Kepler Euclides Filho
Eng.-Agr., CREA No 12153/D, Visto 1466/MS EMBRAPA- Centro Nacional de Pesquisa
de Gado de Corte (CNPGC) Caixa Postal 154, 79002-970, Campo Grande - MS.
E-mail: kepler@cnpgc.embrapa.br
INTRODUÇÃO
Por muitos anos, os criadores brasileiros se preocuparam em promover
seleção dos bovinos com enfoque quase que exclusivo nas características
relacionadas com o padrão racial e com a caracterização das diversas raças
zebuínas. Tais características foram, por muito tempo, aquelas relacionadas com
o aspecto do animal tais como, formato de cabeça, tamanho e forma de orelha,
inserção de cauda, inserção e forma de chifres dentre outras. A evolução da
pecuária de corte introduziu modificações de comportamento e interesse mas,
principalmente, mudanças de conceito e, com isso, as característica salvo de
seleção também se modificaram. A conformação, o aprumo, a linha de dorso,
a caixa torácica, as características sexuais e outras, assumiram importância
maior. Esse trabalho quase que obstinado dos produtores e técnicos foi um dos
grandes responsáveis pelo estabelecimento, pelo fortalecimento e pelo nível de
desempenho observado, atualmente, nas diversas raças zebuínas presentes no
Brasil. Entretanto, a evolução natural do conhecimento científico e das
demandas de mercado, introduziu novos conceitos e permitiu o engajamento maior
de técnicos e produtores em torno de
propostas fundamentada no
desempenho produtivo dos animais. Assim, o melhoramento genético animal iniciou
uma nova fase que vem se solidificando e se aprimorando com o desenvolvimento
das novas biotécnicas, e com a evolução das áreas da computação, da estatística
e da bio-informática. Esse processo de transformação fez com que EUCLIDES FILHO
(2000) afirmasse que "à semelhança do passado, a ciência deverá continuar
sendo permeada pela arte, no sentido de ser capaz, não só de combinar a beleza
da forma com a função, mas também de ser capaz, muitas vezes, de, pela forma,
predizer a produção. Esta necessidade de visão global, do bom senso, do
conhecimento científico e, principalmente, da capacidade de se combinar tudo
isto, é que faz do melhoramento genético não só ciência, mas também uma
arte". Nesse novo cenário, o animal e, em especial, sua constituição
genética, tem assumido importância crescente na cadeia produtiva da carne
bovina; Todavia, para que o setor seja rentável e, ao mesmo tempo, atenda às
demais demandas como sustentabilidade da cadeia produtiva e satisfação do
consumidor, o sistema de produção deve ser enfocado, analisado e implementado
como um todo.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE PREDOMINANTES NO BRASIL
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE PREDOMINANTES NO BRASIL
Entende-se por sistema de produção de gado de corte o conjunto de
tecnologias e práticas de manejo, bem como o tipo de animal, o propósito da
criação, a raça ou o grupamento genético e a ecorregião onde a atividade é
desenvolvida. Deve-se considerar ainda, ao se definir um sistema de produção,
os aspectos sociais, econômicos e culturais, uma vez que esses têm influência
decisiva, principalmente, nas modificações que poderão ser impostas por forças
externas, e especialmente, na forma como tais mudanças deverão ocorrer para que
o processo seja eficaz, e as transformações alcancem os benefícios esperados.
Permeando todas essas considerações deve estar a definição do mercado, e
consequentemente, a demanda a ser atendida, ou seja, quais são e como devem ser
atendidos os clientes ou consumidores. Assim, torna-se evidente que o
estabelecimento, e/ou a adequação de um determinado sistema de produção, não
depende unicamente do desejo do produtor mas está intimamente relacionado com
as condições sócioeconômicas e culturais da região e da sua possibilidade e/ou
capacidade de promover investimentos. Outro aspecto decisivo é a necessidade de
o sistema ser estruturado com base em objetivos bem definidos que, ao serem
estabelecidos, devem levar em conta as demandas do mercado consumidor.
