Cristina Cavalcante Félix da Silva1 e Luciana Carvalho
Santos2
1Mestre em Zootecnia, UESB – Itapetinga, BA. cristina.zte@pop.com.br
2Mestranda em Zootecnia, UESB – Itapetinga, BA. llcarvalhos@yahoo.com.br
Fonte: Revista Electrónica de Veterinaria REDVET ISSN
1695-7504 http://www.veterinaria.org/revistas/redvet
Resumo
A exploração pecuária na
região Nordeste é prejudicada pelas constantes secas e irregularidade das
chuvas, causando assim, uma baixa produtividade de seu rebanho. Considerando
essa má distribuição de chuvas, é necessária a busca de alimentos alternativos
e mais baratos, como a palma forrageira. A palma forrageira sem espinho não é
nativa do Brasil. No Nordeste do Brasil são encontrados três tipos distintos de
palma: gigante, redonda e miúda. Essa forrageira apresenta alta produção de
matéria seca por unidades de área, é uma excelente fonte de energia, rica em carboidratos
não fibrosos e nutrientes digestíveis totais. Porém, a palma apresenta baixo
teor de fibra em detergente neutro, necessitando sua associação a uma fonte de fibra
que apresente alta efetividade. Assim, torna-se possível a associação da palma
com alimentos de baixo custo, permitindo produção de leite e manutenção em
níveis bastante próximos aos obtidos com alimentos de maior valor comercial.
Com isso, esta revisão tem por objetivo demonstrar a eficiência da utilização
da palma forrageira na alimentação de ruminantes.
Introdução
Devido à influência da irregularidade de distribuição das
chuvas sobre a alimentação de ruminantes nas regiões semi-áridas é necessário
buscar alternativas para a alimentação do rebanho. Segundo o IBGE (2001) a
região nordeste do Brasil apresenta um rebanho bovino de 21.875.110 cabeças,
7.336.985 ovinos e 8.032.529 caprinos, representando, respectivamente, 13,2%,
51% e 93% do rebanho brasileiro.
A maioria dessa população tem como base alimentar
a utilização de pastagens nativas ou cultivadas, no entanto, com a
estacionalidade de produção das forrageiras é necessária a busca de alimentos
alternativos. Na época das chuvas a disponibilidade de forragens é
quantitativamente e qualitativamente satisfatória, todavia nas épocas críticas
do ano, além da escassez de forragens o valor nutritivo se apresenta em níveis
bastante baixos o que acarreta queda de produtividade e compromete a produção
de leite e carne (Lima et al., 2004). Tradicionalmente, utiliza-se como
concentrado energético o fubá de milho, numa relação de sete partes de milho e
uma de uréia, substituindo a mesma quantidade de farelo de soja. Mas a
utilização de fubá de milho como fonte energética, também pode comprometer
custos de produção, por não ser produzido em larga escala no Semi-Árido
Pernambucano. Assim, uma alternativa seria a utilização de uma fonte energética
de menor custo e disponível na região (Melo et al., 2003). Neste caso, poderia
ter como alternativa para as regiões semi-áridas do Brasil a utilização da
palma forrageira. A palma forrageira sem espinho não é nativa do Brasil, foi
introduzida por volta de 1880, em Pernambuco, através de sementes importadas do
Texas-
Estados Unidos. No Nordeste do Brasil são encontrados três tipos
distintos de palma: a) gigante - da espécie Opuntia fícus indica; b) redonda –
(Opuntia sp); e miúda - (Nopalea cochenilifera). A palma forrageira, em regiões
do semi-árido, é a base da alimentação dos ruminantes, pois é uma cultura
adaptada às condições edafoclimáticas e além de apresentar altas produções de
matéria seca por unidades de área. É uma excelente fonte de energia, rica em
carboidratos não fibrosos, 61,79% (Wanderley et al., 2002) e nutrientes
digestíveis totais, 62% (Melo et al., 2003). Porém a palma apresenta baixos
teores de fibra em detergente neutro, em torno de 26% (FDN), necessitando sua
associação a uma fonte de fibra que apresente alta efetividade (Mattos et al.,
2000). Com isso, esta revisão tem por objetivo demonstrar a eficiência da
utilização da palma forrageira na alimentação de ruminantes.
