a evolução da pesquisa e da ciência agrícola, os fazendeiros deveriam enriquecer suas bibliotecas, criando um ambiente e uma tradição de cultura para os filhos e empregados de mais categoria. A tecnificação dos campos assim o exige.
Há em São Paulo, Minas Gerais, no Rio Grande do Sul e outros Estados fazendas com magníficas bibliotecas e que são realmente usadas pelos donos.
A influência que exercem é

1 de set. de 2020

Unidades Animal Tropicais (UAT)

conceito de Unidade Animal Tropical (UAT) constitui um método conveniente para quantificar uma grande variedade de tipos e tamanhos de animais domésticos de uma forma padronizada
O que são as UATs ?
Para um certo número de utilizações há a necessidade de usar uma unidade comum para descrever os efetivo de diferentes espécies com um único número que expresse a quantidade total de gado presente - independentemente da composição em espécies.
Para fazer isto, desenvolveu-se o conceito de "Quociente de Troca", com o qual diferentes espécies de diferentes tamanhos médios podem ser comparadas e descritas em relação a uma unidade comum. Esta unidade é 1 Unidade Animal Tropical (UAT).
Têm sido usados vários métodos para obter os quocientes de troca entre espécies, mas nenhum satisfaz completamente.
Diferentes
fórmulas para calcular UATs têm sido usadas em diferentes partes do mundo, dependendo das variedades de gado mais comuns (p.ex. 1 UAT = 1,0 camelos; Bovinos 0,7; Ovinos/Caprinos 0,1). Contudo uma fórmula para calcular UATs desta maneira é incapaz de servir para diferentes variedades de gado - que podem variar consideravelmente em tamanho - e é, portanto necessária uma abordagem diferente.
Se o alimento consumido é razoavelmente semelhante para as duas espécies que estamos a comparar, o quociente de pesos metabólicos proporciona o melhor meio de comparação. Esta relação expressa o fato de que as espécies menores produzem mais calor e consomem mais alimento por unidade de tamanho corporal do que os animais maiores (Heady, 1975).
A taxa metabólica basal (consumo de energia por unidade de peso corporal por unidade de tempo; i.e., kcal calor/peso/dia) varia como uma função de uma potência de expoente fraccionário do peso corporal, que se determina habitualmente como o peso corporal elevado a 0,75. A perda de proteína pelo corpo varia também de acordo com uma potência fraccional semelhante do peso corporal e presume-se que está relacionado pela mesma exponencial do peso corporal.
Sistema digestivo
Em condições de pastoreio dependentes dos recursos, o consumo voluntário médio de alimento entre as espécies é notoriamente semelhante, cerca de 1,25 vezes as necessidades de manutenção (1 para manutenção, 0,25 para produção = crescimento, reprodução, leite, etc.). O peso metabólico é portanto considerado como a melhor unidade para agregação de animais de diferentes espécies, quer seja para calcular o alimento total consumido, o estrume produzido, ou a produção de produtos finais.
UATs e Quocientes de Troca
O padrão utilizado para uma Unidade Animal Tropical é um bovino com 250 kg de peso corporal.
As caixas 1 a 3 apresentam os quocientes de troca para animais com diferentes pesos corporais em Unidades Animal Tropicais com base no peso metabólico. Mostram que 5 ovinos ou caprinos de 30 kg consumirão tanto como 1 vaca de 250 kg. Da mesma maneira, dois búfalos com cerca de 425 kg consumirão tanto como 3 bovino de 250 kg. No entanto, falando de forma estrita, estes podem ser comparados quando as diferentes espécies consomem o mesmo alimento, o que não se verifica com frequência.
Quocientes de Troca para espécies pecuárias em Unidades Animal Tropicais com base no Peso Metabólico Corporal
Utilização
das Unidades Animal Tropicais
Alguns pontos devem ser tidos em atenção quando usamos as UATs:
No que respeita à pressão de pastoreio existem diferenças entre as espécies quanto ao seu comportamento pastar/tosar e na forma de preensão dos alimentos que irão alterar os quocientes de troca. O número óptimo de animais de cada espécie numa pastagem depende da quantidade de erva e de material para tosa disponíveis, não do número total de UATs e da biomassa total
Por exemplo, existe pouca competição entre os que pastam e os que tosam e existe portanto pouca base para trocas. Em consequência, 0,4 por ha referentes a bovinos apenas pode constituir sobrepastoreio enquanto que 0,5 UAT por ha de bovinos, ovinos e caprinos pode ser sustentável.
As espécies diferem em comportamento de pastoreio e forma de preensão do pasto - produzindo diferentes oportunidades de aproveitamento da vegetação (ver também espécies). Por exemplo, quando a densidade de alimento é baixa (início da estação das chuvas, pouca vegetação nos pousios, início da renovação das gramíneas perenes, etc.) os ovinos podem encontrar alimento suficiente para crescimento. Para bovinos a densidade equivalente será ainda demasiado baixa mesmo para a manutenção. Os camelos podem tosar em níveis mais elevados do que as cabras, enquanto que as cabras podem tosar entre as rochas e nos declives acentuados, sendo os camelos incapazes de alcançar
alimento nestes locais.
O impacto do pastoreio e tosa na composição da vegetação é diferente. O pastoreio repetido dá origem a mais tosa e a tosa repetida dá origem a mais pastagem (Staples e col., 1942). O pastoreio precoce pelos ovinos pode reduzir a produção de erva - principalmente quando a época de crescimento é curta. Isto pode reduzir a disponibilidade de alimento para os bovinos, mais do

1 de ago. de 2020

Fazenda Carnaúba - PB

SINDI - Gado Vermelho para o Semiárido por Paulo Roberto Miranda Leite e Alberto Alves Santiago

