SINDI - Gado Vermelho para o Semiárido por Paulo Roberto Miranda Leite e Alberto Alves Santiago
Desde 1943, Manoel Dantas Vilar Filho vem trabalhando e selecionando
raças zebuínas para produção de leite, no semiárido dos Cariris Velhos da
Paraíba, em sua Fazenda Carnaúba, no município de Taperoá. Inicialmente, o
criador havia experimentado o Indubrasil, mas verificou que "*as novilhas
tinham parição tardia, davam menos leite e a mortalidade era mais alta. Com o
Nelore, acabou o leite e a mansidão e na geração seguinte acelerou o processo
de encabritamento do gado, que pouco resistia à seca. Como Gir, obteve o menor
porte e o mais lento ganho de peso entre as raças estudadas". Convenceu-se
que somente uma pecuária de dupla função (carne e leite), com rusticidade
superlativa, pode constituir a solução do problema rural nordestino. Voltou-se,
então para o gado Guzerá de Cantagalo, de que se tornou um dos continuadores do
trabalho do pioneiro Cel. João de Abreu Júnior, formando um excelente rebanho,
de alta produtividade. A região em que vive apresenta os inconvenientes e
dificuldades do semiárido, onde chove em média 149 mm/ano. Por isso, o
selecionador teve de organizar sua fazenda racionalmente, dotando-a de todas as
instalações necessárias e mais adequadas ao sistema de trabalho. Construiu um grande
armazém para estoque de feno e introduziu no campo, gramíneas australianas,
principalmente, o capim Buffel biloela (Cenchrus ciliares) e o Urochloa
(Uruchloa mosambiensis (Hack) Dandy cv. Nixon. Graças à sua providencia, o gado
venceu os cinco anos de intensa seca, de 1979 a 1983, recorrendo ao feno,
palhas, sabugo, restos de
Adega D |
cultura e ureia. Tomando conhecimento do gado Sindi
introduzido no Brasil, Manoel Dantas Vilar procurou, em 1979, conhecer a raça
vermelha, dada a sua aptidão leiteira. Passada a seca, em dezembro de 1983,
adquiriu nove fêmeas de um criador de Pernambuco e para servi-las, dois
reprodutores da EMEPA-PB, do lote trazido do Instituto de Zootecnia de São
Paulo, todos de origem de Camargo. Em 1985, com a consultoria técnica de
Geraldo Oliveira, médico veterinário, conhecido como Geraldo Caboclo,
escolheram e adquiriram diretamente de José Cezário de Castilho, 52 fêmeas e,
em maio de 1985, mais 51, perfazendo um total de 103 matrizes, escolhidas na
cabeceira do gado, além de dois touros. Para servi-las conseguiu da EMEPA-PB
mais dois machos oriundos do gado puro de origem do
Manoel Dantas Vilar Filho (março 2010) |
Pará. Agora Manoel Dantas
Vilar chegou à situação de só poder usar reprodutores de seu próprio rebanho,
com base no controle leiteiro e na eficiência reprodutiva. Disse-nos Dantas
Vilar: "o gado importado em 1952 é da maior importância, porquanto foi
possível através dele obter maior homogeneização, maior rusticidade e maior
produção leiteira no gado Sindi antigo". Referia-se aqui ao rebanho de
Novo Horizonte, descendente dos importados em 1930. O plantel é objeto de
observações cuidadosas e permanentes, quanto à aptidão leiteira, fertilidade,
habilidade maternal, peso ao nascer, desenvolvimento ponderal e características
raciais. Quanto a este ponto notou-se a perfeita uniformidade do numeroso
rebanho, que examinamos em companhia de José Cezário de Castilho. Verificou-se
que a idade ao primeiro parto tem variado de 28 a 32 meses, em função das
secas. Em 1990, choveu 124 mm; em 1992 choveu 202 e 120 mm,
respectivamente. Os
anos de 1990 e 1995 foram os mais secos, desde 1915, quando choveu apenas 15
dias, conforme registro antigo da Fazenda. O intervalo entre partos tem variado
de 13,2 a 15,4 meses nesses anos todos. Toda a vacada é submetida ao controle
leiteiro, inicialmente pela ABCZ e depois pelo Departamento de Zootecnia da Universidade
Federal da Paraíba. As fêmeas que não alcançaram os limites estabelecidos são
apartadas para a venda, dando origem a novas criações. O controle leiteiro foi
iniciado em maio de 1987 e prosseguiu com regularidade até o presente,
abrangendo 310 lactações, conforme verificado pelas cópias de todas as folhas
do livro de registro. Foi observado que 43 lactações superaram 3.000 kg de
leite; 33 ultrapassaram 3.255 kg e 13 vacas produziram acima de 3.500 kg. Houve
17 produções acima de 16 kg dia de leite; o leite de 174 vacas apresentou mais
de 5% de matéria graxa, nos 310 controles, confirmando a qualidade de leite
gordo das raças zebuínas, sempre superior aos das raças taurinas. As maiores
produções de leite foram da reprodutora Galeria, com 4.339 kg em 330 dias, com
média diária de 13,14 kg; enquanto Fantasia produziu 3.951 kg, em 294 dias, com
média diária de 13,43 kg, revelando a elevação constante da produtividade do
rebanho, em uma década de trabalho seletivo.
O rebanho atual da Fazenda
Carnaúba é constituído de 626 cabeças, entre adultos e novos, todos inscritos
no Registro Genealógico. Ë o maior e melhor rebanho leiteiro Sindi do país,
apesar da venda de 229 fêmeas parideiras a vários criadores, originando novos
plantéis. Surpreendente prolificidade.
Manoel Dantas Vilar Filho (março de 2010) |
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