O semi-árido brasileiro tem sido fonte de diversos programas de ajuda e amparo desde o tempo de Dom Pedro II. Quando ocorreu a seca de 1877, foi criada uma comissão imperial para que se suprissem as necessidades humanas e dos animais. Desta comissão, que funcionou até a queda do império quando foi então dissolvida, resultou na política de construção de açudes, tendo como destaque o açude do Cedro em Quixadá no Ceará. Depois de instalada a república, alguns anos mais tarde, foi criado o IOCS transformado em IFOCS e depois o DNOCS.
Sempre pensado como um problema, na grande maioria das vezes a tentativa era quase sempre de combater a seca e não de aprender a conviver com ela. Foram construídos açudes, perfurados poços artesianos e pavimentadas estradas. Mas, por mais que fizessem os poucos recursos destinados e a falta de conhecimento sobre o semi-árido , pulverizaram os esforços em uma gigantesca área como é o sertão. Aliado a isso a má gestão destes recursos e a utilização destes para fins eleitorais, geraram má aplicação e até mesmo desvio das verbas comprometendo uma já ineficiente política de combate a seca.
Juscelino Kubitschek na década de cinqüenta cria então o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, o GTDN liderado pelo economista Celso Furtado, este grupo tem como função repensar o nordeste de maneira sócio-econômica e dele se tira a conclusão que um dos processos para alavancar a economia nordestina seria a industrialização da mesma, daí nasce a SUDENE. Com ações voltadas para industrialização e colocando em segundo plano o campo, as ações da SUDENE eram isoladas e corriam a margem de outras ações regionais que incluíam o BNB Banco do Nordeste, CODEVASF, e o DNOCS. Os projetos começavam a surgir, mas quase sempre o investimento de difícil acesso ao pequeno produtor, beneficiava sempre os grandes latifundiários e industriais. Houve então o êxodo rural e o inchamento das regiões urbanas com a proliferação das favelas. O semi-árido como um sistema sócio-econômico ainda era inviável aos olhos do governo federal.
Na década de oitenta, com a entrada do Banco Mundial financiando pequenos projetos de sustentabilidade regional, e com o aprofundamento dos estudos sobre a convivência com o sertão, o nordeste começa então lentamente receber recursos destinados a adaptar o homem ao meio ambiente. Não mais se deseja retirar o sertanejo do seu habitat em direção aos grandes centros urbanos como mão de obra barata, quase escrava, e sim dar condições para que ele permaneça e desenvolva-se no meio em que vive com qualidade de vida e geração de renda. Com o surgimento das ONGS e com o incentivo dado a agricultura familiar o sertanejo começa a conhecer o associativismo e ter a idéia de cidadania e comunidade. O que antes era recebido como esmola de uma elite paternalista, agora era um direito adquirido e passivo a ser exigido com força de lei.
Programas como o “luz para todos”, Programa Um Milhão de Cisternas, Projeto Áridas, o CONVIVER entre outros começam lentamente a mudar a cara do sertão. Políticas públicas como o bolsa renda e a aposentadoria do trabalhador rural, são muitas vezes a única fonte de renda de famílias inteiras. O sertanejo agora com energia em sua casa instala uma antena parabólica , e começa a enxergar além da serra repleta de mandacarus e gravatás, abre-se um novo mundo onde os bens de consumo antes inatingíveis estão agora com o aumento da renda ao seu alcance. A comunicação cada vez mais popularizada através do aparelho celular, a TV, a geladeira e a troca do jumento por uma rápida e econômica motocicleta faz desse novo sertanejo mais do que um cidadão, o transforma de cativo vivendo na marginalidade a consumidor de bens industriais.
A nova cara do sertão não passa apenas pelo apelo sócio-econômico criando um novo mercado consumidor, a transformação vai mais além, novas técnicas de manejo agropastoril e novas raças de bovinos, caprinos e ovinos bem mais adaptadas estão sendo introduzidas, nas universidades as graduações já entendem o sertão de forma individual, com soluções próprias. As soluções milagrosas importadas de países de clima temperado e dos estados do sul e sudeste são repensadas, o semi-árido começa a tomar às rédeas de seu próprio destino e abre suas veredas rumo à sustentabilidade aliada a preservação de seus recursos naturais, conservando a sua rica cultura, sem deixar de vislumbrar o futuro.
Cezar Mastrolorenzo
Produtor Rural.
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