Por Fernando Flores Cardoso
Introdução
onde
GG = ganho genético; h2 = herdabilidade; DS = diferencial de seleção, e IEG =
intervalo entre gerações. O ganho genético por ano neste rebanho será de 4 kg a
mais em peso ao sobreano. Outro fator importante que se deve conhecer é a
associação genéticaentre características (correlação genética). Quando a
correlação genética é positiva, ao selecionarmos por uma característica
aumentamos também o desempenho em outra; entretanto, quando for negativa, ao
melhorar o desempenho na característica selecionada, diminui-se o desempenho na
característica correlacionada. Para planejar um programa de seleção devemos
conhecer as associações genéticas entre as características consideradas, para
avaliar as consequências do processo como um todo. O objetivo da seleção é
aumentar nos animais a frequência de genes que afetem positivamente as
características de importância econômica, resultando em um aumento da
produtividade do rebanho. 2.1.1. Fontes de informação para a seleção 2.1.1.1.
Informações de Pedigree: Se os ancestrais, principalmente pai e mãe, possuírem
registros de desempenho em características de alta herdabilidade, esta
informação poderá ser utilizada para a seleção entre animais jovens que ainda
não apresentam produção própria ou progênie. As informações de pedigree também
podem ser usadas para características que são medidas mais tarde na vida do
animal, como longevidade ou vida útil, ou ainda na seleção de características
que são expressas no sexo oposto, como habilidade materna (buscar touros cujas
mães tenham produzido animais com altos pesos à desmama). Informações obtidas
pelo pedigree, contudo, são muito menos confiáveis e devem ser consideradas em
conjunto com a produção do indivíduo e das suas progênies, assim que estas se
tornarem disponíveis. 2.1.1.2. Desempenho do próprio indivíduo: O uso do
desempenho próprio do indivíduo para estimar seu mérito genético ou de seus
pais é particularmente útil para características de média e alta herdabilidade,
tais como pesos e ganhos de peso em diferentes idades. São efetuados registros
de desempenho, onde grupos de animais com idades similares são criados em
condições uniformes e os indivíduos são comparados com o desempenho médio de
seu grupo de contemporâneos. 2.1.1.3. Teste de progênie: Consiste na avaliação
de um animal (normalmente um touro) através do desempenho dos filhos. É
utilizado para selecionar por características de baixa herdabilidade, para
características restritas a um sexo (produção de leite, idade ao primeiro cio,
etc.), características medidas após o abate (dados de carcaça), e identificar
portadores de genes recessivos indesejáveis. Tem alta exatidão, desde que um
número suficiente de filhos seja considerado, entretanto, tem como desvantagens
se restringir a umnúmero limitado de touros, ter custo elevado e demandar um
tempo prolongado, aumentando o intervalo entre gerações. 2.1.1.4. Desempenho de
Irmãos: O desempenho de irmãos é de valor quando não se pode medir a
característica no reprodutor (p.ex. dados de carcaça) e tem a vantagem de não
aumentar o intervalo entre gerações, como o teste de progênie, apresentando, no
entanto, menor exatidão. Pode ser usado também em conjunto com o desempenho
próprio para aumentar a precisão da seleção. 2.1.1.5. Seleção por DEPs:
Atualmente os programas de melhoramento genético utilizam a DEP – Diferença
Esperada na Progênie – para descrever o mérito genético dos animais. A DEP é
calculada através de um modelo matemático que considera todas as informações
disponíveis, incluindo o desempenho do próprio indivíduo, de seus parentes
(pais, irmãos, primos, etc.) e de sua progênie para determinar o mérito
genético de cada animal. É uma combinação de todos os métodos anteriores. A DEP
tem a grande vantagem de permitir comparar diretamente todos os animais
presentes na avaliação - touros pais, ventres e produtos ainda sem progênie - e
também animais criados em anos, rebanhos e ambientes diferentes, aumentando a
amplitude da escolha de candidatos à seleção. A DEP é o desempenho médio
esperado dos filhos de um determinado reprodutor, em relação a uma base (média
do rebanho, média de uma raça ou um determinado ano). É um valor positivo ou
negativo em relação a esta base que é igualada a zero. Em geral, nas avaliações
dentro de rebanho a base é a própria média do rebanho. Assim, os animais acima
da média têm DEPs positivas e os abaixo, negativas. Já nos sumários de touros,
normalmente a base é um ano de nascimento ou a média da raça. A Tabela 1
apresenta as DEPs de peso à desmama (PD) de dois touros A e B, e as médias de
peso à desmama de seus filhos em dois rebanhos com diferentes médias para a
característica. TABELA 1: Diferença esperada na progênie (DEP), peso à desmama
(PD) médio esperado da progênie e diferenças observadas para dois touros,
quando usados em dois rebanhos com diferentes médias para a característica.
A
opção pelo tipo de cruzamento deve ser cuidadosa e tem grande importância para
o sucesso do programa, já que existem diferenças importantes em nível de
complexidade de manejo exigida e no resultado esperado entre sistemas de
cruzamento.
Introdução
O melhoramento genético é um instrumento de grande
importância para a pecuária de corte, através do qual os criadores podem
aumentar a eficiência de produção e a lucratividade de seus rebanhos, por meio
de princípios genéticos. A criação de animais geneticamente superiores permite
utilizar de maneira mais eficiente os recursos disponíveis. A produção ou
desempenho de um animal depende basicamente de dois fatores: da genética, ou
seja, dos genes que o animal possui, e do ambiente de criação, incluindo
alimentação, sanidade, manejo, etc. Assim temos que:
P = G + A + G*A
(P =
produção; G = genética; A = ambiente, G*A = interação entre genética e
ambiente). Considerando estes dois principais fatores que afetam o desempenho
dos animais, podemos aumentar a produtividade melhorando a qualidade genética
(G) e melhorando o ambiente (A) de criação. Ambos os fatores são igualmente importantes
e devem ser trabalhados em conjunto. Por outro lado, a presença de interação
G*A indica que os animais geneticamente superiores não serão necessariamente os
mesmos em diferentes condições ambientais. Por exemplo, a melhor genética em
ambientes adversos de criação está associada a fatores de adaptação e
rusticidade, entretanto, animais com tais características não deverão ser os de
melhor resposta nos ambientes mais favoráveis, que demandam genética altamente
especializada e com grande potencial produtivo. Deve-se salientar que não
adianta possuir animais geneticamente superiores se a alimentação é pobre ou
ter bons recursos alimentares se os animais são inferiores, pois em nenhum dos
casos o resultado será satisfatório. O melhoramento das condições ambientais
pode produzir resultados mais expressivos em curto prazo, como, por exemplo,
quando o produtor raciona um grupo de animais, mas, em geral, possui um custo
mais elevado e não é permanente. Já o melhoramento genético, embora não tenha
um ganho tão expressivo em um curto espaço de tempo, apresenta ganhos
constantes, cumulativos e que não se perdem. Quando o criador melhora
geneticamente seus animais o aumento de produtividade é
permanente. Um rebanho
de desempenho e qualidade superiores é um patrimônio para o criador e pode ser
formado pelo melhoramento genético sem custos elevados e em qualquer nível de
alimentação. De forma geral, a estratégia mais sustentável é buscar animais com
características genéticas compatíveis com o ambiente de criação que o criador
possui, em vez de alterar o ambiente para atender as necessidades de animais
não adaptados às condições locais. Para o melhoramento genético, os dois
princípios mais importantes são a seleção e os sistemas de acasalamento. A
seleção tem por objetivo que os melhores animais sejam aqueles que deixam um
maior número de filhos na próxima geração. Por outro lado, através dos sistemas
de acasalamento é possível determinar como serão combinadas as características
dos animais selecionados e planejar cruzamentos para explorar a heterose ou
“vigor híbrido” e a complementaridade entre raças com características
diferentes. O objetivo deste texto é orientar os criadores de bovinos de corte
para que, através da seleção e do acasalamento de seus animais, promovam o
melhoramento genético de seus rebanhos e aumentem a produtividade de suas
empresas rurais.
1 – Alguns conceitos básicos de genética
O objetivo desta seção é apresentar resumidamente alguns
conceitos básicos de genética para facilitar o entendimento do texto
subsequente. O leitor interessado em mais detalhes nesses conceitos poderá
encontrá-los em livros de genética e melhoramento animal, como p. ex. Bourdon
(2000), Falconer e Mackay (1996) e Lynch e Walsh (1998). 1.1. Gene, alelo,
lócus, cromossomo e marcador genético: Os genes são as unidades fundamentais da
hereditariedade, pois através destes são transmitidas as características de
pais para filhos. Cada gene é formado por uma sequência específica de
nucleotídeos do DNA (ácido desoxirribonucléico) que contém a informação para
produzir uma determinada proteína ou controlar uma característica. Por alelo
entende-se as várias formas alternativas do mesmo gene, enquanto que lócus é o
local fixo (posição) em um cromossomo onde está localizado determinado gene. Os
cromossomos consistem de uma longa sequência de DNA, que contém vários genes, e
outras sequências de nucleotídeos com funções específicas nas células dos seres
vivos. Os cromossomos, assim como os genes, existem aos pares nos bovinos.
