A busca de elementos biológicos e conhecimentos
apropriados
Artigo de Manoel Dantas Vilar Filho
Artigo de Manoel Dantas Vilar Filho
À GUISA DE INTRODUÇÃO:
A seca e a extravagância de seu destratamento
É muito desgastante ter de fazer as coisas apesar de e
não há graça nenhuma em se sentir num batalhão, com o passo desencontrado. Por
isso, falando sobre esses assuntos da Seca, corro o risco de ficar enfático ou
maçante. Se o for, me perdoem; é um exagero natural dos crentes, mesclando a
impaciência de quem resiste ao desencanto. Sei que mantenho, lá por dentro, a
humildade dos apaixonados e que, enfim, devo ter os defeitos e as virtudes da
Raça a que pertenço: a dos nordestinos temperados na teimosia contra a
dificuldade, escorados na fidelidade a si mesmos e ao seu mundo cheio de
despojamentos.
O que aprendi foi em alguns livros e através de
continuada observação, na reflexão e na ação dedicadas exclusivamente ao Cariri
das secas, onde a dimensão do real aniquila qualquer frivolidade, até por cima
do sofrimento sem medida e sem consolo - além da fé - do seu povo.
Vou escrever como quem tenta contar de experiência
vivida, pensando em acrescer alguma informação a outro que, como eu, até por
lealdade às suas raízes, queira envolver o tempo da mente e da carcaça, com
esse mundo áspero, bonito, possível e mal tratado da zona seca. Daí, talvez, o
tom pessoal mais acentuado de algum trecho, sobretudo quando não consigo
esconder travos de rigor e do pecado da ira, que, por mais que não quisesse,
foram aderindo à minha expectativa. Coisa de convertido em monomaníaco, que procura
se compensar dessa condição, se valendo da cortesia da clareza e da vantagem de
não atropelar a mania de outros.
Devo chamar esse texto de sumário das veredas - longas e
cheias de voltas, como o texto - por onde fui me aconselhando, nesses trinta e
tantos anos, desde que larguei as atividades urbanas de Engenharia e
Universidade e assumi, por morte desavisada do Pai, em tempo e empenho
integrais, o cuidado da Fazenda, sem considerar isso uma condenação. Nessa
contramão do roteiro clássico da migração dos nordestinos, desenvolvi com o
semi-árido uma relação intensa, funda e inevitável, e, tanto melhore a nitidez
dos caminhos, cresce uma forma de tristeza, ao digerir o contraste entre o
viável de fazer e o que se faz, sendo a lógica, como é, a ética do intelecto.
Especialistas classificam as Secas em meteorológicas -
periódicas e típicas de cada região,
hidrológicas - baixas precipitações
eventuais em qualquer clima e sócio-econômicas - resultantes da associação
entre perda de bens de produção e qualquer das duas anteriores.
A Seca é uma característica normal e recorrente do Clima, diferindo de outros riscos naturais por sua lenta maturação, sem a ostensividade repentina das enchentes ou dos terremotos. |
Aqui, ainda lhe tratam como uma espécie de azar seu de um
pedaço do Brasil, onde persistentes fatalistas teimam em morar e para quem,
tecnocratas e políticos, seduzidos por uma posição intelectual mais fácil e de
fazer mais simples, se limitam a masturbar-se na molhação artificial da terra
para pensar em produção, indiferentes ao conflito entre o mundo real e esse
comodismo do cérebro. Ainda não resolveram o problema de áqua para beber o uso
primordial e sem sucedâneo que água tem e que é de solução sabida e accessível.
A intempestividade das chuvas do NE e seu regime
distributivo, caracterizam uma região de clima singular, caprichoso, não
compatível com equações de 1° grau na sua abordagem e, por conseqüência, com
plantas e animais que sejam lineares nas suas condições para crescer e
produzir. E nem com gente que tenha como baliza de pensamento, um cartesianismo
derivado de climas regulares e coisas mansas.
.Um Ensaio estatístico desenvolvido no CTA (Carlos
Girardi e Luís Teixeira) em 1978, evidenciou dois tipos básicos de Secas no NE,
além dos oito ou nove meses sem chover, normais, de cada ano: um período
radical, isolado (ciclo de 13 anos), inserido num tempo relativamente chuvoso
(1866, 1915, 1942 e, depois, 1993),
e outro, um encadeamento de anos brabos - as, até então, chamadas Grandes Secas - em intervalos aproximados de 26 anos, onde dois são particularmente ruins e o número do pior grava na lembrança regional a dureza do conjunto. Os ciclos foram: 1873/78, com secas máximas em 1877 e 1878; o segundo em 1900/07, com as maiores em 1900 e 1907; um outro 1927/33, com o pico em 1931 e 1932 e o seguinte, 1951/58, com o pior em 1953 e 1958. O último, o imediatamente previsto pelo CTA, foi de 1979 a 1983, com as maiores secas em 1981 e 1983. Há poucos dias, incluindo os dados de 1978 até 2000 e afinando o tratamento matemático da nova série, demarcaram um novo período mínimo a partir de 2003.
e outro, um encadeamento de anos brabos - as, até então, chamadas Grandes Secas - em intervalos aproximados de 26 anos, onde dois são particularmente ruins e o número do pior grava na lembrança regional a dureza do conjunto. Os ciclos foram: 1873/78, com secas máximas em 1877 e 1878; o segundo em 1900/07, com as maiores em 1900 e 1907; um outro 1927/33, com o pico em 1931 e 1932 e o seguinte, 1951/58, com o pior em 1953 e 1958. O último, o imediatamente previsto pelo CTA, foi de 1979 a 1983, com as maiores secas em 1981 e 1983. Há poucos dias, incluindo os dados de 1978 até 2000 e afinando o tratamento matemático da nova série, demarcaram um novo período mínimo a partir de 2003.
Em Taperoá, as medições desde 1911, indicam: média anual de 584 mm, mínimo de 97 e máximo de 2030 mm |
.A leitura política do par de curvas (desenhos e outros
comentários anexos) que desenham a análise e a projeção da série estatística
(1849-1978) do CTA, revela curiosas circunstâncias e constatações de muita
valia para se entender o que já houve e porque continua sem haver providências
sistemáticas - como a Seca é - para acudir, efetivamente, o problema e o povo:
.Cada estio maior é quem gerou, depois de acontecido,
alguma iniciativa de Governo em relação às secas, sempre em tom peremptório e
pretensão definitiva;
.Essa formulação espasmódica é deslembrada ou esvaziada,
assim que volta a chover, até que nova seca venha emocionalizar as conversas,
quando se improvisa outra, sob a mesma retórica, a mesma inconsistência e a
mesma transitoriedade, ainda hoje;
.A visão hidraulicista (água como fator de produção
faltante/excludente) da
pobreza nordestina, permeou todas elas, à exceção da última - a SUDENE em 1959 - que, por sua vez, já não podia mais nada no ciclo seguinte (1979 - 83) o qual, pioneiramente, não gerou nenhuma proposta, mesmo que fosse para ser, em seguida desprezada, como nos outros;
pobreza nordestina, permeou todas elas, à exceção da última - a SUDENE em 1959 - que, por sua vez, já não podia mais nada no ciclo seguinte (1979 - 83) o qual, pioneiramente, não gerou nenhuma proposta, mesmo que fosse para ser, em seguida desprezada, como nos outros;
.A presença de algum nordestino assumido em função
saliente no longínquo Governo Central foi, coincidentemente, decisiva para que
se tentasse alguma coisa. A iniciativa veio sempre de lá. Nenhum governante
nordestino incluiu, até hoje, nos seus planos de mandato, se ocupar
assiduamente com a Seca, apesar da assiduidade com que ela ocorre, sendo, a
partir desse ensaio e da evolução posterior do conhecimento (El Nino, La Nina;
oscilação de temperaturas do Atlântico, etc); até, previsíveis;
.No horizonte da tecnologia já disponível, os anos
isolados são malvados, mas não matam. As Grandes Secas - hoje Ciclos - é que
cortam fundo, desorganizam estruturas de produção incipientes e vão protelando
à geração seguinte o papel de encontrar caminhos efetivos de viver em sintonia
com a Natureza desse mundo;
.O intervalo de 26 anos seria um prazo razoável, porque
daria um tempo. Por outro lado e diferentemente da neve regular do Hemisfério
Norte, é um complicador do processo de análise, memória e fixação de tecnologia
e procedimentos, apropriados para os 100 milhões de hectares do semi-árido. A
maioria dos nordestinos que não migraram como alternativa, vive de forma
adulta, apenas um desses ciclos e a compreensão da zona seca só se completa no
espírito e na coragem, depois que se atravessa um pedaço desses. É muito ruim
ficar ruminando um próximo....sozinho...., olhando para os descompromissos e a
anemia institucional de mecanismos de apoio, desde o ensino/pesquisa até o
crédito rural, na outra ponta. Um segundo tombo, pegará quem eventualmente o
viva, quando já é menor o ânimo e a vontade.... é se ocupar com os netos. E as
pessoas que vão informar e tomar as decisões, lá do litoral molhado ou, hoje,
de Brasília, são, normalmente, outras;
.Resta, para quem alcançou alguma compreensão e vai ter
de encarar a danação seguinte, uma certa angústia, a perplexidade de admitir,
ad nausea, que tudo, essencialmente, vai se fazer como sempre, vai ser um
rabisco da mesma caricatura de atitude e ação:
.A tentativa simplória de salvação biológica das pessoas
("frentes de emergência" ou "frentes de trabalho" ou
"frentes produtivas") confundindo-se ação humanitária com
solidariedade, enquanto se relegam os rebanhos à inanição progressiva,
robustecendo um equívoco secular.
