1 de fev. de 2016

PECUÁRIA MAIS EFICIENTE POUPARIA ATMOSFERA DE 30 MILHÕES DE TONELADAS DE CO2 POR ANO

Carlos Dias, Embrapa Solos
Pastos melhores significam mais vegetação e animais engordando em menos tempo sobre eles o que se traduz em menos emissões de gás carbônico equivalente. Por isso, a recuperação das pastagens tem potencial para reduzir em um ano a idade de abate dos animais. Um bovino adulto é responsável pela emissão de aproximadamente 1,5 tonelada de equivalente CO2 por ano. No Brasil são abatidos em torno de 40 milhões de cabeças por ano. Se metade desse rebanho for criado em sistemas mais eficientes, pode-se estimar a redução da emissão de 30 milhões de toneladas de equivalente CO2 por ano, vale lembrar que o Brasil emite 460 milhões de toneladas por ano apenas com a redução da idade de abate, sem considerar, por exemplo, a fixação de carbono no solo pelo sistema.
Dados da Embrapa apontam que se 12,5 milhões a 18,4 milhões de áreas de pastagens forem recuperadas será possível aumentar a produção de carne bovina entre 2,4 milhões a 3,6 milhões de toneladas por ano, o que equivale a um aumento de aproximadamente 33%.
Atualmente, a produtividade média brasileira é em torno de 45 quilos de carne por hectare. Com sistemas recuperados e melhorados, essa produtividade salta facilmente para 120 kg por hectare, em sistemas de cria-recria e engorda (ciclo completo), gerando mais renda para o produtor rural.
A maior parte das terras utilizadas na agropecuária no País está ocupada com pastagens, cerca de 180 milhões de hectares, dos quais estima-se que mais da metade encontra-se em algum estágio de degradação. Apenas 10% das pastagens brasileiras (18 milhões de hectares) adotam sistemas pastoris menos impactantes, como pousio, rotações e Integração Lavoura Pecuária (ILP). Só no Cerrado são 32 milhões de hectares em que a qualidade do pasto está abaixo do esperado.
Redução da perda de solo
Presentes em todo Brasil, essas pastagens degradadas apresentam baixa capacidade de produção de carne e leite. Geralmente sofrem também com erosão laminar, em sulcos e até voçorocas, que podem levar a perdas de mais de 100 toneladas de solo/ha/ano, comprometendo a sustentabilidade do sistema de produção. Em muitas situações, apenas mudando algumas técnicas de manejo podemos reduzir essas perdas para menos de dez
t/ha/ano, podendo chegar a menos de uma t/ha/ano em áreas bem manejadas, aproximando-se do que ocorre normalmente em solos sob vegetação preservada.
Mas não é apenas o mau uso o responsável pelo estado de parte de nossas terras. "A maior parte dos solos brasileiros é ácida, e com baixa disponibilidade de nutrientes", conta Wadson da Rocha, pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG). "Caso esses poucos nutrientes retirados pelas culturas não sejam repostos no solo, as pastagens entram em processo de degradação. Dessa forma, a falta de um correto manejo do solo para a implantação e a manutenção da pastagem é que pode definir a maior velocidade de degradação", conclui Wadson.
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O que a Embrapa Solos (RJ) propõe é a reinserção dessas terras com pastagens degradadas ao sistema produtivo agropecuário sustentável, uma grande oportunidade para aumentar a produção agropecuária, sem necessidade de ampliação da fronteira agrícola. "Para isso precisamos identificar e eliminar os fatores responsáveis pela degradação, fazer uma avaliação do estado de degradação do sistema solo-planta", diz o cientista da Embrapa Solos Aluísio Granato de Andrade. "Nesse sentido, a análise integrada de indicadores de qualidade do solo com indicadores de qualidade da forragem e com a quantidade de biomassa produzida podem possibilitar maior eficiência na seleção, no desenvolvimento e na adoção de tecnologias adequadas aos diferentes níveis de degradação", completa.
A origem da degradação das terras
A transformação de terras produtivas em terras degradadas começou há muito tempo no Brasil e remonta aos ciclos do monocultivo da cana-de-açúcar (séculos XVI e XVII) e do café (XVIII e XIX).
Com o advento da revolução verde na década de 1970 e a consequente expansão da agricultura, com o preparo excessivo do solo, o monocultivo e a aplicação inadequada de agroquímicos, os problemas causados pela degradação se agravaram.
Grandes áreas foram transformadas em pasto por uma opção de ocupação do território e não como resultado da introdução da atividade agropecuária com o propósito de obtenção de retorno econômico. "Na região Amazônica, por exemplo, o desmatamento seguido da introdução de grandes áreas de pastos nos anos setenta foi resultado de uma politica de ocupação baseada em uma visão defensivo-desenvolvimentista do governo militar", revela o consultor independente e doutor em planejamento de uso das terras Antonio Ramalho Filho.