Revisão de Literatura
1. A palma forrageira A palma forrageira pertence à
Divisão: Embryophyta, Sub-divisão: Angiospermea, Classe: Dicotyledoneae,
Sub-classe: Archiclamideae, Ordem: Opuntiales e família das cactáceas. Nessa
família, existem 178 gêneros com cerca de 2.000 espécies
conhecidas. Todavia
nos gêneros Opuntia e Nopalea, estão presentes às espécies de palma mais
utilizadas como forrageiras. Existem três espécies de palma encontradas no
Nordeste do Brasil, a palma gigante, palma redonda e palma miúda. a) Palma
gigante- chamada também de graúda, azeda ou santa. Pertence à espécie Opuntia
fícus indica; são plantas de porte bem desenvolvido e caule menos ramificado, o
que lhes transmite um aspecto mais ereto e crescimento vertical pouco frondoso.
Sua raquete pesa cerca de 1 kg, apresentando até 50 cm de comprimento, forma
oval-elíptica ou sub-ovalada, coloração verde-fosco. As flores são
hermafroditas, de tamanho médio, coloração amarelobrilhante e cuja corola fica
aberta na antese. O fruto é uma baga ovóide, grande, de cor amarela, passando à
roxa quando madura. Essa palma é considerada a mais produtiva e mais resistente
às regiões secas, no entanto é menos palatável e de menor valor nutricional. b)
Palma redonda (Opuntia sp.)- é originada da palma gigante, são plantas de porte
médio e caule muito ramificado lateralmente, prejudicando assim o crescimento
vertical. Sua
raquete pesa cerca de 1,8 kg, possuindo quase 40 cm de
comprimento, de forma arredondada e ovóide. Apresenta grandes rendimentos de um
material mais tenro e palatável que a palma gigante. c) Palma doce ou miúda- da
espécie Nopalea cochenilifera, são plantas de porte pequeno e caule bastante
ramificado. Sua raquete pesa cerca de 350 g, possuem quase 25 cm de
comprimento, forma acentuadamente obovada (ápice mais largo que a base) e
coloração verde intenso brilhante. As flores são vermelhas e sua corola
permanece meio fechada durante o ciclo. O fruto é uma baga de coloração roxa.
Comparando com as duas anteriores esta é a mais nutritiva e apreciada pelo gado
(palatável), porém apresenta uma menor resistência à seca. Nos três tipos, as
raquetes são cobertas por uma cutícula que controla a evaporação, permitindo o
armazenamento de água (90-93% de água). As três espécies mencionadas não
possuem espinhos (são inermes) e foram obtidas pelo geneticista Burbanks, a
partir de espécies com espinhos. Foram introduzidas no Brasil por volta de
1880, em Pernambuco, através de sementes vindas do Texas, nos Estados Unidos,
onde demonstraram grande utilidade. Não toleram umidade excessiva e em solos
profundos apresentam extraordinária capacidade de
extração de água do solo, a
ponto de possuir cerca de 90-93% de umidade, o que torna importantíssima para a
região do polígono das secas. (Pupo, 1979). Atualmente, estima-se que, pela
ocorrência de severas estiagens nos últimos anos, área superior a 400.000 ha
esteja sendo utilizada com o cultivo das palmas forrageiras, constituindo-se em
uma das principais fontes de alimento para o gado leiteiro na época seca do ano
(Mattos et al., 2000). A palma apresenta-se como uma alternativa para as
regiões áridas e semi-áridas do nordeste brasileiro, visto que é uma cultura
que apresenta aspecto fisiológico especial quanto à absorção, aproveitamento e
perda de água, sendo bem adaptada às condições adversas do semi-árido,
suportando prolongados períodos de estiagem. A presença da palma da dieta dos
ruminantes nesse período de seca ajuda aos animais a suprir grande parte da
água necessária do corpo. Segundo Silva et al. (1997) um fator importante da
palma, é que diferentemente de outras forragens, apresenta alta taxa de
digestão ruminal, sendo a matéria seca degradada extensa e rapidamente,
favorecendo maior taxa de passagem e,
consequentemente, consumo semelhante ao
dos concentrados. A palma frequentemente representa a maior parte do alimento
