Juliana
Evangelista da Silva Rocha
Pesquisadora, D.
Sc., da Embrapa Caprinos e Ovinos
Apresentação
A região semiárida é caracterizada pela instabilidade
climática, limitando às atividades agropecuárias no Nordeste. A concentração das chuvas em poucos meses do
ano acarretam em estacionalidade de produção, com redução da disponibilidade de
forragem no período seco e impactos negativos sobre a viabilidade técnica e
econômica da produção animal. Neste cenário a palma forrageira se destaca como
planta forrageira ideal para mitigar os efeitos do baixo rendimento da pecuária
no semiárido. Se bem manejada, a palma é capaz de atingir altas produtividades,
garantindo a suplementação dos animais. Pelas composições químicas não é
recomendada em uso exclusivo, mas principalmente compondo o balanço nutricional
da dieta e ofertando água aos animais. Por ser uma planta CAM, apresenta-se exigente em
temperatura noturna amena e elevada umidade relativa do ar para o bom
desenvolvimento, e estas características impedem que as atuais cultivares sejam
plantadas em regiões de baixa altitude. Entretanto, existe variabilidade
genética suficiente para ser explorada em programas de melhoramento, visando
identificar materiais mais adaptados. Outro ponto focal nas pesquisas com palma
forrageira é o desenvolvimento de cultivares resistentes à principal praga, a
cochonilha. Mudanças climáticas, recuperação de áreas degradadas e
múltiplos usos são perspectivas de aumento na área plantada e na procura por
informações sobre a cultura. O Estado da Arte da Palma Forrageira no Nordeste do Brasil enfatiza a
necessidade de incrementar as pesquisas com esta forrageira no semiárido. Evandro Vasconcelos Holanda Júnior - Chefe-Geral
da Embrapa Caprinos
e Ovinos
Introdução
No Brasil sua introdução ocorreu no final do século XVIII (SIMÕES et al., 2005). A priori, era destinada à criação de uma cochonilha (Dactylopius cocus) capaz de produzir corante (LIRA et al., 2006). Logo em seguida, a planta passou a ser usada como ornamental. E somente no início do século XX, como planta forrageira. Esse último uso se intensificou na década de 90 quando ocorreram secas prolongadas no Nordeste (ALBUQUERQUE, 2000; SIMÕES et al., 2005).
No Brasil sua introdução ocorreu no final do século XVIII (SIMÕES et al., 2005). A priori, era destinada à criação de uma cochonilha (Dactylopius cocus) capaz de produzir corante (LIRA et al., 2006). Logo em seguida, a planta passou a ser usada como ornamental. E somente no início do século XX, como planta forrageira. Esse último uso se intensificou na década de 90 quando ocorreram secas prolongadas no Nordeste (ALBUQUERQUE, 2000; SIMÕES et al., 2005).
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A instabilidade climática é a grande limitação às
atividades agropecuárias no Nordeste (CAVALCANTE; CÂNDIDO, 2003), gerando a
estacionalidade na produção de forragem. Entretanto, a pecuária do semiárido
possui outros entraves, como a falta de recursos do sertanejo, e a estrutura
fundiária marcada pela predominância de propriedades de pequeno porte,
possivelmente pela alta densidade demográfica (LIRA et al., 2005). Assim, custo
e disponibilidade de forragem se tornam determinantes na composição da dieta dos
animais. Por esses motivos, a palma integra o elenco de medidas comumente
prescritas para mitigar os efeitos das secas através de esforços de programas
federais desde a década de 1930 (SIMÕES et al., 2005).
No Nordeste, o primeiro Estado a introduzir e pesquisar
palma foi Pernambuco (LIRA et al., 2006), e até os dias atuais se destaca como
grande líder na produção de conhecimento da espécie. O sucesso dos trabalhos no
Estado é devido à boa adaptação da planta ao clima do agreste.
