Carlos Dias,
Embrapa Solos
Pastos melhores significam mais vegetação e animais
engordando em menos tempo sobre eles o que se traduz em menos emissões de gás
carbônico equivalente. Por isso, a recuperação das pastagens tem potencial para
reduzir em um ano a idade de abate dos animais. Um bovino adulto é responsável
pela emissão de aproximadamente 1,5 tonelada de equivalente CO2 por ano. No
Brasil são abatidos em torno de 40 milhões de cabeças por ano. Se metade desse
rebanho for criado em sistemas mais eficientes, pode-se estimar a redução da
emissão de 30 milhões de toneladas de equivalente CO2 por ano, vale lembrar que
o Brasil emite 460 milhões de toneladas por ano apenas com a redução da idade
de abate, sem considerar, por exemplo, a fixação de carbono no solo pelo
sistema.
Dados da Embrapa apontam que se 12,5 milhões a 18,4
milhões de áreas de pastagens forem recuperadas será possível aumentar a
produção de carne bovina entre 2,4 milhões a 3,6 milhões de toneladas por ano,
o que equivale a um aumento de aproximadamente 33%.
Atualmente, a produtividade média brasileira é em torno
de 45 quilos de carne por hectare. Com sistemas recuperados e melhorados, essa
produtividade salta facilmente para 120 kg por hectare, em sistemas de
cria-recria e engorda (ciclo completo), gerando mais renda para o produtor
rural.
A maior parte das terras utilizadas na agropecuária no
País está ocupada com pastagens, cerca de 180 milhões de hectares, dos quais
estima-se que mais da metade encontra-se em algum estágio de degradação. Apenas
10% das pastagens brasileiras (18 milhões de hectares) adotam sistemas pastoris
menos impactantes, como pousio, rotações e Integração Lavoura Pecuária (ILP).
Só no Cerrado são 32 milhões de hectares em que a qualidade do pasto está
abaixo do esperado.
Redução da perda
de solo
Presentes em todo Brasil, essas pastagens degradadas
apresentam baixa capacidade de produção de carne e leite. Geralmente sofrem
também com erosão laminar, em sulcos e até voçorocas, que podem levar a perdas
de mais de 100 toneladas de solo/ha/ano, comprometendo a sustentabilidade do
sistema de produção. Em muitas situações, apenas mudando algumas técnicas de
manejo podemos reduzir essas perdas para menos de dez
t/ha/ano, podendo chegar
a menos de uma t/ha/ano em áreas bem manejadas, aproximando-se do que ocorre
normalmente em solos sob vegetação preservada.
Mas não é apenas o mau uso o responsável pelo estado de
parte de nossas terras. "A maior parte dos solos brasileiros é ácida, e
com baixa disponibilidade de nutrientes", conta Wadson da Rocha,
pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG). "Caso esses poucos nutrientes
retirados pelas culturas não sejam repostos no solo, as pastagens entram em
processo de degradação. Dessa forma, a falta de um correto manejo do solo para
a implantação e a manutenção da pastagem é que pode definir a maior velocidade
de degradação", conclui Wadson.
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A origem da
degradação das terras
A transformação de terras produtivas em terras degradadas
começou há muito tempo no Brasil e remonta aos ciclos do monocultivo da
cana-de-açúcar (séculos XVI e XVII) e do café (XVIII e XIX).
Com o advento da revolução verde na década de 1970 e a
consequente expansão da agricultura, com o preparo excessivo do solo, o
monocultivo e a aplicação inadequada de agroquímicos, os problemas causados
pela degradação se agravaram.
Grandes áreas foram transformadas em pasto por uma opção
de ocupação do território e não como resultado da introdução da atividade
agropecuária com o propósito de obtenção de retorno econômico. "Na região
Amazônica, por exemplo, o desmatamento seguido da introdução de grandes áreas
de pastos nos anos setenta foi resultado de uma politica de ocupação baseada em
uma visão defensivo-desenvolvimentista do governo militar", revela o
consultor independente e doutor em planejamento de uso das terras Antonio
Ramalho Filho.
Atualmente, as principais causas da degradação das
pastagens são o excesso de lotação e manejo inadequado; a falta de correção e
adubação na formação, aliada à falta de reposição dos nutrientes pela adubação
de manutenção e a utilização de espécie ou cultivar inadequada, não adaptada ao
clima, solo e objetivo da produção.
