4 de nov. de 2015

Plantio e uso da palma forrageira na alimentação de bovinos leiteiros no semiárido brasileiro



André Luis Alves Neves
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira
Rafael Dantas dos Santos
Tadeu Vinhas Voltolini
Gherman Garcia Leal de Araújo
Salete Alves de Moraes
Alex Santos Lustosa de Aragão
Cleber Thiago Ferreira Costa 
Introdução
A bovinocultura leiteira é uma atividade fundamental para o desenvolvimento social e econômico do semiárido brasileiro. No entanto, essa região passa anualmente por prolongadas secas com escassez de forragens na maior parte do ano, comprometendo assim o desempenho dos animais e até mesmo a viabilidade dos empreendimentos rurais.
Esse período é caracterizado pela sazonalidade, que afeta diretamente os produtores pela redução de sua receita na época da entressafra devido à queda do volume de leite, ao mesmo tempo em que eleva os custos de produção, seja pela necessidade de oferecer ao gado volumoso suplementar, seja pelo maior uso de concentrados e o maior gasto com mão-de-obra (ZOCCAL & CARNEIRO, 2008).
Considerando que a alimentação representa de 40 a 60% das despesas do setor de produção de leite, uma opção viável para enfrentar estas limitações, seria o uso de alternativas forrageiras adaptadas às condições semiáridas, como a palma.
Este recurso alimentar apresenta-se como alternativa estratégica para as regiões áridas e semiáridas do nordeste brasileiro, já que é uma cultura que apresenta aspecto fisiológico especial quanto à absorção, aproveitamento e perda de água, suportando prolongados períodos de estiagem.
O bom rendimento dessa cultura está climaticamente relacionado a áreas com 400 a 800 mm anuais de chuva, umidade relativa acima de 40% (Viana, 1969) e temperatura diurna/ noturna de 25 a 15 ºC (Nobel, 1995).
O objetivo deste comunicado é trazer informações técnicas sobre as principais cultivares, plantio e uso da palma na alimentação de bovinos leiteiros. No final do documento serão apresentadas simulações de dimensionamento da área de um palmal e de dietas formuladas a base de palma forrageira para vacas em lactação.
Cultivares
As cultivares de palma forrageira mais difundidas no Nordeste são a Redonda, a Gigante e a Miúda. Sendo que a Redonda e Gigante (Opuntia ficus-indica) são reconhecidamente mais resistentes à seca e maisprodutivas e, por esses motivos, são as mais cultivadas.
A Orelha de Elefante (Mexicana e Africana), por sua vez, é um clone importado e encontra-se em fase de testes para avaliação de seu desempenho agronômico. Apresentam espinhos, o que dificulta seumanejo como forrageira, no entanto, essa característica, apesar de ser indesejável na alimentação animal, garante a este material maior resistência à seca, uma vez que os espinhos servem para reduzir a temperatura do caule durante o dia e sua presença diminui também a captação de luz pelas raquetes (Nobel, 1983).
A Miúda e Orelha de Elefante têm resistência à cochonilha-do-carmim Dactylopius sp., enquanto que a Redonda e Gigante são suscetíveis (Vasconcelos et al., 2009).
Preparo de solo e adubação
É recomendada a aração, passagem de subsolador, gradagem e abertura dos sulcos semelhante ao preparo de culturas convencionais. A profundidade dos sulcos deve ser de aproximadamente 20 cm (Albuquerque e Santos, 2005).
A palma forrageira, por apresentar elevada produção de matéria seca por área, exige fertilizações no plantio e de manutenção para a reposição dos nutrientes do solo. A necessidade de calagem, adubação nitrogenada, fosfatada e potássica devem ser de acordo com a necessidade e produção desejada.
No plantio adensado e/ou não adensado, recomenda-se a aplicação de 20 toneladas de esterco curtido nos sulcos, o equivalente a 200 kg de nitrogênio por hectare.
Em plantios adensados de palma forrageira, os cuidados com os tratos culturais e adubações devem ser mais rigorosos, pois nesse caso há um aumento considerável no número de plantas por área, aumentando a extração de nutrientes, e por isso a necessidade de maior reposição dos mesmos.
Tipo de raquete, modo e época de plantio
As raquetes para o plantio devem ser grandes e sadias, sem qualquer mancha e que já tenham atingido seu pleno desenvolvimento. Elas já devem ter emitido ou devem estar próximas de emitirem seus brotos. As raquetes com dois a três anos de idade são as mais adequadas para o plantio. A posição da raquete aparentemente não exerce efeito
na implantação e produção, entretanto, cuidados devem ser tomados no sentido de evitar o plantio na direção predominante do vento a fim de reduzir quedas das raquetes (Albuquerque, 2000).
Deve ser plantada pelo menos um mês antes do início da estação chuvosa. Antes do plantio, as raquetes deverão permanecer por 15 dias na sombrapara que seque a superfície do corte, depois deste período poderão ser enterradas pela metade ou 2/3, favorecendo o desenvolvimento do sistema radicular (Albuquerque e Santos, 2005).
Espaçamentos
Na região Nordeste, o espaçamento predominante no cultivo da palma é o de 1 m entrelinhas. No espaçamento 2 x 1 m, a densidade de plantio é de 5.000 plantas/ha, ao passo que usando 1 x 0,25 m, a densidade de plantas na área é oito vezes maior, ou seja, 40.000 plantas/ha. Atualmente tem sido recomendados espaçamentos de 1,60 m entre linhas e 20 cm entre raquetes (com aproximadamente 31.000 plantas) para facilitar os tratos culturais e colheita no interior do palmal (Figura 1).

