29 de ago. de 2021

Recuperação de áreas Degradadas com Pastagem (RAD-P) em propriedades agropecuárias


A Recuperação de Áreas Degradadas com Pastagens (RAD-P) busca recuperar tanto áreas que já eram utilizadas para pastagens, quanto áreas que foram degradadas por outras atividades, em relação às suas características físicas, químicas e biológicas, a fim de melhorar sua capacidade produtiva de alimentos e/ou de matérias-primas, isto é, torná-las capazes de garantir alimento para os rebanhos (PRS-I, 2018; BORGHI et al. 2020). As pastagens sofrem um processo evolutivo de perda de vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural para sustentar os níveis de produção e de qualidade exigidas para a criação dos animais, e assim, começam também a não conseguir superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e espécies invasoras (MACEDO et al., 2012).
Dessa forma, segundo DIAS-FILHO (2006), a pastagem degradada pode ser definida como

uma área com acentuada diminuição da produtividade, podendo ou não ter perdido a capacidade de manter-se produtiva do ponto de vista biológico, isto é, conseguir acumular carbono. De forma complementar, RODRIGUES (2020) explica que o uso do termo pastagem degradada não significa necessariamente que o solo está descoberto, mas sim que já não é tão produtivo, independentemente de ter ou não espécies adaptadas. A Figura 10 apresenta possíveis origens da perda de qualidade e consequente degradação da pastagem, que levam também à perda da fertilidade do solo.


De acordo com BORGHI et al. (2020), há três tipos de técnicas de recuperação para as pastagens degradadas: i) recuperação (direta e indireta), ii) renovação e iii) reforma. Todas visam tornar a pastagem novamente produtiva e com vigor suficiente para garantir o sustento do rebanho. A escolha da técnica necessária depende do grau de degradação da pastagem, do objetivo do produtor, do sistema de produção pecuário adotado, das possibilidades de mercado na região e da disponibilidade de recursos financeiros e insumos. Nesse sentido, realizar um bom diagnóstico da área é fundamental para melhorar as chances de uma escolha adequada de qual procedimento adotar. Entre os benefícios da recuperação de pastagens e manutenção de sua produtividade estão: a redução na emissão de GEE, a redução do desmatamento para a criação de novos pastos, os ganhos de produtividade e o aumento na renda do beneficiário (PRS-I, 2018). De acordo com CERRI et al. (2012), pastagens bem manejadas atuam como drenos de carbono, enquanto as pastagens degradadas, ou de baixa produtividade, podem ter um balanço geral de emissões de GEE negativo. Uma questão fundamental dentro da recuperação com

pastagens é a continuidade do manejo da área, respeitando o crescimento das plantas, controlando pragas e doenças e otimizando a alimentação dos animais. O chamado “Manejo de Pastagem Ecológica” objetiva a utilização sustentável da forragem disponível na área para garantir o máximo de produtividade, sem prejudicar as plantas forrageiras e proporcionando um ambiente de bem-estar aos animais. Para atingir esse objetivo, consideram-se alguns requisitos (CALIXTO, 2019; SALMAN, 2007): Os quatro últimos requisitos compõem o chamado Método de Pastoreio Racional ou “Método Voisin”, que se baseia em quatro leis, que buscam respeitar a capacidade de rebrote das plantas e ainda o melhor aproveitamento do pasto (CALIXTO, 2019 e SALMAN, 2007). Busca por uma diversidade de forrageiras (gramíneas e leguminosas) adequadas ao solo e ao clima; 
- Arborização adequada das pastagens (com preferência por espécies nativas); 
- Exclusão do uso de adubações químicas altamente solúveis, herbicidas, roçadas sistemáticas e fogo; 
- Garantia do tempo de repouso necessário entre um corte (pastejo) e outro, permitindo a regeneração do pasto (armazenar reservas nas raízes para rebrota e produzir massa verde);
Garantia que o tempo de ocupação de um piquete (parcela do pasto) seja curto o suficiente para não permitir que uma planta cortada pelos animais no início da ocupação, seja novamente cortada antes que os animais deixem o piquete; 
- Auxílio aos animais com exigências alimentares mais elevadas, de modo que consumam mais pasto e de melhor qualidade; e 
- Permanência dos animais, um dia em cada piquete, para que tenham o máximo rendimento e se alimentem de uma vegetação de melhor qualidade. 
O cumprimento destes requisitos garante, entre outras questões, menor compactação do terreno,