Clima e Solo
A palma forrageira é uma planta rústica que tem um bom
desenvolvimento em região com pouca chuva. Entretanto, informações sobre umidade
do ar e do solo, temperatura média do dia e da noite são determinantes na
produção. Para determinar as faixas de aptidão para o cultivo de palma, Souza
et al. (2008) elaboraram um zoneamento agroclimático, usando como ferramentas
essenciais, as informações da fenologia e das características da cultura,
associados às condições climáticas das regiões de origem e à dispersão
comercial da palma forrageira. O zoneamento é de fundamental
importância para o
planejamento, a tomada de decisões e a identificação de áreas com potencial
produtivo para ao cultivo de palma (MOURA et al., 2011). De acordo com esse
zoneamento, o potencial produtivo ocorre em regiões cuja temperatura média
oscila entre 16,1 °C e 25,4 °C; com máximas entre 28,5 °C e 31,5 °C e mínimas
variando de 8,6 °C a 20,4°C. A amplitude térmica está situada entre 10,0 °C e 17,2
°C. A faixa ideal de precipitação se concentra entre 368,4 mm e 812,4 mm,
embora possa ser cultivada com 200 mm, e o índice de umidade anual varia entre
-63,1 e -37,3.
CAVOUCO D |
O crescimento da palma é favorecido nas maiores
altitudes, devido à redução da temperatura do ar e ao aumento da umidade
relativa no período noturno (55%-60%) (FARIAS et al., 2005). As espécies do
gênero Opuntia não se adaptam a regiões de baixa altitude, às elevadas temperaturas
noturnas e à baixa amplitude térmica. Isso ocorre em algumas regiões do
semiárido e são a causa da baixa produtividade e até mesmo da morte da palma
(SANTOS et al., 2006), a exemplos do município de Sobral no Ceará (LIRA et al.,
2006) e das áreas baixas do Seridó e do Sertão Central do Rio Grande do Norte (LIMA
et al., 2006). Relativamente exigente quanto às características físico-químicas
do solo, o cultivo de palma pode ser indicado em áreas de textura arenosa à
argilosa, sendo, porém, mais frequentemente recomendados os solos argilo-arenosos. Além da fertilidade, é
fundamental, também, que o solo seja de boa drenagem, uma vez que áreas
sujeitas a encharcamento não se prestam ao cultivo da palma (SANTOS et al.,
2006). O cultivo também é inviável em regiões cuja precipitação anual é
superior a 1100 mm (SOUZA et al., 2008).
Plantio e Manejo
A palma responde positivamente à melhoria nas práticas de
cultivo. Portanto, quanto mais adequado for o seu manejo, maior será a sua produção
(FARIAS et al., 2005).Para o preparo do solo, é recomendado aração, subsolagem,
gradagem e profundidade dos sulcos de aproximadamente 20 cm (SILVA et al.,
2004). O espaçamento a ser usado é variável com a fertilidade do solo, a quantidade
de chuva (TELES et al., 2002), o número de plantas que se deseja por hectare e
do uso isolado ou consorciado do campo (RAMOS et al., 2011). Na Tabela 1 constam alguns exemplos de espaçamentos
e o número de plantas por hectare, devendo o agricultor definir suas
prioridades.
Plantios mais adensados vêm sendo difundidos no Nordeste
(mais de 60.000 plantas/ha) por produzirem maior quantidade de MS por hectare
(LIRA et al., 2006), em função do maior número de brotações por unidade de área
(DUBEUX JUNIOR; SANTOS, 2005). Entretanto, têm maior dependência de insumos
externos (adubos químicos e corretivos) (TELES et al., 2002) e devem ser
evitados nas regiões onde existe incidência da cochonilha do Carmim, pois podem
garantir a permanência da praga e facilitar a infestação da cultura
(ALBUQUERQUE, 2000).
