Por João Ambrósio de Araújo Filho
A vegetação lenhosa da caatinga, em sua maioria formada
por espécies caducifólias no período seco, adiciona ao solo cerca de quatro
toneladas de matéria seca de folhas e galhos, contribuindo, assim, com um papel
fundamental na reciclagem de nutrientes. Além disso, cerca de 70% das espécies
lenhosas de alguns sítios ecológicos participam da dieta de bovinos, caprinos e
ovinos. A manipulação dessas espécies, seja para a melhoria da qualidade e para
o aumento da produção de forragem, seja para uso de sua fitomassa foliar como
adubo orgânico, requer um conhecimento adequado das características da produção
e da composição química de sua fitomassa. Como esses fatores se relacionam com
o ciclo fenológico das plantas, servem também como base para determinação da
melhor época de sua utilização. As espécies lenhosas da caatinga apresentam diferenças
estacionais em seus ciclos fenológicos, possivelmente associadas a flutuações
da composição química de sua folhagem. Vale salientar que a riqueza florística
forrageira da caatinga é pouco conhecida, dificultando a seleção de espécies
com potencial para utilização em sistemas agroflorestais ou como forrageiras.
Essa deficiência de conhecimento contribui para a prevalência de um manejo da
vegetação puramente extrativista, carecendo de práticas e tecnologias adequadas
ao aporte de uma base de sustentabilidade à atividade pastoril e agroflorestal
nos ecossistemas da caatinga. As características anatômicas, morfológicas e
fisiológicas estão associadas aos mecanismos de adaptação das espécies lenhosas
às condições de seca das regiões semiáridas. Porém, em se tratando de árvores e
arbustos, dois mecanismos se destacam: a resistência e a tolerância. As
espécies lenhosas com mecanismo de resistência à seca são perenifólias e
apresentam folhas pequenas ou folíolos, céreos ou rugosos, superfície foliar
ondulada, com os estômatos localizados na parte côncava, espinhos ou acúleos,
caules com vasos lenhosos curtos e de pequeno diâmetro, com paredes espessas,
sistema radicular profundo e extenso. Nas regiões semiáridas tropicais essas
espécies botânicas são predominantemente do tipo C3 ou crassuláceas. Por outro
lado, as árvores e os arbustos, com mecanismo de tolerância, são caducifólios e
possuem geralmente folhas grandes, tenras e lisas, podendo ter espinhos, caules
com vasos lenhosos longos de grande diâmetro, sistema radicular lateral extenso
e, nos trópicos semiáridos, são espécies botânicas geralmente do tipo C4. A
combinação variável dos fatores supracitados resulta em diversidade de
situações que caracterizam os diferentes graus de adaptação das espécies
arbóreas e arbustivas da caatinga às condições do Semiárido nordestino. O
mecanismo de tolerância apresenta-se como o mais comum entre as espécies
lenhosas da caatinga, possivelmente por permitir uma melhor adaptação às
características da variabilidade das precipitações pluviais da região. Algumas
das espécies botânicas, de maior interesse serão descritas a seguir.
Aroeira (Myracrodruon
Urundeuva)
Da família das Anacardiáceas, a aroeira (Figura 15) é uma
árvore típica dos estágios finais da sucessão secundária da caatinga,
encontrada nos sertões nordestinos de baixa a elevada altitude, na maioria dos
solos da região, com predominância nos luvissolos crômicos órticos, latossolos
e argissolos. Árvore que pode alcançar até 25 m de altura, de crescimento
moderado, sistema radicular com raiz pivotante pouco pronunciada, caule inerme,
lenho pesado, com densidade específica de 900 kg/m3. Caducifólia precoce, copa
arredondada moderadamente densa e folhas compostas. Seu ciclo fenológico se
verifica ao longo de todo o ano. Durante a época das chuvas, a planta inicia
com a rebrotação, permanecendo em vegetação plena até o fim do período, quando
perde sua folhagem. Ao meio da época seca entra em floração e frutificação,
totalmente desprovida de folhas, completando, então, seu ciclo fenológico.
