Juliana
Evangelista da Silva Rocha
Pesquisadora, D.
Sc., da Embrapa Caprinos e Ovinos
Apresentação
A região semiárida é caracterizada pela instabilidade
climática, limitando às atividades agropecuárias no Nordeste. A concentração das chuvas em poucos meses do
ano acarretam em estacionalidade de produção, com redução da disponibilidade de
forragem no período seco e impactos negativos sobre a viabilidade técnica e
econômica da produção animal. Neste cenário a palma forrageira se destaca como
planta forrageira ideal para mitigar os efeitos do baixo rendimento da pecuária
no semiárido. Se bem manejada, a palma é capaz de atingir altas produtividades,
garantindo a suplementação dos animais. Pelas composições químicas não é
recomendada em uso exclusivo, mas principalmente compondo o balanço nutricional
da dieta e ofertando água aos animais. Por ser uma planta CAM, apresenta-se exigente em
temperatura noturna amena e elevada umidade relativa do ar para o bom
desenvolvimento, e estas características impedem que as atuais cultivares sejam
plantadas em regiões de baixa altitude. Entretanto, existe variabilidade
genética suficiente para ser explorada em programas de melhoramento, visando
identificar materiais mais adaptados. Outro ponto focal nas pesquisas com palma
forrageira é o desenvolvimento de cultivares resistentes à principal praga, a
cochonilha. Mudanças climáticas, recuperação de áreas degradadas e
múltiplos usos são perspectivas de aumento na área plantada e na procura por
informações sobre a cultura. O Estado da Arte da Palma Forrageira no Nordeste do Brasil enfatiza a
necessidade de incrementar as pesquisas com esta forrageira no semiárido. Evandro Vasconcelos Holanda Júnior - Chefe-Geral
da Embrapa Caprinos
e Ovinos
Introdução
No Brasil sua introdução ocorreu no final do século XVIII (SIMÕES et al., 2005). A priori, era destinada à criação de uma cochonilha (Dactylopius cocus) capaz de produzir corante (LIRA et al., 2006). Logo em seguida, a planta passou a ser usada como ornamental. E somente no início do século XX, como planta forrageira. Esse último uso se intensificou na década de 90 quando ocorreram secas prolongadas no Nordeste (ALBUQUERQUE, 2000; SIMÕES et al., 2005).
No Brasil sua introdução ocorreu no final do século XVIII (SIMÕES et al., 2005). A priori, era destinada à criação de uma cochonilha (Dactylopius cocus) capaz de produzir corante (LIRA et al., 2006). Logo em seguida, a planta passou a ser usada como ornamental. E somente no início do século XX, como planta forrageira. Esse último uso se intensificou na década de 90 quando ocorreram secas prolongadas no Nordeste (ALBUQUERQUE, 2000; SIMÕES et al., 2005).
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A instabilidade climática é a grande limitação às
atividades agropecuárias no Nordeste (CAVALCANTE; CÂNDIDO, 2003), gerando a
estacionalidade na produção de forragem. Entretanto, a pecuária do semiárido
possui outros entraves, como a falta de recursos do sertanejo, e a estrutura
fundiária marcada pela predominância de propriedades de pequeno porte,
possivelmente pela alta densidade demográfica (LIRA et al., 2005). Assim, custo
e disponibilidade de forragem se tornam determinantes na composição da dieta dos
animais. Por esses motivos, a palma integra o elenco de medidas comumente
prescritas para mitigar os efeitos das secas através de esforços de programas
federais desde a década de 1930 (SIMÕES et al., 2005).
No Nordeste, o primeiro Estado a introduzir e pesquisar
palma foi Pernambuco (LIRA et al., 2006), e até os dias atuais se destaca como
grande líder na produção de conhecimento da espécie. O sucesso dos trabalhos no
Estado é devido à boa adaptação da planta ao clima do agreste.
Clima e Solo
A palma forrageira é uma planta rústica que tem um bom
desenvolvimento em região com pouca chuva. Entretanto, informações sobre umidade
do ar e do solo, temperatura média do dia e da noite são determinantes na
produção. Para determinar as faixas de aptidão para o cultivo de palma, Souza
et al. (2008) elaboraram um zoneamento agroclimático, usando como ferramentas
essenciais, as informações da fenologia e das características da cultura,
associados às condições climáticas das regiões de origem e à dispersão
comercial da palma forrageira. O zoneamento é de fundamental
importância para o
planejamento, a tomada de decisões e a identificação de áreas com potencial
produtivo para ao cultivo de palma (MOURA et al., 2011). De acordo com esse
zoneamento, o potencial produtivo ocorre em regiões cuja temperatura média
oscila entre 16,1 °C e 25,4 °C; com máximas entre 28,5 °C e 31,5 °C e mínimas
variando de 8,6 °C a 20,4°C. A amplitude térmica está situada entre 10,0 °C e 17,2
°C. A faixa ideal de precipitação se concentra entre 368,4 mm e 812,4 mm,
embora possa ser cultivada com 200 mm, e o índice de umidade anual varia entre
-63,1 e -37,3.