Em contrapartida, a maior distância entre as fileiras
permite trânsito de máquinas, facilidades nos tratos culturais (capina e
fitossanitários), monitoramento sanitário e ainda permitem o consórcio do
palmal com culturas anuais (FARIAS et al., 2000). Ramos et al. (2011)
acrescentam como vantagem o menor risco na incidência de pragas e doenças pela
maior exposição das plantas ao sol e aeração. A desvantagem é que a menor
densidade exigirá maior controle das plantas daninhas (LIRA et al., 2005). A
Figura 1 mostra um plantio mais adensado, usando 50 cm entre linhas e outro
mais espaçado, com 1 metro de distância entre uma linha de plantio e outra. A utilização de culturas anuais, como milho, sorgo
(Figura 2), feijão (Figura 3), mandioca etc., intercaladas com a palma, tem
sido adotada com objetivo de viabilizar o cultivo em termos econômicos (SANTOS
et al., 2006). O consórcio também pode ser feito em palmais mais adensados nos
anos de plantio e de colheita. É importante enfatizar que a situação ideal de
espaçamento é aquela em que a maior parte da luminosidade atinja as raquetes,
sem haver sombreamento das mesmas (SAMPAIO, 2005).
Para adubação, Albuquerque (2000) encontrou melhor
resposta no
uso de adubo orgânico em solos arenosos. Entretanto, o uso de adubo mineral parcelado e associado ao orgânico é recomendado (SANTOS et al., 2006) e a primeira aplicação deve ser feita após o sulcamento e as demais em cobertura (DUBEUX JUNIOR; SANTOS, 2005). A palma é exigente em Ca e Mg no solo, não se desenvolvendo bem em solos ácidos e nem salinos (SAMPAIO, 2005). Alves et al. (2007b) recomendam a aplicação de K em fonte mineral por ser a palma exigente nesse elemento, e o esterco não ser capaz de supri-lo.
uso de adubo orgânico em solos arenosos. Entretanto, o uso de adubo mineral parcelado e associado ao orgânico é recomendado (SANTOS et al., 2006) e a primeira aplicação deve ser feita após o sulcamento e as demais em cobertura (DUBEUX JUNIOR; SANTOS, 2005). A palma é exigente em Ca e Mg no solo, não se desenvolvendo bem em solos ácidos e nem salinos (SAMPAIO, 2005). Alves et al. (2007b) recomendam a aplicação de K em fonte mineral por ser a palma exigente nesse elemento, e o esterco não ser capaz de supri-lo.
O plantio é realizado por meio de cladódios (raquetes)
que são dispostos verticalmente. As raquetes para o plantio devem ser grandes e
sadias, sem qualquer mancha e que já tenham emitido ou devem estar próximas de
emitirem seus brotos. As raquetes com dois a três anos de idade são as mais adequadas para o plantio. A posição
da raquete aparentemente não exerce efeito na implantação e produção,
entretanto, cuidados devem ser tomados no sentido de evitar o plantio na
direção predominante do vento, a fim de
reduzir quedas das raquetes
(ALBUQUERQUE, 2000). Farias et al. (2005) alertam também para o plantio em
áreas declivosas, recomendando que a posição da raquete deve obedecer às curvas
de nível do solo. O plantio deve ocorrer pelo menos um mês antes do início
da estação chuvosa, para evitar o apodrecimento das raquetes pelo contato com o
solo úmido (SANTOS et al., 2006). Outro cuidado para garantir a brotação das
raquetes é o chamado período de cura (GAVA; LOPES, 2012). Antes do plantio, as
raquetes deverão permanecer por 15 dias na sombra para perder o excesso de
umidade, permitir a cicatrização das injúrias ocorridas no corte e, assim,
diminuir as possibilidades de incidência de doenças. Depois desse período,
poderão ser enterradas pela metade ou 2/3, favorecendo o desenvolvimento do
sistema radicular (ALBUQUERQUE; SANTOS, 2005). O controle de plantas daninhas será necessário porque a
palma apresenta baixo índice de área de cladódios (IAC) (LIRA et al., 2005). O
manejo é feito por capina, sem profundidade para não danificar o sistema
radicular superficial da palma (SAMPAIO, 2005), ou com o uso de herbicida
(SANTOS et al., 2006).
O manejo integrado de pragas deve ser adotado sempre que
detectar presença de insetos, principalmente as cochonilhas. Pode-se usar
controle químico, biológico e mecânico, eliminando plantas infestadas e
evitando que a praga se alastre pelo palmal. As colchonilhas são as maiores
causadoras de danos, mas outros insetos como formigas, caramujos (FREIRE, 2011)
e roedores podem danificar as plantas (SANTOS et al., 2006; WARUMBY et al.,
2005).