Planta útil como forrageira, produtora de madeira para construção e lenha,
medicinal e utilizada na coleta apícola de pólen e néctar. Análises laboratoriais da folhagem da aroeira, colhida
nas fases de vegetação plena e dormência (Tabela 2), indicaram que o teor médio
de matéria seca é de 38,5%, na fase de vegetação plena, alcançando, na
dormência ou restolho, cerca de 89,6%. O teor de proteína bruta decresceu de
16,7%, na fase de vegetação plena, para 8,7%, na dormência. A fibra em
detergente neutro e a fibra em detergente ácido apresentaram valores sempre
baixos, flutuando a primeira de 20,5 a 36,5% e a segunda de 11,1 a 21,7%,
respectivamente, para as fases de vegetação plena e de dormência. O teor de
lignina alcançou 4,5%, na vegetação plena, aumentando para 6,7%, na dormência,
um dos menores entre as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o
percentual de taninos totais foi sempre o mais elevado, variando de 35,8, na
fase de vegetação plena, a 10,5, no restolho lenhoso. Por fim, a
digestibilidade in vitro da matéria
seca (DIVMS) pode ser considerada elevada para uma arbórea nativa, variando de
65,6% na fase de vegetação plena para 30,5% na dormência.
As folhas da aroeira são consumidas, verdes ou secas, por
bovinos, caprinos e ovinos. É uma arbórea que não deve ser rebaixada, mas
devido a sua utilidade como produtora de madeira e de produtos medicinais, é
preferível preservá-la. Seu aproveitamento pela pecuária deverá ser pelo uso de
suas folhas naturalmente fenadas. Sua contribuição para a circulação de
nutrientes em um sistema agroflorestal é muito importante, considerando-se o
elevado teor de nitrogênio em suas folhas e a rapidez com que se degradam, após
sua queda ao solo.
Catingueira
(Poincianera pyramidalis)
Da família das Cesalpináceas, a catingueira (Figura 16) é
uma árvore típica dos estágios intermediários da sucessão secundária da
caatinga, encontrada nos sertões nordestinos de baixa a elevada altitude, na
maioria dos solos da região, com predominância nos luvissolos crômicos órticos
e argissolos. Árvore que pode alcançar até 10 m de altura, de crescimento
lento, sistema radicular com raiz pivotante pouco
pronunciada, caule inerme,
lenho pesado, com densidade específica de 920 kg/m3. Copa
arredondada moderadamente densa e folhas compostas. Caducifólia tardia, seu
ciclo fenológico se verifica durante a época das chuvas, com o início da
dormência em plena estação seca. Alcança a vegetação plena no começo da estação
das chuvas, flora ao meio da estação e frutifica ao final do período úmido.
Planta útil como forrageira e produtora de néctar e pólen e de lenha.
Análises laboratoriais da folhagem da catingueira, colhida
em diferentes fases de seu ciclo fenológico (Tabela 3), apontaram um teor de
matéria seca que se mantém sempre elevado, acima de 40%, alcançando, na fase de
dormência (restolho), cerca de 87,1%. O teor de proteína bruta, por seu turno,
decresceu de 16,9% na fase de vegetação plena para 14,4% na frutificação e para
11,2% na dormência. A fibra em detergente neutro e a fibra em detergente ácido
apresentaram valores sempre baixos, flutuando a primeira de 31,9 a 49,8% e a
segunda de 19,8 a 33,4%, respectivamente, para as fases de vegetação plena e de
dormência. O teor de lignina alcançou 6,6% na vegetação plena, aumentando para
12,7% na frutificação e decaindo para 11,7% na dormência, um dos menores entre
as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos
totais foi sempre muito elevado, variando de 20,6 na fase de vegetação plena a
9,5 na dormência. Por fim, a
digestibilidade
in vitro da matéria seca pode ser considerada elevada para uma
arbórea nativa, variando de 58,4%, na fase de vegetação plena, para 50,4%, na
frutificação, atingindo 30,9% na dormência. As folhas da catingueira têm
consumo insignificante quando verdes, devido, provavelmente, ao odor
desagradável que possuem. Porém, quando secas, são consumidas por ovinos,
caprinos e bovinos, participando em até 35% de suas dietas no período seco.