24 de abr. de 2021

CASTRAÇÃO AO NASCIMENTO: DO BEZERRO AO BOI DE 17@ EM 13 MESES

Postado originalmente em  https://www.ruralbook.com.br/

A tecnologia, se assim podemos chamar, de realizar a castração dos animais ao nascimento, tem ganhado inúmeros adeptos pelo Brasil por trazer inúmeros benefícios: animais precoces, bonificação no frigorífico e consequentemente o aumento do lucro do sistema. A castração dos animais ao nascimento é realizada já no ato de cura do umbigo em que o animal passa após o nascimento. Essa técnica, aliada a uma gestão de qualidade com protocolos de nutrição e manejos adequados tem permitido aos
Com Ademir Ribeiro, veterinário e consultor
na Espora de Prata. Cochos cobertos nos piquetes 
de b. ruziziensis. Bezerros são desmamados e
levados diretamente ao pasto recebendo 
dieta concentrada de 2% do PV até o abate. 
Foto: Autor


pecuaristas alcançarem, em média, 17@ em apenas 13 meses de idade desse bezerro. Para explicar melhor sobre o tema, veja a pergunta que o especialista e CEO do CrossBreeding, Alexandre Zadra, respondeu em seu portal:
“Zadra, existe alguma fazenda no Centro norte do Brasil que castra seus animais no nascimento? E qual é a diferença esperada de ganho de peso em relação aos animais inteiros se forem abatidos bem jovens como super precoces? Qual é a raça adotada por eles?” Virgílio Ferreira Luz – Sapezal (MT). 
Resposta do especialista e consultor: Existe em Porto Velho um grupo de técnicos que implantam nas fazendas que assistem a castração ao nascimento, pois a grande maioria das fazendas que orientam trabalham com o ciclo completo da pecuária e bois inteiros nessas fazendas representam problema na
Creep Feeding coberto com silo de 3 toneladas. 
Suplementação com consumo à vontade com 
ração de qualidade a partir dos 30 dias de vida. 
Foto: Autor


juventude. Uma das fazendas que realiza esse trabalho é a Espora de Prata, localizada no pequeno município de Rio Crespo, sendo de propriedade da família do Ademir, o qual implantou há dois anos o programa “touro zero”. O próprio nome denota o sistema reprodutivo do rebanho, ou seja, 100% das fêmeas são inseminadas através da IATF (Inseminação Artificial por Tempo Fixo), sendo a totalidade das novilhas ressincronizadas até duas vezes com sêmen de touros Angus americanos provados. Explicamos o dilema dos frigoríficos: boi inteiro x boi castrado O sistema de cruzamento adotado pela Espora de Prata foi o terminal com três raças e tem como particularidade a reposição de fêmeas do rebanho. Buscando eficiência máxima, Ademir garante a reposição de matrizes comprando novilhas Nelore na região, inseminando-as com 320 kg de peso vivo. Sua decisão foi pautada pela alta disponibilidade de fêmeas Nelore no mercado rondoniense.
Fazenda Santa Nice

No campo nutricional, a Espora de Prata vem ministrando ração aos bezerros à vontade desde o primeiro mês de vida no sistema de creep feeding, além de adotar a castração dos machinhos já no momento do nascimento, procedimento raramente adotado pela classe pecuária, já que existem trabalhos que demonstram que animais castrados consomem mais ração para ganhar o mesmo peso que os animais inteiros.
Suplementação de pequenos silos para ração de uso diário no creep feeding, ou seja, cada creep possui seu próprio silo com capacidade de até 3 toneladas, o qual é usado para suprir a necessidade nutricional de cada lote de bezerros por alguns dias.
Vimos esses animais castrados desmamados com 7 para 8 meses, pesando mais de 300 kg, os quais entram em piquetões de braquiarinha (b.ruziziensis) permanecendo nos mesmos com suplementação de ração na quantidade de 2% do peso vivo em cochos cobertos, muito bem construídos com telha galvanizada e cochos com borrachão de usina. Dessa forma, os machos são abatidos com até 13 meses, pesando na media 17@.
Matrizes Nelore paridas de Angus e matrizes F1
 paridas de Brangus – Fazenda de Dorival –
Ariquemes. Foto: Autor

A prática da castração ao nascimento pode ser um manejo adequado para fazendas que adotam o ciclo pecuário completo (cria, recria e engorda), minimizando a chance de machos inteiros F1 cobrirem suas irmãs. Outrossim, sabemos que a diferença de peso entre irmãos e irmãs F1 Angus até a desmama por vezes deixa a desejar. Tal realidade pode ser causada pelo libido dos machos antes da desmama, os quais permanecem atrás de alguma vaca que esteja no cio durante boa parte do dia, diminuindo muito a ingestão de leite e forragem.