fornecido aos animais durante o período de estiagem nas regiões dos semi-árido
nordestino, o que é justificado pelas seguintes qualidades: a) bastante rica em
água, mucilagem e resíduo mineral; b) apresentam alto coeficiente de
digestibilidade da matéria seca e c) tem alta produtividade. Como qualquer
outra planta, a palma necessita de
adubação, sendo um fator determinante na produção de matéria verde, exigindo maior quantidade quando se trata de plantio de palma adensado. Segundo Teles et al. (2002) o espaçamento de plantio da palma forrageira varia de acordo com a fertilidade do solo, quantidade de chuvas, finalidade de exploração e com o consórcio a ser utilizado. O cultivo de palma em espaçamento adensado tem sido mais utilizado recentemente. Nesses espaçamentos, os tratos culturais e a colheita são dificultados, aumentando os gastos de mão-de-obra. Além desses aspectos, neste caso, ocorre uma maior quantidade de nutrientes extraídos do solo, considerando que em espaçamento 2,0 m x 1,0 m tem-se 5.000 plantas/ha, enquanto que
PRODUTOS BRS |
adubação, sendo um fator determinante na produção de matéria verde, exigindo maior quantidade quando se trata de plantio de palma adensado. Segundo Teles et al. (2002) o espaçamento de plantio da palma forrageira varia de acordo com a fertilidade do solo, quantidade de chuvas, finalidade de exploração e com o consórcio a ser utilizado. O cultivo de palma em espaçamento adensado tem sido mais utilizado recentemente. Nesses espaçamentos, os tratos culturais e a colheita são dificultados, aumentando os gastos de mão-de-obra. Além desses aspectos, neste caso, ocorre uma maior quantidade de nutrientes extraídos do solo, considerando que em espaçamento 2,0 m x 1,0 m tem-se 5.000 plantas/ha, enquanto que
no espaçamento 1,0 m x 0,25 a quantidade de plantas é oito vezes maior, ou seja, 40.000 plantas/ha, sendo necessário um maior cuidado com as adubações. Pesquisa realizada por esses mesmos autores em telado do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, utilizando vasos de 30 cm de diâmetro e 22 cm de altura, para o plantio usou-se cladódios de palma cv. gigante, tendo como tratamento: testemunha, testemunha mais nematicida, testemunha mais nitrogênio, testemunha mais fósforo, testemunha mais potássio, testemunha mais cálcio, testemunha mais magnésio, testemunha mais enxofre, solução de macronutrientes completa (SMC), SMC nitrogênio, SMC fósforo, SMC potássio, SMC cálcio, SMC magnésio, SMC enxofre. SMC mais macronutrientes e SMC mais micronutrientes mais nematicida concluíram que não houve efeito dos micronutrientes e nematicida para número total de cladódio, número de cladódio secundário, área de cladódio, índice de área de cladódio, e produção de matéria seca, no grupo dos tratamentos com solução de macronutrientes completa. De maneira geral, a fertilização promoveu aumento crescente da palma forrageira. A aplicação de nematicida Furadan não influenciaram o crescimento da palma, mas diminuiu o número de nematóides de todas as espécimes. Segundo Farias et al. (2000) utilizando espaçamentos mais adensados, pode-
se alcançar maiores produções, mas os custos de estabelecimento
do palmal são maiores e os tratos culturais ficam mais difíceis e não permitem
consorciação com outras culturas. O emprego de espaçamentos em filas duplas,
mais espaçadas, pode permitir a utilização de consórcio durante toda a vida
útil do palmal, favorecendo a produção de grãos e restolhos de culturas para o
produtor que optar por esse sistema, possibilitando um melhor emprego de
mecanização no controle de ervas daninhas. Esse sistema também facilita a
colheita e transporte, podendo também contribuir para reduzir os riscos de
incêndio no palmal e controlar a erosão em áreas de cultura. Por outro lado, a
consorciação da palma com outras culturas reduz a produção dessa forrageira.