A catingueira é uma arbórea que não deve ser rebaixada,
podendo, no entanto, ser desgalhada, na época das chuvas, para confecção de
feno. Sua contribuição para circulação de nutrientes em um sistema
agroflorestal é muito importante, considerando-se não só o elevado teor de
nitrogênio em suas folhas e a rapidez com que se degradam após sua queda ao
solo, como também por ser uma leguminosa simbionte.
Cumaru (Amburana cearensis)
Também chamada de imburana de cheiro (Figura 17), da família
das Papilionáceas, é uma árvore típica dos estágios finais da sucessão
secundária da caatinga, encontrada nos sertões nordestinos de baixa a média
altitude, na maioria dos solos da região, com predominância nos luvissolos
crômicos órticos,
latossolos e argissolos. Pode alcançar até 10 m de altura, de
crescimento moderado, sistema radicular com raiz pivotante pouco pronunciada,
caule inerme e revestido por uma casca que se destaca em lâminas finas, lenho
moderadamente pesado, com densidade específica de 720 kg/m3.
Caducifólia precoce, perdendo a folhagem no início da estação seca. Copa
arredondada, moderadamente densa, folhas compostas com folíolos ovóides.
Alcança a vegetação plena no início das chuvas, permanecendo nessa fase
fenológica por todo o período úmido. Logo após a perda das folhas, no início da
época seca, entra em floração, seguida da frutificação e queda dos frutos,
completando-se o ciclo fenológico ao meio do período seco. Produtora de madeira
para carpintaria, medicinal e utilizada na coleta apícola de néctar, a imburana
de cheiro tem suas sementes utilizadas como alimento, tanto pela fauna
silvestre, quanto pelos animais domésticos. Análises laboratoriais da folhagem do cumaru, colhida em
diferentes fases de seu ciclo fenológico (Tabela 4), indicaram que o teor de
matéria seca se mantém em cerca de 28,8%, durante a fase de vegetação plena,
alcançando na dormência cerca de 92,3%. O percentual de proteína bruta
decresceu de 16,2 na fase de vegetação plena para 7,1 na dormência. A fibra em
detergente neutro e a fibra em detergente ácido apresentaram valores sempre
baixos, flutuando a primeira de 32,3 a 36,2% e a segunda de 14,6 a 23,1%, respectivamente,
para as fases de vegetação plena e de dormência. O teor de lignina alcançou
6,7% na vegetação plena, aumentando para 10,8% na dormência, um dos menores
entre as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos
totais foi sempre baixo, variando de 8,6% na fase de vegetação plena a 5,2% na
dormência. A digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) pode ser considerada elevada para uma arbórea nativa,
variando de 58,7% na fase de vegetação plena para 26,7% na dormência. As folhas da imburana de cheiro têm consumo insignificante,
quer quando verdes, quer quando secas, porém, suas sementes são consumidas
pelos animais. Sua contribuição para circulação de nutrientes em um sistema
agroflorestal é muito importante, considerando-se não só o elevado teor de
nitrogênio em suas folhas e a rapidez com se degradam após sua queda ao solo,
como também por ser uma leguminosa simbionte.