17 de mar. de 2021

O Cajueiro - Por Guimarães Duque

Primeiramente conhecido na América do Sul, o cajueiro foi, depois, introduzido pelos portugueses, na África e na Índia. A família dos Anacardiaceas, abrangendo cerca de 60 gêneros e mais de 400 espécies, inclui o cajueiro, a mangueira, o umbuzeiro, o cajá e outras fruteiras valiosas. Classificado como Anacardium occidentale, o cajueiro tem o seu habitat nativo no litoral brasileiro, do Pará até Salvador.  Prefere o ar marinho, iodado, brisa úmida, insolação e temperatura entre 16 a 36°C. Não tem exigência de solo fértil, como atestam os cajueiros nativos nas areias pobres, no meio da caatinga litorânea. Gosta das chuvas leves na floração e frutificação, desde setembro até novembro. É uma árvore sempre verde, que pode atingir até 12 metros de altura, polígama, com flôres estaminadas (unisexuada) e outras


bisexuais na mesma panícula. O fruto compõem-se do pedúnculo desenvolvido, carnoso e sucoso, e da semente ou castanha. O cajueiro é, atualmente, objeto de exploração importante na Índia, em Madagascar, no México e no Peru. No Nordeste, o aproveitamento dessa árvore valiosa ainda se limita aos arvoredos nativos. As plantações ainda são pequenas. A extensa faixa litorânea, própria para o cajueiro, a rusticidade deste permitindo grandes safras, sem irrigação, a possibilidade de selecionar as melhores variedades, a proteção que essa árvore dá ao solo e os numerosos produtos dela extraídos recomendam essa Anacardeacea como uma fruteira de elevado valor econômico. O engenheiro-agrônomo Esmerino Parente estima o número de cajueiros, no Ceará, em 3.700.000. Os produtos que podem ser obtidos do cajueiro são os seguintes: do tronco da árvore, resina, casca taninosa, e madeira; do fruto, bebidas, doces, óleo da amêndoa e óleo da casca. As resinas do cajueiro já são preparadas e classificadas por uma fábrica de Alagoas, para exportação. As cascas são empregadas nos curtumes. O engenheiro agrônomo  Renato Braga informa que 100g de suco de caju amarelo contém 210 miligramas de vitamina C em comparação com 45 miligramas da mesma vitamina em 100g. do suco da laranja comum. Conhecemos duas fábricas, no Ceará, que industrializam a polpa do caju para doces, que enlatam a castanha assada e que extraem óleo isolante da casca da castanha. A casca da castanha contém 35% de óleo e a amêndoa 41%.

Composição da castanha do caju

Gorduras .............................................................................. 47,13%

Matéria azotada....................................................................  9,7%

Amido ..................................................................................  5,9%

Há muitas fábricas de cajuína, bebida preparada com suco de caju destaninado e pasteurizado, sem alcool. O mocororó é bebida caseira, tradicional do Nordeste. Além do doce em pasta e em calda, a polpa do caju presta-se muito bem para fazer o caju seco, cristalizado ou não. Esse aproveitamento industrial da polpa encerra as vantagens da fácil preparação no clima seco e ensolarado, na barateza da embalagem em caixas de papelão ou de madeira (não exigindo latas), na conservação por longo tempo e na diminuição do peso transportes distantes. Muitos remédios são extraídos do cajueiro. Entre ales, cumpre ressaltar os mencionados nos estudos do Prof. J. Juarez Furtado. Os historiadores como Guilherme Piso, Renato Braga, Gustavo Barroso e outros, nos contam que os indígenas do Ceará aproveitavam as safras de pequi, na Serra do Araripe e, depois, caminhando pelos leitos dos rios secos,


