1 de ago. de 2020

Fazenda Carnaúba - PB

SINDI - Gado Vermelho para o Semiárido por Paulo Roberto Miranda Leite e Alberto Alves Santiago

Desde 1943, Manoel Dantas Vilar Filho vem trabalhando e selecionando raças zebuínas para produção de leite, no semiárido dos Cariris Velhos da Paraíba, em sua Fazenda Carnaúba, no município de Taperoá. Inicialmente, o criador havia experimentado o Indubrasil, mas verificou que "*as novilhas tinham parição tardia, davam menos leite e a mortalidade era mais alta. Com o Nelore, acabou o leite e a mansidão e na geração seguinte acelerou o processo de encabritamento do gado, que pouco resistia à seca. Como Gir, obteve o menor porte e o mais lento ganho de peso entre as raças estudadas". Convenceu-se que somente uma pecuária de dupla função (carne e leite), com rusticidade superlativa, pode constituir a solução do problema rural nordestino. Voltou-se, então para o gado Guzerá de Cantagalo, de que se tornou um dos continuadores do trabalho do pioneiro Cel. João de Abreu Júnior, formando um excelente rebanho, de alta produtividade. A região em que vive apresenta os inconvenientes e dificuldades do semiárido, onde chove em média 149 mm/ano. Por isso, o selecionador teve de organizar sua fazenda racionalmente, dotando-a de todas as instalações necessárias e mais adequadas ao sistema de trabalho. Construiu um grande armazém para estoque de feno e introduziu no campo, gramíneas australianas, principalmente, o capim Buffel biloela (Cenchrus ciliares) e o Urochloa (Uruchloa mosambiensis (Hack) Dandy cv. Nixon. Graças à sua providencia, o gado venceu os cinco anos de intensa seca, de 1979 a 1983, recorrendo ao feno, palhas, sabugo, restos de
Adega D

cultura e ureia. Tomando conhecimento do gado Sindi introduzido no Brasil, Manoel Dantas Vilar procurou, em 1979, conhecer a raça vermelha, dada a sua aptidão leiteira. Passada a seca, em dezembro de 1983, adquiriu nove fêmeas de um criador de Pernambuco e para servi-las, dois reprodutores da EMEPA-PB, do lote trazido do Instituto de Zootecnia de São Paulo, todos de origem de Camargo. Em 1985, com a consultoria técnica de Geraldo Oliveira, médico veterinário, conhecido como Geraldo Caboclo, escolheram e adquiriram diretamente de José Cezário de Castilho, 52 fêmeas e, em maio de 1985, mais 51, perfazendo um total de 103 matrizes, escolhidas na cabeceira do gado, além de dois touros. Para servi-las conseguiu da EMEPA-PB mais dois machos oriundos do gado puro de origem do
Manoel Dantas Vilar Filho (março 2010)

Pará. Agora Manoel Dantas Vilar chegou à situação de só poder usar reprodutores de seu próprio rebanho, com base no controle leiteiro e na eficiência reprodutiva. Disse-nos Dantas Vilar: "o gado importado em 1952 é da maior importância, porquanto foi possível através dele obter maior homogeneização, maior rusticidade e maior produção leiteira no gado Sindi antigo". Referia-se aqui ao rebanho de Novo Horizonte, descendente dos importados em 1930. O plantel é objeto de observações cuidadosas e permanentes, quanto à aptidão leiteira, fertilidade, habilidade maternal, peso ao nascer, desenvolvimento ponderal e características raciais. Quanto a este ponto notou-se a perfeita uniformidade do numeroso rebanho, que examinamos em companhia de José Cezário de Castilho. Verificou-se que a idade ao primeiro parto tem variado de 28 a 32 meses, em função das secas. Em 1990, choveu 124 mm; em 1992 choveu 202 e 120 mm,
respectivamente. Os anos de 1990 e 1995 foram os mais secos, desde 1915, quando choveu apenas 15 dias, conforme registro antigo da Fazenda. O intervalo entre partos tem variado de 13,2 a 15,4 meses nesses anos todos. Toda a vacada é submetida ao controle leiteiro, inicialmente pela ABCZ e depois pelo Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba. As fêmeas que não alcançaram os limites estabelecidos são apartadas para a venda, dando origem a novas criações. O controle leiteiro foi iniciado em maio de 1987 e prosseguiu com regularidade até o presente, abrangendo 310 lactações, conforme verificado pelas cópias de todas as folhas do livro de registro. Foi observado que 43 lactações superaram 3.000 kg de leite; 33 ultrapassaram 3.255 kg e 13 vacas produziram acima de 3.500 kg. Houve 17 produções acima de 16 kg dia de leite; o leite de 174 vacas apresentou mais de 5% de matéria graxa, nos 310 controles, confirmando a qualidade de leite gordo das raças zebuínas, sempre superior aos das raças taurinas. As maiores produções de leite foram da reprodutora Galeria, com 4.339 kg em 330 dias, com média diária de 13,14 kg; enquanto Fantasia produziu 3.951 kg, em 294 dias, com média diária de 13,43 kg, revelando a elevação constante da produtividade do rebanho, em uma década de trabalho seletivo.
Manoel Dantas Vilar Filho (março de 2010)
O rebanho atual da Fazenda Carnaúba é constituído de 626 cabeças, entre adultos e novos, todos inscritos no Registro Genealógico. Ë o maior e melhor rebanho leiteiro Sindi do país, apesar da venda de 229 fêmeas parideiras a vários criadores, originando novos plantéis. Surpreendente prolificidade.

 


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