Desde 1943, Manoel Dantas Vilar Filho vem trabalhando e selecionando raças zebuínas para produção de leite, no semiárido dos Cariris Velhos da Paraíba, em sua Fazenda Carnaúba, no município de Taperoá. Inicialmente, o criador havia experimentado o Indubrasil, mas verificou que "*as novilhas tinham parição tardia, davam menos leite e a mortalidade era mais alta. Com o Nelore, acabou o leite e a mansidão e na geração seguinte acelerou o processo de encabritamento do gado, que pouco resistia à seca. Como Gir, obteve o menor porte e o mais lento ganho de peso entre as raças estudadas". Convenceu-se que somente uma pecuária de dupla função (carne e leite), com rusticidade superlativa, pode constituir a solução do problema rural nordestino. Voltou-se, então para o gado Guzerá de Cantagalo, de que se tornou um dos continuadores do trabalho do pioneiro Cel. João de Abreu Júnior, formando um excelente rebanho, de alta produtividade. A região em que vive apresenta os inconvenientes e dificuldades do semiárido, onde chove em média 149 mm/ano. Por isso, o selecionador teve de organizar sua fazenda racionalmente, dotando-a de todas as instalações necessárias e mais adequadas ao sistema de trabalho. Construiu um grande armazém para estoque de feno e introduziu no campo, gramíneas australianas, principalmente, o capim Buffel biloela (Cenchrus ciliares) e o Urochloa (Uruchloa mosambiensis (Hack) Dandy cv. Nixon. Graças à sua providencia, o gado venceu os cinco anos de intensa seca, de 1979 a 1983, recorrendo ao feno, palhas, sabugo, restos de
Adega D

cultura e ureia. Tomando conhecimento do gado Sindi introduzido no Brasil, Manoel Dantas Vilar procurou, em 1979, conhecer a raça vermelha, dada a sua aptidão leiteira. Passada a seca, em dezembro de 1983, adquiriu nove fêmeas de um criador de Pernambuco e para servi-las, dois reprodutores da EMEPA-PB, do lote trazido do Instituto de Zootecnia de São Paulo, todos de origem de Camargo. Em 1985, com a consultoria técnica de Geraldo Oliveira, médico veterinário, conhecido como Geraldo Caboclo, escolheram e adquiriram diretamente de José Cezário de Castilho, 52 fêmeas e, em maio de 1985, mais 51, perfazendo um total de 103 matrizes, escolhidas na cabeceira do gado, além de dois touros. Para servi-las conseguiu da EMEPA-PB mais dois machos oriundos do gado puro de origem do
Manoel Dantas Vilar Filho (março 2010)

Pará. Agora Manoel Dantas Vilar chegou à situação de só poder usar reprodutores de seu próprio rebanho, com base no controle leiteiro e na eficiência reprodutiva. Disse-nos Dantas Vilar: "o gado importado em 1952 é da maior importância, porquanto foi possível através dele obter maior homogeneização, maior rusticidade e maior produção leiteira no gado Sindi antigo". Referia-se aqui ao rebanho de Novo Horizonte, descendente dos importados em 1930. O plantel é objeto de observações cuidadosas e permanentes, quanto à aptidão leiteira, fertilidade, habilidade maternal, peso ao nascer, desenvolvimento ponderal e características raciais. Quanto a este ponto notou-se a perfeita uniformidade do numeroso rebanho, que examinamos em companhia de José Cezário de Castilho. Verificou-se que a idade ao primeiro parto tem variado de 28 a 32 meses, em função das secas. Em 1990, choveu 124 mm; em 1992 choveu 202 e 120 mm,
respectivamente. Os anos de 1990 e 1995 foram os mais secos, desde 1915, quando choveu apenas 15 dias, conforme registro antigo da Fazenda. O intervalo entre partos tem variado de 13,2 a 15,4 meses nesses anos todos. Toda a vacada é submetida ao controle leiteiro, inicialmente pela ABCZ e depois pelo Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba. As fêmeas que não alcançaram os limites estabelecidos são apartadas para a venda, dando origem a novas criações. O controle leiteiro foi iniciado em maio de 1987 e prosseguiu com regularidade até o presente, abrangendo 310 lactações, conforme verificado pelas cópias de todas as folhas do livro de registro. Foi observado que 43 lactações superaram 3.000 kg de leite; 33 ultrapassaram 3.255 kg e 13 vacas produziram acima de 3.500 kg. Houve 17 produções acima de 16 kg dia de leite; o leite de 174 vacas apresentou mais de 5% de matéria graxa, nos 310 controles, confirmando a qualidade de leite gordo das raças zebuínas, sempre superior aos das raças taurinas. As maiores produções de leite foram da reprodutora Galeria, com 4.339 kg em 330 dias, com média diária de 13,14 kg; enquanto Fantasia produziu 3.951 kg, em 294 dias, com média diária de 13,43 kg, revelando a elevação constante da produtividade do rebanho, em uma década de trabalho seletivo.
Manoel Dantas Vilar Filho (março de 2010)
O rebanho atual da Fazenda Carnaúba é constituído de 626 cabeças, entre adultos e novos, todos inscritos no Registro Genealógico. Ë o maior e melhor rebanho leiteiro Sindi do país, apesar da venda de 229 fêmeas parideiras a vários criadores, originando novos plantéis. Surpreendente prolificidade.