Juazeiro (Zizyphus joazeiro)
Da família das Ramnáceas, o juazeiro (Figura 18), uma árvore
típica dos estágios finais da sucessão secundária da caatinga, é encontrado nos
sertões nordestinos de baixa a elevada altitude. É uma espécie perenifólia de
porte médio, atingindo até 10 m de altura, de crescimento lento, raízes
profundas. Caule
armado de fortes espinhos, copa arredondada, muito densa,
folhas simples, coriáceas, flores pequenas amarelo-esverdeadas, dispostas em
inflorescências cimosas. O juazeiro apresenta uma fenologia chamada de invertida. De
fato, na época das chuvas, essa espécie permanece enfolhada, mas,
aparentemente, sem atividade de crescimento. Ao meio do período seco, quando a
maioria das espécies arbóreas da caatinga está em dormência, o juazeiro inicia
a queda de suas folhas antigas, seguida de imediato pela rebrotação de novas
folhas, dando o seu aspecto vistoso no meio da secura dos sertões. Em novembro,
ocorre a floração e, em sequência, a frutificação. O ciclo termina no início da
estação úmida, com a produção dos frutos, avidamente consumidos pelos animais.
Planta útil como forrageira, medicinal e utilizada na coleta apícola de pólen e
néctar.
Análises laboratoriais das folhas do juazeiro (Tabela 5),
colhidas em diferentes fases de seu ciclo fenológico, indicaram que o teor de
matéria seca variou de 24,3% na fase de vegetação plena a 80,3% na de
dormência. O percentual de proteína bruta decresceu de 20,6% na fase de
vegetação plena para 12,2% na frutificação e para 8,9% na dormência. Os teores
de fibra em detergente neutro e de fibra em detergente ácido flutuaram de 57,3
a 64,1% e de 30,7 a 45,8%, respectivamente, para as fases de vegetação plena e
de dormência. O teor de lignina alcançou 11,9% na vegetação plena, aumentando
para 14,2% na frutificação e para 20,3% na dormência. Por outro lado, o
percentual de taninos totais foi sempre muito baixo, oscilando de 0,1% na fase
de vegetação plena a 2,1% na dormência. Por fim, a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) pode
ser considerada baixa, apresentando valores de 36,6%, 30,0% e 25,4%,
respectivamente, para as fases de vegetação
plena, frutificação e dormência. As folhas do juazeiro são consumidas quando verdes. Vale
salientar que essa espécie pode ser utilizada como reserva alimentar
estratégica para o fim do período seco e até para as secas prolongadas que
periodicamente assolam o Semiárido nordestino. Os frutos, tanto se prestam ao
consumo humano, como são muito procurados por ovinos e caprinos. A contribuição
dessa espécie para circulação de nutrientes em um sistema agroflorestal é muito
importante, considerando-se, não só o elevado teor de nitrogênio em suas folhas
e a rapidez com que se degradam após sua queda ao solo, como também a sombra
acolhedora que oferece, durante todo a ano, razão por que, nos desmatamentos e
queimadas da agricultura nordestina, essa espécie é sempre poupada e até
protegida.
Jucá (Libidibia ferrea)
Da família das Cesalpináceas, o jucá (Figura 19), uma árvore
típica dos estágios intermediários e finais da sucessão secundária da caatinga,
é encontrado nos sertões nordestinos de baixa a média altitude. É uma espécie
perenifólia, em áreas frescas e de solos profundos, mas caducifólia tardia, em
situações menos amenas. Árvore de porte médio, que pode atingir até 8 m de
altura, apresenta crescimento lento,
raízes profundas, caule inerme, lenho
muito pesado, com densidade específica de 1.100 kg/m3.
Copa arredondada, moderadamente densa, folhas compostas com folíolos oblongos,
flores amarelas, dispostas em panículas, vagem carnosa, indeiscente. Seu ciclo
fenológico se verifica durante a época das chuvas, com o início da dormência em
plena estação seca, com a queda das folhas. Alcança a vegetação plena no início
das chuvas, flora ao meio da estação e frutifica no fim do período úmido.