Esses autores puderam concluir que a maior produção de artículos de palma é
obtido no espaçamento 2,0 m x 1,0 m, e a menor, em 7,0 m x 1,0 m x 0,50 m. A
produção de forragem de palma é maior na freqüência de corte de quatro anos, em
relação à de dois anos, quando são conservadas apenas os artículos primários. O
número de plantas e o arranjo espacial das plantas influenciam a produtividade
de sorgo granífero, sendo a maior produtividade no espaçamento 7,0 m x 1,0 m x
0,50 m. A produção de grãos de sorgo é maior na freqüência de colheita da palma
de dois anos, com a conservação apenas de artículos primários. As porcentagens
de matéria seca, proteína bruta e fibra bruta dos artículos de palma e
restolhos de sorgo são pouco afetadas pelos espaçamentos, freqüências e
intensidades de corte da palma forrageira. Albuquerque & Rao (1997),
estudando espaçamentos em palma
forrageira cultivar gigante, de 1,0 x 1,0 m;
2,0 x 1,0 m; 2,0 x 0,50 m; 2,0 x 0,67 m e 3,0 x (1,0 m x 0,50m), verificaram
que houve diferença de produção de forragem entre os espaçamentos estudados.
Esses autores observaram decréscimo na produção de palma de 24,31%, quando
consorciada com feijão-decorda (Vigna unguiculata L.) e de 42,81% quando foi
consorciada com sorgo (Sorghum bicolor L.). A composição químico-bromatológica
da palma é variável de acordo com a espécie, idade dos artículos e época do ano
(Santos, 1989 citado por Ferreira 2005), como pode ser observado na Tabela 1.
Como demonstrado na Tabela 1, a palma independente do gênero, apresenta baixos
teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em
detergente ácido. No entanto, apresenta teores razoáveis de carboidratos
totais, carboidratos não-fibrosos, carboidratos não-estruturais e matéria
mineral. Segundo Magalhães et al. (2004), em razão do baixo teor de matéria
seca da palma forrageira, dietas formuladas com altos percentuais de palma
normalmente possuem alto teor de umidade, o que é favorável em regiões onde a
água se torna escassa em determinadas estações. Trabalho realizado por
Wanderley et al. (2002) não observaram alteração no consumo de matéria seca de
vacas da raça Holandesa em lactação, ao substituírem silagem de sorgo por palma
forrageira, com variação de umidade de 57,51 a 75,15%, respectivamente, para
dietas contendo 0 a 36% de palma. Normalmente dietas compostas com palma
apresentam elevado teor de matéria mineral devido à alta concentração de
macroelementos minerais que a mesma contém (Melo et al., 2003).
2. Colheita da palma forrageira Normalmente após o
plantio, inicia a colheita com cerca de 1,5 a 2 anos ou mais dependendo do
desenvolvimento da cultura, dependerá apenas das condições do solo, clima.
Posteriormente poderá ser feito o corte anual. A palma de maneira geral é
colhida manualmente apesar de aumentar o custo de produção, mais é a maneira
mais racional de utilização da palma. As raquetes são colhidas diariamente e
fornecidos aos animais nos cochos. A utilização da palma também poderia ser por
pastejo, porém promove muitas perdas por causa da presença dos animais no
palmal, por isso, mesmo com o acréscimo de mão-de-obra para o corte manual fica
mais viável para o produtor. Santos et al. (1998), estudando o efeito do
período de armazenamento pós-colheita sobre a composição química da palma cv.
gigante, observaram que durante períodos de armazenamento de 0, 8 e 16 dias não
ocorreram perdas aparentes de matéria-seca, proteína bruta e fibra-bruta.
Também foi semelhante à produção de leite das vacas alimentadas com palma
armazenadas nesses três períodos. Esses autores sugerem que maior quantidade de
palma pode ser colhida, independente do uso imediato, promovendo assim uma
redução no custo no corte e transporte da palma.
