17 de mar. de 2021

O Cajueiro - Por Guimarães Duque

Primeiramente conhecido na América do Sul, o cajueiro foi, depois, introduzido pelos portugueses, na África e na Índia. A família dos Anacardiaceas, abrangendo cerca de 60 gêneros e mais de 400 espécies, inclui o cajueiro, a mangueira, o umbuzeiro, o cajá e outras fruteiras valiosas. Classificado como Anacardium occidentale, o cajueiro tem o seu habitat nativo no litoral brasileiro, do Pará até Salvador.  Prefere o ar marinho, iodado, brisa úmida, insolação e temperatura entre 16 a 36°C. Não tem exigência de solo fértil, como atestam os cajueiros nativos nas areias pobres, no meio da caatinga litorânea. Gosta das chuvas leves na floração e frutificação, desde setembro até novembro. É uma árvore sempre verde, que pode atingir até 12 metros de altura, polígama, com flôres estaminadas (unisexuada) e outras


bisexuais na mesma panícula. O fruto compõem-se do pedúnculo desenvolvido, carnoso e sucoso, e da semente ou castanha. O cajueiro é, atualmente, objeto de exploração importante na Índia, em Madagascar, no México e no Peru. No Nordeste, o aproveitamento dessa árvore valiosa ainda se limita aos arvoredos nativos. As plantações ainda são pequenas. A extensa faixa litorânea, própria para o cajueiro, a rusticidade deste permitindo grandes safras, sem irrigação, a possibilidade de selecionar as melhores variedades, a proteção que essa árvore dá ao solo e os numerosos produtos dela extraídos recomendam essa Anacardeacea como uma fruteira de elevado valor econômico. O engenheiro-agrônomo Esmerino Parente estima o número de cajueiros, no Ceará, em 3.700.000. Os produtos que podem ser obtidos do cajueiro são os seguintes: do tronco da árvore, resina, casca taninosa, e madeira; do fruto, bebidas, doces, óleo da amêndoa e óleo da casca. As resinas do cajueiro já são preparadas e classificadas por uma fábrica de Alagoas, para exportação. As cascas são empregadas nos curtumes. O engenheiro agrônomo  Renato Braga informa que 100g de suco de caju amarelo contém 210 miligramas de vitamina C em comparação com 45 miligramas da mesma vitamina em 100g. do suco da laranja comum. Conhecemos duas fábricas, no Ceará, que industrializam a polpa do caju para doces, que enlatam a castanha assada e que extraem óleo isolante da casca da castanha. A casca da castanha contém 35% de óleo e a amêndoa 41%.

Composição da castanha do caju

Gorduras .............................................................................. 47,13%

Matéria azotada....................................................................  9,7%

Amido ..................................................................................  5,9%

Há muitas fábricas de cajuína, bebida preparada com suco de caju destaninado e pasteurizado, sem alcool. O mocororó é bebida caseira, tradicional do Nordeste. Além do doce em pasta e em calda, a polpa do caju presta-se muito bem para fazer o caju seco, cristalizado ou não. Esse aproveitamento industrial da polpa encerra as vantagens da fácil preparação no clima seco e ensolarado, na barateza da embalagem em caixas de papelão ou de madeira (não exigindo latas), na conservação por longo tempo e na diminuição do peso transportes distantes. Muitos remédios são extraídos do cajueiro. Entre ales, cumpre ressaltar os mencionados nos estudos do Prof. J. Juarez Furtado. Os historiadores como Guilherme Piso, Renato Braga, Gustavo Barroso e outros, nos contam que os indígenas do Ceará aproveitavam as safras de pequi, na Serra do Araripe e, depois, caminhando pelos leitos dos rios secos,


vinham desfrutar a temporada dos cajus, no litoral, balanceando suas rações com as proteínas e minerais dos mariscos pescados nas lagoas e nas praias. Uma grande fonte de divisas pode ser conseguida com os plantios racionais dos cajueiros e a exploração ordenada dos seus produtos. Esta racionalização terá de começar com a seleção dos melhores tipos de frutos; os mais doces, menos fibrosos, mais coloridos, menos rançosos originados de pés mais produtivos. A investigação dos melhores tipos permitiria marcar as árvores padrões de onde se tirariam as sementes e as borbulhas dos enxertos para os pomares de observação que mostrariam os indivíduos de valor econômico, as variações ou mutações, com vantagens comerciais, que seriam perpetuadas por meio da reprodução assexuada. O tipo ou variedade de cajueiro desejado seria plantado em pomares devidamente planejados, com terreno preparado, talhões divididos por estradas, covas grandes e adubadas, com as distâncias de 8 metros, com lavouras intercalares de mandioca ou feijão nos primeiros anos para cobrir as despesas da instalação dos pomares. As plantações seriam organizadas, tendo em vista o fornecimento das matérias-primas às fábricas existentes ou a outras que se estabelecerem. Pouca atenção tem sido dada à comercialização dos produtos agrícolas. Cultura - Sendo uma fruteira precoce, o cajueiro é, geralmente, reproduzido por sementes, apesar de que a enxertia e fácil. O terreno é preparado em talhões de 200m de largura, com faixas protetoras de “quebra-vento” com 20 a 30m deixadas com vegetação nativa, alta, por ocasião da roçada. Nos talhões, projetam-se estradas de acesso para atender aos serviços e ao transporte das safras. Cada talhão é destocado e gradeado: depois, por meio de bastões fortes, faz-se o alinhamento e marcam-se as covas distanciadas de 8m x8m, Abrem-se buracos grandes, não menores de 1m3, que são cheios com lixo curtido, trazido

