O semiárido brasileiro abrange os estados do Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o
Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais. Uma área geográfica de 969.589,4
km², delimitada com base em critérios
técnicos que consideram a precipitação pluviométrica anual (inferior a
800 mm), o balanço hídrico (precipitações/evapotranspiração) e o risco de secas.
Toda a dinâmica desta imensa região esta subordinada à
adversidade do clima. Além do fenômeno da “seca”, é comum chover num mês quase
toda a chuva esperada para o ano, ou ainda, chover bem em determinado local e
algumas centenas de metros adiante não cair uma gota. A esta “desarrumação”
pluviométrica soma-se o elevado potencial de evaporação e transpiração vegetal
que, inviabiliza a maioria das lavouras, tornando impraticável a agricultura
intensiva (exceção feita à pequena área irrigável).
A atividade pecuária também é afetada pela má
distribuição das chuvas. Como acontece em praticamente todo o Brasil, a
pecuária do semiárido é fundamentalmente feita a pasto. Noventa por cento do
total de animais abatidos são terminados a pasto e nas fases de cria e recria
este percentual é próximo a 100%. Inclusive a produção de leite é feita
predominantemente a pasto, com tecnologias simples e custos monetários
reduzidos. Portanto, embora o ambiente arejado e seco da região seja benéfico
aos rebanhos, os longos períodos de déficit hídrico limitam a capacidade de
produção forrageira comprometendo a principal vocação das regiões secas que é a
pecuária.
Como conviver com esta realidade? Como produzir de forma
eficiente e sustentável neste ambiente? Para encontrar esta resposta precisamos
considerar que a eficiência econômica dos sistemas de produção a pasto é alcançada
com a maximização da produtividade primária (produção do pasto) e,
paralelamente, da produção secundária (transformação do pasto em carne, leite e
bezerros). Daí a necessidade de buscar:
a - forragens apropriadas ao tipo de solo e clima;
a - forragens apropriadas ao tipo de solo e clima;
b - técnicas de manejo que propiciem maior produtividade
ao pasto e
c - animais adaptados às condições biológicas e econômicas de produção (sistema de criação, tipo de alimentação, ambiente, etc.).
c - animais adaptados às condições biológicas e econômicas de produção (sistema de criação, tipo de alimentação, ambiente, etc.).
Assim como encontramos na Palma forrageira e nos capins
Urochloa, Birdwood, Green Panic e Buffel Grass, alternativas para produzir
forragem sob precipitação escassa, em solos rasos e pedregosos, precisamos
encontrar animais adaptados ao clima quente e seco, eficientes na conversão do
alimento e cuja demanda - por nutrientes e energia - seja possível atender com
a limitada biomassa que nossos pastos conseguem produzir. Portanto, animais
capazes de responder bem às condições naturais do semiárido.
Embasados na lógica da sustentabilidade e no principio da
harmonia entre o animal e seu ambiente, acreditamos que uma das melhores
alternativas para a pecuária das regiões mais secas do nordeste brasileiro veio
do distrito de Las Bela na província de Baluchistão no Paquistão (Sindi, O Gado
Vermelho para os Trópicos - Santos, 2011, pg.25). Uma região semidesértica, com
precipitação entre 250 e 300 mm/ano, temperaturas que oscilam entre 2° e 48°C e
ventos frequentes de até 54 km/hora. Para compreender porque a raça Sindi, com
seus animais de pequeno ou médio porte, representa uma excelente alternativa
para a pecuária do semiárido brasileiro, precisamos, antes, entender como os
bovinos, de uma maneira geral, “funcionam” em condições de pastejo.
Os animais só atingem seu potencial de produção quando as
exigências em proteína, energia, vitaminas e minerais são completamente
atendidas. Em regime de pasto, estas exigências deverão ser supridas pelo
consumo diário de forragem. O organismo animal determina uma ordem de
prioridades para o uso do alimento. A “energia” do alimento é utilizada
primeiro para mantença (manutenção do peso, respiração, circulação, trabalho
muscular, etc.) e só depois para produção (crescimento, reprodução, engorda e
lactação). Portanto, só haverá produção, quando o suprimento alimentar for
superior às necessidades de mantença do animal.
Bovinos SRD, que não estão conseguindo ingerir energia suficiente para suas necessidades de mantença. |
À medida que progride a estação seca os animais aumentam
o tempo de pastejo e, mesmo assim, o consumo diário de forragem diminui, já que
o aumento do tempo não consegue compensar a redução em densidade e qualidade do
pasto. Podemos simplificar dizendo que
o animal gasta cada vez mais tempo e energia, para comer cada vez menos, em um
pasto cada vez pior.