 


6 de jul. de 2020

A Entrada Oficial da Raça Sindi no Nordeste


(Artigo publicado por Leite (1991a), no Jornal Correio da Paraíba - retirado do livro: Sindi: O Gado Vermelho para o Semiárido)
A história da raça Sindi no Nordeste começou na Paraíba, quando em 1980, Virgolino de Farias Leite Neto, Diretor do Registro Genealógico da ABCZ no Estado, após contatos com o Embaixador do Paquistão, em Brasilia, DF, conseguiu vasto material da Universidade de Karachi sobre esta raça além de fazer contato pessoal com o Sr. José Cezário de Castilho em São Paulo, presidente da Associação Brasileira de Criadores da Raça Sindi e maior criador de Sindi do país. Na época, trabalhava-se com duas raças zebuínas para seleção leiteira, o Gir de Umbuzeiro-PB e o Guzerá de Cruz das Almas-BA, que já havia sido transferido pela Embrapa para a Paraíba. Foi discutida sempre a possibilidade de se introduzir a terceira raça leiteira zebuína na Paraíba. A universidade Federal da Paraíba, através do Centro de Ciências Agrárias de Areia, com intermediação de Virgolino de Farias Leite Neto e aprovação de técnicos daquele centro e da própria reitoria e com a disposição do Sr. José Cezário de Castilho de firmar um núcleo da raça Sindi no Nordeste, estabeleceram um convênio de Parceria Pecuária, para transferência de um grupo de animais da raça Sindi para avaliação no semiárido, no Campus da UFPB, em Patos, Sertão da Paraíba. O contrato foi assinado em 24 de janeiro de 1980. Em 20 de março de 1980, a Gazeta de Lins-SP publicava notícia sobre comissão de técnicos paraibanos, que a serviço da UFPB, escolheram lote da raça Sindi, e que era formada por Francisco Pereira Mariz (UFPB), Paulo Roberto de Miranda Lelte (Embrapa) e Virgolino de Farias Leite Neto (SR-ABCZ). Os animais foram: 2 touros (Veado e Balaio), 2 vacas com cria (Paladina e Fátia II) e 18 fêmeas (Capela, Ibitinga, Armanda, Dengada Frasqueira, Aliada, Eleição, Candidata, Poesia, Freta, Legislatura, Bissetriz, Duquesa, Aba, Aeronave, Astuta, Alvorada e Baiuca), todas registradas na ABCZ.
Em 1968, o autor estagiou na Estação Experimental de Ribeirão Preto do I.Z. de São Paulo, quando conhecemos os trabalhos que ali eram conduzidos com a raça Sindi para seleção leiteira, sob a orientação do Dr. Alberto Alves Santiago, então Diretor do Instituto de Zootecnia. Em 19 de março de 1980, de passagem pela Estação Experimental de Colina-SP tomou conhecimento da disposição
do Governo do Estado de São Paulo em desativar os trabalhos com a raça Sindi. Através de exposição de motivos endereçada à Secretaria da Agricultura e Abastecimento, a quem a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba está vinculada, fez-se proposta sobre a importância e oportunidade de negociar a transferência do rebanho ou parte dele.
Em 21 de março de 1980, foi conseguido do Governo do Estado da Paraíba, documento oficializando o pedido dos animais que se encontravam em Colina-SP. Em 16 de setembro de 1980, o Governo de São Paulo concordava com uma permuta e assim vieram para a EMEPA-PB, dois touros (Valor e Zebrado), 12 vacas (Tanali, Vaqueta, Turquia, Tara, Unção, Upa, Vacaria, Urca, Usura, Tijuca, Turquesa e Taberna), provenientes da seleção que o Instituto de Zootecnia vinha realizando há 20 anos, com animais da importação de 1930, cedidos do Sr. José Cezário de Castilho e da importação do Dr. Felisberto de Camargo em 1952, através da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", de Piracicaba. Foi recebido o que melhor havia da seleção do I.Z., porém, os animais não estavam mais sendo registrados pela ABCZ, devido às mudanças administrativas naquele instituto.
A partir de 1980, criadores particulares entusiasmados com o que viam em Patos-PB (UFPB) e Riacho dos Cavalos-PB (EMEPA-PB), onde exemplares da raça Sindi demonstravam excelente adaptação ao meio ambiente do semiárido, justamente nas regiões mais áridas do Estado, estabeleceram contatos com o Sr. José Cezário de Castilho e com criadores de outros Estados e, assim, foram formados vários rebanhos, com destaque ao da Fazenda Carnaúba, em Taperoá-PB, do Sr. Manoel Dantas Vilar Filho. Merecem destaques hoje na Paraíba, também os rebanhos do Sr. Pompeu Borba em Campina Grande-PB, da Organização Saulo Maia, em Areia-PB, e do Sr. Mário Silveira, em Mogeiro-PB, além de diversos núcleos em formação.
Em 1982, em visita ao National Dairy Research Institute (NDRI) no Karnal, India, para conhecimento dos trabalhos com as raças Sindi, Sahiwal e Tharparkar, deparamo-nos com um trabalho de alto nível técnico e administrativo, com os rebanhos sendo acompanhados há mais de 25 anos por equipes técnicas bem preparadas e com um grande número de informações e trabalhos cientificos publicados sobre os animais daquele Centro de Pesquisa. Trabalhavam também com raças leiteiras de Búfalos e na formação de uma raça ou tipo leiteiro do cruzamento do Sahiwal com a raça Parda Suiça, que chamavam de "Karan Swiss". Os animais da raça Sindi que pertenciam àquele Centro, como das demais raças, eram submetidos a um manejo racional e os trabalhos visavam à
produção leiteira. A surpresa maior foi verificar-se quando da visita ao Pará, nas Estações Experimentais da Embrapa, a semelhança entre os exemplares do Kamal, India e aqueles remanescentes da importação do Dr. Felisberto de Camargo, em 1952.
Em 1984, após nosso retorno da India, quando foram analisados os resultados de diversos trabalhos sobre o desenvolvimento ponderal da raça Sindi na Índia e no Paquistão e surgiu a oportunidade de participar de várias Exposições no Brasil, verificou-se a inviabilidade de se manter uma equivalência de pesos entre as raças Sindi e Gir. O resultado era conhecido; exemplares da raça Sindi não entravam nas Exposições por apresentarem sempre pesos abaixo da tabela (a tabela oficial de pesos da raça Gir foi adotada para a raça Sindi). Em 1984, publicou-se um trabalho sobre a "Equivalência dos limites mínimos de pesos das raças Gir e Sindi" (Leite & Santos, 1984), e como resultado, a tabela sugerida foi homologada pelo Conselho Técnico da ABCZ e a partir da 52." Exposição Nacional do Gado Zebu de Uberaba, em 1986, foi a mesma incorporada no regulamento, permitindo assim uma participação efetiva da raça em todos os eventos realizados no país, incentivando os antigos e novos criadores a mostrarem seus animais, sem preocupação de transformarem a raça em um tipo de corte.
Em 1988, após várias negociações com a Embrapa, conseguiu-se autorização para escolher um lote de animais originários da importação de 1952, do Dr. Felisberto de Camargo e que se encontravam sob responsabilidade do Centro de Pesquisas Agropecuárias do Trópico Úmido (CPATU) e UEPAE de Belém, ambos da Embrapa, no Estado do Pará. Esta transferência representou o mais importante acontecimento para a raça Sindi na Paraíba e no Nordeste. Eram os exemplares mais puros que existiam da raça no Brasil e, após 4 anos de negociações, Vlagens, escolha e transporte dos animais, o projeto foi concretizado e, hoje, estes animais se juntaram aos que vieram do Instituto de Zootecnia de São Paulo, formando o melhor núcleo puro dessa raça no Brasil. Foram 4 touros (Abutilo, Bravo, Bando e Condor) e 30 fêmeas, sendo 4 paridas. Constitui um núcleo de animais que deveria ser assumido pelos órgãos de pesquisa, como material genético em preservação, podendo concomitantemente ser avaliado nas condições do semiárido nordestino. Entre a UFPB e a EMEPA-PB, existem mais de 200 animais da raça Sindi em constantes observações, constituindo-se numa das melhores reservas genéticas da pecuária bovina da região.