.A frustração das lavouras temporárias, os simulacros de
trabalho e distribuição de óbolos, que conformam cada vez mais os
"flagelados", com a pobreza e o menosprezo político;
.A seleção de quem fica aqui continuando a ser feita pelo
êxodo e uma nova geração de teimosos devendo recomeçar praticamente tudo;
"Alguns avistam a Seca, poucos enxergam a Seca" |
.Como bem disse Ariano Suassuna, na Palestra abrindo o
"Grito da Seca" (Lages - RN, 1998) dirigindo-se aos Ministros,
Técnicos e demais Autoridades presentes, junto a 3 mil produtores do Sertão do
Cabugí: " ...alguns avistam a Seca, poucos enxergam a Seca".
NOTAS, REFLEXÕES, ANALOGIAS -Tentativa de articulação.
.Não temos 1\3 do tempo sob friagens radicais e neves
espessas. A fotossíntese exuberante do mundo tropical - mesmo o menos chovido -
aponta à prevalência das energias renováveis, para máquinas e animais, dando
razão ao Químico nordestino Sebastião Simões Filho, quando escreveu "não seremos
a Civilização dos hidrocarbonetos fósseis, mas a Civilização dos hidratos de
carbono". Comida e energia são, sabidamente, os dois grandes
"gargalos" da vida possível nesse planeta.
.O Imperador europeu Carlos V (1552), falou e disse:
"... a coisa mais importante depois da criação do mundo foi a descoberta
das Índias." No "s" desse plural, suponho que estava o Brasil,
que, bem depois, já se juntou com a Índia, (grupo dos Países "não
alinhados"), onde foi nascer gado Guzerá, Ghandi, e capim Buffel. Há quem
diga que um legítimo 1° mundo, começaria por aí.....
A construção da nacionalidade brasileira muito deveu a Frei Caneca (Confederação do Equador), a Antônio Conselheiro (guerra de Canudos) e a José Pereira (guerrilha de Princesa-PB). |
.A construção da nacionalidade brasileira muito deveu a
Frei Caneca (Confederação do Equador), a Antônio Conselheiro (guerra de
Canudos) e a José Pereira (guerrilha de Princesa-PB), eventos nordestinos,
certamente fixados no inconsciente coletivo, que poderão contribuir para a
resistência ao internacionalismo caricatural e à grotesca pasteurização
"globalizada " da Cultura e da Economia do Brasil recente e
fundamentar o caminho - tendo o Brasil como referência para o Brasil e a
própria semi-aridez do NE para o NE - da harmonia interna e da prosperidade
desse grande País, como um todo.
.O Nordeste gerou receitas de exportação que, através de
intencionais ajustes de política cambial, ajudaram pesadamente no financiamento
da industrialização do Sudeste, fato econômico básico para conceituar a priorização
política dos desequilíbrios regionais.
.O estadista paraibano João Suassuna (1926), culto e
amante do sertão, alertava numa Mensagem de Governo que ". ..somos um povo
sugestionado pela política inferior dos decalques. .." .
". ..somos um povo
sugestionado pela política inferior dos decalques. .." |
.A ação humanitária é uma coisa bonita e muitas vezes é
quem ganha corpo quando se acentuam as desigualdades e a exclusão, lançando um
severo olhar crítico sobre meios e ações ineficazes. Mas não é a mesma coisa
que solidariedade. Solidariedade é transformar em emprego a ajuda aos
desempregados. O altivo e popular baião de Luiz Gonzaga expressa bem isso,
reclamando da esmola a um homem sadio, matando-o de vergonha e vício.
.Existe um triste conflito entre as realidades da zona
seca e os mecanismos institucionais de lidar com elas, desde o ensino /
pesquisa até a política de produção e assistência.
.O Nordeste é seco. O inverno é um pequeno intervalo de
tempo entre dois estios, que, às vezes, se emendam. A grande vocação das terras
secas é a Pecuária. Por mais óbvia que seja, quase sempre, é preciso repetir
uma mesma idéia até cansar. Há uma dramática não decisão em relação à seca do
NE. Os moradores do semi-árido são credores do Brasil.
Há uma dramática não decisão em relação à seca do NE. Os moradores do semi-árido são credores do Brasil. |
.A Sudene (1961), buscando "vocações verdadeiras e
formar quadros adequados", ofereceu Bolsas de Estudo, desde o 1° ano do
Curso Científico até o final do Superior, exclusivamente para quem quisesse
fazer Agronomia ou Veterinária, programa extinto após sua pulverização, entre
as distorções que ela sofreu. Pelo menos as diferenças regionais de nosso
Grande País, estavam, também aí, implicitamente consideradas.
O Brasil montou o sistema de Extensão Rural, trinta anos antes da estrutura de Pesquisa Agropecuária (1975). O primeiro, por decalque de modelo exógeno. |
.Discutindo a proximidade do "food power"
prevalecer no concerto das grandes potências do mundo, num documento enfático
da OCDE (1983) , está escrito: " ...entre os tesouros mundiais, destacamos
o espaço agriculturável do Brasil. .." e, mais, " ..que poderá
produzir a carne mais barata do mundo, porque detém o milagre mundial do boi de
fotossíntese ..."A conversa deles, a mim, cheira historicamente, a
exploração, egoísmo, imposição, impiedade social ...ou, para usar equivalentes
atuais, a "competitividade" e "mercado globalizado" .
.Uma publicação da UNESCO ressalta " ...a sugestiva
correlação entre o desenvolvimento das principais civilizações da antiguidade e
as zonas áridas ou semi-áridas", comentando " ...a estranha
fascinação que exercem as terras secas sobre o Homem". Essa condição foi,
certamente, considerada pelo o Cristo, num simbolismo revelador, indo nascer no
Cariri de Nazaré, em vez de na Babilônia artificial (a mesma do Apocalipse), ou
na Mesopotâmia, das "civilizações do regadio", que sumiram na poeira
do tempo.