Finalmente, marcador genético é uma porção de DNA que tem sequência e posição
dentro do genoma conhecidas, possuindo ao menos dois alelos distintos
(polimorfismo). Os marcadores genéticos são frequentemente usados para
caracterizar a predisposição a doenças e os atributos produtivos e de qualidade
dos animais. 1.2. Fenótipo e Genótipo: O fenótipo é a produção ou aparência de
um animal. É a expressão observada ou aquilo que medimos nas várias
características dos animais. O fenótipo ou produção de um animal é influenciado
pelo ambiente e pelas informações genéticas que ele possui. Como exemplo,
podemos dizer que o fenótipo de um touro para peso ao sobreano é de 300 kg aos
550 dias de idade. A palavra genótipo pode ser empregada de diferentes formas -
veja Bourdon (2000). Quando se refere ao genótipo de um animal, representa o
conjunto de todos os seus genes – o seu potencial ou mérito genético – do qual
seus descendentes receberão uma amostra aleatória. De forma mais geral,
genótipo pode ser usado para referir grupos de animais de composição genética
semelhante ou do mesmo tipo biológico. Um exemplo é designar de "genótipos
adaptados aos trópicos", aqueles grupos ou raças de animais que possuem
combinações de genes favoráveis à tolerância ao calor, aos parasitas e à
radiação solar. Finalmente, de forma muito mais específica, podemos referir
como genótipo o par de alelos que o animal possui para um determinado gene,
como veremos nos itens 1.3 e 1.4 a seguir. O genótipo é fixado no momento em
que o animal é gerado e não se altera durante toda a sua vida. Do ponto de
vista do melhoramento genético, o foco é no genótipo em vez do fenótipo, pois
sua progênie será exatamente a mesma, independente de quão bem ou mal o animal
for alimentado. Veja que um touro que pese 300 kg aos 550 dias pode possuir e
passar aos descendentes genes que lhes permitam pesar 550 kg na mesma idade, se
a alimentação destes não for restrita. 1.3. Dominância e recessividade Os
alelos de um gene podem ser dominantes ou recessivos. Alelos dominantes se
sobrepõem e mascaram os efeitos de alelos recessivos. Um exemplo de dominância
ocorre na presença de chifres, e se acasalarmos um touro mocho da raça Angus
com vacas aspadas, a progênie
será toda mocha. Neste caso, o caráter mocho é
dominante e a presença de chifres é recessiva. Também em bovinos a pelagem
preta é dominante sobre a pelagem vermelha. Em alguns casos não existe
dominância entre os alelos e seus efeitos se somam, produzindo progênies
intermediárias. Na raça Shorthorn, se acasalarmos um animal de pelagem vermelha
com um de pelagem branca, a progênie será rosilha e, portanto, uma mescla das
duas anteriores. Também a maior parte da variação genética em características
quantitativas (pesos, ganhos de peso, perímetro escrotal, intervalo entre partos,
etc.) é devida a efeitos aditivos de um grande número de genes. Um exemplo de
dominância é apresentado na Figura 1, onde (B) e (b) são usados,
respectivamente, para representar o alelo dominante preto e o alelo recessivo
vermelho. Um macho homozigoto preto (BB) é acasalado com uma fêmea vermelha
homozigota (bb) para produzir progênie heterozigota (Bb) que será
fenotipicamente preta. O acasalamento entre estes heterozigotos produzirá
progênies pretas e vermelhas na proporção de 3:1. 1.4. Homozigotos e heterozigotos
Os animais podem ser homozigotos ou heterozigotos em relação ao par de alelos
de um determinado gene. No exemplo da Figura 1, o macho preto (BB) e a fêmea
vermelha (bb) são homozigotos em relação à pelagem, pois os alelos neste par
são iguais. Por sua vez, a progênieé heterozigota (Bb), pois os alelos do par
são diferentes. O acasalamento entre homozigotos produz progênie uniforme, já o
acasalamento entre heterozigotos produz uma gama de genótipos e fenótipos.
Usando o exemplo anterior, quando acasalamos entre homozigotos pretos (BB) ou
vermelhos (bb) a progênie será toda uniforme, idêntica aos pais. Contudo, se
homozigotos BB e bb são acasalados a progênie será toda heterozigota (Bb). O
acasalamento entre heterozigotos pretos (Bb) produzirá animais pretos (BB -
homozigotos e Bb - heterozigotos) e vermelhos (bb).
2 – Ferramentas para o melhoramento genético
2.1. Seleção A seleção é o processo de decidir quais
animais serão os pais da próxima geração. Se os animais mantidos ou adquiridos
para a reprodução possuírem um “valor genético” superior ao dos eliminados,
o
resultado será o melhoramento na qualidade genética do rebanho. O sucesso do
processo seletivo depende de quão precisa é a decisão no momento de escolher os
melhores animais e está diretamente associado à qualidade das informações
usadas para a seleção. Não podemos observar diretamente o genótipo dos animais,
assim a decisão deve se basear em informações de desempenho (fenótipo) do
animal e de parentes, e na genealogia (pedigree). O resultado da seleção,
medido através do ganho genético no rebanho, depende de alguns fatores,
considerados a seguir: Em primeiro lugar, a característica selecionada tem que
ser herdável, isto é, deve ser transmitida através dos genes de pais para
filhos. O desempenho de uma característica (peso aos 205 dias, por exemplo) é
afetado pelo ambiente e pelos genes, entretanto, só a parcela determinada pelos
genes é herdável. A herdabilidade (h2) mede quanto das diferenças entre os
animais é devido a diferenças genéticas e, portanto, transmissível de pais a
filhos. A herdabilidade pode ser expressa em percentagem, sendo que valores
mais altos indicam uma maior transmissão da superioridade dos pais para a
progênie. De uma maneira geral, em bovinos, características de reprodução
(intervalo de partos, taxa de concepção, etc.) têm herdabilidade baixa,
características de produção (pesos e ganho de peso) têm herdabilidade média e
as de qualidade de produto (qualidade de carcaça e da carne) são altamente
herdáveis. O segundo fator a considerar é a média dos animais selecionados em
relação à média da população, ou seja, o diferencial de seleção (DS). Quanto
maior o diferencial de seleção, maior será o ganho genético. Por último, para
prever o ganho anual, deve-se considerar o intervalo entre gerações (IEG), que
é a idade média dos pais quando nascem os filhos. Assim, se o peso ao sobreano
dos pais está 50 kg acima da média da população, a herdabilidade é de 40% e o
intervalo entre gerações de cinco anos, temos que:
Note que a diferença entre as DEPs (10 Kg) dos touros A e B é a mesma
diferença da média de peso de seus filhos, independente do valor desta média. O
importante é avaliar a diferença e não o valor absoluto das DEPs quando se
compara animais para a seleção, pois, como se nota, esta diferença permanece
inalterada, independentemente do padrão zootécnico e do nível de melhoramento
ambiental do rebanho onde seus filhos irão produzir. 2.1.1.6. Seleção assistida
por marcadores: Apesar do sucesso obtido pela seleção baseada nas DEPs,
especialmente nas características de produção, avanços no conhecimento em
genética molecular e das ferramentas de biotecnologia nas últimas décadas têm
demonstrado a existência de genes de efeito maior em características de
interesse econômico, possibilitando o uso de marcadores genéticos ligados a
esses genes como nova fonte de informação para incrementar os programas de
seleção. Muitas variações nos alelos de marcadores genéticos já foram
associadas à predisposição a doenças e atributos produtivos e de qualidade dos
animais. Desta forma, esses marcadores podem ser usados para antecipar a
previsão (ou predição, em termos mais técnicos) do desempenho da progênie dos
animais e identificar candidatos a pais da próxima geração pelo processo
denominado como seleção assistida por marcadores (SAM). A informação dos
marcadores genéticos está disponível a partir da concepção do indivíduo,
permitindo a redução no intervalo entre gerações, e não requer medidas de desempenho,
sendo particularmente útil na seleção para: - Características limitadas a um
sexo (p.ex. produção de leite, intervalo entre partos e qualidade de sêmen); -
Características medidas tardiamente na vida do animal ou que requerem o abate
do indivíduo (p.ex. reprodutivas, qualidade de carcaça e carne); e -
Características de difícil mensuração (p.ex., resistência a doenças, eficiência
alimentar etc.). O avanço contínuo nas pesquisas tem proporcionado um número
crescente de marcadores moleculares disponíveis comercialmente para serem
utilizados pelos criadores nos seus programas de melhoramento animal. Já foram
descritas várias dezenas de marcadores moleculares, incluindo características
reprodutivas, ganho de peso, peso de carcaça, maciez da carne, marmoreio,
eficiência alimentar em confinamento, produção de leite, resistência a
parasitos, predisposição para doenças genéticas, entre outras. Atualmente, os
marcadores do tipo SNP, caracterizados pela alteração de uma única base na
sequência do DNA, estão sendo genotipados em larga escala permitindo em um
único teste avaliar mais de 50.000 marcadores. Espera-se, portanto, que nos
próximos anos a crescente utilização de SAM venha a incrementar a precisão da
seleção e o progresso genético, especialmente nas características reprodutivas,
de adaptação, resistência a parasitas e de qualidade de produto,
consequentemente incrementando a eficiência e a lucratividade do rebanho