Vale lembrar que as pastagens, quando são formadas e
manejadas com técnicas adequadas, não acarretam perdas significativas por
erosão (0,5 ton/ha/ano), já que cobrem o solo de maneira eficiente.
A recuperação de
pastagens
A recuperação dessas áreas inclui o diagnóstico da
degradação das terras, possível com a divisão das áreas degradadas em glebas
homogêneas de acordo com algumas características (relevo, topografia, cobertura
vegetal, solos, uso atual, produtividade das culturas e histórico de exploração,
adoção de práticas conservacionistas e tipo e frequência dos processos
erosivos). Ramalho chama atenção para outro aspecto "devemos também
observar a diferença entre degradação e esgotamento do solo ou do pasto",
relata.
O diagnóstico detalhado do estado de conservação e/ou
degradação do solo em cada uma das zonas de manejo também é fator importante,
visando caracterizar os processos erosivos e a presença de resíduos. Nesta
etapa recomenda-se também avaliar a taxa de infiltração de água no solo e a
ocorrência de camadas compactadas, coletar amostras de solo para avaliação da
granulometria e da fertilidade e descrever a cobertura vegetal natural e/ou o
uso atual e as práticas de manejo existentes.
O também pesquisador da Embrapa Gado de Leite Carlos
Eugênio Martins lembra outro importante passo na recuperação de pastagens: o
processo de restabelecimento da capacidade produtiva de uma espécie forrageira
previamente estabelecida. "A renovação seria a substituição da espécie
forrageira, anteriormente instalada, por meio de práticas agronômicas de manejo
de solo e
planta", revela.
planta", revela.
Depois da realização desse diagnóstico, deverão ser
selecionadas as práticas para a recuperação da capacidade produtiva do solo:
práticas mecânicas, que visam ordenar e dissipar a energia das águas do
escoamento superficial e promover a infiltração de água e a retenção de
sedimentos; práticas edáficas, referentes ao manejo da fertilidade com
aplicação adequada de adubos e corretivos, assim como de condicionadores do
solo que auxiliem no aumento da disponibilidade de água para as plantas em
períodos de stress hídrico; e as práticas vegetativas, que correspondem à
seleção e ao manejo de plantas, em rotação, consórcio ou sucessão para fins de
produção, proteção do solo, fixação biológica de nitrogênio, fornecimento de
matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, descompactação biológica e
estruturação do solo. Este conjunto de atividades promove a preservação e
melhoria da estrutura do solo. Os sistemas de plantio direto, agroecológicos, agroflorestais
e ILP são bons exemplos de manejos que contribuem para conservação e
recuperação do solo.
"A degradação das terras pode ser evitada pelo uso
de boas práticas agrícolas utilizando-as de forma a manter ou melhorar as
propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, manejando suas limitações
e potencialidades para a produção agrícola, possibilitando maior agregação,
armazenamento de água e disponibilidade de nutrientes essenciais para o
crescimento vegetal", conclui Aluísio.
Resposta a compromissos
internacionais
A recuperação de pastagens degradadas é um dos
compromissos assumidos pelo Brasil na COP-15 (Copenhague, 2009), que prevê a
redução das emissões de gases de efeito
estufa, projetadas para 2020, entre
36,1% e 38,9%, estimando, assim, redução da ordem de 1 bilhão de toneladas de
CO2. Essas metas foram ratificadas na Política Nacional sobre Mudanças do
Clima. E, no caso específico da agricultura, foi estabelecido o "Plano
Setorial para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na
Agricultura" (Plano ABC), por meio do qual o País assume o compromisso de
recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2020. Atingindo
tal meta, o Brasil amplia a produção de alimentos e bioenergia e reduz a
necessidade de desmatamento para a expansão agropecuária.
"Dessa forma, além de contribuir para a geração de
emprego e renda, estas áreas degradadas, quando recuperadas, podem prestar
serviços ecossistêmicos, como o controle da erosão, a regulação da recarga
hídrica e o aumento do estoque de carbono no solo", afirma Andrade.
Fonte original: Portal Dia de Campo
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