13 de mai. de 2020

O SINDI - CRIAÇÃO DE BOVINOS - DORCIMAR C. MARQUES


Raça Sindi
Esta raça provém de uma província do Paquistão, chamada Sind, onde recebe a denominação de Red Sindi. No Brasil, é conhecida com o nome de Sindi e classificada no mesmo grupo do gado Gir, ou seja, o III tipo básico de gado indiano. Esse grupo III enquadra o gado de perfil craniano ultraçonvexo, corpo compacto, barbela e umbigo pendulosos. O rebanho Sindi existente no Brasil é o resultado de duas importações: a primeira ocorreu no ano de 1930 e a segunda em 1952, segundo Santiago, em seu livro A EPOPÉIA DO ZEBU.
Na verdade, mesmo tendo encontrado no Brasil condições excepcionais para viver e produzir, o rebanho Sindi é ainda representado por um número pouco significativo, pois, além de sua importação relativamente recente, poucos são os pecuaristas que se dedicam à sua criação. Adapta-se, perfeitamente, ao clima e às condições de criação existentes em nosso país, uma vez que em seu lugar de origem é criado exclusivamente em regime de campo.
Características

Porte - O Sindi é um gado de pequeno porte e de boa aparência, lembrando o Gir vermelho.
Pelagem – Sua pelagem é vermelha, sendo que em muitos exempla res podem aparecer manchas brancas em qualquer parte do corpo. A pele e mucosa são escuras.
Cabeça - E pequena e de perfil convexo. Os chifres são curtos, grossos na base, crescendo para fora e para trás, sendo que nas fêmeas seu crescimento é para fora e para cima. As orelhas são de tamanho médio e caídas. Os olhos são escuros.
Pescoço - É curto e forte, com barbela bem desenvolvida e pregueada.
Cupim - É relativamente grande nos machos e colocado firmemente sobre a cernelha.
Tronco - Peito desenvolvido e tórax amplo, com bom arqueamento de costelas. Linha dorso-lombar reta. Boa cobertura muscular    rupa arredondada e um pouco saliente em alguns animais. Úbere de bom tamanho e têtas grossas.
Membros - São curtos, bem aprumados e com regular cobertura muscular.
Cobertura muscular - Bem distribuída.
Pele - De coloração preta, flexível, macia coberta de pelos curtos e finos.

Aparência geral
Gado de bela aparência, dócil, vigoroso e de boa conformação para o abate.

Aptidão
Na Índia, o gado Sindi é o mais utilizado para produção de leite, chegando a produzir a média de 1700-1800 kg por lactação nas fazendas de melhor seleção. No Brasil, talvez pelo reduzido número de animais, ou mesmo pela falta de dados computados por técnicos, a raça não revelou a mesma aptidão leiteira.
Para produção de carne, mesmo sendo o gado Sindi bastante rústico e acostumado ao regime de campo, dificilmente conseguirá igualar-se às outras raças indianas, pois é de pequeno porte e de desenvolvimento mais lento.

Registro genealógico da raça
O serviço de registro genealógico da raça Sindi está a cargo da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, na cidade de Uberaba.
Alguns caracteres indesejáveis
Cabeça muito pesada.
Perfil côncavo.
Nimburi.
Prognatismo.
Chifres móveis.
Orelhas muito longas ou excessivamente curtas.
Focinho claro.
Peito estreito.
Cupim tombado para um dos lados.
Tórax deprimido.
Umbigo muito penduloso.
Vassoura da cauda branca.
Membros muito compridos e aprumos defeituosos.
Cascos brancos.
Monorquidismo ou criptorquidismo.
Úbere muito penduloso.
Despigmentação.
Crescimento retardado.
Fêmeas com vulva atrofiada.
Feminilidade no macho e masculinidade na fêmea.
Raça sindi: corresponde ao red sindi da Índia, 
onde é explorado para produção de leite








24 de mar. de 2020

Efeito do sombreamento em parâmetros fisiológicos e produção embrionária in vitro de novilhas Nelore tropicais adaptadas em sistemas integrados de cultivo, gado e floresta