nacional de bovinos de corte. Por outro lado, é preciso destacar que: - A
implementação de SAM deve ser necessariamente precedida pela validação do
efeito do marcador na população alvo da seleção. Isso porque o marcador pode
não estar associado ao mesmo gene ou forma do gene na população selecionada e
na população onde foi descoberto; pode não existir variação para o gene em
questão na população em que se pretende aplicar o marcador (todos os animais
serem homozigotos para o mesmo alelo do marcador); podem haver interações com
os demais genes da população alvo, alterando o efeito do marcador, e é
importante considerar a possibilidade de interação com o ambiente. - Quando se
utiliza SAM, apenas alguns genes de efeito maior na variação de desempenho para
a característica selecionada estão sendo considerados. Desta forma, a SAM
deverá ser usada em conjunto com a avaliação tradicional por DEP, para se levar
em conta na seleção também a variação devida aos muitos outros genes com
efeitos menores, mas que também afetam o desempenho da característica. O máximo
progresso genético será obtido por um equilíbrio adequado entre essas duas
fontes de informação genética quantitativa e molecular. 2.1.2. Tipos de seleção
Após reunir as melhores informações das várias fontes disponíveis, como
discutido na seção anterior, o próximo passo é utilizar estas informações para
escolher os reprodutores através dos diferentes tipos de seleção. Antes de
iniciar o processo de seleção o criador deve determinar seus objetivos a médio
e longo prazo, para poder assim escolher quais características deverão ser
incluídas na seleção. O criador deve decidir com base nas carências de seu
rebanho e na importância econômica que tem cada característica. Este ponto é
primordial, uma vez que quanto maior o número de características menor o
progresso em cada uma delas individualmente. A comparação entre animais pode
ser feita com base na relação de desempenho do animal em comparação aos seus
contemporâneos. É utilizada nos Controles de Desenvolvimento Ponderal (CDP) e
pressupõe mesmo manejo e alimentação para os animais comparados. A média é igualada
a 100, com animais superiores acima de 100 e inferiores abaixo. Por exemplo, um
tourinho com relação de peso 123 ao sobreano teve um desempenho 23% superior em
relação aos seus contemporâneos no peso aos 550 dias. Contudo, nos programas de
melhoramento atuais, a comparação é feita principalmente através das DEPs, pois
estas são mais seguras e exatas e podem comparar não somente animais de um
mesmo grupo, mas todos os animais presentes na análise, independente de ano e
estação de nascimento, manejo e alimentação, desde que os grupos possuam
ligações genéticas (parentesco) entre si. No processo de seleção o produtor tem
algumas maneiras de atuação pelas quais pode optar. A primeira seria a de
selecionar cada característica de uma vez até atingir o nível desejado, quando
então passaria a outra característica e assim por diante. Este processo,
chamado de seleção sequencial, funciona somente se as características forem
independentes. Contudo, levando-se em conta que a maioria dos caracteres de
importância econômica tem algum grau de associação genética e o “efeito
gangorra”, ou seja, enquanto se melhora uma característica outra piora, a
seleção sequencial se mostra o método menos efetivo e pouco utilizado. Outra
alternativa é a de utilizar níveis independentes de descarte, onde um
desempenho específico é determinado como mínimo para cada característica e
qualquer animal que não atinja o mínimo desejado em uma característica é
eliminado. A desvantagem deste método é que animais muito bons para uma
característica podem ser perdidos por não atingirem o nível mínimo em outra. O
tipo de seleção mais eficiente e mais utilizado atualmente são os índices de
seleção. Nos programas de melhoramento genético, um índice de mérito genético
total é calculado para ponderar várias características de acordo com suas
importâncias econômicas, herdabilidades e correlações genéticas. A decisão de
seleção é tomada com base no índice calculado para cada animal. Na prática do
melhoramento, os descartes devem ser realizados em diferentes fases da vida do
animal, e como é muito difícil calcular índices para todas as fases, uma
combinação de índices de seleção e descartes por níveis é utilizada na seleção.
Por exemplo, um criador pode selecionar seus animais através de um índice
combinando ganho de peso e conformação na desmama e no sobreano, e ainda
descartar fêmeas que produzam crias muito leves, abaixo de um mínimo
determinado, e os tourinhos que não atinjam um perímetro escrotal mínimo ao
sobreano. 2.2. Sistemas de acasalamento Os sistemas de acasalamento são o
segundo caminho, após a seleção, para realizar o melhoramento genético.
Consistem na determinação de qual touro ou qual tipo de touro será acasalado
com cada fêmea ou cada tipo de fêmea. Existem basicamente quatro diferentes sistemas
para acasalar animais selecionados, entretanto nenhum deles individualmente é
satisfatório para todas as situações e objetivos, podendo ser modificados,
adaptados ou combinados de várias maneiras, segundo as necessidades
particulares de cada rebanho. O produtor pode optar por acasalamentos ao acaso
dos animais selecionados, que é mais fácil e simples de ser realizado.
Entretanto, neste caso, o criador deixa de utilizar uma ferramenta que pode
contribuir significativamente para o aumento e a consistência de produção do
seu rebanho. 2.2.1. Acasalamentos entre semelhantes: É o acasalamento de
indivíduo que são semelhantes entre si em desempenho. Os melhores machos são
acasalados com as melhores fêmeas e os piores machos com as piores fêmeas. É
usado, em alguns casos, nas raças puras quando sêmen de alto valor é adquirido
pelo criador para inseminar suas melhores vacas. Conduz a um aumento de
indivíduos extremos. É utilizado na prática, quando um núcleo de animais
relativamente pequeno é formado a partir de uma intensa seleção em uma
população grande, com o objetivo de produzir reprodutores para serem usados no
resto da população. 2.2.2. Acasalamentos compensatórios: São acasalamentos
entre indivíduos de desempenhos diferentes entre si. Assim, um touro excepcional
em uma característica é acasalado com uma fêmea deficiente neste particular.
Tem finalidade de compensar deficiências e conduz a uma população homogênea. O
criador pode, por exemplo, separar os touros e vacas de seu rebanho em dois
grupos: um de porte grande e outro pequeno. E a seguir, acasalar touros grandes
com vacas pequenas e vacas grandes com touros menores para produzir uma
progênie homogênea de tamanho médio. 2.2.3. Consanguinidade: É acasalamento de
indivíduos que sejam parentes, ou seja, possuam ancestrais em comum, gerando
filhos consanguíneos. A consanguinidade foi largamente utilizada no início do
desenvolvimento das raças para fixar o biótipo. O aumento da consanguinidade,
apesar de produzir indivíduos mais uniformes, tem um efeito negativo na
produtividade da população, e, principalmente, em características de
fertilidade e rusticidade. Pelos seus efeitos negativos na produção, a
consanguinidade deve ser evitada pelos criadores comerciais. O produtor deve
procurar variar a origem genética dos touros que utiliza em seu rebanho,
introduzindo frequentemente novas linhagens. Não basta comprar touros de
diferentes fontes, é preciso saber se não são parentes entre si. Outra atenção
que o criador deve ter é de não permitir que o touro venha a servir suas
próprias filhas dentro da propriedade. Algumas maneiras de evitar o problema
são: não usar os touros por mais de três anos se o primeiro serviço das fêmeas
for aos dois anos (ou quatro anos se o primeiro serviço for aos três anos) e
não usar touros velhos em novilhas e vacas jovens. 2.2.4. Cruzamentos: É o
acasalamento entre animais de raças diferentes. Sistemas de cruzamento podem e
devem ser utilizados na produção comercial para capitalizar os benefícios do
“vigor híbrido” e do uso das diferenças e complementaridade entre raças para
produzir animais com desempenho superior em características de interesse
econômico. A heterose ou “vigor híbrido” é a diferença entre a média da
progênie cruzada (F1) e a média das raças acasaladas para produzir as cruzas. A
heterose tem efeito positivo na maioria das características de importância
econômica em bovinos de corte, incluindo reprodução, sobrevivência de
terneiros, habilidade materna, taxa de crescimento e longevidade. Isto
significa que, em cruzamentos, a média das progênies será superior à média dos
pais. Por exemplo, se um rebanho da raça Angus (AN) com peso médio de 170 kg ao
desmame é acasalado com touros da raça Charolês (CH) com média de 190 kg, a
média de desmame das cruzas F1 Angus x Charolês (ANCH), será superior aos 180
kg. Se os terneiros ANCH pesarem 200 kg a heterose será de 11,1%. A seguir é
apresentado o cálculo da percentagem heterose para este exemplo:
Além
do benefício da heterose nos produtos (individual), existem os benefícios de
utilizar vacas cruzadas (heterose materna), que tem efeitos ainda maiores no
aumento de peso ao desmame. Também se observa que a heterose em cruzas de raças
zebuínas (Nelore, Brahman, Guzerá, etc.) com taurinas (Angus, Hereford,
Charolês, etc.) é consideravelmente maior que entre diferentes raças taurinas.