3. A palma forrageira na alimentação de ruminantes Na
criação de ruminantes, a alimentação é responsável por grande parte dos custos
(60 a 70%), sejam estes animais confinados ou criados extensivamente (Martins
et al., 2000). Por isso, é importante utilizar alimentos que possibilitem uma
máxima produção a um baixo custo. As gramíneas forrageiras normalmente é a
fonte mais barata para a alimentação animal, porém está sujeita a
estacionalidade de produção, limitando a disponibilidade de forragem nos
períodos de prolongadas estiagens, com isso é necessário buscar fontes
alternativas para a alimentação animal, como silagem, feno e a palma
forrageira. Existe uma variedade de alimentos que podem ser utilizados na
alimentação de ruminantes. Entretanto, o valor nutricional e a qualidade dos
alimentos são determinados por complexa interação entre os nutrientes ingeridos
e a ação dos microorganismos do trato digestivo, nos processos de digestão,
absorção, transporte e utilização de metabólitos, além da própria condição
fisiológica do animal (Martins et al., 2000). A palma não pode ser fornecida
aos animais exclusivamente, pois apresenta limitações quanto ao valor protéico
e de fibra, não conseguindo assim atender as necessidades nutricionais do
rebanho. Então, torna-se necessário o uso de alimentos volumosos e fontes
protéicas. Segundo Albuquerque et al. (2002), animais alimentados com quantidades
elevadas de palma, comumente, apresentam distúrbios digestivos (diarréia), o
que, provavelmente, está associado à baixa quantidade de fibra dessa
forrageira. Daí a importância de complementá-la com volumosos ricos em fibra, a
exemplo de silagens, fenos e capins secos. A palma forrageira apresenta baixo
conteúdo de matéria seca, quando comparada à maioria das forrageiras. Este
aspecto compromete o atendimento das necessidades de matéria seca dos animais
que recebem exclusivamente palma e, provavelmente, a elevada umidade limita o
consumo pelo controle físico, por meio do enchimento do rúmen. Portanto, vale
ressaltar que a elevada umidade observada na palma forrageira, independente da
cultivar, é uma característica importante, tratando-se de região semi-árida,
pois atende grande parte da necessidade de água dos animais, principalmente no
período seco do ano (Santos et al., 2001). Véras et al. (2002) comprovaram que
a utilização do farelo de palma forrageira (Opuntia fícusindica Mill) em
substituição ao milho para ovinos (níveis de substituição 0, 25, 50 e 75%) não
apresentaram efeito dos níveis de substituição do milho pelo farelo de palma
para o consumo e coeficientes de digestibilidade aparente da MS, MO, PB, EE,
FDN e CHT. No entanto, o coeficiente de digestibilidade do FDA apresentou
incremento linear, à medida que se aumentava a inclusão de farelo de palma. Em
relação ao NDT, a inclusão do farelo de palma não afetou o teor de NDT das
rações, fato que pode ser explicado, em parte, pela maior eficiência na
fermentação ruminal. Véras et al. (2005) verificaram que a substituição do
milho por palma forrageira (níveis de 0, 33, 66 e 100%) em dietas de ovinos em
crescimento não apresentou efeito da inclusão do farelo de palma sobre o
consumo de matéria seca. Podendo ser justificado porque a palma apresenta alta
palatabilidade, com grande aceitação pelos animais e, por isso, o farelo não
perde suas características. Também não houve efeito da substituição do milho
por farelo de palma para consumos de proteína bruta, matéria orgânica e
carboidratos totais. Foi encontrado comportamento inverso para consumo de
nutrientes digestíveis totais, que diminuiu linearmente com o aumento nos
níveis de farelo de palma da ração, esse fato pode ser explicado pela diminuição
nos teores de nutrientes digestíveis totais, que foi menor para os tratamentos
com maiores percentuais de farelo de palma e consumo de matéria seca
semelhante. Com isso o ganho de peso diário diminuiu linearmente, tal
comportamento pode ser explicado pela diminuição dos nutrientes digestíveis
totais. Os dias de confinamento aumentaram linearmente em decorrência do ganho
de peso dos animais recebendo níveis crescentes de farelo de palma. Assim, os
autores concluíram que a adição do farelo de palma às dietas não alterou o
consumo de matéria seca, porém diminuiu o consumo de energia e ganho de peso,
não tendo, portanto, condições de substituir o milho para a alimentação de
ovinos em crescimento. Ao avaliarem a substituição do milho por palma
forrageira em dietas completas para vacas em lactação, na forma de mistura
completa, Araújo et al. (2004) não encontraram diferença no consumo de matéria
seca para as cultivares estudadas (palma gigante e palma miúda). Porém, foi
verificado maior consumo para as dietas com milho, que apresentaram maior teor
de matéria seca que aquelas sem milho, fator que possivelmente determinou esta
diferença. Quanto ao consumo de FDN, foi observado diferença entre as
cultivares, os animais que receberam dietas com palma gigante apresentaram
maior consumo (5,80 kg/dia e 1,18% do PV) em relação aos alimentados com palma
miúda (5,19 kg/dia e 1,05% do PV), o que, provavelmente, está associado ao
maior teor de FDN da palma gigante (27,69%) em relação à palma miúda (16,6%).