.Entre os trópicos não há desertos plenos; só além deles,
onde o frio queima, pro norte e
pro sul. O semi-árido brasileiro é a única
região seca inter-tropical no mundo, com a maior precipitação total e com
regime não regular de chuva.
... Cristo, num simbolismo revelador, indo nascer no Cariri de Nazaré... |
"Mais grave é o equívoco do homem, enganado pela
generosidade dos anos regulares, tentar desenvolver uma economia dependente de
água". "A variedade de climas é um fator importante, na estratégia
global de um país. O semi-árido irregular pode e deve ser aproveitado como ele
é." diz Sitônio Pinto, da estirpe sertaneja do Território livre de
Princesa, em seu recente e rico livro, "Dom Sertão, Dona Seca - Princípios
de Geogerência ".
.A Bíblia - elo entre o Homem e a Divindade - incorpora,
em certo sentido, a crônica da vida de um povo no deserto. Fala em cabra 130
vezes e as ovelhas permeiam seus textos. Não fala em "canteirinho de
tomate irrigado" e ensina a Vida, quando nada, no horizonte de uma pobreza
honrada.
A Bíblia - elo entre o Homem e a Divindade - incorpora, em certo sentido, a crônica da vida de um povo no deserto. Fala em cabra 130 vezes e as ovelhas permeiam seus textos. |
.Na Introdução, ao livro do Ing° Ricardo Ayerza -(El
Buffel Grass - Utilidad y Manejo de uma Promisória Gramínea -1981) : "O
homem, em sua ignorância, tem avançado sobre as terras áridas e semi-áridas,
utilizando, a miúdo, conceitos e técnicas aplicáveis somente em zonas que dispõem
de adequadas quantidades de água de chuva para os cultivos. ...Assim, o homem
utilizou o arado, indiscriminadamente. Assim, o homem empregou el riego
indiscriminadamente. Se, mediante a utilização dessa gramínea, originária de
campos tropicais secos, se incorporarem eficientemente terras marginais à
produção animal, sem ter que recorrer à custosa rega artificial e nem à
desastrosa aradura anual, o propósito desse livro se cumprirá".
.Avaliação de especialistas mais sóbrios, considerando
solo e água, estima o uso da terra do semi-árido na proporção de:
Área irrigável -1,5%
Área irrigável -1,5%
Lavoura de
sequeiro -4,8%
Caatinga (Pecuária) -93,7%
.Tecnologia e procedimentos para a pequena parte irrigável, são bem dominados e seguem, acompanhando a evolução natural de equipamentos, produzindo frutas diferenciadas, dependentes apenas de meios financeiros maiores que o sistema requer e de técnicas de manipulação de perecíveis.
.Tecnologia e procedimentos para a pequena parte irrigável, são bem dominados e seguem, acompanhando a evolução natural de equipamentos, produzindo frutas diferenciadas, dependentes apenas de meios financeiros maiores que o sistema requer e de técnicas de manipulação de perecíveis.
.A lavoura no sequeiro, classicamente, algodão, milho e
feijão, isolados ou em consórcio, tem sido a base oficial da política (??) de
produção rural do Nordeste seco. A expansão da Petroquímica ( 1960/70) e a
colocação do Bicudo ( 1984/85), desnudaram radicalmente a dimensão lotérica
dessa alternativa. As lavouras xerófilas sugeridas por Guimarães Duque
continuam, apenas, uma referência botânica da flora regional.
...os sertanejos do campo dizem: "a gente só se confia mesmo, em vaca, cabra ou ovelha; o resto. ...Deus é quem sabe. " |
.Guimarães Duque, em Conferência feita em 1972, para
Ministros, Estado Maior das Forças Armadas e Governadores nordestinos, na CNI:
"As secas parciais que surgem, provocam levas e levas de flagelados. A
causa é que 3, 4 ou 5 milhões de famílias, lá na Caatinga, continuam a plantar
milho, feijão e arroz, em regiões naturais sujeitas às secas. E esse mal
continuará enquanto não for cortada a causa, enquanto adotarmos uma lavoura
anti-ecológica, contra a Natureza". ".....A filosofia antiga que predominava,
era aquela de molhar o Nordeste, modificar o ambiente para o homem se adaptar a
ele. A história, a vida, os trabalhos, os estudos, mostraram o que é preciso: é
preparar o homem para ele bem se adaptar àquela região como ela é, e fazer ali
uma civilização com as cores do ambiente".
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.O professor Jorge Molina, num livro abrangente sobre o
Chaco, "Una nueva conquista deI desierto - incorporacion de tierras
marginales ao proceso productivo argentino" (1980) , afirma: "....de
acordo com nossa experiência, quanto mais seca a região, sempre que se disponha
de água e pasto, tanto maior é a produção pecuária...;" e "... há que
redescobrir a produção de carne mediante a utilização de pastos e não de grãos
de cereais".
.Do também argentino Dr. Norberto Hás, prefaciando o
livro técnico do Ingº Ricardo Ayerza, já citado: ".....o Buffel Grass
...se difundindo em diversas regiões áridas do mundo, permite incorporar um
aproveitamento ganadero rentável, onde nunca fora considerado possível fazê-lo.
Parcelas desse pasto são capazes de alimentar mais de uma cabeça por
hectare/ano, produzindo mais de 100 kg de carne, em campos onde se requeriam 10
a 20 hectares para sustentar uma cabeça, antes dessa incorporação...."
"...convertendo vastos semidesertos em regiões conquistadas para a
civilização ...". Nos EE.UU, o Departamento de Conservação de Solos
promoveu (1946) intensas introduções desse capim, além do que já existia no
Texas, como forragem.
PALMA foi trazida para o NE por Delmiro Gouveia no século 19 e pelos Lundgren, para Serra Talhada, na seca de 1932, nenhum dos dois tendo o menor interesse por vacas ou cabras. |
Nos supermercados de Nova York, São Paulo e,
recentemente, num de Campina Grande, são oferecidos, importados da Itália, da
Espanha ou dos EE.UU. Seus preços dobram na entressafra de lá, que coincide com
a frutificação aqui, graças ao diferencial de temperatura que a palma exige
para soltar os frutos. Como laranja ou limão, alface ou repolho, ou qualquer
planta de comer, há tipos vários, como frutífera ou como verdura.
Em vez de preto funebroso, mensagem negativa e palavra
inventada, no símbolo nacional da bandeira do México, consta uma bela folha de
palma. Como forrageira, tem a mesma digestibilidade que silagem de milho, a
comida de vaca granfina dos climas nevados e há variedades compatíveis com uma
zona seca de baixa altitude e maior calor. Faltou estudarem palma corretamente
e construir, também, com ela, uma fruticultura nos tabuleiros do Cariri,
prescindindo de canais de irrigação e bombeamento de água.
.Os brasileiros, munidos de pura intuição, foram buscar,
pioneiramente, na Ásia Tropical, os bovinos que careciam para regenerar o
contingente europeu da fase inicial, gerando, a partir de 6 mil e poucos
exemplares, a relação de um bovino por habitante -o que poucos conseguiram -
num universo de 160 milhões de cabeças, onde predominam fortemente os zebuínos
de carne magra e calor dissipado, sobre os milhões de Bos taurus que
continuamos importando "do reino", talvez por psicose colonial
renitente, ou enganoso conceito de produtividade .
.Em 1903 os australianos vieram buscar no Nordeste seco,
as leguminosas (estilosantes, feijão de rolinha e, depois, jureminha) para
agregar aos capins perenes que colheram (1870 !!) na Índia e no norte da
África, compondo o alicerce de sustentação de sua eficiente Pecuária.
Hidrologicamente são mais pobres do que nós.