vinham desfrutar a temporada dos cajus, no litoral, balanceando suas rações com as proteínas e minerais dos mariscos pescados nas lagoas e nas praias. Uma grande fonte de divisas pode ser conseguida com os plantios racionais dos cajueiros e a exploração ordenada dos seus produtos. Esta racionalização terá de começar com a seleção dos melhores tipos de frutos; os mais doces, menos fibrosos, mais coloridos, menos rançosos originados de pés mais produtivos. A investigação dos melhores tipos permitiria marcar as árvores padrões de onde se tirariam as sementes e as borbulhas dos enxertos para os pomares de observação que mostrariam os indivíduos de valor econômico, as variações ou mutações, com vantagens comerciais, que seriam perpetuadas por meio da reprodução assexuada. O tipo ou variedade de cajueiro desejado seria plantado em pomares devidamente planejados, com terreno preparado, talhões divididos por estradas, covas grandes e adubadas, com as distâncias de 8 metros, com lavouras intercalares de mandioca ou feijão nos primeiros anos para cobrir as despesas da instalação dos pomares. As plantações seriam organizadas, tendo em vista o fornecimento das matérias-primas às fábricas existentes ou a outras que se estabelecerem. Pouca atenção tem sido dada à comercialização dos produtos agrícolas. Cultura - Sendo uma fruteira precoce, o cajueiro é, geralmente, reproduzido por sementes, apesar de que a enxertia e fácil. O terreno é preparado em talhões de 200m de largura, com faixas protetoras de “quebra-vento” com 20 a 30m deixadas com vegetação nativa, alta, por ocasião da roçada. Nos talhões, projetam-se estradas de acesso para atender aos serviços e ao transporte das safras. Cada talhão é destocado e gradeado: depois, por meio de bastões fortes, faz-se o alinhamento e marcam-se as covas distanciadas de 8m x8m, Abrem-se buracos grandes, não menores de 1m3, que são cheios com lixo curtido, trazido

das cidades mais próximas. Esse adubo é barato porém se deve tomar o cuidado para não conter a tiririca e outras ervas daninhas. Na sua falta, podem, tambem, servir o estrume de gado e o composto. Cada hectare comporta 154 mudas. As mudas são criadas com o plantio das melhores sementes em vasos ou “torrão paulista” e, quando têm um palmo de altura, são plantadas no pomar. A melhor lavoura, para combinar com o cajueiro, é a mandioca, durante três anos ou duas safras. Os tratos culturais, após o quarto ano, são os roços do mato rasteiro ou as gradagens de discos, 3 a 4 vezes no inverno. Colheita - A partir do terceiro ano, o cajueiro dá safras que vão aumentando em peso até alcançar o máximo entre 10 e 20 anos de idade. O tempo de colher é de setembro-outubro a dezembro e os apanhadores, empunhando varas, com sacolas de aro metálico nos bordos e garras para cima, vão, de manhã e de tarde, retirando, das árvores os frutos maduros, antes de caírem no chão. O transporte carece de ser feito em condições higiênicas e com rapidez para evitar a fermentação. Fruto mole, perecível, o caju tem de ser transformado em bebida ou doce no mesmo dia da colheita ou, então, preservado para futura industrialização. Os controles de produção indicam que um cajueiro, no litoral do Ceará, fornece, por ano, de 30 a 150 quilos de frutos inteiros, conforme a idade do cajual, o trato e as chuvas. O que se chama de fruto são pedúnculo entumescido e a semente. Mas a botânica ensina que o fruto verdadeiro é a castanha. O fruto maduro, parte carnosa e semente, varia de peso desde 30 gramas até mais de 100 gramas. O Dr. Rossini Carvalho já pesou caju com 500 gramas. É raro. Nas nossas experiências, com cajus de 50 gramas, obtivemos os seguintes resultados, de frutos maduros e frescos:

Castanhas ............................................................. 16% do peso total 

Bagaço ................................................................. 34% do peso total

Suco .....................................................................       50% do peso total

As castanhas, depois de assadas, perderam 40% a 50% do peso com a evaporação da água, a volatilização do óleo do tegumento externo e a retirada da casca seca.

Se um cajueiro der uma safra de 50 quilos, significa um rendimento de:

Castanhas maduras ....................................................