Planta útil como forrageira e medicinal e utilizada na coleta apícola de pólen
e néctar. Análises laboratoriais de folhagem do jucá (Tabela 6),
colhida em diferentes fases de seu ciclo fenológico, indicaram que o teor de
matéria seca se manteve sempre elevado, acima de 53%, alcançando, na fase de
dormência, cerca de 90,7%. O percentual de proteína bruta decresceu de 15,1% na
fase de vegetação plena para 13,3% na frutificação e para 8,9% na dormência. Os teores de fibra em detergente neutro e de fibra em
detergente ácido foram baixos, variando, no primeiro caso, de 31,3 a 45,9% e,
no segundo, de 26,0 a 25,8%, respectivamente, para as fases de vegetação plena
e de dormência. O teor de lignina alcançou 8,7% na vegetação plena, aumentando
para 15,9% na frutificação e para 18,9% no restolho lenhoso. Por outro lado, o
percentual
de taninos totais foi sempre elevado, variando de 17,7% na fase de
vegetação plena a 16,5% no restolho lenhoso. Por fim, a digestibilidade in vitro da matéria seca apresentou
percentuais variando de 43,1%, na fase de vegetação plena, a 27,9%, na dormência. As folhas do jucá são consumidas quando verdes. Vale
salientar que essa espécie pode ser utilizada como reserva alimentar
estratégica para o fim do período seco. Todavia, em condições normais, as
vagens constituem um excelente recurso forrageiro para o início do período seco
(Figura 19). A contribuição dessa espécie para a circulação de nutrientes em um
sistema agroflorestal é muito importante, considerando-se não só o elevado teor
de nitrogênio em suas folhas e a rapidez com que se degradam após sua queda ao
solo, a profundidade de seu sistema radicular, como também por ser uma
leguminosa simbionte.
Jurema preta
(Mimosa tenuiflora)
Da família das Mimosáceas, a jurema preta (Figura 20) é uma
árvore típica dos estágios pioneiros da sucessão secundária da caatinga,
encontrada nos sertões nordestinos de baixa a elevada altitude, na maioria dos
solos da região, com predominância nos luvissolos, órticos crômicos,
argissolos, e planossolos háplicos. Pode alcançar até 8 m de altura, apresenta
crescimento rápido, sistema radicular com raiz pivotante pronunciada, caule
espinhoso, lenho moderadamente pesado, com densidade específica de 870 kg/m3.
Perenifólia em quase todos os sítios da caatinga, ou caducifólia tardia, com
manutenção da folhagem nos primeiros meses da estação seca, em áreas ou anos
mais secos. Copa arredondada, moderadamente densa e folhas compostas. Seu ciclo
fenológico se verifica durante a época das chuvas, com o início da dormência em
plena estação seca, com a queda das folhas. Alcança a vegetação plena no início
das chuvas, flora ao fim do período e frutifica no início da época seca. Planta
forrageira, produtora de lenha, medicinal e utilizada na coleta apícola de
néctar. Análises laboratoriais da folhagem da jurema preta (Tabela
7), colhida em diferentes fases de seu ciclo fenológico, indicaram que o teor
de matéria seca aumentou de 34,5%, na fase de vegetação plena, para 36,1%, na
frutificação, alcançando, na fase de dormência, cerca de 89,5%. Os percentuais
de proteína bruta foram de 19,6% na fase de vegetação plena, 12,1% na
frutificação e 8,7% na dormência. Os teores de fibra em detergente neutro e de
fibra em detergente ácido flutuaram, no primeiro, de 39,9 a 41,0% e, no
segundo, de 29,1 a 18,9%, respectivamente, para as fases de vegetação plena e
de dormência. O conteúdo de lignina alcançou 8,4% na vegetação plena,
aumentando para 11,4% na frutificação e para 13,7% na dormência, um dos menores
entre as espécies arbóreas da
caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos
totais variou de 9,9%, na fase de vegetação plena, a 12,4% na dormência. Por
fim, a digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS), baixa para uma arbórea nativa, variou de 29,5% na fase de
vegetação plena, para 26,0% na frutificação, atingindo 22,5% na dormência. Determinações da composição química das vagens de jurema
preta (Figura 20) mostraram um teor de 16,3% de proteína bruta, 45,5% de FDN e
uma digestibilidade in vitro de
60,2%. O consumo caprino alcançou 83,1 g/kg de PV0,75, com
ganhos diários de cerca de 141,6 g/cab/dia. As folhas da jurema preta têm consumo elevado quando verdes,
podendo constituir até 50% da dieta de caprinos. Ademais, em condições normais,
as vagens constituem um excelente recurso forrageiro para o início do período
seco, e são consumidas avidamente por ovinos, bovinos e caprinos. É uma arbórea
que deve ser rebaixada, principalmente por, nessa condição, manter sua folhagem
verde por toda a estação seca. Sua contribuição para a circulação de nutrientes
em um sistema agroflorestal é muito importante, considerando-se não só o
elevado teor de nitrogênio em suas folhas e a rapidez com que se degradam após
sua queda ao solo, como também por ser uma leguminosa simbionte.