.Foi no NE que ocorreu a formação das únicas raças
nacionais de ovelhas, as rústicas deslanadas, de pele e prolificidade
superlativas, hoje intensamente procuradas para povoar os campos do Sudeste e
do Norte onde não haja geadas.
.Ao abandono tecno-oficial completo, inclusive pelos
fazendeiros maiores -talvez herança colonial somada à defesa das lotéricas
lavouras temporárias - 90% das cabras brasileiras se fixaram por si, entre a
Bahia e o Piauí secos, como que ensinando que ali era o seu lugar e era bom. A
seleção natural, negativa do ponto de vista da função leiteira, foi
geneticamente valiosa para rusticidade, qualidade da pele e eficiência
reprodutiva.
.O professor e pesquisador sul-africano Jan C. Bonsma em
conferência no Brasil {1982), sugeriu: "Sejam impiedosos no descarte
seletivo para o melhoramento do gado, quanto a: 1°) adaptabilidade às condições
locais; 2°) fertilidade; 3°) precocidade; 4°) conversão de alimentos; 5°)
docilidade...
Cada região do mundo tem suas raças animais bem definidas. De vacas, cavalos, cabras, ovelhas e, até, galinhas. Basta ver que os nomes dessas raças incluem, sempre, uma referência ao lugar |
.Do mesmo livro de Jorge Molina: "...Estamos na
presença de uma mudança fundamental em toda a criação de bovinos da região. A
introdução de sangue Zebu (levado do Brasil) pode ser o fator mais importante
para se ter pleno êxito no Gran Chaco".
.Em palestra de técnico brilhante, na XXVIII Reunião
Anual da S.B.Z. (1991) consta: "... a energia requerida pelo gado indiano
é 20% menor que a requerida para raças de Bos Taurus" e, depois "...
os requerimentos de proteína bruta para manter vacas, são 28% menores em Bos
Indicus, em comparação com Bos Taurus ...".
.Ainda do livro sobre o Chaco argentino: "existe um
Relatório muito importante, do ano de 1956, que se refere às possibilidades
concretas de utilização agropecuária da região semi-árida do Chaco ...que não
foi a tradicional exposição de lugares comuns da burocracia nacional ou
internacional. ...A Cultura Santiagueña; desde suas origens, na conquista
espanhola, esteve vinculada ao regadio. As enormes extensões do sequeiro,
haviam recebido muito pouca atenção dos distintos governos. .." .
" ...Estamos em condições de afirmar que todo plano
puramente agrícola nestas regiões, está, de antemão, condenado ao fracasso. O
risco das colheitas é demasiado grande para ser a base da exploração. Há que
ter em conta que todas as colonizações anteriormente ensaiadas, se baseavam em
lavouras de forma quase exclusiva. ...A província de Santiago deI Estero lançou
a primeira colonização ganadera do País, superando o velho conceito da
colonização puramente agrícola. O Gran Chaco GuaIamba, pode e deve ser
transformado na carniceria del mundo".
.No México, um programa de fomento financia a formação
anual de 200 mil hectares de capim BuffeI, já tendo mais de 1 milhão de
hectares só no Estado de Sonora. No Estado de Queensland - Austrália há mais de
2 milhões de hectares, parcialmente consorciados com leguminosas nordestinas e
um outro capim perene, UrocIoa, trazido da África Seca.
.O Brasil, fisiograficamente tão diverso, é um país onde
a definição das regras do Crédito Rural nunca foi uma atribuição do seu
Ministério da Agricultura. E como Política Agrícola, pela sazonal idade
intrínseca dessa atividade complexa, eleva o financiamento rural a um
"insumo de produção", do mesmo quilate que a chuva, o fertilizante e
o melhoramento de sementais, tem nos restado trabalhar à mercê do arbítrio de
burocratas urbanóides, que nem sequer entraram numa Fazenda para saber como
funciona.
O Código de Hamurabi no capítulo sobre Crédito Rural, pune a usura e proíbe o financismo, impondo, entre outras coisas, a equivalência-produto no resgate das contas. |
.Não há agropecuária sem crédito rural em nenhum lugar do
mundo. E os desvios naturais dos climas, obrigam financiamentos especiais,
emergenciais, operados temporaneamente, no interesse de produtores e....de quem
empresta. Ouço muito que "o problema não é só crédito". Aprendi que
"Política Agrícola" é, essencialmente, Crédito Rural. Além daí o que
parece haver é muito academicismo, é tecnocrata maniqueísta subvertendo
prioridades e o desenvolvimento, por alienação, da arte de explicar porque não
se faz. É muito penoso aturar, quase sempre, a erudição da insignificância e a
exaltação do secundário.
.Em 1920/21, no curso da grande experiência geral de
socialização dos meios de produção, a terra de propriedade estatal como tudo o
mais, e repartida com os agricultores russos (92% da população vivia no campo)
, a primeira reivindicação que faziam a Lenine nas reuniões intensivas de
proselitismo e persuasão, era. ...crédito rural diferenciado.
.Além da lei de 1958 e da Resolução 147 do Banco Central,
de 1970, houve outros espasmos, tentando estabelecer uma Política parcial de
Financiamentos rurais, para o NE: em 1974, o Polonordeste; em 1975, o Projeto
Sertanejo; em 1979, o Prohidro + Crédito de Emergência; em 1984, o "Novo
Polonordeste"; em 1985, a mandado do Banco Mundial, o PAPP; em 1986, o
"Projeto São Vicente"; em 1987, o "Projeto Padre Cícero" e
na Constituição de 1988, foi recriado o "Fundo das Secas" (os mesmos
3%, só que rateados com o Norte e o Centro-Oeste) , com o nome de Fundo
Constitucional de Investimentos - FNE, e a obrigatoriedade de aplicação no
semi-árido, de metade do que lhe couber .
Todos esses Programas foram muito efêmeros, vitimados por
enormes distorções e descontinuidades administrativas, e o último opera sob
regras alienadas e anti-éticas do BNB, autofagicamente contraposto ao objetivo
para o qual foi concebido e criado.
.Nos países desenvolvidos já não se discute mais Crédito
Rural - é assunto resolvido lá nos começos. Técnicos e Governantes já se ocupam
é com a expansão do tipo e do volume de SUBSÍDIOS da Política Agrícola que
praticam. Os daqui nos acusam de tropicais ineficientes e cobram, como solução,
aprender a disputar a cru e sob todos os tributos, o "mercado". Para
os refrões das prioridades proclamadas ("capacitação dos produtores",
"comercialização pela internete", "competitividade",
"primeiro mundo", "mercado externo",
.A "ekipeconômica " brasileira, desprezando um contingente de 170 milhões de bocas como motivação, manda o Presidente Fernando Henrique esbravejar - e ele foi - na televisão contra esses procedimentos de fora. Eles até poderão reduzir algum subsídio às exportações, trocando-os pelos "subsídios transferidos" de quem importa comida de lá, como tem feito o Brasil recente, à custa do empobrecimento agudo dos agricultores brasileiros. Para a produção interna, os subsídios são crescentes e já cobrem, até, "riscos de mercado". E têm consciência de que a produção agropecuária responde, direta e indiretamente, pela grande parte dos empregos em suas respectivas Economias .
.A "ekipeconômica " brasileira, desprezando um contingente de 170 milhões de bocas como motivação, manda o Presidente Fernando Henrique esbravejar - e ele foi - na televisão contra esses procedimentos de fora. Eles até poderão reduzir algum subsídio às exportações, trocando-os pelos "subsídios transferidos" de quem importa comida de lá, como tem feito o Brasil recente, à custa do empobrecimento agudo dos agricultores brasileiros. Para a produção interna, os subsídios são crescentes e já cobrem, até, "riscos de mercado". E têm consciência de que a produção agropecuária responde, direta e indiretamente, pela grande parte dos empregos em suas respectivas Economias .