Leite da Silva, W.A., Poehland, R., Carvalho de Oliveira, C. et al.
O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto do aumento da oferta de sombra em sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta no desenvolvimento embrionário in vitro e parâmetros fisiológicos relacionados à resposta ao estresse em novilhas Nelore ( Bos indicus ). Para o estudo, os animais ( n  = 16) foram divididos aleatoriamente em dois grupos e mantidos em áreas com diferentes sistemas de arborização, o sistema integrado lavoura-pecuária-floresta (ICLF) e o sistema integrado lavoura-pecuária (ICL). O microclima do sistema ICLF proporcionou melhores condições de conforto que o ICL. Não foram verificadas diferenças de frequência respiratória, temperatura retal, cortisol, T3, T4, qualidade de oócitos e taxa de clivagem entre os sistemas. Observou-se uma taxa mais alta de blastocistos na ICLF (p menor igual a 0,05). Os resultados demonstram que as novilhas Nelore manejadas na ICLF durante o verão no Centro-Oeste do Brasil apresentaram maior produção de embriões in vitro, sem alterações típicas em seus parâmetros fisiológicos. Os resultados observados no presente estudo indicam que as fêmeas de zebu são capazes de responder satisfatoriamente às intensas condições de calor; no entanto, acreditamos que o longo período a que esses animais são expostos a essas condições interfere na competência oocitária e no desenvolvimento embrionário.
Introdução
O ambiente em que os animais vivem tem efeitos importantes nas condições de bem-estar dos animais e pode afetar o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. O desempenho satisfatório de um animal depende de uma faixa de temperatura chamada zona de conforto térmico (TCZ), que corresponde aos limites de temperatura nos quais o animal está em homeostase, sem o uso de dispositivos termorregulatórios (Pereira 2005 ). Quando a temperatura ambiente atinge temperaturas críticas superiores a TCZ, a eficiência dos processos de perda de calor é reduzida e o animal entra em estresse por calor (SH) (Silanikove 2000 ), o que leva a uma conseqüente ativação dos mecanismos de termoregulação (Rodrigues et al. 2010) Como respostas, são observadas alterações no comportamento animal, temperatura corporal, frequência respiratória, frequência cardíaca e taxa de sudorese (Paranhos da Costa 2004 ), bem como alterações na atividade adrenal e na resposta imune (Geraldo et al. 2012 ), Macedo e Macedo. Zúccari 2012 ). Redução do ganho de peso (Navarini et al. 2009 ), consumo de alimentos (Geraldo et al. 2012 ) e, consequentemente, uma redução no desempenho reprodutivo também foram relatados (Lima et al. 2013 ). Na reprodução, o HS afeta o desenvolvimento folicular e a qualidade dos oócitos (Roth et al. 2001 ), interferindo desde os estágios iniciais até o final da maturação (Paula-Lopes et al. 2012 ), bem como o número e a qualidade dos embriões produzidos in vitro (Torres-Junior et al. 2008 ). Como consequência dos distúrbios mencionados, a taxa de gravidez também é afetada negativamente.
O sombreamento diminui a incidência de radiação no animal; beneficia o conforto térmico e favorece a homeotermia (Geraldo et al. 2012 ). Segundo Silanikove ( 2000 ), o sombreamento bem projetado reduz a carga total de calor em 30 a 50%. Os benefícios da sombra são mais evidentes no Bos taurus , mas efeitos positivos de sombra já foram observados no Bos indicus (Navarini et al. 2009 ). Embora o efeito positivo do sombreamento seja conhecido, mudanças importantes no manejo de bovinos de corte no Brasil não foram observadas ao longo dos anos. O sistema ICLF, inicialmente projetado para a recuperação de solos e pastagens degradados, foi destacado por melhorar a conversão alimentar, o ganho de peso e o microclima, reduzir o calor através das árvores e contribuir para a sustentabilidade da pecuária nos trópicos com efeito direto sobre bem-estar e conforto térmico (Broom et al. 2013). Faltam informações sobre a variação no comportamento e no desempenho reprodutivo do gado, especialmente o zebu, em relação à disponibilidade ou distribuição de sombra nas áreas onde os animais pastam, por exemplo, usando o sistema integrado de lavoura-pecuária (ICLF). O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto do aumento da oferta de tonalidade na ICLF no desenvolvimento embrionário in vitro e parâmetros fisiológicos relacionados à resposta ao estresse de doadoras da Nelore.
Materiais e métodos
O experimento foi realizado na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA bovinos de corte, localizada no município de Campo Grande, MS (20 ° 27 'S, 54 ° 37' W e 530 m de altitude), na transição entre mesotérmica úmida clima sem seca e tropical úmido, com estação chuvosa no verão e seca no inverno. A estação chuvosa geralmente ocorre entre outubro e março. A pluviosidade média anual é 1225 mm (Gemtec 2016 ).
Áreas experimentais
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. Duas áreas experimentais foram utilizadas, como descrito anteriormente por Oliveira et al. ( 2014 ) (fig.  1 ). A área 1 foi caracterizada pelo sistema integrado lavoura-pecuária-floresta (ICLF), com 6 ha divididos em 4 piquetes, com uma densidade de 227 árvores ha -1, dispostas em fileiras de eucaliptos ( Eucalyptus grandis x urophylla , clone H13) com distância de 22 m entre linhas. A área 2 foi caracterizada por pastagem com reflorestamento nativo de pecuária integrada (ICL) com 6 ha divididos em 4 piquetes e presença de 5 árvores ha -1 . Árvores nativas da savana brasileira, Cambará ( Gochnatia polymorpha Less .) E Cumbaru (Dipteryx alata Vog ) estavam presentes. Ambas as áreas possuíam Brachiaria brizantha cv. Piatã.

