Está plenamente provado que o mesmo tipo de Zebu que se encontra por toda a Índia e em grande parte do continente negro, já se achava a serviço do homem ao tempo da falada civilização ariana cujos traços são hoje encontrados ainda, na vasta zona do “talweg” do rio Indus, o grande caudal histórico do noroeste indiano.
O principal testemunho disto são os frescos, faianças e terracotas, obras de talha em bronze e ouro, etc., encontrados nas escavações efetuadas pelos arqueólogos ingleses nas ruínas da pré-histórica cidade de Mohen-jo-Dahro, à margem esquerda do Indus, com a supervisão do eminente sábio Sir John Marshall. Nessas escavações foram encontrados vasos, estatuetas e medalhões tendo, esculpidas e desenhadas figuras de Zebus. Entre estes medalhões tem lugar de destaque o célebre selo de bronze, conhecido sob a denominação de “selo de Mohen-jo-Dahro”, considerado como tendo sido fundido cerca de 3.000 anos antes da era cristã.
Selo de Mohen-jo-Dahro |
Cancredje |
Cientistas tais como L. H. Shirlaw, que estudaram, com vigor, a origem do Zebu, nos ensinam que, por aquela época, existiam, na mesma região, dois tipos distintos de boi, sendo que um desses tipos de menor tamanho pode ter pertencido a uma raça destituída de giba, que é o distintivo predominante do “Bos índicos”. Todavia ficou bem averiguado que os vestígios desse boi só foram encontrados nas camadas superficiais das escavações, enquanto que, nas camadas inferiores foram encontrados unicamente vestígios do Zebu. Isto prova, à sociedade, que o Zebu existiu, na região, séculos antes de ai ter dado entrada i “Bos taurus”, propriamente dito. O próprio Sir John Marshall, que acima nos referimos, declara que nos detritos e esculturas encontrados em Mohen-jo-Dahro, se tem a prova de que o gado ora existente no noroeste da Índia, pertence à mesma raça dos existentes na região, naquela época pré-histórica. Este gado é hoje aí representado pelo Cancredje, pelo Guzerate, etc.
Ilustrações de peças de terra cota |
Esta mesma observação nos foi transmitida pelo eminente bovitecnista o Coronel Sir Arthur Olver, consultor técnico do Serviço Animal do Imperial Conselho de Pesquisas Agrícolas da Índia. Diz-nos ele, que é marcante a semelhança entre o Cancredje com o célebre animal esculpido no selo de Mohen-jo-Dahro.
Todavia nos repugna aceitar a teoria de que o Zebu de chifres grandes seja uma mistura do gado Hamítico (da África equatorial) de chifres longos e sem bossa, com o Zebu de chifres curtos.
O Zebu de chifres curtos é um bovino comparativamente moderno na Índia e muito mais ainda na África. Segundo a opinião de Epstein, na sua obra “Heredity”, publicada em 1933, o Zebu de chifres curtos é o resultado do cruzamento dos “Bos brachyceros” com o Zebu “de chifres laterais”. Todavia a única prova de ter o “Bos Brachyceros” atingido a Índia nós a temos ainda nas escavações de Mohen-jo-Dahro onde se encontram nos “strata”superiores, vestígios de uma raça de bois possivelmente destituídos de giba (não se excluindo a hipótese de se tratar de Zebus castrados cedo ou de vacas, onde o cupim pouco aparece).
Quanto ao “Zebu de chifres laterais”, de Epstein, este não foi encontrado nas indagações pré-históricas da Índia, a não ser que se queira encontrar alguma afinidade entre ele e o Gire as suas sub-raças e, quiçá, no Sind ou mesmo no Africânder, da África do Sul.
Mehrgarh, um dos mais importantes sítio arqueológico do Neolítico (7.000 a.C. a 3.200 a.C.), encontra-se na planície Kachi do Baluquistão, no Paquistão, e é um dos primeiros sites com evidência de agricultura (trigo e cevada) e de pastoreio (gado, ovinos e caprinos) no sul da Ásia. |
Em todo o caso é aceitável a suposição de Olver, de que o Zebu de chifres curtos, representado hoje pelo Bahgnari, pelo Hariana, pelo Ongole e outros, tenha acompanhado os vedo-arianos durante a invasão da Península Indiana, invasão essa que, segundo Smith, na sua “Oxford History of Índia”<1933> se processou de 2.000 a 1.500 a.C. Smith faz notar a circunstância de que esses povos emigrantes deixaram traços indeléveis de sua passagem desde o Himalaia, de noroeste para leste, até ao extremo sul da península Indiana. O mesmo pode-se dizer do Zebu de chifres curtos, raça de predicados duplos de leite e tração. A penetração desse gado na Índia é evidenciada pelos tipos raciais conservados dentro de uma faixa em vasta diagonal, que tendo seu inicio em Karat, fora das fronteiras ocidentais do Belutchistão vai ganhar o Golfo de Bengala no oriente da Índia, um pouco ao norte da cidade de Madras.
E não é só isto. A diferença entre as raças hoje consideradas distintas uma das outras, com caracteres tidos, atualmente, como perfeitamente definidos, como por exemplo, se dá com o Bhagnari, com o Hariana, com o Ongole, é realmente muito diminuta mesmo. É tão
diminuto que quem não estiver profundamente a par dos pequenos detalhes marcantes nos indivíduos de cada grup
o, não os poderá diferenciar.
Destarte muitos consideram, talvez, a esta diferenciação mera convenção e que, na verdade não o é, pois há características peculiares a cada um desses ramos e pelos quais se podem distinguir qualquer dos grupos, sem receio de erro e, mesmo, sem grandes conhecimentos técnicos.