Considerando-se que no Brasil há tremenda diversidade em todosestes aspectos,
considerando-se ainda, a necessidade de a atividade ser, antes de mais nada, um
empreendimento econômico, e como tal, deve gerar lucros como premissa básica
para que se desenvolva e prospere, pode-se facilmente concluir que, no Brasil,
dificilmente existirá um sistema de produção de gado de corte único. Assim, o uso
isolado ou combinado das tecnologias disponíveis deve ser analisado dentro de
cada contexto particular. Essa visão integrada é também de fundamental
importância no próprio desenvolvimento de novas tecnologias. Entretanto, os
cenários globais presente e previsível permitem se inferir que a pecuária de
corte brasileira tem grandes possibilidades de se estabelecer como atividade
competitiva nos mercados nacional e internacional, podendo ser, em muitas
situações, conduzida em sistemas altamente intensivos, competitivos,
sustentáveis e economicamente viáveis. No Brasil, os sistemas de produção de
carne bovina caracterizam-se pela dependência quase que exclusiva de pastagens.
À exceção da região Sul, ou seja, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do
Paraná, em
todas as demais, as
forrageiras predominantemente utilizadas são tropicais. Dentre essas
destacam-se as cultivares dos gêneros Brachiaria e Panicum. Enquanto o fato de
se fundamentar em pastagens resulta, por um lado, em vantagem comparativa por
viabilizar custos de produção relativamente baixos; por outro, a utilização
exclusiva dessa fonte de alimentação tem, nesse momento em que as competitividades
por preço e por qualidade de produto impõem mudanças no setor, se apresentado
bioeconomicamente inviável em muitas situações. Isso é agravado,
principalmente, pela forma como estas pastagens são, de modo geral, manejadas.
É por demais conhecido o problema da sazonalidade da produção forrageira
intensificado pelo fato de as forrageiras tropicais, mesmo no período das
chuvas, não serem capazes de produzir, por muito tempo, alimento com qualidade
que possibilite o atendimento das exigências para crescimento dos animais,
principalmente daqueles de alto potencial genético. Assim, as gramíneas mais
cultivadas, apesar de produzirem grande
quantidade de material
forrageiro durante o período das águas, apresentam um período muito curto no
qual a forragem por elas produzida possui qualidade capaz de possibilitar
desempenhos compatíveis com a necessidade requerida para se manter sistemas
competitivos.
A duração desse período varia
com a região e com as condições de manejo geral do sistema de produção, mas em
qualquer situação, esse período é inferior à duração da estação de chuvas
(EUCLIDES e EUCLIDES FILHO, 1998). No restante da época chuvosa e,
principalmente, durante o período seco, além da redução verificada na
quantidade de matéria seca produzida, ou mais adequadamente segundo EUCLIDES et
al. (1993a,b), redução na quantidade de Matéria Verde Seca (MVS), há decréscimo
acentuado em sua qualidade. Tal situação pode ser amenizada, ou mesmo
melhorada, com o uso de estratégias de manejo envolvendo alternativas diversas,
as quais poderiam englobar uso diferenciado de sistemas de
pastejo; fertilização, tanto direta quanto por meio de rotação de culturas;
irrigação; uso de consorciação com leguminosas e uso de espécies de gramíneas
mais adequadas. Em contraposição a essa situação existe uma demanda cada vez
mais crescente que se traduz na necessidade de se produzir de forma econômica,
eficaz, eficiente e competitiva. Tal exigência encerra em seu bojo, a tendência
inexorável de intensificação. Isso não quer dizer, no entanto, que a
intensificação será total, nem tampouco, no mesmo nível nas diversas regiões.
Além disso, ela não será um processo a ser desenvolvido somente nos sistemas de
produção, mas sim, uma necessidade que deverá permear os diversos segmentos
componentes da cadeia produtiva. O atendimento dessa demanda ampla de melhoria
de eficiência será alcançado pelos sistemas de
produção de gado de corte de
diversas maneiras. Dentre as quais podem-se mencionar desde o desenvolvimento
de sistemas especializados nas diferentes fases até produção de carne com
marca, passando pelo uso de animais de alto potencial genético em sistemas
envolvendo pastagens adubadas com pastejo rotacionado, suplementação alimentar
em pasto e confinamento.