CAVOUCO D |
O crescimento da palma é favorecido nas maiores
altitudes, devido à redução da temperatura do ar e ao aumento da umidade
relativa no período noturno (55%-60%) (FARIAS et al., 2005). As espécies do
gênero Opuntia não se adaptam a regiões de baixa altitude, às elevadas temperaturas
noturnas e à baixa amplitude térmica. Isso ocorre em algumas regiões do
semiárido e são a causa da baixa produtividade e até mesmo da morte da palma
(SANTOS et al., 2006), a exemplos do município de Sobral no Ceará (LIRA et al.,
2006) e das áreas baixas do Seridó e do Sertão Central do Rio Grande do Norte (LIMA
et al., 2006). Relativamente exigente quanto às características físico-químicas
do solo, o cultivo de palma pode ser indicado em áreas de textura arenosa à
argilosa, sendo, porém, mais frequentemente recomendados os solos argilo-arenosos. Além da fertilidade, é
fundamental, também, que o solo seja de boa drenagem, uma vez que áreas
sujeitas a encharcamento não se prestam ao cultivo da palma (SANTOS et al.,
2006). O cultivo também é inviável em regiões cuja precipitação anual é
superior a 1100 mm (SOUZA et al., 2008).
Plantio e Manejo
A palma responde positivamente à melhoria nas práticas de
cultivo. Portanto, quanto mais adequado for o seu manejo, maior será a sua produção
(FARIAS et al., 2005).Para o preparo do solo, é recomendado aração, subsolagem,
gradagem e profundidade dos sulcos de aproximadamente 20 cm (SILVA et al.,
2004). O espaçamento a ser usado é variável com a fertilidade do solo, a quantidade
de chuva (TELES et al., 2002), o número de plantas que se deseja por hectare e
do uso isolado ou consorciado do campo (RAMOS et al., 2011). Na Tabela 1 constam alguns exemplos de espaçamentos
e o número de plantas por hectare, devendo o agricultor definir suas
prioridades.
Plantios mais adensados vêm sendo difundidos no Nordeste
(mais de 60.000 plantas/ha) por produzirem maior quantidade de MS por hectare
(LIRA et al., 2006), em função do maior número de brotações por unidade de área
(DUBEUX JUNIOR; SANTOS, 2005). Entretanto, têm maior dependência de insumos
externos (adubos químicos e corretivos) (TELES et al., 2002) e devem ser
evitados nas regiões onde existe incidência da cochonilha do Carmim, pois podem
garantir a permanência da praga e facilitar a infestação da cultura
(ALBUQUERQUE, 2000).
Em contrapartida, a maior distância entre as fileiras
permite trânsito de máquinas, facilidades nos tratos culturais (capina e
fitossanitários), monitoramento sanitário e ainda permitem o consórcio do
palmal com culturas anuais (FARIAS et al., 2000). Ramos et al. (2011)
acrescentam como vantagem o menor risco na incidência de pragas e doenças pela
maior exposição das plantas ao sol e aeração. A desvantagem é que a menor
densidade exigirá maior controle das plantas daninhas (LIRA et al., 2005). A
Figura 1 mostra um plantio mais adensado, usando 50 cm entre linhas e outro
mais espaçado, com 1 metro de distância entre uma linha de plantio e outra. A utilização de culturas anuais, como milho, sorgo
(Figura 2), feijão (Figura 3), mandioca etc., intercaladas com a palma, tem
sido adotada com objetivo de viabilizar o cultivo em termos econômicos (SANTOS
et al., 2006). O consórcio também pode ser feito em palmais mais adensados nos
anos de plantio e de colheita. É importante enfatizar que a situação ideal de
espaçamento é aquela em que a maior parte da luminosidade atinja as raquetes,
sem haver sombreamento das mesmas (SAMPAIO, 2005).
Para adubação, Albuquerque (2000) encontrou melhor
resposta no