Plantios mais adensados vêm sendo difundidos no Nordeste (mais de 60.000 plantas/ha). Este tipo de plantio deve ser evitado nas regiões ondeexiste incidência da cochonilha do Carmim, pois podem garantir a permanência de esconderijos para a praga e facilitar a infestação da cultura.
Os plantios adensados não devem ser implantados em locais de solo raso e de baixa fertilidade (Figura 1).
Em regiões onde o plantio adensado se aplica, a distância entre as linhas deve ser de 1,80m para as variedades de raquetes grandes (gigante, IPA 20, redonda) e de 1,40m para a palma miúda, permitindo o trânsito entre as linhas, possibilitando o monitoramento de possíveis ocorrências de pragas,
doenças, facilitando a aplicação de produtos fitossanitários e tratos culturais. Já as distâncias entre as raquetes podem variar de 9 a 25 cm, dependendo da população de planta desejada. Os plantios adensados têm maior dependência de insumos externos (adubos químicos e corretivos) e sempre que este sistema de plantio for adotado (Figura 1).
A escolha da forma de plantio deve sempre levar em conta as condições de clima e solo, a finalidade do plantio, os recursos disponíveis e o custo benefício. A assessoria de um técnico capacitado é importante para a tomada de decisão mais acertada.
Uso da palma forrageira na alimentação de bovinos leiteiros
A palma forrageira constitui a base da alimentação do gado de leite nas bacias leiteiras do nordeste brasileiro, sendo excelente fonte de energia, rica em carboidratos não-fibrosos (61,79%) e nutrientes digestíveis totais (62%). Porém, apresenta baixos teores de matéria seca (11,7%), proteína bruta (4,8%), fibra em detergente neutro - FDN (26,87%), fibra em detergente ácido - FDA (18,9%) e teores consideráveis de matéria mineral (12,04%).
Dessa forma, recomenda-se sua associação a fontes protéicas e outros volumosos visando corrigir os baixos teores de proteína bruta e fibra em detergente neutro, evitando distúrbios metabólicos, como a diminuição da ruminação e redução nos teores de gordura no leite.
É possível utilizar até 60% de palma na matéria seca da dieta associada a 25% de fonte de fibra e 15% de concentrado, desde que sejam respeitados os limites mínimos de 25-28% de FDN e máximo de 40-44% de carboidratos não-fibrosos. É importante que na composição das dietas seja utilizada uréia e forrageiras com elevado teor de proteína bruta. Assim, podem ser alcançadas relações de kg de concentrado/kg de leite de 1:5, 1:6 e até 1:7.
Em razão do baixo teor de matéria seca da palma forrageira, dietas para vacas em lactação com alta proporção desse volumoso possuem elevada concentração de umidade, o que é vantagem para regiões semiáridas, onde a escassez hídrica é um fator limitante para os sistemas de produção de leite.
Formas de fornecimento
Apesar da necessidade de

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