Apesar de se poder prever,
conforme mencionado por EUCLIDES FILHO (1996), que haverá especialização de
sistemas para as diferentes fases da pecuária, quais sejam: cria, recria e
engorda, e que em alguns casos a recria será eliminada, a grande maioria hoje
envolve as três fases (Figura 1). Qualquer que seja a situação, no entanto, o
uso de tecnologias será responsável por incrementos importantes nos índices
zootécnicos do rebanho conforme pode ser observado na Tabela 1. Além disso,
em razão das variações ocorridas nos preços de insumos e naqueles do boi gordo, nos últimos anos, a relação de troca, conforme discutida por ZIMMER et al. (1998) (Tabela 2), tornou-se desfavorável e, com isso, tornar-se-ão inviáveis, em muitos casos, os sistemas de produção que permanecerem com níveis tecnológicos, e consequentemente de produtividade, baixos. No sistema 1 (Tabela 1), além de se utilizar suplementação alimentar em pasto durante o período seco, parte das pastagens são recuperadas anualmente e parte recebe adubação de manutenção como forma de manter altos níveis de produtividade. No sistema 2, grande parte dos animais recebem suplementação alimentar em pasto e são terminados em confinamento. Nesse caso, além dos investimentos para produção de volumosos e grãos, faz-se necessário, nas pastagens, que se utilize mais intensivamente, corretivos e fertilizantes. Faz-se necessário ainda, o uso de fêmeas mestiças, especialmente, para se conseguir parto aos dois anos de idade. Hoje, considerando-se isoladamente as fases da pecuária de corte conduzidas na forma tradicional, em sistemas de produção considerados como representativos da média, pode-se concluir, após análises de benefício/custo, que a cria se constitui na atividade de menor rentabilidade além de ser aquela que apresenta o maior risco. Todavia, é importante ressaltar que também é ela que sustenta toda a estrutura subseqüente, e por conseguinte, toda inversão que nela se fizer, e resultar em aumento de eficiência, resultará não só em sua consolidação mas também em benefício de toda a cadeia produtiva da carne bovina. Para estudar essa situação, Martins1 (1998), desenvolveu algumas simulações cujos resultados (Tabela 3) possibilitaram se ter uma idéia da importância dos índices e/ou do nível tecnológico/administrativo do sistema de produção sobre a rentabilidade do empreendimento.
em razão das variações ocorridas nos preços de insumos e naqueles do boi gordo, nos últimos anos, a relação de troca, conforme discutida por ZIMMER et al. (1998) (Tabela 2), tornou-se desfavorável e, com isso, tornar-se-ão inviáveis, em muitos casos, os sistemas de produção que permanecerem com níveis tecnológicos, e consequentemente de produtividade, baixos. No sistema 1 (Tabela 1), além de se utilizar suplementação alimentar em pasto durante o período seco, parte das pastagens são recuperadas anualmente e parte recebe adubação de manutenção como forma de manter altos níveis de produtividade. No sistema 2, grande parte dos animais recebem suplementação alimentar em pasto e são terminados em confinamento. Nesse caso, além dos investimentos para produção de volumosos e grãos, faz-se necessário, nas pastagens, que se utilize mais intensivamente, corretivos e fertilizantes. Faz-se necessário ainda, o uso de fêmeas mestiças, especialmente, para se conseguir parto aos dois anos de idade. Hoje, considerando-se isoladamente as fases da pecuária de corte conduzidas na forma tradicional, em sistemas de produção considerados como representativos da média, pode-se concluir, após análises de benefício/custo, que a cria se constitui na atividade de menor rentabilidade além de ser aquela que apresenta o maior risco. Todavia, é importante ressaltar que também é ela que sustenta toda a estrutura subseqüente, e por conseguinte, toda inversão que nela se fizer, e resultar em aumento de eficiência, resultará não só em sua consolidação mas também em benefício de toda a cadeia produtiva da carne bovina. Para estudar essa situação, Martins1 (1998), desenvolveu algumas simulações cujos resultados (Tabela 3) possibilitaram se ter uma idéia da importância dos índices e/ou do nível tecnológico/administrativo do sistema de produção sobre a rentabilidade do empreendimento.