As principais doenças encontradas nos palmais são
causadas por fungos e bactérias oportunistas. Após ataque de insetos, as
plantas apresentam orifícios por onde entram os micro-organismos causadores de
podridões (SANTOS et al., 2006). Outro momento crucial é o plantio, evitando
épocas chuvosas, que são mais propícias ao apodrecimento das raquetes. Embora possa parecer inapropriada, a irrigação de uma
cultura xerófila de reconhecida adaptação ao semiárido e inviáveis os altos
custos de implantação da tecnologia, os resultados preliminares obtidos podem
ser considerados revolucionários em termos de oportunidades em áreas superadensadas
(LIMA et al., 2009) (Figura 4).
A colheita se inicia 1,5 a 2 anos após o plantio,
dependendo do espaçamento e das condições de clima e solo. É realizada
manualmente, como forma de preservar o palmal. Embora haja custo com mão de obra,
essa é a forma recomendada de colheita (SILVA; SANTOS, 2006), porque o pastejo
direto danifica muito as plantas. Outra forma de aumentar a longevidade do palmal é efetuar
colheitas bienais (FARIAS et al., 2005), deixando o artículo secundário (ALVES
et al., 2007b). Isso, segundo os autores, deve-se a um maior índice de área de
cladódio remanescente após a colheita, o que possibilita às plantas maior
eficiência fotossintética. Se deixar apenas os artículos primários, a colheita
deverá ocorrer de quatro em quatro anos (SILVA; SANTOS, 2006).
A frequência e intensidade de corte influenciam
significativamente a produtividade (ALVES et al., 2007b), que é variável entre
5 a 30 t/ha/ colheita bienal de matéria seca, a depender do manejo (SANTOS et
al., 1999). Em espaçamento adensado, a colheita pode ser feita anualmente (FARIAS
et al., 2005), uma vez que o maior IAC permite maior interceptação de luz e,
consequentemente, maiores produtividades. Após colhida, a palma pode ser utilizada de imediato ou
mantida à sombra até 16 dias, para ser fornecida aos animais, sem que haja perda
do valor nutritivo, representando uma redução dos custos com colheita e
transporte (SANTOS et al., 2006).
Utilização da
Palma como Forragem
A palma forrageira é um recurso alimentar estratégico
para as regiões áridas e semiáridas do Nordeste brasileiro, já que é uma
cultura que apresenta aspecto fisiológico especial, suportando prolongados períodos
de estiagem (NEVES et al., 2010). Tem maior expressão de cultivo na área de
pecuária leiteira do semiárido, sendo considerado um excelente alimento
energético (SANTOS et al., 1999). Sua composição química varia de acordo com a
espécie, a idade do artículo, a época do ano (WANDERLEY et al., 2002), o
espaçamento e a adubação (SANTOS et al., 2005b). Por apresentar alto teor de água e baixo teor de MS, não
se recomenda o seu uso isolado na alimentação animal (VERAS et al., 2005b; WANDERLEY
et al., 2002). Comumente é usada para compor a dieta substituindo parcialmente
forragens tradicionais (ARAÚJO et al., 2006; MAHOUACHI et al., 2012;). O melhor resultado é obtido na
mistura a alimentos concentrados (SOUZA et al., 2010), considerando a
importância da sincronização de energia e proteína para um melhor
aproveitamento dos nutrientes e, consequentemente, do desempenho animal
(SANTOS et al., 2006). Entretanto, cabe ressaltar que o alto teor de água da
palma é uma forma indireta de promover o maior consumo de água na dieta, fator
importante para a criação de animais em regiões áridas e semiáridas (MATTOS et al.,
2010). Numa região onde a água é um elemento escasso e muitas vezes de péssima
qualidade, tal característica deve ser enquadrada entre os aspectos positivos
da forrageira (LIMA et al., 2009).