 A quantidade de sombra em cada área foi calculada de acordo com a metodologia utilizada por Silva ( 2006 ) e Cipriani et al. ( 2015 ). Foram medidas a altura da árvore, a altura do caule, o raio da coroa e o tipo de coroa (lentiforme, cilíndrico, cônico ou elioide) e, a partir dessas medidas, as projeções de sombra de cada árvore foram estimadas em cada área.
Animais
As fêmeas nelore (n  = 16) foram divididas em 2 grupos, oito animais por área experimental. Os animais tinham entre 22 e 24 meses de idade e tinham uma pontuação corporal de 2,5 a 3,5 (Ferguson et al. 1994 ), com peso médio de 348,5 (± 41,9). O sistema de pastejo utilizado foi contínuo. Os animais tiveram acesso à água e sal mineral ad libitum. Todos os doadores foram submetidos a três sessões de aspiração folicular guiada por ultrassom (OPU) para coletar complexos cumulus-oócitos (COCs) uma vez por mês para a produção de embriões in vitro de dezembro de 2015 a fevereiro de 2016. As novilhas foram manejadas nas mesmas áreas desde o desmame.
Monitoramento microclimático
As características microclimáticas em ambas as áreas foram determinadas em dezembro de 2015, janeiro e fevereiro de 2016, das 8:00 às 16:00 (hora local, GMT 04:00), divididas em 8-10, 11-13 e 14 –16 h, 4 dias por mês, de acordo com a metodologia de Karvatte et al. ( 2016 ). Para a medição da temperatura do globo preto (° C), a metodologia proposta por Coelho et al. ( 2013 ), adotado por meio de termo-higrômetro digital com registrador de dados (modelo Perceptec1020, Perceptec Soluções e Tecnologia Ltda., São Paulo, Brasil) inserido em bóias plásticas (PVC) de 0,15 m de diâmetro, pintadas de preto fosco (Fig. 2a
Para a determinação da temperatura (° C) e umidade do ar (%), foi utilizado termômetro digital com data loggers (marca Instrutherm, modelo HT-500) para medir bolbo seco e ponto de orvalho (Fig. 2a), inserido no tubos de PVC perfurados (Fig. 2b ) (Trumbo et al. 2012).
As condições do microclima foram acompanhadas por dois dispositivos localizados em cada área. Os dispositivos foram colocados em pleno sol e sob a sombra projetada, a dois metros do tronco das árvores, 1,3 m acima do solo (na tentativa de simular a altura das costas de um jovem bovino). O índice de umidade globo preto (BGHI) foi calculado de acordo com Buffington et al. ( 1981 ): BGHI = Tgn + 0,36.tpo + 41,5, onde Tgn = temperatura do globo preto em ° C e Tpo = temperatura do ponto de orvalho em ° C.
Coleções e avaliações
O peso da novilha foi medido a cada 30 dias, após 12 horas de retirada de água e ração.
Para PIV, todos os reagentes usados ​​para a preparação do meio eram da Sigma®.
Para redução dos movimentos peristálticos e menor desconforto do animal, foram injetados 5 ml de uma combinação de lidocaína a 2% (Person®) e acepromazina a 1% (Vetnil®) no espaço epidural. Para a aspiração dos folículos, um ultrassom (Aquila PRO®, Pie Medical, acoplado ao transdutor microconvexo de 8 MHz) conectado a uma mangueira de silicone com 2 mm de diâmetro interno e 80 cm de comprimento e agulhas hipodérmicas descartáveis ​​20G (50 mm × 9 mm; Terumo®, Bio Brazil) foi utilizado. A pressão de vácuo foi de 80 mmHg, mantida com uma bomba de sucção (BV-003D WTA, Brasil). O meio de aspiração consistiu em solução salina tamponada com fosfato de Dulbecco (DPBS) mais 20.000 UI / L de heparina de sódio, mantida a 30 ° C durante a aspiração. Os AOCs recuperados foram rastreados e classificados imediatamente após a sessão do OPU. Os AOCs aspirados foram levados ao laboratório em meio de maturação na incubadora de transporte LABMIX (WTA, Brasil). Os AOCs recuperados foram classificados de acordo com a aparência e distribuição das células cumulus e uniformidade citoplasmática (Stojkovic et al. 2001 ). Os COCs selecionados de todos os doadores de cada grupo foram misturados para minimizar o efeito do doador e amadureceram por 24 h em gotas de 100 μl de meio de maturação (TCM199 com sais de Earls, soro bovino fetal 5% v / v, 01 mE / ml LH 200 mM  L-glutamina, 0,01 mg / ml de estreptomicina, 10 U / ml de penicilina) em óleo mineral. Após 24 h de maturação, os COCs foram lavados (1x) e transferidos para o meio de fertilização (suplementado com heparina, TALP e BSA 6 mg / ml). Sêmen criopreservado de um único touro Nelore foi utilizado para a produção de embriões in vitro. Os espermatozóides foram separados por método de Percoll e inseminao a dose foi de 1 x 10 6 esperma / mL. COCs e espermatozóides foram co-incubados por 22 h. Após a lavagem, os zigotos foram transferidos para 100 ul SOF sob óleo mineral, durante 7 dias (38,5 ° C e 5% CO 2 em ar). A taxa de clivagem foi determinada no dia 3 e a taxa de blastocisto no dia 7. Antes das sessões de OPU, foram coletadas amostras de sangue para analisar as concentrações séricas de hormônios (cortisol, hormônios tireoidianos (triiodotironina / T3 e tiroxina / T4)). Eles foram determinados por radioimunoensaio (RIA) em fase sólida, em laboratório credenciado, utilizando kits comerciais específicos (kit ELISA) para cada hormônio.
A frequência respiratória foi medida contando os movimentos / minuto do flanco direito dos animais por 15 s, que foram multiplicados por quatro. A temperatura retal foi medida usando um termômetro veterinário digital. A temperatura corporal superficial da região da garupa, denominada temperatura da pele, foi medida usando um termômetro infravermelho. Todos esses parâmetros foram medidos imediatamente antes da OPU.
Análise estatística
A análise estatística foi realizada pelo PROC GLIMIX (SAS® 2002). Para cada grupo experimental, a análise foi realizada considerando os efeitos fixos, grupo e tratamento, sobre as variáveis ​​reprodutivas: qualidade dos ovócitos, taxa de clivagem; parâmetros hormonais: nível sérico de cortisol, T3 e T4; e parâmetros fisiológicos: temperatura retal, frequência respiratória e temperatura da pele. Os gráficos foram criados usando o GraphPad Prism versão 7®.
Resultados
O peso inicial médio dos animais foi de 319,38 (± 29,2) kg para o ICLF e 362 (± 14) kg para o ICL ( p  > 0,05), e o peso no final do experimento foi de 349 (± 30,2) e 376 (± 15,21) kg ( p  > 0,05), respectivamente. A projeção da sombra foi calculada e o ICLF ofereceu 8189,4 m 2  ha- 1 e ICL 195,7 m 2  ha- 1 . As temperaturas mais altas durante os 3 meses do experimento (29,4 a 38 ° C) foram observadas entre 10 e 14 h em ambas as áreas ao sol (Fig.  3 ). Nos dois grupos, a sombra pode reduzir a temperatura em até 3 ° C durante os períodos mais quentes. A umidade relativa do ar variou entre 72 e 82,7% ao longo do experimento (Fig.  4 ). O índice pluviométrico registrado em dezembro, janeiro e fevereiro (período de coleta de dados) foi de 139,8 mm, 344,8 mm e 152 mm, respectivamente. A alta umidade de

