(Artigo publicado por Leite (1991a), no Jornal Correio da Paraíba - retirado do livro: Sindi: O Gado Vermelho para o Semiárido)
A
história da raça Sindi no Nordeste começou na Paraíba, quando em 1980,
Virgolino de Farias Leite Neto, Diretor do Registro Genealógico da ABCZ no
Estado, após contatos com o Embaixador do Paquistão, em Brasilia, DF, conseguiu
vasto material da Universidade de Karachi sobre esta raça além de fazer contato
pessoal com o Sr. José Cezário de Castilho em São Paulo, presidente da
Associação Brasileira de Criadores da Raça Sindi e maior criador de Sindi do país. Na época, trabalhava-se com duas raças zebuínas para seleção leiteira, o
Gir de Umbuzeiro-PB e o Guzerá de Cruz das Almas-BA, que já havia sido
transferido pela Embrapa para a Paraíba. Foi
discutida sempre a possibilidade de se introduzir a terceira raça leiteira
zebuína na Paraíba. A universidade Federal da Paraíba, através do Centro de
Ciências Agrárias de Areia, com intermediação de Virgolino de Farias Leite Neto
e aprovação de técnicos daquele centro e da própria reitoria e com a disposição
do Sr. José Cezário de Castilho de firmar um núcleo da raça Sindi no Nordeste, estabeleceram
um convênio de Parceria Pecuária, para transferência de um grupo de animais da
raça Sindi para avaliação no semiárido, no Campus da UFPB, em Patos, Sertão da Paraíba. O contrato foi assinado em 24 de janeiro de 1980. Em 20 de março de
1980, a Gazeta de Lins-SP publicava notícia sobre comissão de técnicos paraibanos,
que a serviço da UFPB, escolheram lote da raça Sindi, e que era formada por
Francisco Pereira Mariz (UFPB), Paulo Roberto de Miranda Lelte (Embrapa) e
Virgolino de Farias Leite Neto (SR-ABCZ). Os
animais foram: 2 touros (Veado e Balaio), 2 vacas com cria (Paladina
e Fátia II) e 18 fêmeas (Capela, Ibitinga, Armanda, Dengada Frasqueira, Aliada,
Eleição, Candidata, Poesia, Freta, Legislatura, Bissetriz, Duquesa, Aba,
Aeronave, Astuta, Alvorada e Baiuca), todas registradas na ABCZ.
Em
1968, o autor estagiou na Estação Experimental de Ribeirão Preto do I.Z. de São
Paulo, quando conhecemos os trabalhos que ali eram conduzidos com a raça Sindi
para seleção leiteira, sob a orientação do Dr. Alberto Alves Santiago, então
Diretor do Instituto de Zootecnia. Em
19 de março de 1980, de passagem pela Estação Experimental de Colina-SP tomou
conhecimento da disposição
do Governo do Estado de São Paulo em desativar os
trabalhos com a raça Sindi. Através de exposição de motivos endereçada à
Secretaria da Agricultura e Abastecimento, a quem a Empresa Estadual de
Pesquisa Agropecuária da Paraíba está vinculada, fez-se proposta sobre a
importância e oportunidade de negociar a transferência do rebanho ou parte
dele.
Em
21 de março de 1980, foi conseguido do Governo do Estado da Paraíba, documento
oficializando o pedido dos animais que se encontravam em Colina-SP. Em 16 de
setembro de 1980, o Governo de São Paulo concordava com uma permuta e assim
vieram para a EMEPA-PB, dois touros (Valor e Zebrado), 12 vacas (Tanali,
Vaqueta, Turquia, Tara, Unção, Upa, Vacaria, Urca, Usura, Tijuca, Turquesa e
Taberna), provenientes da seleção que o Instituto de Zootecnia vinha realizando
há 20 anos, com animais da importação de 1930, cedidos do Sr. José Cezário de
Castilho e da importação do Dr. Felisberto de Camargo em 1952, através da
Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", de Piracicaba. Foi
recebido o que melhor havia da seleção do I.Z., porém, os animais não estavam
mais sendo registrados pela ABCZ, devido às mudanças administrativas naquele instituto.