  8kg

Bagaço .......................................................................

17kg

Suco .........................................................................

25kg

Total ...........................................................................

50kg


Um hectare, com 154 cajueiros, com a produção média, acima, daria por ano:

Castanhas ..............................................................

1.232kg

Bagaço .................................................................

2.618kg

Suco ......................................................................

3.850kg

Total ......................................................................

7.700kg


Praias e doenças - Os inimigos mais comuns são os cupins, as

16 de jan. de 2021

ÁRVORES DA CAATINGA DE INTERESSE PASTORIL

Por João Ambrósio de Araújo Filho

A vegetação lenhosa da caatinga, em sua maioria formada por espécies caducifólias no período seco, adiciona ao solo cerca de quatro toneladas de matéria seca de folhas e galhos, contribuindo, assim, com um papel fundamental na reciclagem de nutrientes. Além disso, cerca de 70% das espécies lenhosas de alguns sítios ecológicos participam da dieta de bovinos, caprinos e ovinos. A manipulação dessas espécies, seja para a melhoria da qualidade e para o aumento da produção de forragem, seja para uso de sua fitomassa foliar como adubo orgânico, requer um conhecimento adequado das características da produção e da composição química de sua fitomassa. Como esses fatores se relacionam com o ciclo fenológico das plantas, servem também como base para determinação da melhor época de sua utilização. As espécies lenhosas da caatinga apresentam diferenças estacionais em seus ciclos fenológicos, possivelmente associadas a flutuações da composição química de sua folhagem. Vale salientar que a riqueza florística forrageira da caatinga é pouco conhecida, dificultando a seleção de espécies com potencial para utilização em sistemas agroflorestais ou como forrageiras. Essa deficiência de conhecimento contribui para a prevalência de um manejo da vegetação puramente extrativista, carecendo de práticas e tecnologias adequadas ao aporte de uma base de sustentabilidade à atividade pastoril e agroflorestal nos ecossistemas da caatinga. As características anatômicas, morfológicas e fisiológicas estão associadas aos mecanismos de adaptação das espécies lenhosas às condições de seca das regiões semiáridas. Porém, em se tratando de árvores e arbustos, dois mecanismos se destacam: a resistência e a tolerância. As espécies lenhosas com mecanismo de resistência à seca são perenifólias e apresentam folhas pequenas ou folíolos, céreos ou rugosos, superfície foliar ondulada, com os estômatos localizados na parte côncava, espinhos ou acúleos, caules com vasos lenhosos curtos e de pequeno diâmetro, com paredes espessas, sistema radicular profundo e extenso. Nas regiões semiáridas tropicais essas espécies botânicas são predominantemente do tipo C3 ou crassuláceas. Por outro lado, as árvores e os arbustos, com mecanismo de tolerância, são caducifólios e possuem geralmente folhas grandes, tenras e lisas, podendo ter espinhos, caules com vasos lenhosos longos de grande diâmetro, sistema radicular lateral extenso e, nos trópicos semiáridos, são espécies botânicas geralmente do tipo C4. A combinação variável dos fatores supracitados resulta em diversidade de situações que caracterizam os diferentes graus de adaptação das espécies arbóreas e arbustivas da caatinga às condições do Semiárido nordestino. O mecanismo de tolerância apresenta-se como o mais comum entre as espécies lenhosas da caatinga, possivelmente por permitir uma melhor adaptação às características da variabilidade das precipitações pluviais da região. Algumas das espécies botânicas, de maior interesse serão descritas a seguir.

Aroeira (Myracrodruon Urundeuva)

