Primeiramente conhecido na América do Sul, o cajueiro foi,
depois, introduzido pelos portugueses, na África e na Índia. A família dos
Anacardiaceas, abrangendo cerca de 60 gêneros e mais de 400 espécies, inclui o
cajueiro, a mangueira, o umbuzeiro, o cajá e outras fruteiras valiosas. Classificado como Anacardium
occidentale, o cajueiro tem o seu habitat
nativo no litoral brasileiro, do Pará até Salvador. Prefere o ar marinho, iodado, brisa úmida,
insolação e temperatura entre 16 a 36°C. Não tem exigência de solo fértil, como
atestam os cajueiros nativos nas areias pobres, no meio da caatinga litorânea.
Gosta das chuvas leves na floração e frutificação, desde setembro até novembro. É uma árvore sempre verde, que pode atingir até 12 metros de
altura, polígama, com flôres estaminadas (unisexuada) e outras
bisexuais na
mesma panícula. O fruto compõem-se do pedúnculo desenvolvido, carnoso e
sucoso, e da semente ou castanha. O cajueiro é, atualmente, objeto de
exploração importante na Índia, em Madagascar, no México e no Peru. No
Nordeste, o aproveitamento dessa árvore valiosa ainda se limita aos arvoredos
nativos. As plantações ainda são pequenas. A
extensa faixa litorânea, própria para o cajueiro, a rusticidade deste
permitindo grandes safras, sem irrigação, a possibilidade de selecionar as
melhores variedades, a proteção que essa árvore dá ao solo e os numerosos
produtos dela extraídos recomendam essa Anacardeacea
como uma fruteira de elevado valor econômico. O engenheiro-agrônomo Esmerino Parente estima o número de
cajueiros, no Ceará, em 3.700.000. Os
produtos que podem ser obtidos do cajueiro são os seguintes: do tronco da
árvore, resina, casca taninosa, e madeira; do fruto, bebidas, doces, óleo da
amêndoa e óleo da casca. As resinas do cajueiro já são preparadas e
classificadas por uma fábrica de Alagoas, para exportação. As cascas são empregadas nos curtumes. O engenheiro agrônomo Renato
Braga informa que 100g de suco de caju amarelo contém 210 miligramas de vitamina C em
comparação com 45 miligramas da mesma vitamina em 100g. do suco da laranja
comum. Conhecemos duas fábricas, no Ceará, que industrializam a
polpa do caju para doces, que enlatam a castanha assada e que extraem óleo
isolante da casca da castanha. A casca da castanha contém 35% de óleo e a
amêndoa 41%.
Composição da castanha do caju
Gorduras
..............................................................................
47,13%
Matéria
azotada.................................................................... 9,7%
Amido
.................................................................................. 5,9%
Há muitas fábricas de cajuína, bebida preparada com suco de
caju destaninado e pasteurizado, sem alcool. O mocororó é bebida caseira,
tradicional do Nordeste. Além do doce em pasta e em calda, a polpa do caju presta-se
muito bem para fazer o caju seco, cristalizado ou não. Esse aproveitamento
industrial da polpa encerra as vantagens da fácil preparação no clima seco e
ensolarado, na barateza da embalagem em caixas de papelão ou de madeira (não
exigindo latas), na conservação por longo tempo e na diminuição do peso
transportes distantes. Muitos remédios são extraídos do cajueiro. Entre ales,
cumpre ressaltar os mencionados nos estudos do Prof. J. Juarez Furtado. Os historiadores como Guilherme Piso, Renato Braga, Gustavo
Barroso e outros, nos contam que os indígenas do Ceará aproveitavam as safras
de pequi, na Serra do Araripe e, depois, caminhando pelos leitos dos rios
secos,
vinham desfrutar a temporada dos cajus, no litoral, balanceando suas
rações com as proteínas e minerais dos mariscos pescados nas lagoas e nas
praias. Uma grande fonte de divisas pode ser conseguida com os
plantios racionais dos cajueiros e a exploração ordenada dos seus produtos.
Esta racionalização terá de começar com a seleção dos melhores tipos de frutos;
os mais doces, menos fibrosos, mais coloridos, menos rançosos originados de pés
mais produtivos. A investigação dos melhores tipos permitiria marcar as árvores
padrões de onde se tirariam as sementes e as borbulhas dos enxertos para os
pomares de observação que mostrariam os indivíduos de valor econômico, as
variações ou mutações, com vantagens comerciais, que seriam perpetuadas por
meio da reprodução assexuada. O tipo ou variedade de cajueiro desejado seria plantado em
pomares devidamente planejados, com terreno preparado, talhões divididos por
estradas, covas grandes e adubadas, com as distâncias de 8 metros, com lavouras
intercalares de mandioca ou feijão nos primeiros anos para cobrir as despesas
da instalação dos pomares. As plantações seriam organizadas, tendo em vista o
fornecimento das matérias-primas às fábricas existentes ou a outras que se estabelecerem.