10 de fev. de 2020

INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NOS SOLOS CULTIVADOS COM PALMA FORRAGEIRA E PASTAGEM NO IFCE CAMPUS CRATO

Aparecida Rodrigues Nery¹, Luis Nery Rodrigues², Antônia Geliane de Sousa3 , Francisca Fabiana Costa dos Santos3 , Douglas Emanuel Rodrigues Nere3 ¹ Prof. Dra. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – campus Crato ² Prof. Dr. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – campus Crateús 3 Discente. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – campus Crato cydanery@gmail.com, luis.nery@ifce.edu.br, agsifce@gmail.com, fabiana.tec.agrimensura@gmail.com, emanuelnere@gmail.com
1. INTRODUÇÃO 
A infiltração é o nome dado ao processo pelo qual a água atravessa a superfície do solo. É um processo de grande importância prática, pois afeta diretamente o escoamento superficial, que é o componente do ciclo hidrológico responsável pelos processos de erosão e inundações. O conhecimento da taxa de infiltração da água no solo é de fundamental importância para definir técnicas de conservação do solo, planejar e delinear sistemas de irrigação e drenagem, bem como auxiliar na composição de uma imagem mais real da retenção da água e aeração no solo. A agricultura irrigada se desenvolve nas mais diferentes condições de meio físico, atendendo uma grande variedade de culturas e de interesses sociais e econômicos, de forma que é possível existir um sistema de irrigação ideal, capaz de atender da melhor maneira a todas as condições e objetivos envolvidos. Em consequência, deve-se selecionar o sistema de irrigação mais adequado a cada condição em particular, considerando-se os interesses envolvidos. O processo de seleção deve ser baseado em uma criteriosa análise das condições presentes, em função das exigências de cada sistema de irrigação (FRIZZONE, 2005). A taxa de infiltração da água no solo é alta no início do processo de infiltração, particularmente quando o solo está inicialmente muito seco, mas tende a decrescer com o tempo, aproximando-se assintoticamente de um valor constante, denominado taxa de infiltração estável, muito conhecida por velocidade de infiltração básica da água no solo – VIB. Inicialmente, seu valor é elevado, diminuindo com o tempo, até se tornar constante no momento em que o solo fica saturado. Assim sendo, sob chuva ou irrigação contínuas, a taxa de infiltração se aproxima, gradualmente, de um valor mínimo e constante, conhecido por VIB. Dados de infiltração são imprescindíveis nos modelos utilizados para a descrição
da infiltração de água no solo e dependem do selamento superficial provocado pelo impacto das gotas de chuva na superfície do solo (ALVES SOBRINHO et. al., 2003). A determinação da infiltração de água deve ser feita por métodos simples e capazes de representar, adequadamente, as condições em que se encontra o solo, e baseiase em condições àquelas observadas no processo ao qual o solo é submetido (PRUSKI et al., 1997). Segundo Bernardo, Soares & Mantovani (2008), a velocidade de infiltração depende diretamente da textura, estrutura, umidade, época de irrigação, temperatura e porosidade do solo, da existência de camada menos permeável ao longo do perfil e cobertura vegetal. Em solos intensamente cultivados, as camadas compactadas determinam a diminuição do volume de poros e o aumento na retenção de água. Em decorrência disto, diminuição da taxa de infiltração, aumento do escoamento superficial e de erosão. (BERTOL et al., 2001). O conhecimento do processo de infiltração da água no solo é de grande importância na hidrologia, nos projetos de irrigação, no manejo e conservação dos solos, bem como no cultivo adequado de plantas. Os prejuízos causados por alterações na infiltração de água no solo e subsolo, pelo gradativo processo da impermeabilização, seja por fatores naturais, quer seja por atividade antrópica, são incomensuráveis. É percebido déficit hídrico no solo em alguns meses do ano na região cariri cearense, logo para potencializar a produção dos sistemas agrícolas se faz necessário o uso da irrigação. Para se projetar sistema de irrigação é de fundamental importância conhecer os fatores que intervém na capacidade de infiltração dentre os quais destacam-se a velocidade de infiltração da água no solo, umidade inicial do solo, carga hidráulica, compactação do solo e tipo de solo. O objetivo deste trabalho foi verificar a influência de diferentes sistemas de manejo do solo em área cultivada com palma forrageira cv. miúda (Nopalea cochenillifera -Salm Dyck) e pastagem (Brachiaria decumbens cv. Basilisk) sob a infiltração de água no solo. 
2. REVISÃO TEÓRICA 
2.1. Infiltração de água no solo 