das cidades mais próximas. Esse adubo é barato porém se deve tomar o cuidado para não conter a tiririca e outras ervas daninhas. Na sua falta, podem, tambem, servir o estrume de gado e o composto. Cada hectare comporta 154 mudas. As mudas são criadas com o plantio das melhores sementes em vasos ou “torrão paulista” e, quando têm um palmo de altura, são plantadas no pomar. A melhor lavoura, para combinar com o cajueiro, é a mandioca, durante três anos ou duas safras. Os tratos culturais, após o quarto ano, são os roços do mato rasteiro ou as gradagens de discos, 3 a 4 vezes no inverno. Colheita - A partir do terceiro ano, o cajueiro dá safras que vão aumentando em peso até alcançar o máximo entre 10 e 20 anos de idade. O tempo de colher é de setembro-outubro a dezembro e os apanhadores, empunhando varas, com sacolas de aro metálico nos bordos e garras para cima, vão, de manhã e de tarde, retirando, das árvores os frutos maduros, antes de caírem no chão. O transporte carece de ser feito em condições higiênicas e com rapidez para evitar a fermentação. Fruto mole, perecível, o caju tem de ser transformado em bebida ou doce no mesmo dia da colheita ou, então, preservado para futura industrialização. Os controles de produção indicam que um cajueiro, no litoral do Ceará, fornece, por ano, de 30 a 150 quilos de frutos inteiros, conforme a idade do cajual, o trato e as chuvas. O que se chama de fruto são pedúnculo entumescido e a semente. Mas a botânica ensina que o fruto verdadeiro é a castanha. O fruto maduro, parte carnosa e semente, varia de peso desde 30 gramas até mais de 100 gramas. O Dr. Rossini Carvalho já pesou caju com 500 gramas. É raro. Nas nossas experiências, com cajus de 50 gramas, obtivemos os seguintes resultados, de frutos maduros e frescos:

Castanhas ............................................................. 16% do peso total 

Bagaço ................................................................. 34% do peso total

Suco .....................................................................       50% do peso total

As castanhas, depois de assadas, perderam 40% a 50% do peso com a evaporação da água, a volatilização do óleo do tegumento externo e a retirada da casca seca.

Se um cajueiro der uma safra de 50 quilos, significa um rendimento de:

Castanhas maduras ....................................................

  8kg

Bagaço .......................................................................

17kg

Suco .........................................................................

25kg

Total ...........................................................................

50kg


Um hectare, com 154 cajueiros, com a produção média, acima, daria por ano:

Castanhas ..............................................................

1.232kg

Bagaço .................................................................

2.618kg

Suco ......................................................................

3.850kg

Total ......................................................................

7.700kg


Praias e doenças - Os inimigos mais comuns são os cupins, as

formigas, os thrips e os fungos. Quando aparecem as primeiras “casas” de cupins, faz-se nelas, um furo com um pau pontudo e derramam-se, dentro, algumas gramas de arsênico branco, em pó. Os cristais aderem ao corpo dos insetos e, com o hábito biológico de lamberem uns aos outros, ingerem a droga e morrem. Os outros inimigos são combatidos com as mesmas drogas usadas para as fruteiras, em geral. Indústrias do caju - Sendo a safra do caju muito breve, cerca de 2 a 3 meses (outubro a dezembro), as fábricas preparam a massa e armazenam as castanhas para operar durante o ano. O suco do caju se presta para o fabrico de refrigerantes, de cajuína, de vinho, de vinagre; a polpa é usada para doces do tipo marmelada. A polpa sucosa, sem a castanha, serve para a confecção de compota e doce seco, cristalizado. Da casca da castanha é extraído o óleo escuro, cáustico, usado como isolante de material elétrico; a castanha torrada é exportada em latas. A resina da árvore é purificada pela fervura em água com ácido, para separação das impurezas, depois secada em tambores rotativos, aquecidos, até obter a forma de lâminas finas,


como e ensacada para exportação. Fornecendo cerca de oito produtos industriais e servindo, ao mesmo tempo, para reflorestamento, o cajueiro é uma lavoura muito indicada para o litoral e para as caatingas úmidas; a sua rusticidade, a produção ao fim de três anos a sua popularidade entre lavradores são vantagens que tornam a cultura fácil de ser fomentada. Mercado - O consumo brasileiro de produtos do cajueiro tende a aumentar. Os países europeus e da América do Norte são os grandes compradores. A Índia, nas províncias de Madras, Kerala, Andamam, Misore e Orissa, produziu e exportou 29.500 toneladas de sementes, da safra de 1955-56, em valor superior a 24 milhões de dólares. A campanha de produção das cinco estações experimentais do cajueiro, intensificando os plantios em novas glebas, levaram o governo a planejar uma exportação de 90. 000 toneladas de castanhas, em 1961. A Índia exporta, também, as colheitas da África Oriental e de Madagascar. O Brasil, para ter a oportunidade de ampliar o comércio internacional de castanhas, de óleo e de resina do cajueiro, terá de desenvolver trabalhos árduos de pesquisa, de produção e de acordos comerciais, nos próximos anos.


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