Os autores puderam concluir que é possível substituir o milho por palma
forrageira (cultivar gigante ou miúda), em dietas que contenham pelo menos 36%
de palma, sem alteração dos coeficientes de digestibilidade, mantendo-se níveis
de produção de leite e gordura satisfatórios, com baixa utilização de
concentrado na dieta. De acordo com Wanderley et al. (2002) o uso da palma
forrageira (Opuntia fícus indica Mill) em substituição a silagem de sorgo
(Sorghum bicolor (L.) Moench) na alimentação de vacas leiteiras não afetaram o
consumo de MS, MO e CHO, com níveis de inclusão de palma (0, 12, 24 e 36%) na
ração, na forma de mistura completa. Não encontraram diferenças significativas
para a produção de leite com e sem correção a 3,5% de gordura. Foi possível
manter a gordura do leite em níveis normais e melhorar a conversão alimentar e
consumo adequado de nutrientes, para as condições do agreste de Pernambuco,
associando-se palma com silagem de sorgo forrageiro. Não foram observados
distúrbios metabólicos, como diarréias, para os níveis de palma fornecidos. Os
autores ressaltaram a importância do fornecimento da palma forrageira em
associação adequada de fontes de alimentos ricos em fibra, a fim de se melhorar
o uso dessa forrageira. Estudo realizado avaliando o desempenho de vacas 5/8 holando/zebu
alimentadas com diferentes cultivares de palma forrageira (Opuntia e Nopalea).
Foram testadas as palmas: palma cv. redonda, palma cv. gigante e palma cv.
miúda. Os cultivares não influenciaram o consumo total de matéria seca, estes
dados são justificados pelo fato de não ter havido diferença na ingestão de
silagem e concentrado. Os animais alimentados com a cultivar miúda apresentaram
um maior consumo de MS de palma, em relação aos alimentados com as cultivares
redonda e gigante, sendo sugerido que está associado à maior porcentagem de matéria
seca apresentada pela palma miúda. Vale ressaltar que a matéria seca foi 11%
para a palma redonda, 10,63 a gigante e 11,96 % a palma miúda. É importante
também mostrar que, as variações de peso observadas neste experimento, - 0,323,
-111 e 0,164 g/vaca/dia para os animais alimentados com palma redonda, gigante
e miúda, respectivamente. Sendo sugerido assim que, a palma forrageira cv.
miúda apresenta alta palatabilidade, o que está associado ao elevado nível de
carboidratos solúveis, em relação as cultivares redonda e gigante, e
provavelmente contribuiu para a melhor variação de peso vivo observada. Foi
concluído neste estudo, que as cultivares de palma não diferiram quanto ao
consumo in natura, quando fornecidas em associação com silagem de milho. Os
cultivares de palma não diferiram quanto à produção de leite de vacas 5/8
holandês/zebu (Santos et al., 2001). Pesquisa realizada por Andrade et al.