Por outro lado, existem grandes diferenças entre raças para a maioria das
características de importância econômica, incluindo taxa de crescimento,
tamanho, composição de ganho, produção de leite, distocia, idade à puberdade,
resistência a parasitas, e adaptação climática e nutricional. Para todas estas
características existe um valor "ótimo", determinado pelo ambiente de
produção e pelo mercado. Os cruzamentos permitem combinar nos animais cruzados características
desejáveis de diferentes raças para adequar o potencial genético ao mercado,
aos recursos alimentares e ao clima. A complementaridade entre raças também
pode ser utilizada através dos cruzamentos para combinar efeitos de heterose
materna e individual e utilizar diferenças entre raças para otimizar níveis de
desempenho. A caracterização de um grande número de raças de corte foi
realizada no Centro de Pesquisa de Animais de Carne (MARC), maior unidade de
pesquisa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em gado de corte,
localizado em Clay Center, Nebraska - veja Gregory et al. (1999). Um resumo dos
resultados deste trabalho é apresentado na Tabela 2, baseado em diferenças
relativas representadas pelo número de cruzes (+ mais baixo, ++++++ mais alto)
em taxa de crescimento e tamanho maduro, relação carne/gordura, idade à
puberdade e produção de leite. As médias por grupo racial são apresentadas
agrupadas em cinco tipos biológicos. Estes resultados podem servir como base na
escolha de raças com características diversas, que sejam complementares, para
os sistemas de cruzamento.
Algumas
constatações deste trabalho foram: a) Raças com maiores pesos ao nascer e
desmama (p. ex., Charolês, Chianina e Simental) têm maiores problemas de parto
do que aquelas com menor potencial de crescimento. A sobrevivência de terneiros
tende a ser menor naquelas raças que requerem mais assistência aos partos. b)
Raças classificadas entre as melhores para percentagem de cortes comerciais na
carcaça pela maior relação carne/gordura (p. ex., Charolês, Limousin,
Piemontês), tendem a ter menores níveis de marmoreio e são mais tardias para
atingir o acabamento para o abate. c) Novilhas filhas de touros de tamanho
maduro grande (p. ex., Charolês e Chianina) tendem a ser mais velhas à
puberdade (são mais tardias) do que novilhas filhas de touros de raças de menor
tamanho maduro (Hereford, Angus). Entretanto, raças de tamanho maduro grande
que foram selecionadas para a produção de leite (mistas) atingem a puberdade
mais cedo do que raças de tamanho maduro similar sem histórico de seleção para
produção de leite (p. ex., Pardo Suíço, Gelbvieh, e Simental versus Charolês e
Chianina). As raças de Bos indicus (Brahman, Nelore) são as mais tardias quanto
à puberdade de novilhas. d) Diferenças entre raças em peso ao desmame da
progênie estão fortemente associadas ao potencial genético para crescimento e
para produção de leite dos diferentes tipos biológicos. Nesta tabela é
importante destacar as características de cada grupo de raças (tipos biológicos).
Dentro de cada tipo biológico, a opção por uma ou outra raça fica a cargo do
criador e não será decisiva no sucesso do cruzamento. Antes de iniciar um
programa de cruzamentos, o criador deve analisar os recursos genéticos e
ambientais disponíveis e o mercado que pretende atuar, para atingir os
resultados esperados. Por exemplo, vacas de maior produção de leite têm maiores
exigências nutricionais e, apesar de desmamarem bezerros mais pesados, podem
falhar na reconcepção se a alimentação não for adequada. Ou ainda, cruzas com
touros de raças de maior crescimento até a desmama somente serão vantajosas se
as vacas produzirem leite suficiente para manifestação deste potencial. Outro
fator importante a considerar são os problemas de parto, principalmente ao
cruzar raças de grande potencial de crescimento (grandes) com raças maternas
pequenas. Neste caso, vacas adultas com dois ou mais partos são preferidas,
devendo-se evitar o uso de novilhas.
3
– Estratégias para o melhoramento genético dos rebanhos
A
seguir são apresentadas as principais estratégias pelas quais os produtores
podem empregar ferramentas genéticas para aumentar a produção, eficiência e
qualidade dos seus rebanhos. Essas estratégias são didaticamente apresentadas
de forma individual, entretanto, cabe ressaltar que o maior benefício virá do
seu uso conjunto, considerando as peculiaridades de cada rebanho, ambiente de
criação e mercado. 3.1. Programas de controle de desempenho e avaliação
genética: São programas organizados por associações de criadores, instituições
governamentais ou consórcios de empresas particulares com ode reunir grupos de
criadores e auxiliá-los na implantação e condução da seleção e melhoramento de
seus rebanhos. De um modo geral, os criadores se encarregam de realizar a parte
de controle de reprodução e produção nas fazendas, e a equipe do programa
fornece assessoria tecnológica e realiza as estimativas de mérito genético com
base nos dados coletados. As associações oferecem técnicos para realizarem as
pesagens e avaliações dos animais, que, em geral, ocorrem na desmama e ao
sobreano. A Federação Americana de Melhoramento de Bovinos de Corte tem sido um
marco referencial na estruturação e condução de programas de melhoramento
genético (BEEF IMPROVEMENT FEDERATION, 1996). Existem diversos programas de
melhoramento sendo conduzidos em nível nacional, como, por exemplo, o GENEPLUS
da Embrapa Gado de Corte e Fundapam, o da Associação Nacional de Criadores e
Produtores e USP, e os Programa conduzidos pelo Grupo GENSYS. Na Região Sul,
estão entre os principais programas institucionais, o PROMEBO – Programa de
Melhoramento de Bovinos de Carne, realizado pela Associação Nacional de
Criadores “Herd Book Collares” e assessorado pela empresa GENSYS, e o PAMPAPLUS
– Programa de Avaliação Genética das Raças Hereford e Braford, conduzido pela
Associação Brasileira de Hereford e Braford, com o Programa GENEPLUS, da
Embrapa Gado de Corte e Embrapa Pecuária Sul. Os endereços eletrônicos para
consultas referentes às associações e aos programas de melhoramento citados
estão disponíveis no anexo ao final deste documento. 3.1.1. Objetivos O
objetivo geral desses programas é aumentar a precisão de seleção nos rebanhos,
garantindo que os animais escolhidos para a reprodução sejam realmente os de
melhor desempenho em características herdáveis e de importância econômica.
Existem, entretanto, objetivos específicos a cada programa e algumas diferenças
na metodologia empregada e nas características avaliadas em cada caso. Entre os
objetivos específicos identificados nesses programas estão os seguintes: - Dar
suporte ao produtor na utilização e melhoramento dos seus recursos genéticos; -
Proceder à avaliação de reprodutores, matrizes e animais jovens das diferentes
raças, para características de desempenhos produtivos e reprodutivos, visando
maior produção de quilogramas de carne por hectare, em determinado tempo e com
menores custos; - Disponibilizar
informações e ferramentas de suporte para uma escolha mais precisa de animais
com boa eficiência reprodutiva, bom ganho de peso, boa precocidade sexual e de
acabamento, além de adequado desenvolvimento muscular e estrutura; - Fornecer
estimativas do valor genético dos animais (avaliação genética), sob a forma de
diferenças esperadas nas progênies (DEPs); - Possibilitar ao produtor a
utilização de animais de genética superior e ofertar ao mercado genética de
qualidade comprovada. 3.1.2. Considerações gerais para participar dos programas
Para participar o criador deverá ser associado a uma associação de raça ou
contratar os serviços de empresa especializada, identificar o rebanho ou núcleo
a ser melhorado, realizar os controles na fazenda e as medidas e avaliações
através de um avaliador capacitado. Duas considerações são importantes: - Todos
os animais do rebanho ou núcleo em controle devem participar da avaliação, sem
haver pré-seleção dos animais dentro deste. Um dos objetivos é justamente
indicar aos criadores quais os melhores animais, portanto, se são inscritos
apenas um grupo “dos melhores”, já selecionados pelo produtor, diminuirá
substancialmente a eficiência do trabalho; e, - Os animais devem ser criados
nas condições normais de cada estabelecimento, portanto, sendo avaliados no
mesmo tipo de ambiente que seus futuros filhos irão produzir. 3.1.3. Requisitos
para um sistema de registros de desempenho eficaz Para que o criador alcance o
resultado esperado, deve manter um sistema de coleta de dados com a maior
precisão possível. Para tal, alguns requisitos são importantes: ?-
Identificação animal: todos os animais devem possuir identificação única e
definitiva. Em um mesmo rebanho não pode haver dois animais com o mesmo número;
- Balança individual (eletrônica ou mecânica) com bom nível de precisão,
preferentemente de pelo menos 1 kg; - Controle reprodutivo: registros de
inseminação e monta, para determinação de paternidade; - Controle de
nascimentos: anotação da data de nascimento, identificação e sexo do terneiro,
e do número de sua mãe; - Pesagens e avaliações na desmama e ao sobreano, por
avaliador capacitado. 3.1.4. Metodologia de avaliação genética Dois passos
fundamentais estão envolvidos no processamento dos dados de pedigree e
desempenho para o cálculo do valor genético dos animais incluídos nesses
programas: - Análise de consistência dos dados: Para a composição do conjunto
de dados a ser utilizado no cálculo dos valores genéticos é realizada uma
análise crítica das amostras coletadas, visando a identificação e tratamento de
dados muito discrepantes e de possíveis erros na coleta dos mesmos. - Avaliação
genética: Para a análise genética e cálculo do mérito individual dos animais,
em geral, é utilizada a Metodologia de Modelos Mistos (HENDERSON, 1953), sendo
adotado o modelo animal, considerando características múltiplas. Este modelo
utiliza as informações de parentesco e desempenho dos animais para calcular o
seu valor genético, analisando conjuntamente o desempenho próprio, de seus pais
e de todos os seus parentes no pedigree. Além disso, são considerados os
efeitos ambientais, inclusive de manejo, aos quais estes animais foram
submetidos e as características da população, através de seus parâmetros
genéticos. Isso permite comparar diretamente os valores genéticos de todos os
animais incluídos na avaliação, mesmo que criados em rebanhos e ambientes diferentes,
e também de diferentes gerações. Nas análises, o peso à desmama é utilizado com
característica âncora e todas as demais características são avaliadas em
conjunto com esse peso, o que, através das correlações genéticas, permite
aumentar a precisão das avaliações, especialmente nas características limitadas
a um determinado sexo (p. ex., perímetro escrotal e idade ao primeiro parto) e
que não são medidas em todos os animais (p. ex., as avaliadas ao sobreano em um
grupo que já foi pré-selecionado na fase de desmama). 3.1.5. Importância do
Grupo Contemporâneo As diferenças observadas no desempenho dos animais nas características
de interesse econômico são devidas não somente a variações do potencial
genético, mas também do ambiente de criação experimentado. O grupo
contemporâneo é a unidade básica de comparação de desempenho, dentro do qual é
considerado que todos os animais tiveram as mesmas condições ambientais para
produzir. São considerados em um mesmo grupo contemporâneo animais de mesma
raça, rebanho, ano e estação de nascimento, sexo e que tenham sido criados em
um mesmo regime alimentar e grupo de manejo, com diferença de idade no grupo
inferior a 90 dias. A definição adequada desses grupos é essencial para a
qualidade das avaliações genéticas e, dentre os aspectos envolvidos, a
indicação do regime alimentar e a formação do grupo de manejo são os itens mais
críticos. O regime alimentar define de forma ampla os principais sistemas
alimentares utilizados, por exemplo, campo natural, campo melhorado, pastagem,
suplementado, estabulado, etc. A definição de grupos de manejo é um complemento
indispensável ao regime alimentar. Grupos de manejo devem ser usados para
informar diferenças de manejo ou de ambiente dentro de um mesmo regime
alimentar. Por exemplo, se temos todos os bezerros em campo natural, mas foi
realizado desmame temporário em parte dos animais, necessariamente os animais
com e sem desmame temporário devem pertencer a grupos de manejo distintos.