Todos os sistemas simulados podem ser considerados tradicionais, com
baixo nível tecnológico e representam, segundo o autor, sistemas médios do
Brasil Central Pecuário. Foram todos desenvolvidos em propriedade com área de
1.464 ha, com 1.171 ha de pastagens. O número de animais, e consequentemente, o
número de Unidades Animais (UA), variaram de acordo com o sistema (cria,
recria, engorda ou cria/recria/engorda) e com a estação do ano. Assim, o número
de animais foi de 1.235 durante as águas e 863 durante o período seco, para o
sistema de cria; 1.986 e 1.315, para o de recria exclusiva; 1.233 e 820, para o
sistema de engorda e 1.202 e 912 para o sistema completo de
cria/recria/engorda. Em todos os casos, esses números eqüivaleram a 0,76 e 0,70
UA/ha, nos períodos chuvoso e seco, respectivamente. Esses resultados permitem
concluir que a sobrevivência do setor depende da melhoria dos índices
zootécnicos do sistema, e que ênfase especial deve ser dada à fase de cria.
Pela análise dessas simulações fica claro que no Brasil, para que essa demanda
seja atendida, e os sistemas de produção voltados exclusivamente para cria
sejam rentáveis, faz-se necessário aumento da eficiência.
A ADEQUAÇÃO DO
TRINÔMIO “GENÓTIPO-AMBIENTEMERCADO”
Uma das demandas que vem se
consolidando no setor de pecuária de corte é o desenvolvimento de sistemas
sustentáveis. Para que essa meta seja alcançada é necessário que o sistema de
produção seja capaz não só de manter a produção, mas também de ser rentável e
estruturado sobre princípios socialmente justos. Ademais, cria
corpo uma exigência nova que
consiste na oferta de produtos oriundos de sistemas de produção com
certificação ambiental. Todas essas mudanças impõem outra demanda que se refere
à qualificação de pessoal dos diversos segmentos da cadeia produtiva. É nesse
ambiente que se deve estruturar a pecuária de corte moderna que necessita ser
rentável e competitiva. Isso indica, claramente, a necessidade de se buscar um
ajuste do trinômio “Genótipo-Ambiente-Mercado”. É esse cenário, portanto, que
deverá nortear as ações do melhoramento genético animal nos próximos anos e,
consequentemente, a seleção e os cruzamentos. Tais exigências requerem ajustes,
inversões e melhorias e têm contribuído para que o melhoramento genético animal
ocupe a posição de destaque que ele tem assumido nos últimos anos. Ressalta-se
que à medida que se promovem investimentos buscam-se maiores retornos. Dessa
forma, é importante desenvolver e/ou buscar animais que melhor respondam aos
investimentos. Nesse contexto, o melhoramento genético com suas duas
ferramentas, seleção e cruzamentos, tem sido utilizado cada vez mais. De acordo
com EUCLIDES FILHO (1999), “Seleção é o processo decisório que indica quais
animais de uma geração tornar-se-ão pais da próxima, e quantos filhos lhes
serão permitido deixar. Em outras palavras, pode-se entender seleção como sendo
a decisão de permitir que os melhores indivíduos de uma geração sejam pais da
geração subseqüente. Por cruzamento, entende-se o acasalamento de indivíduos
pertencentes a raças, linhagens ou espécies
diferentes”. Enquanto o
processo de seleção pode ser implementado de forma independente do cruzamento,
esse último não deve ser conduzido desconsiderando-se a seleção. É importante
que os indivíduos participantes de um cruzamento tenham sido selecionados. Esse
processo de seleção pode ocorrer de duas formas, como componente do sistema de
cruzamentos, onde machos e fêmeas mestiças oriundos do cruzamento são
selecionados e utilizados para produção da geração seguinte, ou como elemento
introduzido. Nesse caso, os animais devem ser selecionados nas raças puras para
participarem do cruzamento. A combinação desses dois procedimentos de seleção,
no entanto, pode trazer benefícios adicionais e é recomendado, especialmente,
para populações compostas. Considerando-se um termo mais amplo, ou seja,
acasalamento, torna-se mais clara a interdependência entre a seleção e o
cruzamento. A seleção por si só também não resulta em progresso genético, mesmo
que o critério de seleção tenha sido muito bem escolhido, porque o benefício da
seleção só se incorpora à população se os indivíduos selecionados forem
acasalados. Nesse enfoque, cruzamento é um caso particular de acasalamento.