A palma forrageira é rica em carboidratos não fibrosos
(61,79%) e nutrientes digestíveis totais (62%). Porém, apresenta baixos teores
de matéria seca (11,7%), proteína bruta (4,8%), fibra em detergente neutro - FDN
(26,87%), fibra em detergente ácido - FDA (18,9%) e teores consideráveis de
matéria mineral (12,04%). Portanto, recomenda-se sua associação a fontes
proteicas e outros volumosos (ALVES et al., 2007a; NEVES et al., 2010; WANDERLEY
et al., 2002).
A associação da palma aos alimentos fibrosos é fator
determinante para uma normal ruminação devido ao seu alto coeficiente de digestibilidade,
em função do baixo teor de constituintes da parede celular (BISPO et al.,
2007). Por isso, vários estudos foram realizados no intuito de compor balanços
nutricionais adequados à alimentação dos animais, objetivando suprir a carência
da palma em algumas fontes. A presença de palma na dieta, substituindo em parte
capins e grãos, aumenta a palatabilidade e a ingestão, favorece o
aproveitamento dos nutrientes (ARAÚJO et al., 2004; BISPO et al., 2007; BISPO
et al., 2010), além de reduzir os custos da ração (VERAS et al., 2002). Porém,
não se recomenda a substituição total dos volumosos por palma (OLIVEIRA et al,.
2007; VERAS et al, 2005a). Pode ser fornecida in natura (Figura 5) ou em farelo
das raquetes picadas,
secas e moídas (LIMA et al., 2009). O uso de plantas adaptadas, como a palma forrageira, para
compor a dieta animal é uma importante alternativa alimentar para criação de ruminantes
na região semiárida sem perda do desempenho animal.
Outros Usos
Embora no Brasil a palma tenha uso quase exclusivo para
forragem, vale mencionar que o gênero Opuntia produz fruto comestível,
conhecido como figo da Índia. Entretanto, em baixas altitudes a planta vegeta e
a floração é escassa. Para contornar essa limitação, o IPA introduziu uma coleção de 82 cultivares provenientes do México e
está avaliando sua adaptabilidade e potencialidade para futuros lançamentos de materiais
(LEDERMAN, 2005). O cultivo de palma frutífera é um nichoEm outros países,
curiosamente, a palma é cultivada para alimentação humana (HERNÁNDEZ-URBIOLA et al., 2010), para fins
medicinais (LIMA; SIMÕES, 2005), como matéria-prima de cosméticos e para uso
como cerca viva (VALDEZ, 2005). Fica clara a importância dessa espécie para as
populações de regiões áridas e semiáridas onde são cultivadas.
Melhoramento
Genético
No Brasil, o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) e a
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) são pioneiros nas pesquisas dessa
planta forrageira, atuando na região Nordeste desde 1958 (SANTOS et al., 2006;
SIMÕES et al., 2005), e no melhoramento genético desde o final da década de 1980 (SANTOS et al., 2005a).
Sua primeira cultivar, Gigante, foi lançada em 1998. O IPA possui um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) com mais
de 1000 acessos e um programa de melhoramento focado na ampliação da base genética
da palma forrageira, através de cruzamentos dirigidos (SANTOS et al., 1999) e
introdução de materiais de diversos países, como México, EUA, África do Sul,
Argélia, Chile entre outros (SANTOS et al., 2006). A propagação da palma ocorre por via assexual e sexual,
sendo a primeira a forma mais comum. A vantagem é que a multiplicação e o manejo
são facilitados, entretanto, a homogeneidade do palmal favorece a disseminação
de doenças e pragas. Por esse motivo, o foco da pesquisa tem sido identificar
materiais resistentes. Embora haja poucos materiais no mercado, os clones mais
difundidos foram selecionados por vigor, sendo, portanto, heterozigotos. O melhoramento
pode aproveitar a variabilidade escondida através de segregação de materiais
via sexual (SANTOS et al., 2005a) e também por cruzamentos dirigidos. O programa de melhoramento de
palma consiste nas seguintes etapas: plantar o material assexuadamente;
permitir o cruzamento por polinização livre ou executar hibridação controlada;
aguardar a produção de sementes; colhê-las e semeá-las. O novo campo
apresentará grande variação genética, o que possibilita seleções de novos
materiais. O material enfim selecionado será novamente propagado assexuadamente
(SANTOS et al., 2005a).