Outros exemplos para formar grupos de manejo são diferenças de aporte alimentar
em um mesmo regime, seja pela quantidade ou qualidade do alimento, lotação ou
oferta forrageira. Dessa forma, o próprio criador é a pessoa mais capacitada
para definir os vários grupos de manejos existentes na propriedade. DICAS -
Procurar formar grupos de manejo o maior possível, para aumentar a unidade
básica de comparação. - Potreiro pode ser usado como grupo de manejo. Neste
caso, é desejável colocar em um mesmo potreiro animais de mesmo sexo e idade
similar, para evitar que se formem grupos muito pequenos. - Usar grupos de
manejo distintos para identificar animais que tiveram doenças, ferimentos ou
tratamento preferencial (por exemplo, animais que são racionados para
exposição), mesmo que estes sejam grupos de poucos animais. 3.1.6.
Características avaliadas Existe alguma variação entre as características
avaliadas pelos diferentes programas. A seguir são listadas as principais
características consideradas agrupadas de acordo com seu propósito de
avaliação: - Ponderais: são as relacionadas ao crescimento dos animais e as
taxas de acúmulo de peso. Entre elas incluímos os pesos ao nascer, desmama e
sobreano, o peso adulto das vacas, os ganhos de peso em diferentes idades, e os
dias para atingir determinado peso. - Carcaça: pesos e rendimentos de carcaça,
área de olho de lombo, gordura de cobertura, marmoreio e maciez, estão
diretamente relacionadas com a produção e a qualidade da carne, mas exigem,
para serem medidas diretamente, que o animal seja abatido. Portanto, reprodutores
somente podem ser avaliados em testes de progênie. A alternativa mais utilizada
nos programas são as medidas por ultrassonografia de área de olho de lombo,
espessura de gordura de cobertura e marmoreio no animal vivo, permitindo a
avaliação do desempenho próprio para os candidatos a seleção. - Escores
visuais: são avaliações feitas através de notas, para estimar a composição do
ganho de peso dos animais e outros aspectos difíceis ou muito caros para serem
medidos objetivamente. Estão entre essas características: a conformação ou
estrutura, que é avaliada pela presença de massas musculares e quantidade total
estimada de carne na carcaça, além da estrutura física e aprumos; a precocidade
de terminação, que é a capacidade ou grau de deposição precoce de gordura,
buscando-se animais que atinjam a terminação (acabamento para o abate) mais
cedo; a musculatura, avaliada pelo grau de desenvolvimento da massa muscular
observado em pontos como o antebraço, a perna, a paleta, o lombo, a garupa e,
principalmente, a largura e profundidade dos quartos traseiros; o tamanho, que
compreende o comprimento e a altura do animal; a estatura, que estima a altura
do animal; a condição corporal ou estado corporal; e o tamanho do umbigo, que é
o comprimento da prega umbilical. A escala de escores, em geral, varia de 1 a 5
(ou 6), sendo 5 (ou 6) o grau máximo de expressão da característica. Também
podem ser avaliadas por escores visuais características raciais, de pigmentação
ocular, sexuais secundárias, pelame e aprumos. - Medidas biométricas: incluem
as medidas de altura na garupa (ou "Frame"), comprimento, perímetro
torácico, comprimento do osso metatarsiano, etc. - Reprodutivas: Têm por
finalidade melhorar geneticamente as taxas reprodutivas e, consequentemente, o
número de animais gerados. São exemplos: idade ao primeiro parto, intervalo de
partos, perímetro escrotal, dias para parir, taxa de prenhez de novilhas, etc.
- Adaptação: São características utilizadas para verificar a rusticidade dos
animais. Incluem, entre outros, a resistência a endo e ectoparasitas (contagens
de ovos por gramas de fezes e de carrapatos), taxas de sudação e respiração no
estresse do calor e número e comprimento dos pêlos. 3.1.7. Fases de avaliação
Os animais são avaliados à desmama e ao sobreano, quando é feita a avaliação
final. Os animais nascidos na primavera são avaliados no outono, tanto na
desmama quanto sobreano. A avaliação de sobreano dos animais nascidos no outono
é por vezes antecipada para um ano de idade para ser realizada antes do inverno
no sul do Brasil ou seca no Brasil central. 3.1.8. Relatórios de avaliação
genética Os relatórios contêm o resultado do trabalho do programa de
melhoramento genético. O objetivo primordial dos relatórios é a seleção e
direcionamento dos acasalamentos dentro do rebanho. Não basta simplesmente
participar de um programa de melhoramento, o progresso genético vem do efetivo
uso das informações para, por exemplo: - Identificar candidatos a touro,
melhores novilhas para a reposição, melhores touros pais utilizados - através
do desempenho de suas progênies - e vacas de melhor eficiência reprodutiva e
maior capacidade em desmamar terneiros pesados; - Otimização dos acasalamentos
de seus ventres com touros em monta a campo ou programas de inseminação
artificial pela restrição da endogamia e maximização do ganho genético nas
características de importância econômica; - Restrição de ganho genético em
características indesejáveis; - Seleção e acasalamento de vacas em programas de
transferência de embriões ou fertilização in vitro de embriões (FIV),
garantindo maior variabilidade genética pela minimização da consanguinidade nos
acasalamentos; e - Otimização na condução do cruzamento para formação de raças
compostas (Brangus, Braford, Canchim, etc.), pela maximização da genética
aditiva e não da heterose. Um segundo objetivo, também importante, é a
utilização das DEPs no momento da venda dos animais, como especificação da
qualidade dos mesmos. Esses relatórios podem ser impressos ou disponibilizados
em software interativo. No caso do GENEPLUS, os resultados são enviados em um
programa computacional contendo um módulo de apresentação dos resultados da
avaliação genética dos animais, um de avaliação de acasalamento e um
apresentando as tendências e médias do rebanho. No módulo de Apresentação de
Resultados, o criador recebe as avaliações de todos os touros avaliados pelo
programa, independentemente se são usados na propriedade, e de suas matrizes e
produtos, para cada característica avaliada, podendo fazer a classificação pela
característica que desejar. Além da classificação dos animais dentro do
rebanho, tem-se a comparação do animal com todos os animais avaliados pelo
programa, informando ao criador se seu animal está, por exemplo, entre os
cinco, dez ou 80% melhores. O módulo Tendências e Médias permite ao criador
observar a evolução genética do seu rebanho ao longo dos anos, comparando-os
com as médias gerais do programa, e verificar quais são as características que
devem ser melhoradas. Essas informações permitem ao criador compor um índice
específico para o seu rebanho, de forma a orientá-lo na escolha dos touros a
serem utilizados em suas matrizes e, através do módulo de Acasalamento,
direcionar estes acasalamentos para otimizar os desempenho nas características
mais relevantes e controlar a consanguinidade. 3.1.9. Dicas para seleção dentro
de rebanho 3.1.9.1. Rebanhos selecionadores – Produtores de touros: Os
produtores de touros têm um papel fundamental na difusão de genética superior e
melhoramento da população como um todo. Devem manter registros de desempenho de
todo o rebanho ou núcleo selecionado e participar de um programa de
melhoramento genético para garantir a qualidade dos animais produzidos. Quanto
maior o tamanho do rebanho, maior o ganho genético. Rebanhos pequenos (menos de
100 vacas) devem procurar se organizar em grupos para aumentar a base genética
selecionada. O rebanho base ou núcleo deve ser formado por animais de melhor
desempenho disponíveis. A taxa de reposição deve atingir um balanço entre a inclusão
de animais jovens com desempenho promissor e a manutenção de reprodutores
provados mais velhos, que minimize o intervalo entre gerações. Touros devem ser
usados por dois a três anos, com reposição anual dos mais velhos pelos melhores
touros jovens produzidos. Alguns touros de outros rebanhos devem ser
incorporados eventualmente para evitar o aumento da consanguinidade. A
inseminação artificial deve ser usada, pois permite acelerar o ganho genético
pelo uso de touros comprovadamente de alto valor genético. Aproximadamente 20%
das vacas devem ser renovadas a cada ano, pelas melhores novilhas selecionadas.