Da família das Anacardiáceas, a aroeira (Figura 15) é uma árvore típica dos estágios finais da sucessão secundária da caatinga, encontrada nos sertões nordestinos de baixa a elevada altitude, na maioria dos solos da região, com predominância nos luvissolos crômicos órticos, latossolos e argissolos. Árvore que pode alcançar até 25 m de altura, de crescimento moderado, sistema radicular com raiz pivotante pouco pronunciada, caule inerme, lenho pesado, com densidade específica de 900 kg/m3. Caducifólia precoce, copa arredondada moderadamente densa e folhas compostas. Seu ciclo fenológico se verifica ao longo de todo o ano. Durante a época das chuvas, a planta inicia com a rebrotação, permanecendo em vegetação plena até o fim do período, quando perde sua folhagem. Ao meio da época seca entra em floração e frutificação, totalmente desprovida de folhas, completando, então, seu ciclo fenológico. Planta útil como forrageira, produtora de madeira para construção e lenha, medicinal e utilizada na coleta apícola de pólen e néctar. Análises laboratoriais da folhagem da aroeira, colhida nas fases de vegetação plena e dormência (Tabela 2), indicaram que o teor médio de matéria seca é de 38,5%, na fase de vegetação plena, alcançando, na dormência ou restolho, cerca de 89,6%. O teor de proteína bruta decresceu de 16,7%, na fase de vegetação plena, para 8,7%, na dormência. A fibra em detergente neutro e a fibra em detergente ácido apresentaram valores sempre baixos, flutuando a primeira de 20,5 a 36,5% e a segunda de 11,1 a 21,7%, respectivamente, para as fases de vegetação plena e de dormência. O teor de lignina alcançou 4,5%, na vegetação plena, aumentando para 6,7%, na dormência, um dos menores entre as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos totais foi sempre o mais elevado, variando de 35,8, na fase de vegetação plena, a 10,5, no restolho lenhoso. Por fim, a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) pode ser considerada elevada para uma arbórea nativa, variando de 65,6% na fase de vegetação plena para 30,5% na dormência.

As folhas da aroeira são consumidas, verdes ou secas, por bovinos, caprinos e ovinos. É uma arbórea que não deve ser rebaixada, mas devido a sua utilidade como produtora de madeira e de produtos medicinais, é preferível preservá-la. Seu aproveitamento pela pecuária deverá ser pelo uso de suas folhas naturalmente fenadas. Sua contribuição para a circulação de nutrientes em um sistema agroflorestal é muito importante, considerando-se o elevado teor de nitrogênio em suas folhas e a rapidez com que se degradam, após sua queda ao solo.


Catingueira (Poincianera pyramidalis)

Da família das Cesalpináceas, a catingueira (Figura 16) é uma árvore típica dos estágios intermediários da sucessão secundária da caatinga, encontrada nos sertões nordestinos de baixa a elevada altitude, na maioria dos solos da região, com predominância nos luvissolos crômicos órticos e argissolos. Árvore que pode alcançar até 10 m de altura, de crescimento lento, sistema radicular com raiz pivotante pouco


pronunciada, caule inerme, lenho pesado, com densidade específica de 920 kg/m3. Copa arredondada moderadamente densa e folhas compostas. Caducifólia tardia, seu ciclo fenológico se verifica durante a época das chuvas, com o início da dormência em plena estação seca. Alcança a vegetação plena no começo da estação das chuvas, flora ao meio da estação e frutifica ao final do período úmido. Planta útil como forrageira e produtora de néctar e pólen e de lenha.

Análises laboratoriais da folhagem da catingueira, colhida em diferentes fases de seu ciclo fenológico (Tabela 3), apontaram um teor de matéria seca que se mantém sempre elevado, acima de 40%, alcançando, na fase de dormência (restolho), cerca de 87,1%. O teor de proteína bruta, por seu turno, decresceu de 16,9% na fase de vegetação plena para 14,4% na frutificação e para 11,2% na dormência. A fibra em detergente neutro e a fibra em detergente ácido apresentaram valores sempre baixos, flutuando a primeira de 31,9 a 49,8% e a segunda de 19,8 a 33,4%, respectivamente, para as fases de vegetação plena e de dormência. O teor de lignina alcançou 6,6% na vegetação plena, aumentando para 12,7% na frutificação e decaindo para 11,7% na dormência, um dos menores entre as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos totais foi sempre muito elevado, variando de 20,6 na fase de vegetação plena a 9,5 na dormência. Por fim, a


digestibilidade in vitro da matéria seca pode ser considerada elevada para uma arbórea nativa, variando de 58,4%, na fase de vegetação plena, para 50,4%, na frutificação, atingindo 30,9% na dormência. As folhas da catingueira têm consumo insignificante quando verdes, devido, provavelmente, ao odor desagradável que possuem. Porém, quando secas, são consumidas por ovinos, caprinos e bovinos, participando em até 35% de suas dietas no período seco. A catingueira é uma arbórea que não deve ser rebaixada, podendo, no

Pensamento do mês