Importação do Sindi 1952 |
Um entrave na hibridação é a presença de poliploidia no
gênero Opuntia, existindo desde diplóides 2n = 22 até octaplóides 2n = 88 cromossomos.
Acrescido a isso, a herança dos caracteres de interesse forrageiro é
quantitativa, sendo altamente afetados pelo ambiente e
governados por grande número de genes (SANTOS et al.,
2005a). Para auxiliar o melhoramento da cultura, Santos et al.
(1999) estimaram parâmetros genéticos; Ferreira et al. (2003) realizaram estudo
de divergência genética entre clones do BAG do IPA; e Silva et al. (2010) correlacionaram
características morfológicas e produtivas para seleções indiretas eficientes.
Curiosamente, a potencialidade dessa planta não foi ainda
reconhecida na devida dimensão (MENEZES et al., 2005a). O melhoramento genético
pode aumentar substancialmente a produtividade da cultura e ampliar a área de
adaptação com lançamentos de novos cultivares. Lira et al. (2006) estimam que o acréscimo na
produtividade pode ser superior a 300%, justificando, assim, as pesquisas em
melhoramento de palma forrageira no Nordeste brasileiro. Além de aumento na produtividade, o melhoramento genético
de palma possui outro desafio, o desenvolvimento de plantas resistentes a
cochonilhas. A principal praga que ataca os palmais, pode ser eficientemente manejada
por controle genético. Cultivares resistentes são facilmente adotadas pelos produtores, sem contaminação do
ambiente e com menor custo de produção. Cultivares Atualmente são cultivadas
duas espécies de palma forrageira, a Opuntia ficus – indica Mill e a Nopalea
cochenillifera Salm – Dyck (SANTOS et al., 1999), sendo a primeira mais rústica
e a segunda mais exigente em umidade (FARIAS et al., 2005). O gênero Opuntia compreende cerca de 300 espécies, com
destaque para a Opuntia ficcus indica pela sua vasta utilização agronômica na produção
de frutas comestíveis e cladódios, que são utilizados como alimento (forragem)
para animais (SOUZA et al., 2008).
As cultivares de
palma forrageira mais difundidas no Nordeste são:
Gigante (Opuntia
fícus-indica)
Também conhecida como graúda, azeda ou santa, apresenta
porte ereto, caule pouco ramificado, raquetes grandes com peso de até 1 kg e
comprimento de 50 cm (SILVA; SANTOS, 2006). Reconhecidamente é mais resistente
à seca e à cochonilha de escamas (FARIAS et al., 2005) e altamente produtiva,
entretanto, é suscetível à cochonilha do carmim (NEVES et al., 2010; VASCONCELOS et al., 2009), tem menor
palatabilidade e menor valor nutricional (SILVA; SANTOS, 2006) (Figura 6).
Redonda ou orelha
de onça (Opuntia fícus-indica)
Essa cultivar possui raquetes com peso de até 1,8 kg
(SILVA; SANTOS, 2006), com a vantagem de ser resistente à seca, porém é
suscetível à cochonilha do carmim (NEVES et al., 2010; VASCONCELOS et al.,
2009). Outro agravante, é que seu cultivo deve ocorrer
isoladamente, uma vez que ela esgalha muito e dificulta o consórcio com
culturas anuais (ALBUQUERQUE, 2000). Por esses motivos, tem sido cada vez menos
comum palmais com essa cultivar (Figura 7).
Miúda ou doce
(Nopalea cochinillifera)
A palma doce (Figura 8) tem porte pequeno e caule
ramificado, sendo mais nutritiva (SILVA; SANTOS, 2006), por apresentar maiores
teores de matéria seca e carboidrato (SANTOS et al., 2005b). Apresenta menor resistência
à seca, embora seja resistente à cochonilha do carmin (NEVES et al., 2010; VASCONCELOS et al., 2009). É mais exigente em fertilidade, umidade e exige
temperatura noturna mais amena quando comparada as outras cultivares, não
sendo, dessa forma, indicada para áreas de sertão (ALBUQUERQUE, 2000). Em termos
de produtividade de massa verde, a palma miúda tem se mostrado inferior às cultivares gigante e redonda. No
entanto, quando essa produção é
transformada em matéria seca, os últimos
resultados se equivalem, por ter a palma miúda mais matéria seca que as outras (SANTOS
et al., 2006).