É natural no processo de melhoramento genético que as gerações mais novas
tenham um valor genético médio superior e, portanto, as novilhas de reposição
serão superiores geneticamente às vacas descartadas. Os descartes das vacas
podem ser feitos por idade, habilidade materna e eficiência reprodutiva ou
simplesmente por um índice de seleção, caso o rebanho esteja engajado em um
programa de melhoramento genético. As novilhas devem entrar em reprodução o
mais cedo possível, desde que tenham atingido ao redor de 65% do peso adulto
das vacas, e vacas velhas devem ser descartadas, pois tendem a produzir
terneiros mais leves. Se as condições de alimentação forem adequadas e as taxas
reprodutivas elevadas, as matrizes vazias no diagnóstico de gestação podem ser
todas descartadas; entretanto, esta decisão é mais relacionada à eficiência
econômica pelo descarte de fêmeas subférteis do que ao melhoramento genético para
eficiência reprodutiva, uma vez que a herdabilidade ou transmissão genética
para as filhas da taxa de prenhez é bastante baixa. Deve ser usado um acesso de
25% de novilhas de reposição, pois se algumas falharem, assim mesmo se manterá
o tamanho do rebanho (para repor 20% de vacas usar 25% de novilhas), e o
período de acasalamento deve ser de três meses ou menos, para permitir uma
produção de bezerros uniforme. Montas controladas ou com reprodutor único devem
ser adotadas para determinação correta de paternidade, o que também contribui
para acelerar o ganho genético do rebanho. Todos os animais devem ser mantidos
inteiros até o desmame e em condições de manejo similar para comparação de
desempenho. Na desmama, todos os bezerros devem ser avaliados. As 10% piores
vacas em habilidade materna devem ser descartadas, nesta fase. O maior número
de tourinhos possível deve ser mantido para o teste pósdesmama. Entretanto, por
questões de manejo, o descarte de uma parcela dos machos, com base no relatório
de avaliação genética, pode ser necessário. Todos os animais mantidos devem ser
avaliados ao sobreano. Com base no relatório de avaliação genética,
selecionam-se as novilhas necessárias para repor o descarte de ventres. Touros
de mais alto desempenho (DEPs ou índices) são selecionados para reposição e o
restante é vendido. Para assegurar que todos os touros vendidos sejam
melhoradores, os 50% superiores, no máximo, do grupo testado devem ser
ofertados à venda. 3.1.9.2. Rebanhos comerciais – Compradores de touros: Os rebanhos
que não estão em condições de registrar desempenho e produzir seus próprios
touros são dependentes da qualidade dos touros comprados e da intensidade de
seleção realizada nas fêmeas para realizar o progresso genético. A qualidade
dos touros é de longe o fator mais importante e é discutido no item 3.3. Para
aumentar a fertilidade do rebanho, aumentar a taxa de ganho e reduzir a taxa de
consanguinidade, os touros devem ser substituídos após quatro anos de uso. O
período de monta deverá ser de três meses para aumentar a precisão de seleção.
A seleção de novilhas dependerá do nível de informação e recursos disponíveis.
Se há balança disponível, as novilhas de idade similar devem ser pesadas e
selecionadas pelo seu desenvolvimento. Entre as novilhas de bom
desenvolvimento, aquelas de melhor conformação devem ser preferidas. Caso não
seja possível pesar as novilhas, uma avaliação visual de tamanho, taxa de
crescimento e conformação deverá ser realizada. Um excesso de novilhas deve ser
posto em reprodução, para permitir descartes. Todas as novilhas que não ficarem
prenhes no primeiro acasalamento devem ser descartadas, assim como todas as
vacas que estiverem vazias por duas estações consecutivas ou não. O descarte de
todas as vacas vazias no diagnóstico de gestação é uma prática bastante
recomendável do ponto de vista de seleção e econômico, pois se elimina animais
subfertéis ou improdutivos. Evita-se também que a vaca permaneça um longo
período na propriedade, com todos os custos de manutenção, sem produzir. Neste
caso, o rebanho deverá ter 70% ou mais de natalidade, para que a reposição seja
suficiente para repor todos os ventres eliminados. Nas vacas com cria ao pé, os
piores produtos, dentro de cada sexo, identificam as vacas de pior habilidade
materna para serem descartadas. Vacas velhas tendem a desmamar terneiros mais
leves e devem ser eliminadas quando atingem determinada idade ou quando
estiverem com os dentes gastos. Os procedimentos descritos acima para a seleção
de novilhas e vacas são satisfatórios, mas estão sujeitos a erros e são bem
menos precisos que os registros de desempenho. Os criadores comerciais, uma vez
que possuam a estrutura necessária, podem participar de programas de
melhoramento e aumentar assim a precisão e segurança na seleção de suas fêmeas.
3.2. Programas de cruzamento sistemático Os programas de cruzamento são a
estratégia a ser adotada para capitalizar os benefícios da heterose, das
diferenças e da complementaridade entre raças. Os principais sistemas de
cruzamentos são descritos a seguir, e estão esquematizados na Tabela 3.
3.2.1.
Cruzamento terminal: Consiste no cruzamento de duas raças, uma materna (A) e
outra terminal (T), produzindo híbridos AT, que são todos comercializados para
o abate. A raça A é o rebanho base, que deve ser bem adaptado e de boa
habilidade materna. Pelo menos 50% das fêmeas devem ser servidas com touros da
própria raça A para produzir fêmeas de reposição. A raça T deverá ser de grande
crescimento e qualidade de carcaça. A grande vantagem do sistema é a simplicidade,
só requerendo dois potreiros para reprodução. As desvantagens consistem em não
usar a fêmea cruzada (heterose materna) e que 50% dos machos para venda são
puros (filhos de touros A – sem heterose). Pode-se esperar um incremento médio
de 5% no peso ao desmame pelo uso da raça terminal. 3.2.2. Cruzamentos
rotativos: Neste caso, usam-se dois rebanhos: um se acasala com touros da raça
A e outro com touros da raça B. A reposição que se origina em um rebanho é
destinada ao outro (filhas de A se acasalam com B e filhas de B com A). A
heterose média estabiliza em 67% daquela obtida na F1. Se este sistema é
praticado com três raças, o nível de heterose situa-se em 86% da F1 C x AB. O
sistema exige um manejo mais complexo, pois no caso de três raças são formados
três grupos reprodutivos, necessitando desta forma de no mínimo três potreiros,
e teremos na propriedade touros de três raças diferentes. Outra desvantagem é
que se as raças têm características diferentes existe uma flutuação de
desempenho entre os rodeios. Por outro lado, se usarmos raças semelhantes,
perde-se o benefício da complementaridade. O sistema mantém bons níveis de
heterose e o aumento médio estimado em peso de terneiro ao desmame é de 15%
para o caso de duas raças e 20% com três raças. Uma forma de simplificação
deste sistema são os sistemas circulares, onde o rebanho de cria se cruza com a
raça A por três ou quatro anos, ao fim dos quais se substituem por touros de
outra raça (B). Estes serão também usados por um número de anos e depois
substituídos por touros A ou de uma terceira raça (C), e assim sucessivamente.
Este sistema também mantém altos níveis de heterose (55-73%), apresentando como
desvantagem a variação entre gerações. O manejo é muito simples, mas a
reposição simultânea de todos os touros pode ser um inconveniente. 3.2.3.
Sistema rotativo-terminal: É uma combinação de um sistema rotativo com a
utilização de uma terceira raça terminal. Duas raças maternas, A e B, são
cruzadas entre si para produzir fêmeas AB que logo se cruzarão com uma raça
terminal. Ao redor de 50% das fêmeas se acasalam com touros A e B (de forma
recíproca – filhas de touros A com B e vice-versa) para produzir a reposição,
utilizando-se normalmente as fêmeas de primeiro, segundo e algumas de terceiro
acasalamento. O restante das fêmeas é acasalado com um touro terminal. Este
sistema combina alto nível de heterose do sistema rotativo e complementaridade
da raça terminal. Um exemplo seria o uso de Red Angus e Devon como raças
maternas, em forma rotativa e Hereford ou Charolês como raça terminal. 3.2.4.