A infiltração de água no solo é o processo pelo qual a água atravessa a superfície do solo. É um processo dinâmico de penetração vertical da água através da superfície do solo (BRANDÃO et al., 2006). Para Brandão et al., (2006), o conhecimento da taxa de infiltração da água é importante para definir técnicas de conservação, planejar sistemas de irrigação e drenagem e auxiliar na composição de imagens mais reais da retenção hídrica e aeração no solo. A velocidade de infiltração de água em um solo (VI) é um fator importante na irrigação, já que ela determina o tempo em que se deve manter a água na superfície do solo ou a duração da aspersão (BERNARDO, SOARES & MANTOVANI, 2008). A velocidade de infiltração auxilia na determinação da capacidade de suporte para definir a intensidade de aplicação do tipo de emissor. Deve ser levada em conta na escolha do emissor, principalmente nas irrigações por aspersão (MANTOVANI, BERNARDO & PALARETTI, 2009). Segundo Reichardt (1990), o conhecimento desta variável é imprescindível para a elaboração de um projeto de irrigação com objetivo de obter maior rendimento das culturas. Segundo Fagundes et al., (2012) vários métodos de campo têm sido utilizados para determinar a VI de um solo, dentre eles pode-se destacar o método do infiltrômetro de anel, por ser simples e de fácil execução. É um método de baixo custo e prático, porém deve-se ter o cuidado de sincronizar a leitura de lâmina e o intervalo de tempo (fonte de erro). O processo de infiltração da água no solo pode ser descrito por diversas equações ou modelos, desenvolvidos a partir de informações físicas e empírica (ALVES SOBRINHO et al., 2003) 
2.2. Fatores que afetam a infiltração 
Segundo Carvalho & Silva (2006) a infiltração é um processo que depende, em maior ou menor grau, de diversos fatores, dentre os quais destacam-se: Condição da superfície: a natureza da superfície considerada é fator determinante no processo de infiltração. Áreas urbanizadas apresentam menores velocidades de infiltração que áreas agrícolas, principalmente quando estas têm cobertura vegetal. Tipo de solo: a textura e a estrutura são propriedades que influenciam expressivamente a infiltração. Condição do solo: em geral, o preparo do solo tende a aumentar a capacidade de infiltração. No entanto, se as condições de preparo e de manejo do solo forem inadequadas, a sua capacidade de infiltração poderá tornar-se inferior à de um solo sem preparo, principalmente se a cobertura vegetal presente sobre o solo for removida. Umidade inicial do solo: para um mesmo solo, a capacidade de infiltração será tanto maior quanto mais seco estiver o solo inicialmente. Carga hidráulica: quanto maior for a carga hidráulica, isto é a espessura da lâmina de água sobre a superfície do solo, maior deverá ser a taxa de infiltração. Temperatura: a velocidade de infiltração aumenta com a temperatura, devido à diminuição da viscosidade da água. Presença de fendas, rachaduras e canais biológicos originados por raízes decompostas ou pela fauna do solo: estas formações atuam como caminhos preferenciais por onde a água se movimenta com pouca resistência e, portanto, aumentam a capacidade de infiltração. Compactação do solo por máquinas e/ou por animais: o tráfego intensivo de máquinas sobre a superfície do solo, produz uma camada compactada que reduz a capacidade de infiltração do solo. Solos em áreas de pastagem também sofrem intensa compactação pelos cascos dos animais. Compactação do solo pela ação da chuva: as gotas da chuva, ou irrigação, ao atingirem a superfície do solo podem promover uma compactação desta, reduzindo a capacidade de infiltração. A intensidade dessa ação varia com a quantidade de cobertura vegetal, com a energia cinética da precipitação e com a estabilidade dos agregados do solo. Cobertura vegetal: o sistema radicular das plantas cria caminhos preferenciais para o movimento da água no solo o que, consequentemente, aumenta a taxa de infiltração. A presença de cobertura vegetal reduz ainda o impacto das gotas de chuva e promove o estabelecimento de uma camada de matéria orgânica em decomposição que favorece a atividade microbiana, de insetos e de animais o que contribui para formar caminhos preferenciais para o movimento da água no solo. A cobertura vegetal também age no sentido de reduzir a velocidade do escoamento superficial e, portanto, contribui para aumentar o volume de água infiltrada. Os resultados obtidos são ainda grandemente dependentes do método utilizado para sua determinação, apresentando todos eles problemas se utilizados para múltiplos fins (PRUSKI et al., 1997). Sendo assim, o conhecimento dessas condições é de fundamental importância para a interpretação dos resultados. 
3. MATERIAIS E MÉTODOS 
A pesquisa foi conduzida no IFCE Campus Crato, no período de janeiro a março de 2017, utilizando o método do Infiltrômetro de anel. Neste trabalho foram consideradas duas áreas de estudo, cada uma de 150m x 50 m (7500 m2 ). Os solos estudados possuem texturas franco- arenosas na área vegetada com palma forrageira cv. miúda (Nopalea cochenillifera -Salm Dyck) e francoareno-argilosa na área
cultivada com pastagem (Brachiaria decumbens cv. Basilisk), cultivos contínuos, irrigados e adubados. Na área com pastagem, ocorre pastoreio de animais bovinos. Foram coletadas três amostras (3 determinações da VIB), de cada três pontos estabelecidos dentro de cada área acima avaliada (3 repetições). Utilizou-se o infiltrômetro de anel para determinação da infiltração e velocidade de infiltração. O Infiltrômetro de anel é um equipamento composto por dois anéis (50 e 25 cm de diâmetro e 30 cm de altura), que foram instalados de forma concêntrica e enterrados 15 cm (Figuras 1 e 2). Após limpeza superficial do solo, cravaram-se no solo os cilindros externo e interno, ajustou-se um filme plástico para evitar a infiltração da água no

Pensamento do mês