.Um estudo do BNDES calculou a geração de empregos com um
investimento de 1 milhão de reais: doze (12) vagas na indústria contra duzentos
e noventa e sete (297) no campo. O manejo intensificado dos gados, só ele, mais
do que dobra a necessidade de pessoal, por exemplo, quando a seca exacerba;
enquanto rurícolas se vêem obrigados a alistar-se nas "Frentes",
abandonando sua moradia, seu ambiente de trabalho, sua ocupação positiva do
tempo, depois que seus animais de cria também terem sido dizimados por fome, ou
pela venda a qualquer preço antes da morte, para reposição. ..."quando
Deus quiser”.
.Como referência quantitativa, posso contar da seca cruel
de 1993: ao final, já "financiado" pela generosidade de parentes e
amigos, cheguei a ocupar na Fazenda 232 pessoas, acolhidas e pagas muito além
da condição das, então, Frentes de Trabalho, e consegui ampliar semeaduras e
preservar os gados, trazendo bagaço de cana do litoral. Na de 1998, exaurido de
outros meios e sob o receio de novo constrangimento, reduzi tudo ao mínimo
incompressível, para manter somente 28. No ano seguinte, nasceram apenas um terço
das crias que deveriam ter nascido, enquanto as matrizes se recuperavam da
magreza a que foram condenadas. Vira uma bola de neve...
Sob o regime das liberal-sociológicas "Frentes
Produtivas", o rebanho dessa região, mal se refazendo da seca anterior,
restou reduzido a pouco mais de 10% do que havia antes. Filas de caminhões
traziam milho de Goiás e enchiam-se, na Feira de Campina Grande, de carcaças
caquéticas pagas a preço de cabritos, para o retorno.
.Existe uma enorme diferença entre aritmética financeira
de agiota e uma leitura legítima de Economia, para não excluir a preservação da
vida e do potencial produtivo de todo um povo que trabalha firme, numa região
natural de equações sinuosas e nem por isso, menos verdadeiras.
.Há importantes tarefas passíveis e necessárias de serem
feitas, no horizonte do trabalho rural da zona seca, apesar da menor chuva em
um ano, mantendo os sertanejos ocupados decentemente, respeitando sua dignidade
e reforçando condições adequadas de convivência com o estio futuro: plantio de
forrageiras perenes e dotadas de xerofilismo, manutenção de cercas e pastos já
formados, abertura de poços e cacimbões para garantir a água do uso sem
sucedâneo, etc. E, mais que tudo, o manejo dos rebanhos, que poderiam ser
mantidos produzindo e não apenas vivos, com um financiamento racional do que já
se sabe fazer, como acontece, prontamente, na Austrália, nos EE.UU e África do
Sul, para citar exemplos que sei, preservando economicamente a estrutura básica
da produção possível.
CRENÇAS E CONTAS
.Um País pode crescer com o aumento do seu PIB. Uma Nação
só cresce com um caráter, uma lealdade ao seu passado, uma luta pela sua
identidade. Uma expressão de Ariano Suassuna falando sobre Artes, bem completaria
essa afirmação, dizendo que só assim "o que vier de fora, em vez de uma
influência que nos descaracteriza e esmaga, passa a ser uma incorporação que
nos enriquece". A identidade e o caráter das plantas, dos bichos, do chão
da terra e a forma de trabalhar nele, pedem consideração análoga para que
possam prestar.
O "mercado" não irá nunca, evidentemente, cuidar de equilíbrios nacionais e, muito menos, se interessar por flagelados pelas secas nordestinas. |
A impressão atual é que revogaram esse quadro, que essa
cultura foi apagada da memória do Governo do Brasil e que o NE só existe a
partir da ênfase do jornal da TV Globo sobre o agravamento de suas restrições
físicas. O "mercado" não irá nunca, evidentemente, cuidar de equilíbrios
nacionais e, muito menos, se interessar por flagelados pelas secas nordestinas.
A intervenção do Estado é fundamental e indispensável na
gerência do processo de pensar e fazer, incorporando a perenidade aos
planejamentos, criando instituições que sobrevivam aos indivíduos, afinadas com
as realidades - boas e más - da região da seca.
.Guimarães Rosa pela boca de um personagem seu, afirma
que: "o sertão é uma longa espera", consolando-se com a alegação de
que ". ..coragem é matéria de outras praxes, é crer nos impossíveis"
e que "...se o sertão está dentro da gente, não estranha que o sertão
esteja em toda parte, que o sertão seja o mundo ...". Talvez devamos às
paixões as maiores vantagens do espírito; os pensamentos vindos do coração é
que nos ensinaram a
.Fazer complicado, muita gente sabe e, em larga medida, o
que falta é ter a audácia das coisas simples. A vida auto-sustentada é possível
aqui, de forma bastante e limpa, na chuva e na estiagem, a partir do trabalho
com elementos biológicos apropriados - dos reinos vegetal e animal -
compatíveis com o ambiente e portadores da genética do crescimento
compensatório que os harmoniza com a intermitência das chuvas. Do 3° reino,
algum resultado poderá vir pela exploração de minérios, onde houver; da água é
historicamente difícil e é pouca.
.O problema está no semi, do clima. A variação de leitura
que a semi-aridez permite, ora leva à desconsideração da primeira metade da
palavra e trazem camelos para o Ceará, ora a outra metade vira verdinha e
trazem capim Pangola da bacia de um rio perene do extremo sul e vacas
holandesas pro Piauí ou pro Seridó. A umidade remanescente que havia e a areia
do Saara que não tinha, mataram os camelos de pneumonia e feias feridas nos
cascos. As outras, sufocadas de sol, desregulam a reprodução e mugem longamente
- como de banzo - com saudades do Canadá ou da Alemanha, mesmo sob ventiladores
e outros artifícios de revogação do clima.
.Trabalhar a terra no semi-árido, só com plantas perenes,
de preferência nativas da região e delas há muitas. Só a germinação/crescimento
inicial das sementes, entre a primeira chuva da estação (de quem não se sabe o
dia) e a variação da Segunda (idem), reduz à metade a chance ou o tamanho da
colheita. Ter de repetir a semeadura uma, duas, três vezes, onde o inverno é
tão curto, é uma impropriedade. Jogar essa loteria uma vez, com os vegetais
permanentes, já é muito. A necessidade de re-semeadura, é uma constante anual
nas lavourinhas que a "Agronomia " oficializada consagra aos
produtores. A "Zootecnia", por sua vez, não faz menos: sob um pseudo
cosmopolitismo dos animais e com um deslumbre pobre diante do
"P.O.I". de produções aritmeticamente avaliadas, esquece que a
Natureza mantém sábios caprichos de relativismo e equilíbrio, e não se cansa de
pedir a Hemisférios inversos, vacas, cabras, ovelhas e frangos, com os quais,
vendendo equívoco e alienação a criadores, espertos agentes dessa anomalia,
ganham descuidados dinheiros, em cada modismo lançado ou relançado.
.O Brasil, com o Nordeste seco bem incluído tem a vocação
e o destino de ser, também, a grande Nação agropecuária, sobretudo pecuária, do
mundo. Basta neutralizar mentes coloniais e ter a dignidade de estabelecer uma
política pública de financiamentos rurais, calcada em parâmetros tecnicamente
corretos e ajustados para cada região fisiográfica. Há
que exumar Hamurabi e
aplicar seus códigos aos híbridos de agiotagem e pobreza de espírito que cuidam
(??) do Crédito Rural no País.