Raças sintéticas ou compostas: A formação de raças sintéticas ou compostas é
uma alternativa para evitar os problemas de manejos originados nos sistemas de
cruzamento. Estas são formadas pelo acasalamento de múltiplas raças até se
atingir uma proporção determinada, a partir da qual os animais são acasalados
entre si e manejados como uma raça pura. Alguns exemplos são o Braford,
Brangus, Santa Gertrudis, Canchim, Beef Master, Stabilizer, etc. As raças
compostas permitem usar altos níveis de heterose em uma base contínua e são
mais efetivas no uso de diferenças entre raças, mas não da complementaridade
entre genótipo materno e da sua cria (individual). Ocorre uma perda de heterose
entre a geração F1 e F2, quando animais cruzados são acasalados entre si.
Entretanto, nas gerações subsequentes a heterose se mantém constante e será
proporcional ao número e às diferenças entre as raças usadas na formação da
raça composta. Raças com características diferentes são combinadas nos animais
compostos, para alcançar e manter níveis ótimos de desempenho nas
características de maior importância econômica (crescimento e tamanho,
composição do ganho, produção de leite, adaptação climática e nutritiva e idade
à puberdade). Por exemplo, Braford e Brangus são compostos ou sintéticos
formados por 3/8 zebu e 5/8 britânico (Hereford e Angus, respectivamente). Além
da heterose, estes animais têm a vantagem de combinar a rusticidade e
fertilidade do zebuíno com a precocidade sexual e a qualidade da carne das
raças britânicas, que faltam ao zebuíno. 3.3. Aquisição de reprodutores
superiores: Cerca de 80% do melhoramento genético dentro de um rebanho é obtido
pelo uso de touros melhoradores, principalmente devido ao grande número de
filhos que um reprodutor deixa na propriedade. Portanto, uma avaliação sólida e
objetiva dos touros é de máxima importância se o criador quiser realizar
melhoramento em seu rebanho. Entretanto, um passo fundamental antes de escolher
os touros a serem usados, é identificar quais são os objetivos de sua produção
em gado de corte a médio e longo prazo, através do correto diagnóstico de seu
rebanho, ambiente de produção e das demandas de mercado e, a partir destas
informações, definir quais características devem ser melhoradas. Com esta
definição, o produtor deverá escolher touros que se destaquem justamente nas
características que mais precisam ser melhoradas em seu rebanho, mas que
preferentemente mantenham também um valor genético equilibrado para as demais
características de importância econômica. Os principais pontos a considerar no
momento da aquisição de touros são descritos a seguir: 3.3.1. Mérito genético
dos touros: A forma mais precisa de avaliar o mérito genético dos touros é
através da DEP - diferença esperada na progênie, que como explicado no item
2.1.1.5., é o que se espera que os filhos de cada touro produzam em cada uma
das características avaliadas em relação a um valor base para sua raça. Essa
DEP é expressa na unidade de medição da característica (p.ex., em Kg para
peso), apresentando uma diferença positiva (+) ou negativa (-) em relação à
base. A cada DEP está associada uma acurácia, que é uma medida da confiança que
pode ser depositada na DEP. Uma acurácia próxima de 1 ou 100% indica maior
confiabilidade. Para facilitar a escolha, os touros são classificados pelas
suas DEPs em percentis (%), onde um touro 5% está entre os 5% melhores para a
característica em questão. Alternativamente, os touros pode ser classificados
em decas, que são classes de 10% para as características avaliadas, assim
touros “deca 1” estão entre os 10% superiores (ou 10% dos touros com valor mais
alto para a característica), touros “deca 2” entre os 20% superiores, etc.
3.3.1.1. Sumários de Touros: São relatórios que contêm o valor genético dos
reprodutores usados como pais, em programas de melhoramento genético,
calculados com base no desempenho de sua progênie. Estes relatórios são a
informação mais segura disponível para a escolha de touros a serem usados em
inseminação artificial e em monta controlada, para o melhoramento dos plantéis
de animais puros ou para cruzamentos industriais. Existem vários sumários
disponíveis. Para raças de origem europeia, atualmente, o sumário com chancela
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é publicado pela
Associação Nacional de Criadores Herd-Book Collares. As avaliações são feitas
individualmente para cada raça, sendo publicadas anualmente. As raças avaliadas
são Angus, Braford, Charolês, Devon, Hereford e Shorthorn. Já para raças zebuínas
de corte, o sumário oficial é o produzido pela Associação Brasileira de
Criadores de Zebu em parceria com a Embrapa Gado de Corte, tendo avaliações
publicadas para as raças Brahman, Gir, Guzerá, Indubrasil, Nelore e Tabapuã.
Seguem algumas dicas de como usar DEPs na escolha de touros: - Compare dois
touros somente pela diferença entre suas DEPs e não pelo valor absoluto das
DEPs, pois o que realmente importa é a diferença entre os touros; - As DEPs
somente são comparáveis dentro de um mesmo sumário – não compare DEPs entre
sumários ou entre raças dentro de um mesmo sumário; - As DEPs podem mudar à
medida que mais informações estão disponíveis sobre a progênie dos touros – use
os sumários mais atuais possíveis; - A acurácia não deve ser usada como fator
de escolha de touros, pois touros jovens têm baixa acurácia (poucos filhos),
mas devem ser usados, pois suas DEPs em média serão melhores que as dos touros
provados. Entretanto, a acurácia deve determinar a intensidade de uso,
avaliando-se a produção dos touros jovens, antes de utilizá-los em larga escala
no rebanho; - Sumários Americanos e Canadenses devem ser usados com cautela,
pois o ambiente de criação é bastante diferente nestes países. As DEPs são
expressas em libras e as médias dos touros ativos têm valores bastante altos.
3.3.2. Registro genealógico: Os registros genealógicos são um atestado de
pureza racial, mas têm valor limitado para descrever e comparar o valor
genético dos animais se não estiverem acompanhados de dados de desempenho. De forma
geral, os bovinos são registrados como puros de pedigree ou de origem (PO) e
puros controlados ou por cruzamento (PC). Estes certificados de pedigree têm
grande utilidade no controle da consanguinidade, pois animais consanguíneos têm
produtividade e vigor diminuídos, mas um produtor comercial deve comprar os
melhores touros disponíveis independente de “status” de registro. Por outro
lado, pelos regulamentos das associações de raça, ventres registrados somente
podem ser cobertos por touros registrados na mesma categoria ou superior, para
terem sua progênie registrada. Em termos de capacidade de produção de carne, a
progênie de touros comerciais PC pode ser tão boa quanto a de touros PO. Em
geral, touros PO são melhor alimentados e recebem um melhor “penteado” do que
touros comerciais. Eles aparentam ser melhores e, portanto, muitas vezes os
criadores pagam mais pela embalagem, mas isto não afetará a produção de sua
progênie. Como salientado no item 3.3.1, a melhor maneira de comparar os touros
é pelos dados de desempenho, assim podemos eleger o melhor touro independente
de categoria de registro. A dupla marca é usada pelas associações de raça como
um atestado de superioridade genética. Dentro das raças, os touros recebem uma
marca que certifica a pureza racial do reprodutor, e aqueles que participam de
um programa de melhoramento genético oficial e se situam entre os elite e
superiores recebem dupla marca. Assim, por exemplo, touros PP são PO e estão
entre os melhores de sua safra. O mesmo serve para touros PC, sendo que as
marcas variam conforme a raça: CACA são os melhores no Angus, HH no Hereford,
DD no Devon, e assim por diante. Já um touro com marca H simples é um touro
Hereford que está abaixo dos 30% superiores ou que não possui avaliação
genética. Ainda existem programas independentes de melhoramento que produzem
também touros de qualidade superior, alguns deles sem registro genealógico, mas
com um Certificado Especial de Identificação e Performance fornecido pelo
Ministério da Agricultura. Por outro lado, os touros sem registro e que são
oriundos de rebanhos que produzem animais registrados, somente devem ser
adquiridos se tiverem dados de desempenho superior, pois normalmente serão
animais de refugo por qualidade inferior ou impureza racial. 3.3.3. Idade dos
touros: Os touros são vendidos em nossa região aos dois ou três anos de idade.
Um touro de dois anos, desde que tenha sido alimentado o suficiente para
completar a maior parte do seu desenvolvimento (atingir entre 550 e 650 kg,
dependendo do porte da raça), é capaz de cobrir 25 a 35 vacas já na primeira
estação de monta, se as condições ambientais forem favoráveis, e terá uma vida
útil maior. Entretanto, em um ambiente mais desfavorável, principalmente quando
a alimentação é pobre, os touros de três anos são preferíveis por serem mais
rústicos. Existe uma tendência de oferecer em um mesmo remate touros de
diferentes idades. Muitas vezes, os touros mais velhos são aqueles que não eram
bons o suficiente para serem ofertados aos dois anos. Estes touros são
inferiores quando comparados com seus contemporâneos, mas não parecem maus
quando comparados com animais mais jovens no momento da venda. Por outro lado,
alguns núcleos de seleção usam os melhores touros em idades jovens, por um ou
dois anos, e depois ofertam estes animais ao mercado. Os dados de desempenho
(DEPs) permitem comparações entre animais, mesmo que de idades diferentes, e
reconhecer facilmente se os touros mais velhos são tope ou fundo em comparação
com seus contemporâneos ou com os animais mais jovens. Entretanto, se não
houver dados é recomendável comprar os touros mais jovens e permitir que
terminem seu crescimento na propriedade. 3.3.4. Avaliação morfológica: Grande
parte dos criadores compra touros com base em uma apreciação visual. Os touros
são avaliados de acordo com vários critérios, mas a importância maior é dada a
padrões raciais, conformação e desenvolvimento. A estimativa de potencial de
crescimento é a mais imprecisa, pois diferenças de idade, alimentação e manejo
confundem a avaliação visual. Os vendedores de touros são bons comerciantes e
sabem como empacotar seu produto de maneira a agradar o comprador em potencial.
