Dr. Bonifacio Benicio de Souza: Graduação em Zootecnia pela Universidade
Federal da Paraíba (1982), mestrado em Produção Animal pela Universidade
Federal da Paraíba (1994) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de
Lavras (2000), Pós-Doutorado em Ambiência e Zootecnia de Precisão na
Universidade de São Paulo - USP (2008).
1. Introdução
As preocupações com vistas ao suprimento de
alimentos e produtos de origem animal em quantidade e qualidade, suficientes
para atender a demanda da população humana, sempre em crescimento, tem
provocado os diversos setores no sentido de aumentar a produtividade animal.
Seja através da seleção de raças mais produtivas, sistemas de produção que
permitam uma maior produção por área, melhoria nutricional e de ambiência,
visando exclusivamente o aumento da produtividade, muitas vezes sem a
preocupação com o bem-estar dos animais.
Adaptabilidade e bem estar animal. |
Atualmente dois aspectos importantes
estão em discussão a nível mundial: o aquecimento global, que como consequências está provocando mudanças acentuadas nos climas das diferentes
regiões do planeta, assim exigindo um melhor conhecimento das espécies e raças
que apresentem potencial genético com maior capacidade de adaptabilidade, sendo
capazes de sobreviver, produzir e reproduzir-se em condições adversas de clima,
principalmente nos ambientes tropicais e intertropicais; outro, diz respeito ao
bem estar-animal.
Determinadas práticas utilizadas no sentido de
aumentar a produtividade animal, mas que não correspondem à manutenção do
bem-estar para os animais vêm sendo combatidas, principalmente nos países
europeus. É necessário que sejam atendidas as exigências previstas nos direitos
dos animais, como a liberdade psicológica (de não estar exposto a medo,
ansiedade ou estresse), liberdade comportamental (de expressar seu
comportamento normal), liberdade fisiológica (de não sentir fome ou sede), liberdade
sanitária (de não estar exposto a doenças, injúrias ou dor) e liberdade
ambiental (de viver em ambientes adequados, com conforto) (NÄÄS, 2004).
Não estar exposto a doenças, injúrias ou dor. |
A produção animal nos trópicos é limitada
principalmente pelo o estresse calórico e há o agravante de que as raças
selecionadas para maior produção, no geral, são provenientes de países de clima
temperado, o que não permite a estas expressar o máximo da sua capacidade
produtiva. Desta forma, torna-se imprescindível o conhecimento da
capacidade de adaptação das espécies e raças exploradas no Brasil, bem como a
determinação dos sistemas de criação e práticas de manejo que permitam a
produção pecuária de forma sustentável, sem prejudicar o bem-estar dos animais.
Este texto procura discutir os aspectos da
adaptabilidade e bem-estar dos animais de produção, levando em consideração a
importância que estes temas representam na atualidade, para escolha, seleção e
preservação de espécies e raças que apresentem maior capacidade genética de
adaptabilidade a ambientes de temperatura elevada e outras adversidades
climáticas, que poderão surgir com o evidente aquecimento global.
2. Adaptabilidade
dos animais de produção ao clima tropical
Tolerância e adaptação dos animais são determinados pelas medidas fisiológicas da respiração, batimento cardíaco e temperatura corporal. |
• Adaptação biológica: refere-se às características
morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e de comportamento do
animal, que permitem o bem-estar e a sobrevivência em um ambiente específico.
• Adaptação genética: refere-se às características
hereditárias do animal, que favorecem a sua sobrevivência em um ambiente
específico e podem promover mudanças por muitas gerações (seleção natural) ou
favorecer a aquisição de características genéticas específicas (seleção
artificial).
• Adaptação fisiológica: é o processo de ajustamento
do próprio animal a outro ambiente.
• Aclimatização: refere-se a mudanças adaptativas
(normalmente produzidas em câmaras climáticas) em resposta a uma única variável
climática.
Para Abi Saab e Sleiman (1995), os critérios de
tolerância e adaptação dos animais são determinados pelas medidas fisiológicas
da respiração, batimento cardíaco e temperatura corporal. A adaptação
fisiológica, dada principalmente por meio das alterações do equilíbrio térmico,
e a adaptabilidade de um rendimento, que descreve as modificações desse
rendimento quando o animal é submetido à altas temperaturas, são para MacDowell
(1989), as duas classes principais de avaliação da adequação a ambientes
quentes. A temperatura retal e a freqüência respiratória são para Bianca e Kunz
(1978), as melhores referências fisiológicas para estimar a tolerância dos
animais ao calor. Hopkins et al. (1978) afirmam que valores de temperatura retal
próximos à temperatura normal da espécie podem ser tomados como índice de
adaptabilidade. Animais que apresentam menor aumento na temperatura retal e menor
freqüência respiratória são considerados mais tolerantes ao calor (BACCARI JR,
1986). De acordo com Siqueira et al. (1993), a temperatura retal, a freqüência
respiratória e o nível de sudação cumprem um importante papel na
termorregulação dos ovinos. Segundo Baccari Jr. (1990) a maior parte das
avaliações de adaptabilidade dos animais aos ambientes quentes estão incluídas
em duas classes: (adaptabilidade fisiológica) que descreve a tolerância do
animal em um ambiente quente mediante, principalmente modificações no seu
equilíbrio térmico, e (adaptabilidade de rendimento) que descreve as
modificações da produtividade animal experimentadas em um ambiente quente. De
acordo McDowell (1989) a adaptação fisiológica é determinada principalmente por
alterações do equilíbrio térmico e da adaptabilidade que descreve determinadas
modificações no desempenho quando o animal é submetido a altas temperaturas.
Boer |
Mesmo considerando as espécies mais tolerantes ao
calor, como é o caso dos caprinos que é tida como menos susceptível ao estresse
ambiental, em temperaturas críticas reduzem a sua eficiência bioenergética
prejudicando o resultado de sua produtividade (LU, 1989). Por isso, o
conhecimento prévio do desempenho de raças exóticas introduzidas em ambientes diferentes
ao de sua origem torna-se indispensável. Neiva et al., (2004) ao avaliarem o
efeito do estresse climático sobre os parâmetros produtivos e fisiológicos de
ovinos Santa Inês, mantidos em confinamento em ambiente de sombra e sol, com
diferentes níveis de volumoso e concentrado na dieta, observaram que
o consumo de matéria seca foi superior para os animais mantidos à sombra
independente da quantidade de concentrado, os quais apresentaram maior ganho de
peso.
Com relação aos parâmetros fisiológicos foi observado que a elevação da
temperatura ambiente no turno da tarde exerceu influência sobre a temperatura
retal e freqüência respiratória. Portanto, mesmo no caso de animais de regiões
tropicais as interações entre o tipo de alimento, o consumo, o ambiente e
parâmetros fisiológicos devem ser determinados a fim de que o desempenho dos
animais não seja prejudicado. Santos et al., (2005) observaram que independente
da raça (exótica ou nativa) o turno influenciou sobre os parâmetros
fisiológicos. Com relação à temperatura retal
Anglo-Nubiana |