O Brasil, com o Nordeste seco bem incluído tem a vocação e o destino de ser, também, a grande Nação agropecuária, sobretudo pecuária, do mundo. |
.A leitura crítica do passado, buscando o benefício da
sabedoria retrospectiva, escutando os que viram e digerindo o que ia vendo, num
processo pouco linear e muitas vezes penoso de errar e corrigir, no vai e vem
das veredas que se abriam, me permitiram sobreviver aqui até agora e algumas
resultantes que anoto adiante, sedimentaram a minha convicção sobre um caminho
que possibilita acalentar o sonho de um dia saber do Sertão seco convertido,
também do ponto de vista da produção e da prosperidade, num belo pedaço do
Brasil. Sem precisar vender a alma ao diabo, até pela fidelidade às raízes mais
fundas da condição e da cultura desse meu mundo.
.Equipei-me de tratores e arados e multipliquei por cinco
a área dos roçados, embora sem descuidar as estórias do Pai de que era
fundamental preservar o gado do pagamento dos financiamentos de custeio
agrícola, que por isso, ele só tomava (Banco do Brasil), equivalentes à metade
da área cultivada.
.Logo pude aprender que quanto maior o roçado aqui,
maiores o risco e o desassossego, e entendi que aquele recuo do capital de giro
à meia lavoura, evitava o crédito rural funcionando ao contrário, ajudando a
Seca a dizimar rebanhos, pela via de uma plantação definitivamente ineficiente,
como vi acontecer com inúmeros produtores, sobretudo os de menor escala, num
processo cruel que terminava na venda de suas glebas, na migração e viver numa
saudade corrosiva do seu mundo original.
.Confirmamos o Guzerá, de carne enxuta e leite rico,
portador da condição do "crescimento compensatório", que o instinto
zootécnico de meu pai fora buscar em 1934, na Fazenda Itaoca, de João de Abreu,
Cantagalo RJ, definindo, depois de muito indagar, a raça bovina adequada para
esse mundo peculiar.
.Acertamos - puro acaso - trazer da Austrália ( 1972) a
melhor variedade dos capins Buffel e o capim africano Urocloa, a partir de quem
adotamos para reserva forrageira a prática bíblica da fenação, reduzindo a
tecnologia oficial, então única, da ensilagem dos grossos capins exigentes em
água, a um complemento eventual das possibilidades daqui. A multiplicação do
potencial de uso da terra, por conta dessas gramíneas perenes, permitiu agregar
o Sindi - o outro Zebuíno de função mista dos pré-desertos da Ásia, de
fantástica adequação produtiva.
.Passamos a catar leguminosas nativas e multiplicá-las,
(algumas são perenes e outras, bi-anuais) , depois de ver fenecerem as
importadas de latitudes assimétricas, em cada modismo decalcado. Fenar áreas
cultivadas com essas plantas é de extrema pertinência e baixo custo de reserva
protéica para complementar dietas animais no período normal de estio.
.Expandimos a criação das ovelhas, encontrando no tipo
Barriga-Negra, o mais rústico e prolífico das deslanadas maiores. Por
derivação, elas produziram as Cariris, menores de porte e ainda mais
parideiras: 1,9 borregos por parto, 2,9 crias\ovelha\ano. Mais recentemente
conseguimos um grupo de Cabugis - ocorrência natural disseminada no sertão
seco, de vigor e cobertura de carcaça incríveis - completando com as Morada
Novas um rebanho em paz com o ambiente, com os custos de criação e com uma
diversidade genética desejável.
.Por aproximações sucessivas, erros e consertos,
encontramos o viés de preservar a genética das cabras pirenaicas nativizadas
(Parda Sertaneja, Moxotó, Graúna, Serrana Azul), regenerando sua função
leiteira com um repasse leve de reprodutores homólogos, europeus de hoje, ou
com seleção dentro dos agrupamentos. Alcançamos índices de 1,8 Kg/dia de leite
e 1,7 cabritos/parto, média de 12 anos, somando as virtudes adquiridas pelas
cabras soltas na caatinga, com a produção leiteira preservada de suas ancestrais
européias, fusão batizada por Ariano - parceiro fundamental desde a idéia até
hoje - de criação de "Cabras Ibero-brasileiras, vermelhas, brancas, negras
e azuis”.
.A prioridade convencionada dos alimentos para os animais
é o seu "teor de proteína", que condiciona tudo, desde a aspiração
dos criadores até os financiamentos oficiais, só para concentrados protéicos,
quando existem. Aprendi que o "gargalo" do manejo alimentar aqui é o
volumoso da ração, sobretudo quando a seca aperta e, mais, que o Guzerá e o
Sindi, dotados de flora ruminal ainda mais rica em bactérias celulolíticas,
convertem magistralmente o nitrogênio inorgânico de talos e folhas em proteína
assimilável. Foi o que faltava para correr atrás do bagaço de cana do litoral,
juntando-o à uréia, como "seguro" da pecuária nos períodos secos,
aprofundando a integração secular entre o Sertão e o Brejo paraibanos, com suas
trocas de queijos, carne de sol, farinha, cachaça e rapadura. O aperfeiçoamento
do uso do bagaço, hidrolizando-o por accessível via química (cal hidratada),
consolidou a tecnologia básica de criar no semi-árido, faltando só a essencial
política de financiamento específica, para dar consistência econômica e
material ao sistema de produção complementado.
.Um colega fraterno, Newton Monteiro, torcedor da
Queijaria que montamos, uma vez trouxe da França como presente, dois frascos de
"Fines Erves de Provence" para temperar leite de cabra, usadas para
distinguir o perfume e o paladar dos queijos, além de enriquecê-los como
alimento. Folhinhas anêmicas, de lugar fraco de sais e sol, desgostaram a nós
dois e foram substituídas galhardamente pelas nobres ervas marmeleiro, cumaru,
alfazema braba e aroeira, que além do complemento convencional, são boas para o
trato respiratório, a garganta inflamada, têm cheiro de infância sertaneja e.
...cura maus olhados, segundo competência informada por vaqueiros vizinhos.
.A criação das cabras sucedeu, com grande vantagem o
penar e o risco das lavouras lotéricas, fechando a definição da atividade da
Fazenda; Pecuária de ruminantes, centrada em recursos naturais apropriados,
integrada por Bovinos, Ovinos e Caprinos, de múltipla função.
Quando dependíamos fortemente dos roçados, trabalhavam
aqui 9 (nove) famílias. Com a radical pecuarização do sistema de produção
passaram a trabalhar 21 {vinte e uma). As taxas de desfrute dos rebanhos
ultrapassam as melhores do mundo, apesar dos contratempos bem claros pro meu
entendimento. Esses dados, os únicos que pude saber objetivamente, ajudam a
desmentir a falácia da condenação a Pecuária, comum entre pouco avisados e
levianos analistas sociais do semi-árido.
A mim e a outros informados sobre zonas secas, só fazem
exaltar a cobrança de uma Política Pública decente que leve o NE peculiar a
recriar a Civilização do Couro em novas bases, mediante tecnologias próprias e
a implantação de instrumentos de redução da incerteza no trabalho na terra,
criando uma condição qualificada de vida, frugal como a medida do Sertão, mas
suficiente para acabar com a estocagem aqui de “mão de obra barata” para
usufruto alheio, estancar a migração compulsória e preservar a alegria de
viver, além da dignidade dos sertanejos quando a Seca apertar.
Taperoá, Julho de 2001
Palestra no “VII Seminário sobre Viabilização do
Semi-árido”
10 e 11 de julho 2001 – Recife – PE
ANEXO
SECAS E CICLOS SECOS -ENSAIO DO CTA -1978- Comentários
.1873 -1879:
.Introduz a seca como problema de governo (1874) no
Brasil: por articulação do Eng. militar Beaurepaire Rohan - que veio a ser
Presidente da Província da Paraíba - o Imperador Pedro II, empalmou movimento
humanitário do Clube de Engenharia e mandou ( "vendo até o último
brilhante da Coroa, mas nenhum nordestino morrerá mais de fome ou de sede"
) para o Ceará o 1° grupo técnico (engenheiros civis e geólogos, nenhum
especialista agrário) para estudar o problema do NE. Toda a "zoada "
resultou em iniciar a construção de dois açudes - o do CEDRO no Ceará e o de
POÇOS na Paraíba, e a tentativa de "traçar uma malha de canais de
irrigação" como solução permanente. A construção dos açudes foi logo
interrompida e só vieram a ser concluídos, já na República, dentro do outro
ciclo seco, por ação do Vice-Presidente Rosa e Silva, quando assumiu a chefia
do Governo Campos Sales, que fora a Londres. ..renegociar a dívida externa.