(2002), para avaliar a digestibilidade e absorção aparentes em vacas da raça
holandesa alimentadas com palma forrageira (Opuntia fícus- indica Mill) em
substituição à silagem de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) concluíram que
para vacas em lactação, a digestibilidade de dietas à base de palma forrageira
foi afetada pelos teores de carboidratos não-fibrosos e fibra em detergente
neutro. Os autores justificaram o resultado que os carboidratos não fibrosos
são rapidamente digeridos, favorecendo a maior produção de ácidos graxos
voláteis. E a redução na fração da fibra em detergente neutro resulta em menor
salivação, sendo considerado um importante fator para a diminuição do pH
ruminal, alterando a população microbiana, e diminui a digestibilidade dos
nutrientes, evidenciando a importância do equilíbrio entre as concentrações de
carboidratos não fibrosos e fibra em detergente neutro da dieta. Considerando
os coeficientes de digestibilidade aparente de matéria seca e dos carboidratos
totais, bem como o teor de nutrientes digestíveis totais, o nível de inclusão
de palma forrageira esteve limitado a 17% na dieta. A relação de Ca:P que
proporcionou a melhor absorção desses elementos minerais foi 1,9:1. Mattos et
al. (2000) avaliou a associação da palma forrageira (Opuntia fícus indica Mill)
com diferentes fontes de fibra na alimentação de vacas 5/8 Holandês/zebu em
lactação, tendo como fonte de fibra a Sacharina de cana, silagem de sorgo,
bagaço de cana hidrolisado e bagaço de cana in natura, essas fontes
proporcionaram uma variação no nível de utilização da palma em cada dieta, onde
usou 38% de palma na dieta com silagem de sorgo, 40,4% na dieta com sacharina,
45,7% na dieta com bagaço de cana hidrolisado e 55,4% na dieta com bagaço de
cana in natura, entretanto não foi verificada diferença no consumo de matéria
seca em %PV e g/kg0,75 em nenhum dos tratamentos. Para o consumo de FDN, em
kg/dia, %PV e g/kg0,75, verificou-se que ocorreu maior consumo para os animais
que receberam sacharina e silagem de sorgo, em relação àqueles alimentados com
bagaço hidrolisado e bagaço in natura. Provavelmente, isso está associado à
seletividade exercida pelos animais que, recebendo rações à base de bagaço de
cana de açúcar, consumiram toda a palma da ração, ocorrendo então restrição no
consumo do bagaço. Isto pode ser evidenciado pelos teores de FDN das rações
efetivamente consumidas que foram de 35,2; 36,4; 27,1 e 25,4% para os
tratamentos com sacharina, silagem de sorgo, bagaço hidrolisado e bagaço in
natura, respectivamente. As dietas foram formuladas para satisfazer as
exigências de produção de 14 kg de leite/dia com 4% de gordura. Os resultados
deste experimento indicaram a viabilidade da associação da palma com alimentos
de baixo custo, permitindo produção de leite e manutenção em níveis bastante
próximos aos obtidos com alimentos de maior valor comercial.