Portanto, seleção e acasalamento são elementos fundamentais
para se obter progresso
genético em qualquer população. Para melhor adequação do trinômio
supramencionado é importante ter-se uma definição dos termos que o compõem,
assim, o genótipo deve ser entendido como sendo o tipo de animal a ser
utilizado e a sua raça ou grupo genético. Com respeito ao ambiente, é
importante considerar não só os aspectos climatológicos e de solo, mas também
aqueles relacionados com elementos socioeconômicos e culturais incluindo
capacidade de mão-de-obra, infra-estrutura existentes e outros. O mercado, além
do item preço, deve englobar os aspectos referentes à qualidade do produto
final, que no caso da carne, deve envolver os atributos organolépticos
intrínsecos, bem como a ausência de contaminação, sendo ainda, saudável e
adequada no tocante às características nutricionais. No quesito qualidade
organoléptica, maciez é um dos fatores mais importantes ao lado da suculência e
do sabor. Essa variável é influenciada por diversos fatores de manejo pré e
pós-abate, alimentação, idade e genética. Ademais, é cada vez mais importante
que essa carne seja resultado de uma cadeia produtiva socialmente justa e
correta com respeito aos aspectos ambientais. É importante ressaltar que as
regiões tropicais e subtropicais caracterizam-se pela presença de ecto e
endoparasitas e pela existência de altas temperaturas e altas radiações solares
associados à sazonalidade de produção forrageira. Isso, tem como conseqüência
baixos
níveis nutricionais
disponíveis para os bovinos e em grande estresse para esses animais,
especialmente, em determinadas épocas do ano. Esses fatores atuando em conjunto
ou isoladamente, contribuem para redução da produtividade (FRISH &
VERCOE, 1984; FRISH, 1987). Nessas condições, o Zebu, por ser adaptado, possui
maior capacidade para reproduzir e produzir. Como conseqüência, esses animais
apresentam menor potencial genético para características de importância
econômica tais como, taxa de crescimento, precocidade reprodutiva e carne
macia. As raças de origem européia, britânicas e continentais, por outro lado,
apesar de possuírem maior potencial genético para essas características, só as
expressam sob condições favoráveis de ambiente, ou seja, sob baixa infestação
parasitária e boas condições nutricionais. Essa dicotomia tem favorecido o
florescimento dos cruzamentos, uma vez que a combinação de alguma raça de
origem européia, adaptada ou não, com uma raça zebuína resulta, geralmente, em
animais com boa capacidade produtiva em ambientes tropicais. A adaptabilidade
se constitui em um atributo de fundamental importância para pecuária de corte
de regiões tropicais e subtropicais. Dentre as características que a compõem
podem-se destacar a resistência aos carrapatos, à mosca-dos-chifres e aos
helmintos, e a tolerância ao calor. Embora
grande parte do efeito desse
estresse possa ser minimizado com a utilização de tecnologias disponíveis, seu
controle está comumente associado a aumentos dos custos de produção. Além
disso, certas medidas de controle dos parasitas internos e externos requerem
uso, muitas vezes intensivo, de produtos químicos, os quais têm, cada vez mais,
se constituído em uma grande preocupação da sociedade, tanto pelos problemas de
possíveis resíduos na carne quanto pela contaminação do meio ambiente. Como
preocupação adicional pode-se mencionar a capacidade de resistência apresentada
por esses parasitas aos agentes químicos utilizados em seus controles. Dessa
forma, restam como possíveis soluções para equacionamento do binômio “adaptação-produtividade”
o desenvolvimento de vacinas e/ou o uso de cruzamentos. Nesse caso, esquemas de
cruzamento envolvendo raças zebuínas e raças européias adaptadas ou não, podem
trazer grandes contribuições ao sistema. Segundo EUCLIDES FILHO (1999), apesar
de o desenvolvimento de vacinas para o controle de parasitas de bovinos vir
alcançando relativo sucesso e as perspectivas colocadas pelo avanço constante
em novas biotecnologias possibilitar a antevisão de resultados ainda mais
promissores, seu uso, dado o grande número de parasitas a ser controlado,
deverá permanecer, ainda por muitos anos, restrito.