Orelha de elefante
(Opuntia spp)
Essa cultivar é um clone importado do México e da África
e apresenta a vantagem de ser resistente à cochonilha do carmin (VASCONCELOS et
al., 2009) e ser menos exigente em fertilidade do solo (CAVALCANTI et al.,
2008). Apresentam espinhos, o que dificulta seu manejo como forrageira, no
entanto, essa característica, apesar de ser indesejável na alimentação animal,
garante a este material maior resistência à seca, uma vez que os espinhos
servem para reduzir a temperatura do caule durante o dia (NEVES et al., 2010).
Para facilitar o manejo e fornecer aos animais, a palma após cortada por ser
queimada para eliminar os espinhos (Figura 9). Outras cultivares de palma encontradas na literatura são
Italiana (RAMOS et al., 2011), Algerian (VASCONCELOS et al., 2009), Copena-5,
Cristalina (SANTOS et al., 2005a), Mão de Moça (clones IPA Sertânea e
PALMEPAPQ1) (Figura 10) (GAVA; LOPES, 2012), Palma Azul, Moradella, Formosa, Gigantona,
Língua de Vaca, e Baiana ou Alagoana (LOPES et al., 2010). Destaque especial a cultivar IPA20, obtida por cruzamento
seguido de seleção (SANTOS et al., 2006), do programa de melhoramento do IPA (FARIAS
et al., 2005) que tem se apresentado altamente produtiva, sendo superior à cv.
Gigante (ALBUQUERQUE, 2000 ; SANTOS et al., 2006).
Perspectivas
Futuras
É nítida a importância da palma como planta forrageira
para a região Nordeste, principalmente para a convivência com o semiárido. Os
fatores determinantes para o incentivo ao cultivo de palma são a preocupação ambiental
com a conservação da biodiversidade forrageira da caatinga, ofertando
alternativas de alimento para os animais; a lucratividade da atividade pecuária
para garantir a segurança alimentar das populações que vivem em áreas marcadas
pela instabilidade climática; e os indicadores de alterações climáticas
previstas para os próximos anos.
De acordo com o relatório do Intergovernamental Panel of
Climate Change (IPCC) de 2007, as áreas semiáridas do Nordeste brasileiro serão
as mais afetadas pelas mudanças climáticas globais, com implicações sobre a
agricultura, os recursos hídricos, a biodiversidade e o processo de
desertificação, resultando em necessidade de ações urgentes de adaptação e
mitigação para minimizar seus efeitos (MOURA et al., 2011).
Diante do cenário de mudanças climáticas que estão
previstas para os próximos anos, a palma forrageira se constitui numa espécie forrageira
em destaque. Seu potencial produtivo baseado na diversidade genética dos BAGs
permitirá dispersão da espécie para as novas áreas semiáridas. Estudo feito por
Moura et al. (2011) indica um aumento na área apta a produção de palma
forrageira nos próximos cem anos no Brasil de 697.071 km2 para até 1.092.632
km2.
O mesmo estudo indica que áreas como o Sul da Bahia,
Norte do Piauí, Ceará e Maranhão que atualmente são áreas inadequadas e/ou restritas
ao cultivo da palma, passarão a ser restritas e/ou aptas nos cenários futuros.
Zoneamentos agroclimáticos dessas regiões poderão antecipar a decisão das
melhores áreas para cultivo da palma. Outra alteração climática prevista para os próximos anos
é o acréscimo de CO2 na atmosfera. Estudos conduzidos por Nobel e Hartsock (1986)
afirmam que há aumento médio de 1% na produção de matéria seca de cactáceas
para cada 10μL L-1 de aumento na concentração de CO2 atmosférico. Logo, o aumento do CO2 resulta em maior
produção de palma.