A
partir de 1980, criadores particulares entusiasmados com o que viam em Patos-PB
(UFPB) e Riacho dos Cavalos-PB (EMEPA-PB), onde exemplares da raça Sindi
demonstravam excelente adaptação ao meio ambiente do semiárido, justamente nas
regiões mais áridas do Estado, estabeleceram contatos com o Sr. José Cezário de
Castilho e com criadores de outros Estados e, assim, foram formados vários
rebanhos, com destaque ao da Fazenda Carnaúba, em Taperoá-PB, do Sr. Manoel Dantas
Vilar Filho. Merecem destaques hoje na Paraíba, também os rebanhos do Sr. Pompeu
Borba em Campina Grande-PB, da Organização Saulo Maia, em Areia-PB, e do Sr.
Mário Silveira, em Mogeiro-PB, além de diversos núcleos em formação.
Em
1982, em visita ao National Dairy Research Institute (NDRI) no Karnal, India,
para conhecimento dos trabalhos com as raças Sindi, Sahiwal e Tharparkar,
deparamo-nos com um trabalho de alto nível técnico e administrativo, com os
rebanhos sendo acompanhados há mais de 25 anos por equipes técnicas bem
preparadas e com um grande número de informações e trabalhos cientificos
publicados sobre os animais daquele Centro de Pesquisa. Trabalhavam também com
raças leiteiras de Búfalos e na formação de uma raça ou tipo leiteiro do
cruzamento do Sahiwal com a raça Parda Suiça, que chamavam de "Karan
Swiss". Os animais da raça Sindi que pertenciam àquele Centro, como das
demais raças, eram submetidos a um manejo racional e os trabalhos visavam à
produção leiteira. A
surpresa maior foi verificar-se quando da visita ao Pará, nas Estações
Experimentais da Embrapa, a semelhança entre os exemplares do Kamal, India e
aqueles remanescentes da importação do Dr. Felisberto de Camargo, em 1952.
Em
1984, após nosso retorno da India, quando foram analisados os resultados de
diversos trabalhos sobre o desenvolvimento ponderal da raça Sindi na Índia e no
Paquistão e surgiu a oportunidade de participar de várias Exposições no Brasil,
verificou-se a inviabilidade de se manter uma equivalência de pesos entre as
raças Sindi e Gir. O resultado era conhecido; exemplares da raça Sindi não
entravam nas Exposições por apresentarem sempre pesos abaixo da tabela (a
tabela oficial de pesos da raça Gir foi adotada para a raça Sindi). Em 1984,
publicou-se um trabalho sobre a "Equivalência dos limites mínimos de pesos
das raças Gir e Sindi" (Leite & Santos, 1984), e como resultado, a
tabela sugerida foi homologada pelo Conselho Técnico da ABCZ e a partir da
52." Exposição Nacional do Gado Zebu de Uberaba, em 1986, foi a mesma
incorporada no regulamento, permitindo assim uma participação efetiva da raça
em todos os eventos realizados no país, incentivando os antigos e novos
criadores a mostrarem seus animais, sem preocupação de transformarem a raça em
um tipo de corte.
Em
1988, após várias negociações com a Embrapa, conseguiu-se autorização para
escolher um lote de animais originários da importação de 1952, do Dr.
Felisberto de Camargo e que se encontravam sob responsabilidade do Centro de
Pesquisas Agropecuárias do Trópico Úmido (CPATU) e UEPAE de Belém, ambos da
Embrapa, no Estado do Pará. Esta transferência representou o mais importante
acontecimento para a raça Sindi na Paraíba e no Nordeste. Eram os exemplares
mais puros que existiam da raça no Brasil e, após 4 anos de negociações,
Vlagens, escolha e transporte dos animais, o projeto foi concretizado e, hoje,
estes animais se juntaram aos que vieram do Instituto de Zootecnia de São
Paulo, formando o melhor núcleo puro dessa raça no Brasil. Foram 4 touros
(Abutilo, Bravo, Bando e Condor) e 30 fêmeas, sendo 4 paridas. Constitui um
núcleo de animais que deveria ser assumido pelos órgãos de pesquisa, como
material genético em preservação, podendo concomitantemente ser avaliado nas condições
do semiárido nordestino. Entre
a UFPB e a EMEPA-PB, existem mais de 200 animais da raça Sindi em constantes
observações, constituindo-se numa das melhores reservas genéticas da pecuária
bovina da região.
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