Nesse contexto, a busca de
solução por meio do uso de animais com alta resistência genética aos parasitas
e de alto potencial de produção surge como uma alternativa merecedora de
avaliação. Considerando-se que nenhuma raça combina superioridade para todas as características de
importância econômica, conforme ficou evidenciado pelos resultados de CUNDIFF
et al. (1993), a combinação mais de uma raça em cruzamentos com o objetivo de
desenvolver um grupo genético, explorar a heterose ou a complementaridade e/ou
ainda, combinar características economicamente importantes de diferentes raças
de modo a adequar o genótipo resultante ao ambiente e às exigências de mercado,
pode se constituir em uma das formas mais eficientes de se produzir carne.
Até muito recentemente, a
pecuária de corte brasileira tinha como objetivos quase que exclusivos, o
aumento do peso e do ganho de peso dos animais. Esses critérios de seleção
foram e vêm sendo responsáveis pela grande transformação no tamanho adulto que
hoje se observa, especialmente, na raça Nelore. Todavia, nesse momento em que eficiência
global do sistema de produção se transforma no objetivo maior de qualquer
empreendimento pecuário, outras características começam a assumir importância
maior. Nessa ótica, os estudos de melhoramento genético deveriam concentrar
esforços em características capazes de promover as mudanças desejadas de modo a
atender à essas novas demandas que se constituem em exigências de
"mercado". Para que o trinômio "genótipo-ambiente-mercado"
seja bem equacionado, essa adequação do genótipo ao mercado, deve ser alcançada
de maneira a possibilitar o alinhamento do terceiro componente, qual seja, o
ambiente. Considerando-se esse cenário, três características podem ser
destacadas por merecerem atenção especial de técnicos e criadores. São elas a
precocidade reprodutiva, a precocidade de acabamento e o desempenho
nutricional.
Portanto, seus efeitos
diretos, suas interações e seus reflexos sobre a eficiência global da cadeia
produtiva da carne bovina devem ser estudados com maior profundidade. Como
critérios de seleção para as três características mencionadas merecem estudos mais
abrangentes os seguintes: Quanto à precocidade de acabamento, há necessidade de
estudos para melhor entendimento da curva de crescimento e, principalmente,
para identificar a possibilidade de mudança no seu padrão. Com relação à
precocidade reprodutiva, a idade à puberdade pode ser uma característica de
grande potencial. No tocante ao desempenho nutricional, sugere-se maiores
avaliações da eficiência bionutricional (EBN). Segundo EUCLIDES FILHO et al.