Outro cenário preocupante é com relação à conservação dos
solos. Muitas áreas do semiárido se encontram em estágio de
degradação, tendo a palma como uma das culturas capaz de auxiliar na
recuperação dessas áreas e a minimizar efeitos da erosão. Devido ao seu formato
achatado, quando plantada adensadas no sentido das curvas, tornam-se uma barreira
de retenção de solo e água (GALINDO et al., 2005). O consórcio com outras
espécies também auxilia na conservação do solo e deve ser estimulado em áreas
degradadas, principalmente com leguminosas.
Pelos motivos apresentados e pelas incertezas climáticas,
as pesquisas com palma forrageira devem ser intensificadas em toda a região semiárida,
buscando novas cultivares para dar aos pecuaristas opções de materiais com
ampla adaptação e elevada produtividade. O melhoramento genético da palma
forrageira associado à otimização no manejo da cultura pode promover um
incremento considerável na produtividade dessa forrageira no Nordeste
brasileiro.
Desafios e Metas
As possibilidades de ampliação do cultivo de palma são
evidentes. As pesquisas vêm buscando melhorias no manejo e na identificação de cultivares
resistentes. Entretanto, alguns desafios se mostram eminentes quando o cultivo
atingir largas escalas. Já prevendo essa situação, as metas dos pesquisadores
devem ser no aumento da área plantada, porém associado a um bom manejo dos
palmais. Um dos grandes entraves à expansão da cultura são os
ataques de pragas, em especial da cochonilha de escamas (Diaspis echinocacte) e
do carmin (Dactylopius sp), que dizimam a produção e inviabilizam muitos
cultivos. O controle deve ser feito
imediatamente de forma mecânica, química, biológica ou genética (WARUMBY et
al., 2005). Na área da genética, trabalhos têm sido feitos no intuito de
identificar clones resistentes (LOPES et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2010;
VASCONCELOS et al., 2009). Na área entomológica, as pesquisas agregarão informações
de produtos e doses recomendados para o controle químico e indicação de
inimigos naturais para o controle biológico. O controle químico é inviável
economicamente ao pequeno produtor, não sendo uma tecnologia adotada em grande
escala no semiárido e o controle alternativo, é ainda pouco eficaz (VASCONCELOS
et al., 2009). Porém, vários trabalhos indicam que o uso do controle biológico
é eficiente no controle de insetos pragas (BARBOSA et al, 2008; LACERDA et al,
2011; LOPES et al., 2009).
A melhor opção é o manejo integrado de pragas (MIP) (LIMA
et al, 2011) e o monitoramento da área, retirando as raquetes infestadas e
queimando-as (WARUMBY et al., 2005). O controle mecânico, garante o manejo
adequado e a sobrevivência do palmal com práticas simples, porém eficazes. Com
a expansão do cultivo de palma, problemas fitossanitários, até então de
ocorrência randômica, ocorrerão com maior frequência e severidade. Os ataques
mais comuns são de fungos, e medidas preventivas como plantio de raquetes
sadias, plantios em solos não infestados e eliminação de plantas doentes,
reduzem a sua ocorrência (COELHO, 2005). Para que o cultivo da palma consiga se expandir, como é
previsto com as mudanças climáticas, é imprescindível que existam cultivares resistentes
e/ou tolerantes a pragas e doenças, sendo a melhor estratégia por ser não
poluente, de baixo custo, de efeito persistente e não exigir tecnologia para
ser usado (VASCONCELOS et al., 2009). E para isso, a pesquisa na área
entomológica e fitopatológica deve estar conectada ao melhoramento genético. É grande a quantidade de informação sobre palma
forrageira, entretanto, a maioria dos artigos publicados trata de manejos da
cultura e uso na alimentação animal. São restritas as informações referentes a
temas como recursos genéticos e melhoramento vegetal. Assim, entende-se que a demanda por pesquisas das
referidas áreas é emergencial, uma vez que a espécie se destaca como potencial
numa região que carece de tecnologia que auxiliem no suprimento alimentar dos
animais, resultando na melhoria da renda dos pequenos agricultores e gerando
segurança alimentar aos agricultores familiares.
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Olá. Este post é o Documento 106 mostrado na foto inicial?
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