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Por Ana Karla Farias em
06/10/2015 na edição 871
Observatório da Imprensa
http://observatoriodaimprensa.com.br/
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Ana Karla Farias |
“Esperamos que a
solução para esse problema chegue: a chuva”, comentou a apresentadora de um
telejornal local que registra elevados índice de audiência e alcance público.
Junto ao comentário tecido, urge a indagação, que de certo, a maioria do
público receptor de tal mensagem midiática, por apresentar um perfil simplório,
não tenha refletido: Por que o jornalismo, que é uma atividade de
responsabilidade social e que deve defender os direitos do cidadão, segundo
apregoa o código deontológico da categoria, corrobora a perpetuação de que a
crise hídrica no Nordeste brasileiro é culpa de São Pedro?
A seca no
semiárido do país é um fenômeno natural periódico que assola a população,
sobretudo, a mais carente de recursos, desde tempos remotos. A escritora Rachel
de Queiroz, em sua obra, intitulada O quinze, já retratava os efeitos
atrozes da escassez hídrica, de 1915. Tantos anos decorreram, de lá para cá,
mas o cenário é o mesmo, e ao contrário do que a cobertura jornalística da
imprensa potiguar prevê, não se trata de um castigo ou de “pirraças” de Deus. A
solução para contornar a seca, definitivamente não vai cair do céu, pois está
em políticas públicas que nunca se materializam.
A crise
hídrica na região Nordeste já deveria ter sido amenizada com medidas tais como
o monitoramento do regime de chuvas e implantação de técnicas próprias para regiões
com escassez hídrica ou projetos de irrigação e açudes, além de outras
alternativas. Já é sabido que em países como os Estados Unidos (EUA), mais
precisamente na Califórnia, onde chove sete vezes menos do que no polígono da
seca, é possível cultivar áreas imensas. Já no deserto de Negev, em Israel,
consegue-se manter um padrão de vida razoável. Lá chove em média 300 milímetros
por ano; no semiárido nordestino, por sua vez, chove 600 milímetros média.
O jornalismo de
serviço e de utilidade pública, mesmo pautando temáticas sociais como a
problemática da seca, de grande repercussão no cotidiano da população, tem
paradoxalmente fomentado um desserviço à sociedade, cristalizando a mentalidade
já tão arraigada de que o povo castigado pela escassez hídrica deve tão-somente
esperar resignados que a solução lhe venha do céu, literalmente. Fato que só
propicia uma verdadeira inércia pensante por parte dos cidadãos, que ouvem da
grande imprensa (importante formadora de opinião), a lição de perpetuar a
passividade diante da omissão do poder público concernente a um problema social
tão urgente e tratado com descaso, fechando-se os olhos, empurrando para
debaixo do tapete. Afinal, a indústria da seca é rentável para a classe
política, que se aproveita da tragédia da crise hídrica.
À população
parece restarem duas alternativas – ou se redobram as preces a São José ou se
acredita na representação cômica e trágica da grande imprensa e dos nossos
governantes.
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