(2001) a EBN parece ser mais eficiente do que conversão alimentar para a
discriminação de animais com potenciais genéticos diferentes para eficiência de
utilização de alimentos. Nesse contexto, há necessidade de se desenvolver
avaliações amplas e para isso, é importante que sejam concentrados esforços
conjuntos de diversas áreas como melhoramento genético, nutrição animal,
reprodução animal, ciência da carne e fisiologia. Segundo EUCLIDES FILHO
(1998), tais esforços deveriam se concentrar em:
a) desenvolvimento de estudos
para melhor entendimento das relações entre características de peso, ganho de
peso, precocidades reprodutiva e de acabamento, e tamanho adulto e eficiência
bioeconômica do sistema de produção;
b) promoção de esforço
conjunto para o desenvolvimento de ações integradas entre o melhoramento genético
animal e outras áreas do conhecimento, especificamente, alimentação e nutrição,
reprodução, fisiologia e biologia molecular, para o desenvolvimento de estudos
envolvendo seleção genética e cruzamentos que possibilitem promover: i)
mudança da curva de
crescimento; ii) mudança no nível de ingestão de alimentos; iii) incremento da
taxa de maturidade; iv) redução de taxa metabólica ou na energia necessária
para mantença; v) mudança na capacidade de perdas calóricas; e vi) resistência
e/ou tolerância a parasitas e/ou doenças. Tais esforços deveriam ter seus
efeitos e suas interações com outras características economicamente importantes
avaliados, e ser auxiliados pelas novas biotécnicas, principalmente, no tocante
à identificação de marcadores genéticos associados a tais características; e c)
desenvolvimento de estudos que viabilizem: i) a produção de carne com baixo
teor de gordura, especialmente, alguns ácidos graxos saturados e colesterol;
ii) a capitalização dos benefícios potenciais de outros ácidos graxos como o
ácido linoléico conjugado (CLA); iii) o conhecimento mais profundo sobre esses
ácidos graxos, para compreender melhor seu metabolismo; iv) o conhecimento da
composição lipídica dos diversos genótipos animais; v) o conhecimento dos
efeitos do manejo alimentar sobre essas composições; e vi) a capitalização na
possibilidade de se terem os produtos chamados nutracêuticos.
A redução da idade de abate
e/ou de início da vida reprodutiva tem como conseqüência direta, a diminuição
do ciclo da pecuária. Isso reflete, positivamente, nos índices zootécnicos do
rebanho e resulta em melhoria de alguns parâmetros econômicos importantes como
evidenciam alguns trabalhos. Essa redução pode ser alcançada pela incorporação
de diferentes tecnologias que variam de uma simples estruturação de manejo até
o uso de pastejos rotacionados com utilização de altos níveis de adubação,
passando pela utilização de animais puros de alto potencial genético e/ou
cruzamentos. De acordo
com EUCLIDES FILHO &
CEZAR (1995), a redução da idade de abate de 42 meses para 26 meses, em um
sistema de produção com índices médios para taxa de desmama igual a 65%,
resultou em aumento de 25% na taxa de desfrute. Além disso, reduziu-se a
quantidade de animais em recria, o que possibilitou incremento de
aproximadamente 34% do número de fêmeas em reprodução, refletindo em maior
quantidade de bezerros produzidos (Tabela 4).
A redução da idade à primeira
cria, por sua vez, também trouxe contribuições efetivas na melhoria do
desempenho da atividade como pode ser verificado pelos resultados obtidos por
CEZAR e EUCLIDES FILHO (1996). Esses autores observaram que a redução da idade
ao primeiro parto de três para dois anos resultou em incremento da produção de
carcaça/ha/ano. Nesse sentido, podem, ainda, ser mencionados os resultados
obtidos por PÖTTER et al. (1998). Esses autores, utilizando-se de simulações,
avaliaram três sistemas que se diferenciavam basicamente pela idade à primeira
cria. Os três sistemas avaliados foram parição aos dois anos de idade, aos três
e aos quatro. Esse último sendo considerado como tradicional para a região Sul
do País. Segundo os autores, os sistemas intensivos foram superiores ao
tradicional e o sistema com concepção a um ano foi aquele
que resultou em maior produção
de quilogramas de peso vivo/hectare (aproximadamente, 114 kg versus 106 kg para
concepção aos dois anos de idade, e 60 kg para o tradicional), maior desfrute
(aproximadamente, 35% comparado, respectivamente, com 29% e 14%) e maior
eficiência de estoque (51%, 44% e 20%, respectivamente). Tais reduções podem
ser obtidas pelo uso de tecnologias envolvendo utilização de alternativas de
suplementação alimentar, combinadas ou não com confinamento, estratégias de
manejo de pastagens e uso de grupos genéticos, dentre outras. Na Tabela 5 pode
ser avaliada a possibilidade de se aumentar de 18% a 58% a produtividade de
pastagens tropicais pelo uso de adubação. Aumentos importantes de produtividade
também podem ser observados na Tabela 6. Nesse caso, ainda se verificou
incremento de, aproximadamente, 10% na taxa de lotação das pastagens de
Tanzânia quando se utilizou 100 kg de N por hectare.