O traçado da malha foi prejudicado pela precariedade dos
mapas disponíveis e pela intervenção do Engº Vicente Rodrigues que, no 4º dia
consecutivo de tentativas topográficas, indagou. ..pela a água....., atordoando
a reunião. Morreram 500 mil nordestinos de fome, em 1877. Nasceu a
transportação do rio São Francisco para combater o clima, enchendo os canais.
As "Atas da Comissão Científica de Exploração",
do Império, na parte dos trabalhos no NE, são ricas no adotar sem adaptar,
cultura desenvolvida em regiões temperadas ao trópico seco.
Como se depreende, Pedro II, movido a boas intenções,
estava inaugurando, não somente a iniciativa e a retórica oficiais, mas,
também, sem se dar conta, a filosofia da água e a intermitência de atuação do
Estado perante a irregularidade das chuvas nordestinas. Ou, dizendo de outra
forma, a mistificação da água e a irresponsabilidade política.
.1900 -1907:
.Foi criada, em 1908, a primeira Instituição para cuidar
do NE seco: a IOCS -Inspetoria de Obras Contra as Secas (depois IFOCS e depois
DNOCS), que, desde as persistências no nome, insinua a ideologia (CONTRA) e a
estratégia (OBRAS) para a "transclimação" do ambiente natural daqui.
Nunca soube da necessidade de uma Agência de Engenharia Contra a Neve, para que
as regiões de clima temperado, só então encontrassem os seus caminhos de viver
Seca isolada de 1915:
.Aqui no Cariri, ficou chamada a "fome de 15",
porque as lavouras temporárias haviam sido perdidas por excesso d'água em 1913
e 1914, quando caíram 1980 e 2030 mm de chuvas concentradas. À seca de 1915
somavam-se as fomes de 13 e 14.
.Com o romance de Rachei de Queiroz, a seca alcança o
interesse de intelectuais e pensadores.
Seca atípica de 1919:
.A IFOCS, instalada no Rio de Janeiro, que quase nada
fizera até então, foi ativada e o paraibano-Presidente Epitácio Pessoa,
ensaiando a "globalização" da Engenharia nacional, contratou uma
firma inglesa e outra americana, para fazer construções: açudes no Ceará (Orós,
Banabuiú, etc.), no Rio Grande do Norte (Gargalheiras) e na Paraíba (Piranhas,
Coremas, Condado, etc.) foram só começados. O Presidente Artur Bernardes que o
sucedeu, mandou desfazer as Comissões criadas. Só o porto de Natal ficou feito
e o da Paraíba restou convertido em fotografias forjadas, nos relatórios dos
serviços.
1927 -1933:
.Foi reativada a IFOCS e são construídos, com Getúlio
Vargas presidente, por ação do seu Ministro da Viação José de Almeida, vários
açudes dos iniciados em 1919.
.São concebidas as "Frentes de Emergência",
como estratégia de ação social e criadas linhas especiais dos ITAS da Costeira
e do Loyd para levar flagelados até São Paulo, onde foram muito usados nas
tropas da Revolução Constitucionalista de 1932.
.Foi instalado na IFOCS, o Núcleo Agronômico, com José
Augusto Trindade e Guimarães Duque, que além de sugerirem a "educação
mesológica ", começaram a estudar a vegetação da região e identificar as
plantas Xerófilas passíveis de cultivo econômico. A repartição própria -
Instituto José Augusto Trindade, durou pouco. Sua recuperação foi tentada pela
Sudene.
Seca de 1942/43:
.Provocou a criação, na Constituição Brasileira, do
chamado "Fundo das Secas", destaque de 3% do orçamento federal para
aplicação no semi-árido. Sob essa rubrica, quando voltava a chover, o DNOCS
sobrevivia e foi subscrito adiante, o Capital do Banco do Nordeste. O Fundo foi
cancelado, na Revisão Constitucional de 1965.
.São começados o açude Cocorobó na Bahia (conclusão no
final da década de 50) e o açude Serrinha, no rio Pajeú, em Pernambuco
(concluído somente em 1998 ! ) .
1951-1958:
...o Banco do Nordeste, que não soube
ou não pôde alcançar essa dimensão, não tendo até hoje, sequer, um discurso para a seca. |
.Graças ao ilustre baiano Rômulo de Almeida na Assessoria
do 2° Governo Vargas (a mesma que pensou a Eletrobrás, a Petrobrás, o BNDE, o
Plano Viário Nacional, etc., enfim, o Brasil essencial que está sendo
estraçalhado agora, com o pavoneamento de quem o faz), foi concebida, no útero
das secas iniciais do ciclo, uma Instituição de amplitude maior, como Agência
de Desenvolvimento do Semi-árido e se cria o Banco do Nordeste, que não soube
ou não pôde alcançar essa dimensão, não tendo até hoje, sequer, um discurso
para a seca.
.São feitas tentativas de provocar chuvas artificiais,
num céu de pouca nuvem. O Engº Janot Pacheco não conseguiu ser o amanaiara do
NE.
.O Congresso aprova, proposta pelo Deputado potiguar
Aluísio Alves, a 1ª lei de Crédito Rural específica (n° 3471 de 28/11/58)
pretendendo recompor, no curto prazo, a estrutura produtiva das Fazendas,
desmontadas pela Grande Seca e, num tempo maior, substituir as "Frentes de
Emergência". Os vetos impostos pelo Ministro da Fazenda fizeram-na vigorar
apenas por 1 ano e anularam a outra intenção.
.São criadas a CODEVASF e o Grupamento de Engenharia do
Nordeste, para a área irrigável do vale e construções civis básicas.
.Sob a ótica da compensação dos desequilíbrios regionais,
ao final do Ciclo, é lançada a OPENO - Operação Nordeste e criada a SUDENE,
como autarquia especial (regime orçamentário diferenciado) com a função de
planejar e coordenar a ação do Governo da União no NE, através de Planos
Trienais de trabalho. Seu Conselho Deliberativo, para obter densidade política
e equidade de atuação, era composto, somente, pelos 9 Governadores da região.
Conceitualmente, (1° Plano Diretor) deu o belo salto de considerar a Seca.
.."muito mais uma crise na oferta de alimentos à região, do que uma crise
na oferta de água ", cabendo-lhe " ...expandir a fronteira agrícola
em direção à pré-Amazônia maranhense, para garantir a oferta regional de
alimentos básicos" e ", ..adaptar à Seca a Agri-cultura do
semi-árido". O "Projeto Maranhão", no cerne dessa estratégia,
foi morto à míngua, logo em 1964, e o esvaziamento progressivo a que foi
submetida, certamente, tolheu a materialização da diretriz esboçada .Foi
extinta recentemente, sem ter conseguido "assumir" a Seca e o
semi-árido, causa essencial da sua criação.
.Seca isolada de 1970:
Continuam nos mesmos moldes de 1932, as "Frentes de
Emergência " , onde foram alistados quase 2 milhões de pessoas, a um custo
estimado de 2 bilhões de reais, em moeda de hoje.
.A SUDENE perdera a condição de autarquia especial e,
subordinada ao "Ministério do Planejamento", ironicamente dirigido
por um nordestino ressentido, deixara de fazer os Planos Trienais de
desenvolvimento. É "inventado" um tal de PIN / PROTERRA que a exauriu
ainda mais.