Pouca atenção tem sido dada à comercialização dos produtos agrícolas. Cultura - Sendo uma fruteira precoce, o cajueiro é,
geralmente, reproduzido por sementes, apesar de que a enxertia e fácil. O terreno é preparado em talhões de 200m de largura, com
faixas protetoras de “quebra-vento” com 20 a 30m deixadas com vegetação nativa,
alta, por ocasião da roçada. Nos talhões, projetam-se estradas de acesso para
atender aos serviços e ao transporte das safras. Cada talhão é destocado e
gradeado: depois, por meio de bastões fortes, faz-se o alinhamento e marcam-se
as covas distanciadas de 8m x8m, Abrem-se buracos grandes, não menores de 1m3, que são cheios com
lixo curtido, trazido
das cidades mais próximas. Esse adubo é barato porém se
deve tomar o cuidado para não conter a tiririca e outras ervas daninhas. Na sua
falta, podem, tambem, servir o estrume de gado e o composto. Cada hectare
comporta 154 mudas. As mudas são criadas com o plantio das melhores sementes em
vasos ou “torrão paulista” e, quando têm um palmo de altura, são plantadas no
pomar. A melhor lavoura, para combinar com o cajueiro, é a mandioca, durante
três anos ou duas safras. Os tratos culturais, após o quarto ano, são os roços
do mato rasteiro ou as gradagens de discos, 3 a 4 vezes no inverno. Colheita - A partir do terceiro ano, o cajueiro dá safras que
vão aumentando em peso até alcançar o máximo entre 10 e 20 anos de idade. O
tempo de colher é de setembro-outubro a dezembro e os apanhadores, empunhando
varas, com sacolas de aro metálico nos bordos e garras para cima, vão, de manhã
e de tarde, retirando, das árvores os frutos maduros, antes de caírem no chão.
O transporte carece de ser feito em condições higiênicas e com rapidez para
evitar a fermentação. Fruto mole, perecível, o caju tem de ser transformado em
bebida ou doce no mesmo dia da colheita ou, então, preservado para futura
industrialização. Os controles de produção indicam que um cajueiro, no litoral
do Ceará, fornece, por ano, de 30 a 150 quilos de frutos inteiros, conforme a
idade do cajual, o trato e as chuvas. O que se chama de fruto são pedúnculo
entumescido e a semente. Mas a botânica ensina que o fruto verdadeiro é a castanha.
O fruto maduro, parte carnosa e semente, varia de peso desde 30 gramas até mais
de 100 gramas. O Dr. Rossini Carvalho já pesou caju com 500 gramas. É raro. Nas
nossas experiências, com cajus de 50 gramas, obtivemos os seguintes resultados,
de frutos maduros e frescos:
Castanhas
............................................................. 16% do peso total
Bagaço ................................................................. 34% do
peso total
Suco
..................................................................... 50% do peso total
As
castanhas, depois de assadas, perderam 40% a 50% do peso com a evaporação da
água, a volatilização do óleo do tegumento externo e a retirada da casca seca.
Se um cajueiro der uma safra de 50 quilos,
significa um rendimento de:
Castanhas maduras
....................................................
|
8kg
|
Bagaço
.......................................................................
|
17kg
|
Suco .........................................................................
|
25kg
|
Total
...........................................................................
|
50kg
|
Um hectare, com 154 cajueiros, com a produção média, acima,
daria por ano:
Castanhas
..............................................................
|
1.232kg
|
Bagaço
.................................................................
|
2.618kg
|
Suco
......................................................................
|
3.850kg
|
Total
......................................................................
|
7.700kg
|
Praias e doenças - Os inimigos mais comuns são os cupins, as
formigas, os thrips e os fungos. Quando aparecem as primeiras “casas” de cupins, faz-se nelas,
um furo com um pau pontudo e derramam-se, dentro, algumas gramas de arsênico
branco, em pó. Os cristais aderem ao corpo dos insetos e, com o hábito
biológico de lamberem uns aos outros, ingerem a droga e morrem. Os outros inimigos são combatidos com as mesmas drogas usadas
para as fruteiras, em geral. Indústrias do caju - Sendo a safra do caju muito breve, cerca
de 2 a 3 meses (outubro a dezembro), as fábricas preparam a massa e armazenam
as castanhas para operar durante o ano. O suco do caju se presta para o fabrico
de refrigerantes, de cajuína, de vinho, de vinagre; a polpa é usada para doces
do tipo marmelada. A polpa sucosa, sem a castanha, serve para a confecção de
compota e doce seco, cristalizado. Da casca
da castanha é extraído o óleo escuro, cáustico, usado como isolante de material
elétrico; a castanha torrada é exportada em latas. A resina da árvore é
purificada pela fervura em água com ácido, para separação das impurezas, depois
secada em tambores rotativos, aquecidos, até obter a forma de lâminas finas,
como e ensacada para exportação. Fornecendo cerca de oito produtos industriais e servindo, ao
mesmo tempo, para reflorestamento, o cajueiro é uma lavoura muito indicada para
o litoral e para as caatingas úmidas; a sua rusticidade, a produção ao fim de
três anos a sua popularidade entre lavradores são vantagens que tornam a
cultura fácil de ser fomentada. Mercado - O consumo brasileiro de produtos do cajueiro tende
a aumentar. Os países europeus e da América do Norte são os grandes
compradores. A Índia, nas províncias de Madras, Kerala, Andamam, Misore e
Orissa, produziu e exportou 29.500 toneladas de sementes, da safra de 1955-56,
em valor superior a 24 milhões de dólares. A campanha de produção das cinco
estações experimentais do cajueiro, intensificando os plantios em novas glebas,
levaram o governo a planejar uma exportação de 90. 000 toneladas de castanhas,
em 1961. A Índia exporta, também, as colheitas da África Oriental e de
Madagascar. O
Brasil, para ter a oportunidade de ampliar o comércio internacional de
castanhas, de óleo e de resina do cajueiro, terá de desenvolver trabalhos
árduos de pesquisa, de produção e de acordos comerciais, nos próximos anos.
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