Teixeira et al. (1999) estudando a cinética da digestão
ruminal da palma forrageira (Nopalea cochenillifera (L.) Lyons-Cactaceae) em
bovinos e caprinos, observaram que os valores médios para a degradabilidade
efetiva e potencial da matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro
e ácido dos cortes da palma forrageira foram, no geral, inferiores para
caprinos em relação aos bovinos, revelando a menor capacidade dos caprinos em
degradar alimentos mais grosseiros. Em relação aos valores obtidos com bovinos,
percebe-se que estes foram bem próximos entre as raças Holandesa e Nelore. A
degradabilidade efetiva da fibra em detergente neutro e ácido tende a aumentar
quando se compara o corte da base com os cortes no primeiro raquete, segundo,
terceiro e quarto. Com a idade da planta, os raquetes vão perdendo a forma
(tornando-se cilíndricos) com menor quantidade de proteína e maior fração
fibrosa. Conclui-se nesse trabalho que a degradabilidade efetiva da matéria
seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e ácido, dos cortes dos
raquetes, principalmente o quarto, apresentaram, no geral, valores superiores
ao corte da base da palma forrageira. Melo et al. (2003) substituíram
parcialmente o farelo de soja por uréia e palma forrageira em dietas para vacas
em lactação, os tratamentos consistiram de níveis crescentes de
nitrogênionão-protéico (NNP) como porcentagem dos teores de proteína bruta, ou
seja, 2,32; 4,65; 6,66; e 8,02%, resultando da substituição do farelo de soja
por palma forrageira mais uréia. A porcentagem média de matéria seca das dietas
experimentais variou de 46,35% a 38,53%. Esta variação foi devido à
substituição do farelo de soja por uréia e palma, uma vez que a palma contém
grande percentagem de umidade. Estes autores puderam concluir que níveis
elevados de nitrogênio-não-protéico nas dietas de vacas em lactação influenciam
negativamente o desempenho animal, sem, contudo, afetar a produção e os teores
de gordura e proteína bruta do leite, nem a eficiência alimentar. A inclusão de
NNP não afetou a saúde dos animais e baixou os custos das dietas, portanto para
a recomendação para a utilização de fontes de NNP na alimentação de vacas em
lactação, devem ser avaliados também os aspectos econômicos. Magalhães et al.
(2004) estudaram a inclusão de cama de frango em dietas à base de palma
forrageira (Opuntia fícus indica Mill) para vacas mestiças em lactação. Os
tratamentos que continham como base na matéria seca, 45% de palma, cultivar
gigante, associados à níveis crescentes de cama de frango (0, 10, 20 e 30%),
tendo como substrato a casca de arroz, além de farelo de algodão e bagaço de
cana-de-açúcar in natura. A partir de 14,60% de inclusão de cama de frango,
houve menor consumo, isso possivelmente decorreu da redução da palatabilidade
da ração, pois, durante a condução do experimento, observou-se que a palma
adicionada às misturas com maior percentual de cama de frango, depois de algum
tempo, promovia o umedecimento da cama, provocando um cheiro característico.
Observou-se também que as dietas com 10 e 20% de cama de frango apresentaram
maior homogeneidade após a mistura dos componentes e suscitaram maior interesse
dos animais. Por outro lado, a grande quantidade de bagaço de cana da dieta com
0% de cama de frango, não permitia boa homogeneidade e os animais eram capazes
de selecionar, em maior intensidade, os componentes de sua preferência. Esses
autores puderam concluir que a associação da palma, bagaço de cana e uréia, com
a inclusão de até 30% cama de frango, pode ser alternativa viável para a
produção de leite. Todas essas pesquisas indicam a necessidade de se avaliar a
palma forrageira associada a outros alimentos que possam corrigir suas
deficiências nutricionais e evitando assim distúrbios metabólicos como a
diarréia, ou melhorar a sua utilização, de forma a fornecer ao produtor uma
opção mais barata para a alimentação animal, nos períodos de escassez de
forragem, ocasionado pela irregularidade de chuva. 4. Considerações Finais A
exploração pecuária da região do Nordeste é prejudicada pelas constantes secas
e irregularidade das chuvas, causando assim, uma baixa produtividade de seu
rebanho. Os animais ficam submetidos à baixa disponibilidade de forragens,
fazendo com que os produtores procurem por alimentos de alto custo, ocasionando,
maiores custos de produção. Visando minimizar estes prejuízos, tem-se como
alternativa para estas regiões a palma forrageira. Devido às suas
características morfofisiológicas, tolera longas estiagens, além de suprir o
animal em grande parte de sua necessidade em água. É um alimento rico em
carboidratos, principalmente carboidratos-não-fibrosos, que são a principal
fonte de energia para os ruminantes. Porém, a palma apresenta baixos teores de
fibra em detergente neutro, necessitando sua associação à fonte de fibra que
apresente alta efetividade. Assim, torna-se possível a associação da palma com
alimentos de baixo custo, permitindo produção de leite e manutenção em níveis
bastante próximos aos obtidos com alimentos de maior valor comercial.
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