O desemprego e a miséria destroem os indivíduos, de modo que suas vítimas se abandonam à aceitação de uma vida de favores. |
.Começa, pela Paraíba, a estruturação das Campanhas
Estaduais de Saneamento, para completar os sistemas urbanos de distribuição de
água (iniciados na década 50), sob à ótica de saúde pública, para reduzir
coeficientes de mortalidade infantil que, no semi-árido, têm muito a ver com as
"doenças de veiculação hídrica" e não com a seca diretamente.
1979 -1983:
.Nada, como avanço institucional. A Sudene já vazia (seu
Conselho Deliberativo chegou a ter 23 membros, nivelando o voto e a dimensão de
um Governador, mesmo que nomeado, ao de um representante qualquer do INPS, do
BNB, do Ministério tal, da Associação qual, etc.) e, simploriamente dirigida,
contesta bajulativamente em 1980/81, a prospecção do CTA (Centro Técnico
Aeroespacial) que havia vazado para a imprensa (fora rotulado CONFIDENCIAL,
para evitar "pressões sobre Brasília") em vez de considerá-la, como
decentemente sugeriam os seus autores, um elemento de alerta e atuação
preventiva. Limitou-se a manter as frentes de emergência
convencionais/eleitorais e administrar uma frota de 5.111 carros pipas para
espalhar água de beber.
.São construídas "obras públicas definitivas" -
milhares de açudes escavados em algum lugar - que teriam triplicado em dois
anos, nos relatórios divulgados com ênfase, a acumulação de água (sic) no NE.
Não resistiram à 1ª semana do inverno de 1984. O povo logo os batizou de
"açudes Sonrisal" .
.Foram gastos 3,96 bilhões de dólares, havendo no último
ano, 2 milhões 643 mil alistados cavoucando as estradas, enquanto as Fazendas,
de qualquer tamanho, se auto-desestruturavam.
Uma tentativa de adotar financiamentos rurais de
circunstância (impositivos numa situação desse tipo) é cancelada, já em 1980, o
segundo ano da previsão do CTA, e da seca.
.O Presidente Figueiredo, com mudança no estilo imita o
Imperador Pedro II, e diz na televisão: "Ao final do meu Governo, o
problema do NE estará resolvido; vou mandar para o NE, inclusive, a água que o
danado do São Pedro está negando...". Curiosamente, a cena era da
assinatura de Decretos criando "verbas especiais"...que o Ministro da
Fazenda "contingenciou" tal como Joaquim Murtinho, logo depois de D.
Pedro.
Iniciativas particulares pontuais começam a transportar
bagaço de cana do litoral para "salvar" ruminantes, em vez da
"retirada" dos gados, com seu custo mínimo de 50% dos lotes
transpostos.
.Seca 1990 -1993:
.A população rural continuou agrupada às margens das
estradas, agora sob o nome de "Frentes de Trabalho".
.O rebanho do semi-árido é reduzido a 32%, onde nada mais
restava do algodão arbóreo, dizimado pela colocação do BICUDO, desmontando um
complexo de geração de empregos e derivados que integravam a Pecuária, e fazia;
apesar da baixa produtividade da lavoura, circular alguma renda monetária na
região.
.Seca 1998:
O Brasil sob a "ideologia" de um
internacionalismo postiço, já nem fala mais em desequilíbrios regionais. As
mesmíssimas Frentes de Emergência, continuando o eufemismo da mudança de rótulo
e o dispêndio de cifras enormes e inócuas perante secas seguintes, agora se
chamam "Frentes Produtivas". A frota de carros-pipa ultrapassa 12 mil
unidades. Os rebanhos foram destroçados até no Agreste mais úmido onde a seca
chegou. Estimativa da Sudene calcula em 12 bilhões de dólares o gasto com as
"Frentes" desde a seca de 1958 até essa.
.O Presidente Fernando Henrique diz, sociologicamente,
que os problemas do NE dependem de "soluções de mercado" e "de
Deus e da chuva" (F.S.P. 7/5/98), quando viu a TV transpor os saques da
fome do sertão para a sala de jantar do Brasil.
Fazenda Carnaúba |
.Seca verde 1999/2000:
.Começa a tomar consistência a idéia de racionalizar a
convivência com a seca, aprofundando a discussão do assunto.
.Em Brasília, diretrizes oficiais internas afirmam que:
".....o problema das secas vai ser resolvido devagarinho, pela diminuição
relativa da população do semi-árido e pela sua rápida urbanização, sustentada
pelo emprego público municipal e estadual e pela previdência social. Cada seca
tende a ser menos dramática do que a anterior, de forma que dentro de vinte a
trinta anos, as secas serão uma coisa pequena para o País. "
.Re-emerge a "transposição do São Francisco";
dessa vez acoplada à transposição do Tocantins. Como ainda faltam o Tapajós, o
Xingu e outras águas, o que deve continuar havendo é a transposição do povo,
"mão de obra barata ", que foi importante na construção do sudeste,
agora talvez, como atrativo complementar para a Amazônia, cuja
"internacionalização" também é re-emergente.
.Seca, verde e seca, de 2001:
.Já havia terminado a redação desse Anexo, quando ouvi
que, "dessa vez,....tudo será diferente: foi designado um Ministro da Seca
e o Programa consta de uma atuação em outra linha: Bolsa de Alimento,
Vacinação, Bolsa Escola, Bolsa Renda, Bolsa não sei de quê. " E que haverá
transparência (??) em tudo.
Remoendo a decretação, enquanto ouvia, fui pensando :
-não sei desse Ministro, onde foi nascido e onde foi
vivido, e o que sabe da Seca;
Ao El Nino natural juntou-se o EI Nino
da inépcia e do obscurantismo....vão pro Inferno, impostores, com essa inauguração do terceiro século de empulhação dos nordestinos da Seca. |
- nada para segurar os sertanejos na terra e no seu
ofício;
- pelo jeito, vão ser maiores as chances de haver
distorções e injustiças;
- continua o equívoco da inversão de foco: desprezo à
atividade permanente - o trabalho na gleba - e tratamento hipócrita da
circunstância;
- há um alongamento da Seca previsto e. uma eleição à
vista.
Bateu a náusea , me levantei e quando dei fé, dizia para
mim mesmo: ...vão pro Inferno, impostores, com essa inauguração do terceiro
século de empulhação dos nordestinos da Seca.
Manoel Dantas Vilar Filho – Engenheiro e Pecuarista
O MAPA TA ERRADO O SERIDÓ ABRANGE A ZONA A NE DA CITADA ESSE DO MAPA É O SUL DO SERIDÓ A ZONA QUE FALTA O LESTE O SERIDO POTIGUAR É UMA EXTENSÃO DESSE SERIDÓ ORIGINAL MAIS ANTIGO EM COLONOS SERIA O CENTRO-NOROESTE
ResponderExcluirESSA NAÇÃO JE ERA BEM GRANDE POIS HA CARIRI NO CE PE PB E RASO DA CATARINA POR ISSO MESMO ANTONIO CONSELHEIRO DO CARIRI DO CE PAROU ALI
ResponderExcluirAS MAIS NOTAVEIS SÃO SUL DA PB OU CENTRO SUL SSE DO CE E RASO PE NÃO SEI ENTÃO A ZONA DE DISPERSÃO ORIGINAL DOS PROTO CARIRIS COMO ETNOS JE DEVE TER SE DADO A PARTIR DAQUELA ZONA ALTA DA DIVISA PB-PE NA ZONA DO PICO DO JABRE O QUE EXPLICARIA SEU PADRÃO ESPACIAL
ResponderExcluirObrigado pelas correções. As ilustrações foram escolhidas por nós, não constam do texto original de Dr. Manelito. Erro nosso portanto.
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