Atualmente, as principais causas da degradação das pastagens são o excesso de lotação e manejo inadequado; a falta de correção e adubação na formação, aliada à falta de reposição dos nutrientes pela adubação de manutenção e a utilização de espécie ou cultivar inadequada, não adaptada ao clima, solo e objetivo da produção.
Vale lembrar que as pastagens, quando são formadas e manejadas com técnicas adequadas, não acarretam perdas significativas por erosão (0,5 ton/ha/ano), já que cobrem o solo de maneira eficiente.
A recuperação de pastagens
A recuperação dessas áreas inclui o diagnóstico da degradação das terras, possível com a divisão das áreas degradadas em glebas homogêneas de acordo com algumas características (relevo, topografia, cobertura vegetal, solos, uso atual, produtividade das culturas e histórico de exploração, adoção de práticas conservacionistas e tipo e frequência dos processos erosivos). Ramalho chama atenção para outro aspecto "devemos também observar a diferença entre degradação e esgotamento do solo ou do pasto", relata.
O diagnóstico detalhado do estado de conservação e/ou degradação do solo em cada uma das zonas de manejo também é fator importante, visando caracterizar os processos erosivos e a presença de resíduos. Nesta etapa recomenda-se também avaliar a taxa de infiltração de água no solo e a ocorrência de camadas compactadas, coletar amostras de solo para avaliação da granulometria e da fertilidade e descrever a cobertura vegetal natural e/ou o uso atual e as práticas de manejo existentes.
O também pesquisador da Embrapa Gado de Leite Carlos Eugênio Martins lembra outro importante passo na recuperação de pastagens: o processo de restabelecimento da capacidade produtiva de uma espécie forrageira previamente estabelecida. "A renovação seria a substituição da espécie forrageira, anteriormente instalada, por meio de práticas agronômicas de manejo de solo e
planta", revela.
Depois da realização desse diagnóstico, deverão ser selecionadas as práticas para a recuperação da capacidade produtiva do solo: práticas mecânicas, que visam ordenar e dissipar a energia das águas do escoamento superficial e promover a infiltração de água e a retenção de sedimentos; práticas edáficas, referentes ao manejo da fertilidade com aplicação adequada de adubos e corretivos, assim como de condicionadores do solo que auxiliem no aumento da disponibilidade de água para as plantas em períodos de stress hídrico; e as práticas vegetativas, que correspondem à seleção e ao manejo de plantas, em rotação, consórcio ou sucessão para fins de produção, proteção do solo, fixação biológica de nitrogênio, fornecimento de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, descompactação biológica e estruturação do solo. Este conjunto de atividades promove a preservação e melhoria da estrutura do solo. Os sistemas de plantio direto, agroecológicos, agroflorestais e ILP são bons exemplos de manejos que contribuem para conservação e recuperação do solo.
"A degradação das terras pode ser evitada pelo uso de boas práticas agrícolas utilizando-as de forma a manter ou melhorar as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, manejando suas limitações e potencialidades para a produção agrícola, possibilitando maior agregação, armazenamento de água e disponibilidade de nutrientes essenciais para o crescimento vegetal", conclui Aluísio.
Resposta a compromissos internacionais
A recuperação de pastagens degradadas é um dos compromissos assumidos pelo Brasil na COP-15 (Copenhague, 2009), que prevê a redução das emissões de gases de efeito
estufa, projetadas para 2020, entre 36,1% e 38,9%, estimando, assim, redução da ordem de 1 bilhão de toneladas de CO2. Essas metas foram ratificadas na Política Nacional sobre Mudanças do Clima. E, no caso específico da agricultura, foi estabelecido o "Plano Setorial para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura" (Plano ABC), por meio do qual o País assume o compromisso de recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2020. Atingindo tal meta, o Brasil amplia a produção de alimentos e bioenergia e reduz a necessidade de desmatamento para a expansão agropecuária.
"Dessa forma, além de contribuir para a geração de emprego e renda, estas áreas degradadas, quando recuperadas, podem prestar serviços ecossistêmicos, como o controle da erosão, a regulação da recarga hídrica e o aumento do estoque de carbono no solo", afirma Andrade.

Fonte original: Portal Dia de Campo


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