Mororó (Bauhinia cheilantha)
Da família das Papilionáceas, o mororó (Figura 21) é uma
árvore típica dos estágios pioneiros e intermediários da sucessão secundária da
caatinga, encontrada nos sertões nordestinos de baixa a elevada altitude, na
maioria dos solos da região, com predominância nos luvissolos órticos crômicos
e
argisssolos. É uma árvore que pode alcançar até 8 m de altura, de crescimento
lento, sistema radicular com raiz pivotante pouco pronunciada, caule inerme,
lenho difuso-poroso, pesado, com densidade específica de 940 kg/m3. Caducifólia, copa
arredondada, densa e folhas simples lobuladas. As folhas do mororó têm excelente palatabilidade quando
verdes, porém, devido à baixa ocorrência dessa espécie, na maioria dos sítios
ecológicos da caatinga, sua participação na dieta dos ruminantes domésticos é
sempre muito baixa. É uma espécie lenhosa que deve ser rebaixada, podendo,
também, ser utilizada no enriquecimento da caatinga, quando, então, poderá
ocupar lugar de destaque no forrageamento de ovinos, bovinos e caprinos. Sua
contribuição para circulação de nutrientes em um sistema agroflorestal é muito
importante, considerando-se, não só o elevado teor de nitrogênio em suas folhas
e a rapidez com que se degradam após sua queda ao solo, como também por ser uma
leguminosa simbionte.
Pau-branco (Auxemma oncocalyx)
Da família das Boragináceas, o pau-branco (Figura 22) é uma
árvore típica dos estágios intermediários da sucessão secundária da caatinga,
encontrada nos sertões cearenses de baixa a média altitude, na maioria dos
solos da região, com predominância nos luvissolos crômicos órticos, latossolos,
argissolos e planossolos háplicos. A árvore, que pode alcançar até 15 m de
altura, é de crescimento rápido, com sistema radicular lateral, caule inerme,
lenho difuso-poroso, moderadamente pesado, com densidade
específica de 730 kg/m3. O pau-branco é uma caducifólia precoce, com copa
arredondada, densa e folhas simples; rebrota e alcança a vegetação plena no
início das chuvas, flora e frutifica ao meio da estação, entrando em dormência
com a queda das folhas, no início do período seco. Planta forrageira medíocre,
produtora de madeira para lenha, construção e caixotaria, e de estacas para
cerca, sendo visitada pelas abelhas para a coleta de néctar. Análises laboratoriais de folhagem do pau-branco (Tabela 9),
colhida em diferentes fases de seu ciclo fenológico, indicaram que o teor de
matéria seca aumentou de 21,4% na fase de vegetação plena para 36,4% na
frutificação, alcançando, na dormência, cerca de 83,7%. O percentual de
proteína bruta decresceu de 20,3 na fase de vegetação plena para 16,5% na
frutificação e para 8,3% na dormência. Os teores de fibra em detergente neutro
e de fibra em detergente ácido flutuaram, na primeira, de 61,8 a 59,3% e, na
segunda, de 39,2 a 20,2%, respectivamente, para as fases de vegetação plena e
de dormência. O conteúdo de lignina alcançou 20,9% na vegetação plena,
aumentando para 18,8% na frutificação e para 20,2% na dormência, um dos maiores
entre as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos
totais variou de 0,7%, na fase de vegetação plena, a
3,0%, na dormência. Por
fim, a digestibilidade in vitro da
matéria seca (DIVMS) pode ser considerada baixa para uma arbórea nativa,