O preparo pode fazer com que um touro abaixo da média pareça tão bom quanto os
superiores. Os dados de desempenho (DEPs) são o único indicativo que pode
garantir que aquilo que encanta o olho se traduzirá em progênies de qualidade.
Comprar touros sem dados é uma "loteria". Por outro lado, a
apreciação visual é necessária para avaliar se o touro possui boa estrutura física
e outros atributos de importância econômica. Touros devem ser musculosos e ter
bons aprumos, para poderem caminhar atrás de vacas em cio. Um temperamento
dócil também é importante, pois facilitará o manejo do reprodutor na
propriedade. Touros devem ter ainda um bom perímetro escrotal (testículos
grandes), indicando fertilidade e precocidade sexual, que também será
transmitida às suas filhas. 3.3.5. Exames andrológicos e sanitários: O
comprador deve exigir do vendedor que o touro possua exame andrológico, ou
seja, que não apresente alterações clínicas na genitália e que seja capaz de
produzir e depositar sêmen fértil nas vacas. Testes negativos para brucelose e
tuberculose são exigidos nas exposições, e devem acompanhar também o reprodutor
nos remates e vendas particulares, como garantia de sanidade. 3.3.6. Ambiente
de criação: Diferenças extremas das condições de criação e teste do touro com a
situação da produção comercial podem resultar em decepções para os criadores,
em termos de desempenho da progênie, quando os touros adquiridos vierem de
ambientes muito diferentes daquele observado na sua fazenda. Isto pode ocorrer
quando, por exemplo, reprodutores são criados confinados, com dietas de alto
nível nutritivo e sua progênie é manejada em campo nativo. O que acontece
nestes casos é que a genética é selecionada para produzir bem em outro tipo de
ambiente. O criador deve buscar touros oriundos de sistemas de criações
semelhantes ao existente em sua propriedade. 3.3.7. Facilidade de parto: Touros
com baixo peso ao nascer são indicados para realizarem o primeiro serviço em
novilhas, para minimizar o risco de problemas de parto. O único indicativo
confiável do peso ao nascer da progênie de um touro é sua DEP para peso ao
nascer. Touros com DEP negativas para peso ao nascer devem ser adquiridos para
servirem novilhas. 3.3.8. Quanto vale um touro? Os compradores devem ter em
mente que o valor de um touro ou o valor que pode ser pago por um touro
dependerá da qualidade deste reprodutor. Melhores bezerros se traduzem em um
maior valor agregado e isto permite pagar mais por touros que produzam progênie
superior. As DEPs permitem calcular o impacto de um touro na produção total, em
termos de quilos extras de carne produzidos na sua progênie e, portanto, o
valor do touro ou quanto pode ser pago a mais por este touro em relação a
outro. Supondo um touro com DEP para peso ao desmame de +10 kg usado por quatro
anos e produzindo 25 filhos/ano. O valor quilo vivo de peso de R$ 2,50 e o peso
de abate do touro de 700 kg. Temos assim: Aumento de peso ao desmame por filho
(DEP) = 10 kg Produção de quilos extra na progênie (10 kg × 100 filhos) = 1.000
kg Valor total da produção extra (1.000 kg × 2,50 R$/kg) = R$ 2.500,00 Valor
residual do touro ao abate (700 kg * 2,50 R$/kg) = R$ 1.750,00 Valor estimado
do touro = R$ 4.250,00 Para fins de comparação entre touros, por este
exercício, conclui-se que se pode pagar R$ 250,00 a mais por cada quilo de DEP
que o touro tenha em relação a outro (1 kg * 100 filhos * 2,50 R$/kg = R$ 250,00).
O valor do touro acima foi determinado pela sua contribuição para o aumento da
produção de carne mais seu peso de abate. A contribuição de touro com genética
superior, através de suas filhas usadas na reprodução, adiciona ainda mais
valor a esse touro. Em um mercado livre, a competição entre compradores é que
determina o valor real a ser pago, contudo esta abordagem proporciona uma
estimativa razoável do valor de um touro para fins de comparações e para
determinar o retorno esperado do investimento. 3.3.9. Catálogos de touros para
inseminação artificial (sêmen): A inseminação artificial permite ao criador
acelerar o processo de melhoramento genético, pois pode utilizar touros de
qualidade genética muito superior (maior diferencial de seleção). Para comprar
sêmen de touros, os critérios são os mesmos dos touros já descritos
anteriormente. Entretanto, tendo em vista o conjunto de material de propaganda
disponível a respeito de touros com sêmen à venda, por vezes confusa, alguns
pontos devem ser considerados. - Fotografias, pedigrees e descrições em
catálogos: Estes dados são apresentados e planejados para promover a venda de
sêmen independente do real valor genético. Na ausência de dados de desempenho
estas informações não possuem qualquer valor. - Preço do sêmen: O preço é usado
algumas vezes pelo comprador como um indicador do valor genético, supondo que
quanto maior o preço melhor o touro. Os dois valores não são sempre
correlacionados, e muitas vezes touros com preços mais acessíveis podem ser tão
bons ou melhores que touros com sêmen mais caro. Em geral, touros que produzem
sêmen em abundância e que têm baixa procura têm o sêmen comercializado por
valores mais acessíveis do que animais que produzem menos sêmen por unidade de
tempo e têm boa procura no mercado. - Dados de desempenho (DEPs): São o melhor
indicativo de mérito genético. Somente touros de alto valor genético devem ser
largamente utilizados em inseminação artificial. Contudo, é preciso considerar
a origem das DEPs, qual a média do sumário de onde foram retiradas e qual a
medida, quilogramas ou libras. É comum que em um mesmo catálogo existam DEPs
retiradas de diferentes sumários, que não são comparáveis entre si, mesmo
dentro de uma raça. Um exemplo é quando existem touros nacionais e importados, com
DEPs geradas no Brasil e no exterior, respectivamente .
Referências
BEEF IMPROVEMENT FEDERATION.
Guidelines for uniform improvement programs. 7th ed. Colby: Northwest Research
Extension Center, 1996. 161 p. BOURDON, R. M. Understanding animal breeding.
2nd ed. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 2000. 538 p. CUNDIFF, L. V.;
GREGORY, K. E. What is systematic crossbreeding? In: CATTLE INDUSTRY ANNUAL
MEETING AND TRADE SHOW, 1999, Charlotte. Proceedings… Centennial:
Cattlemens College: National Cattlemens Beef Association, 1999. Não paginado.
DALY J. J. Melhoramento genético para a produção de carne bovina. São José do
Rio Preto: Agro-Pecuária CFM, 1992. 80 p. Tradução da série Beef Cattle
Husbandry Branch technical bulletin nº 7. Queensland Department of Primary Industries. FALCONER, D. S.; MACKAY, T.
F. C. Introduction to quantitative genetics. 4th ed. Harlow: Longman Group,
1996. 464 p. GREGORY, K. E.; CUNDIFF, L. V.; KOCH, R. M. Composite breeds to
use heterosis and breed differences to improve efficiency of beef production.
[Washington]: U. S. Dept. of Agriculture, Agricultural Research Service;
Springfield: National Technical Information Service, 1999. 75 p. (USDA.
Technical bulletin, n. 1875). HENDERSON, C. R. Estimation of variance and
covariance components. Biometrics, Washington, v. 9, n. 2, p. 226-252, June
1953. LYNCH, M.; WALSH, B. Genetics and analysis of quantitative traits. Sunderland: Sinauer,
1998. 980 p.
Anexo
- endereços eletrônicos para consulta Associação Brasileira de Hereford e
Braford http://www.hereford.com.br/ Associação Nacional de Criadores “Herd Book
Collares” http://www.herdbook.org.br/
http://www.herdbook.org.br/index.asp?pag=sumario.asp (Sumário de Touros de
Raças Europeias) Associação Nacional de Criadores e Produtores http://www.ancp.org.br/
GENEPLUS - Programa de Melhoramento da Embrapa Gado de Corte e Fundapam
http://www.geneplus.com.br/
http://www.cnpgc.embrapa.br/~locs/sumario/sumario_zebu.htm (Sumário de Touros
de Raças Zebuínas) GENSYS – Consultores Associados http://www.gensys.com.br/
PAMPAPLUS – Programa de Avaliação Genética das Raças Hereford e Braford
http://www.pampaplus.com.br/ PROMEBO – Programa de Melhoramento de Bovinos de
Carne http://www.promebo.com.br/
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