A busca de elementos biológicos e conhecimentos
apropriados
Artigo de Manoel Dantas Vilar Filho
Artigo de Manoel Dantas Vilar Filho
À GUISA DE INTRODUÇÃO:
A seca e a extravagância de seu destratamento
É muito desgastante ter de fazer as coisas apesar de e
não há graça nenhuma em se sentir num batalhão, com o passo desencontrado. Por
isso, falando sobre esses assuntos da Seca, corro o risco de ficar enfático ou
maçante. Se o for, me perdoem; é um exagero natural dos crentes, mesclando a
impaciência de quem resiste ao desencanto. Sei que mantenho, lá por dentro, a
humildade dos apaixonados e que, enfim, devo ter os defeitos e as virtudes da
Raça a que pertenço: a dos nordestinos temperados na teimosia contra a
dificuldade, escorados na fidelidade a si mesmos e ao seu mundo cheio de
despojamentos.
O que aprendi foi em alguns livros e através de
continuada observação, na reflexão e na ação dedicadas exclusivamente ao Cariri
das secas, onde a dimensão do real aniquila qualquer frivolidade, até por cima
do sofrimento sem medida e sem consolo - além da fé - do seu povo.
Vou escrever como quem tenta contar de experiência
vivida, pensando em acrescer alguma informação a outro que, como eu, até por
lealdade às suas raízes, queira envolver o tempo da mente e da carcaça, com
esse mundo áspero, bonito, possível e mal tratado da zona seca. Daí, talvez, o
tom pessoal mais acentuado de algum trecho, sobretudo quando não consigo
esconder travos de rigor e do pecado da ira, que, por mais que não quisesse,
foram aderindo à minha expectativa. Coisa de convertido em monomaníaco, que procura
se compensar dessa condição, se valendo da cortesia da clareza e da vantagem de
não atropelar a mania de outros.
Devo chamar esse texto de sumário das veredas - longas e
cheias de voltas, como o texto - por onde fui me aconselhando, nesses trinta e
tantos anos, desde que larguei as atividades urbanas de Engenharia e
Universidade e assumi, por morte desavisada do Pai, em tempo e empenho
integrais, o cuidado da Fazenda, sem considerar isso uma condenação. Nessa
contramão do roteiro clássico da migração dos nordestinos, desenvolvi com o
semi-árido uma relação intensa, funda e inevitável, e, tanto melhore a nitidez
dos caminhos, cresce uma forma de tristeza, ao digerir o contraste entre o
viável de fazer e o que se faz, sendo a lógica, como é, a ética do intelecto.
Especialistas classificam as Secas em meteorológicas -
periódicas e típicas de cada região,
hidrológicas - baixas precipitações
eventuais em qualquer clima e sócio-econômicas - resultantes da associação
entre perda de bens de produção e qualquer das duas anteriores.
A Seca é uma característica normal e recorrente do Clima, diferindo de outros riscos naturais por sua lenta maturação, sem a ostensividade repentina das enchentes ou dos terremotos. |
Aqui, ainda lhe tratam como uma espécie de azar seu de um
pedaço do Brasil, onde persistentes fatalistas teimam em morar e para quem,
tecnocratas e políticos, seduzidos por uma posição intelectual mais fácil e de
fazer mais simples, se limitam a masturbar-se na molhação artificial da terra
para pensar em produção, indiferentes ao conflito entre o mundo real e esse
comodismo do cérebro. Ainda não resolveram o problema de áqua para beber o uso
primordial e sem sucedâneo que água tem e que é de solução sabida e accessível.
A intempestividade das chuvas do NE e seu regime
distributivo, caracterizam uma região de clima singular, caprichoso, não
compatível com equações de 1° grau na sua abordagem e, por conseqüência, com
plantas e animais que sejam lineares nas suas condições para crescer e
produzir. E nem com gente que tenha como baliza de pensamento, um cartesianismo
derivado de climas regulares e coisas mansas.
.Um Ensaio estatístico desenvolvido no CTA (Carlos
Girardi e Luís Teixeira) em 1978, evidenciou dois tipos básicos de Secas no NE,
além dos oito ou nove meses sem chover, normais, de cada ano: um período
radical, isolado (ciclo de 13 anos), inserido num tempo relativamente chuvoso
(1866, 1915, 1942 e, depois, 1993),
e outro, um encadeamento de anos brabos - as, até então, chamadas Grandes Secas - em intervalos aproximados de 26 anos, onde dois são particularmente ruins e o número do pior grava na lembrança regional a dureza do conjunto. Os ciclos foram: 1873/78, com secas máximas em 1877 e 1878; o segundo em 1900/07, com as maiores em 1900 e 1907; um outro 1927/33, com o pico em 1931 e 1932 e o seguinte, 1951/58, com o pior em 1953 e 1958. O último, o imediatamente previsto pelo CTA, foi de 1979 a 1983, com as maiores secas em 1981 e 1983. Há poucos dias, incluindo os dados de 1978 até 2000 e afinando o tratamento matemático da nova série, demarcaram um novo período mínimo a partir de 2003.
e outro, um encadeamento de anos brabos - as, até então, chamadas Grandes Secas - em intervalos aproximados de 26 anos, onde dois são particularmente ruins e o número do pior grava na lembrança regional a dureza do conjunto. Os ciclos foram: 1873/78, com secas máximas em 1877 e 1878; o segundo em 1900/07, com as maiores em 1900 e 1907; um outro 1927/33, com o pico em 1931 e 1932 e o seguinte, 1951/58, com o pior em 1953 e 1958. O último, o imediatamente previsto pelo CTA, foi de 1979 a 1983, com as maiores secas em 1981 e 1983. Há poucos dias, incluindo os dados de 1978 até 2000 e afinando o tratamento matemático da nova série, demarcaram um novo período mínimo a partir de 2003.
Em Taperoá, as medições desde 1911, indicam: média anual de 584 mm, mínimo de 97 e máximo de 2030 mm |
.A leitura política do par de curvas (desenhos e outros
comentários anexos) que desenham a análise e a projeção da série estatística
(1849-1978) do CTA, revela curiosas circunstâncias e constatações de muita
valia para se entender o que já houve e porque continua sem haver providências
sistemáticas - como a Seca é - para acudir, efetivamente, o problema e o povo:
.Cada estio maior é quem gerou, depois de acontecido,
alguma iniciativa de Governo em relação às secas, sempre em tom peremptório e
pretensão definitiva;
.Essa formulação espasmódica é deslembrada ou esvaziada,
assim que volta a chover, até que nova seca venha emocionalizar as conversas,
quando se improvisa outra, sob a mesma retórica, a mesma inconsistência e a
mesma transitoriedade, ainda hoje;
.A visão hidraulicista (água como fator de produção
faltante/excludente) da