Quanto à suplementação
alimentar durante o período seco, resultados de alguns trabalhos recentes têm
evidenciado que, além dos benefícios obtidos nos aspectos zootécnicos, essa
alternativa se constitui em uma opção bioeconomicamente viável. Dentre esses
resultados podem-se mencionar aqueles obtidos por EUCLIDES et al. (1998). Esses
autores avaliaram quatro alternativas de suplementação alimentar durante o
período seco que foram comparadas entre si e com um tratamento testemunha. Os
resultados são resumidos na Tabela 7, e indicaram que a suplementação alimentar
com concentrados, durante o período seco, foi capaz de reduzir a idade de abate
de cinco a treze meses, além de se mostrar economicamente viável, mesmo quando
combinada com confinamento. Outro aspecto importante ressaltado pelos autores
refere-se à redução de custos fixos e maior velocidade no giro de capital.
Apesar de essa alternativa ter
apresentado bons resultados bioeconômicos é importante
ter-se em mente que para maior
eficiência da estratégia, e consequentemente, maior rentabilidade, é
imprescindível o uso de animais de potencial genético compatível com a
alimentação que será fornecida. Além disso, os cuidados sanitários tornam-se
ainda mais importantes nessas condições. Faz-se necessário salientar ainda, que
a suplementação alimentar em pasto só será eficiente se houver disponibilidade
adequada de matéria seca nas pastagens. Caso contrário, os resultados esperados
não serão alcançados. Na Figura 2 podem ser
observados os desempenhos
desses animais nos diversos tratamentos de suplementação alimentar durante o
período seco. Os cinco os tratamentos utilizados foram: T1) testemunha, T2)
Suplementação alimentar durante a segunda seca na vida do animal, T3), suplementação
durante a primeira seca na vida do animal e confinamento na segunda, T4)
suplementação durante a primeira seca na vida do animal e, T5) suplementação
durante as duas primeiras secas na vida do animal. Como evidenciado na Tabela
4, esses desempenhos foram acompanhados de evidências que suportam a
viabilidade econômica da suplementação. Pode-se observar
que a suplementação alimentar
com concentrados. Outros aspectos importantes, ressaltado pelos autores,
referem-se à redução de custos fixos e à maior velocidade no giro de capital. A
influência do genótipo pode ser verificada nas tabelas 8 e 9 onde são
apresentados os desempenhos nutricionais de animais de diferentes grupos
genéticos. Verifica-se que os cruzamentos podem se
constituir em uma importante
opção para produção de carne bovina no país, podendo viabilizar a oferta de
carne de alta qualidade, especialmente, macia (Tabela 10). É importante
ressaltar ainda, que a participação de raças europeias adaptadas nesses
cruzamentos contribui para redução do uso de
químicos nos controles de
parasitas com conseqüente diminuição do risco de contaminação da carne e do
ambiente sem prejuízos do desempenho (Tabela 11).
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Precocidade reprodutiva e
precocidade de acabamento são importantes para redução do ciclo da pecuária,
para maior giro do capital e, consequentemente, para maior eficiência da
atividade. A pecuária moderna requer que o sistema de produção estabeleça seus
objetivos e metas em consonância com o ambiente e, consequentemente, com a
capacidade de inversões técnicas e financeiras, e com o mercado. Essa avaliação
integrada possibilita a análise de retorno econômico do investimento. Torna-se
importante que o sistema de produção esteja sintonizado e, de preferência integrado,
com a cadeia produtiva da carne bovina
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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