variando de 25,9%, na fase de vegetação plena, para 21,9%, na frutificação,
atingindo 12,7%, na fase de dormência. As folhas do pau-branco têm consumo regular quando verdes,
participando em até 15% na dieta de caprinos. Porém, quando secas, sua
contribuição na composição botânica da dieta desse ruminante é muito baixa,
alcançando valores inferiores a 5,0%. Para ovinos e bovinos, o pau-branco é uma
espécie de baixo consumo. Na manipulação da vegetação lenhosa da caatinga, é
uma arbórea que deve ser rebaixada, com posterior manejo da rebrota, o que
permite à planta produzir até dois produtos, simultaneamente, isto é, forragem
e madeira.
Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia)
Da família das Cesalpináceas, o sabiá (Figura 23) é uma
árvore típica dos estágios intermediários da sucessão secundária em muitos
sítios da caatinga, encontrada nos sertões cearenses de baixa a elevada altitude,
na maioria dos solos da região, com predominância nos luvissolos crômicos
órticos, latossolos, argissolos e planossolos háplicos. Árvore que pode
alcançar até 9,0 m de altura, é de crescimento rápido, com sistema radicular
lateral, caule espinhoso, lenho poroso, pesado, densidade específica de
880
kg/m3. Caducifólia precoce, copa arredondada, medianamente densa e
folhas compostas. Rebrota e alcança a vegetação plena no início das chuvas,
flora e frutifica ao meio da estação, entrando em dormência com a queda das
folhas, no início do período seco. Planta forrageira, produtora de lenha, de
estaca para cerca e utilizada na coleta apícola de pólen e néctar. Análises laboratoriais de folhagem do sabiá (Tabela 10),
colhida em diferentes fases de seu ciclo fenológico, indicaram que o teor de
matéria seca aumenta de 33,6% na fase de vegetação plena e alcança, na fase de
dormência, 90,2%. O percentual de proteína bruta decresceu de 19,2% na fase de
vegetação plena para 14,3% na frutificação e para 8,5% na dormência. O
percentual de fibra em detergente neutro apresenta valores de 55,9%, na fase de
vegetação plena, 57,6%, na frutificação, e 50,3%, na dormência. O teor de fibra
em detergente ácido, por seu turno, aumentou de 27,3% na vegetação plena para
46,3% na dormência. O conteúdo de lignina alcançou 13,5% na vegetação plena,
aumentando para 19,7% na frutificação e para 22,9% na dormência, um dos maiores
entre as espécies arbóreas da caatinga. Por outro lado, o percentual de taninos
totais variou de 4,9 na fase de vegetação
plena a 8,6 na dormência. A
digestibilidade in vitro da matéria
seca (DIVMS) pode ser considerada média para uma arbórea nativa, variando de
39,2%, na fase de vegetação plena, para 28,7%, na frutificação, atingindo
22,9%, na dormência. As folhas do sabiá têm elevado consumo, quando verdes,
participando com percentuais superiores a 40% na composição botânica das dietas
de bovinos, caprinos e ovinos. Porém, quando secas, seu consumo passa a ser
insignificante. Na manipulação da vegetação lenhosa da caatinga, é uma arbórea
que deve ser rebaixada, com posterior manejo da rebrota, o que permite à planta
produzir até dois produtos, simultaneamente, isto é, forragem e madeira.
Nossa caatinga é muito rica, porém,seu potencial ainda é pouco conhecido...
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