Nestas condições a suplementação com “misturas múltiplas”
e “proteinados” pouco ou nada resolvem, já que, não são fatores nutricionais
(digestibilidade, proteína bruta, teores de minerais, etc.) que estão limitando
o consumo e o desempenho animal. É, na verdade, a “estrutura física” do pasto
(massa, densidade, altura, relação haste/folha...) que esta limitando a
ingestão de forragem. Os animais, simplesmente, não estão conseguindo ingerir
energia suficiente para suas necessidades de mantença e produção.
A seleção natural (do ambiente) e dirigida (por
criadores, pastores e melhoristas) realizada ao longo de muitas gerações
conferiu á raça Sindi um genótipo perfeitamente ajustado às condições de
pastejo de ambientes quentes e secos. Por isso ela é eficiente na conversão de
forragem fibrosa e é precoce, tanto na reprodução como no crescimento e
terminação (acabamento de carcaça). O menor porte da raça é consequência de um
processo natural de adaptação, que se verifica tanto em animais como vegetais
de regiões semiáridas, necessário para que possam sobreviver e reproduzir apesar
da escassez de água e alimentos. A própria caatinga nordestina com seus
pequenos animais silvestres e vegetação característica é um exemplo deste
processo de adaptação.
De fato, o menor porte do Sindi, aliado à sua perfeita
adaptação ao clima, tornam mínimo seu dispêndio de energia para mantença,
possibilitando que, mesmo em pastagens pobres, “sobre” energia para produção de
leite, carne e bezerros. Não obstante, sua menor estatura, despertou e ainda desperta
resistência de uma parcela considerável de criadores. Preconceito que vem sendo
paulatinamente superado pelas qualidades da raça, constatadas por criadores,
técnicos e instituições de pesquisa. A Embrapa Gado de Leite, por exemplo,
exalta sua produtividade, considerando-a: “pelo melhor aproveitamento por área,
menor consumo absoluto de alimentos, eficiência reprodutiva [...] e excelente
adaptabilidade às condições do semiárido, [...] uma excelente opção para as
regiões adversas de manejo do Nordeste brasileiro, [...] como raça pura e em
cruzamento, principalmente, para pequenas explorações leiteiras típicas da agricultura familiar”.
Também como
produtor de carne o Sindi, “apesar” do porte reduzido, mostra eficiência. A habilidade para manter-se em boas condições corporais mesmo nos períodos de maior adversidade favorece a vida reprodutiva das vacas, permitindo excelente resposta em termos de bezerros desmamados/ano, um dos principais indicadores de eficiência econômica nos sistemas de produção da pecuária de corte. Outro indicador importante é a redução da idade ao primeiro acasalamento para dois anos ou menos (Quadro 1). Esta possibilidade que a destacada precocidade do Sindi permite, “resulta em impactos econômicos mais significativos [...] do que a redução da idade de abate dos quatro para os dois anos” (Pereira Neto et al. 1999).
produtor de carne o Sindi, “apesar” do porte reduzido, mostra eficiência. A habilidade para manter-se em boas condições corporais mesmo nos períodos de maior adversidade favorece a vida reprodutiva das vacas, permitindo excelente resposta em termos de bezerros desmamados/ano, um dos principais indicadores de eficiência econômica nos sistemas de produção da pecuária de corte. Outro indicador importante é a redução da idade ao primeiro acasalamento para dois anos ou menos (Quadro 1). Esta possibilidade que a destacada precocidade do Sindi permite, “resulta em impactos econômicos mais significativos [...] do que a redução da idade de abate dos quatro para os dois anos” (Pereira Neto et al. 1999).
São as condições climáticas e de mercado das diferentes
regiões, sob as quais o rebanho irá transformar pasto em produtos, que
determinarão o tipo animal apropriado (espécie, raça, tamanho) e que, por sua
vez, deverá ser avaliado dentro do conceito de produção por unidade de área
(arroba/ha; bezerros/ha; leite/ha; R$/ha; etc.). O ambiente natural e o cenário
econômico do semiárido conduzem ao Sindi, com sua capacidade incomparável de
atravessar longos períodos de escassez “economizando” energia, mantendo-se
prolífica e alcançando elevada produtividade por hectare. Uma produtividade que
é consequente à perfeita harmonia entre animal e ambiente, e não fruto de
artificialismos antieconômicos.
José Caetano Ricci de Araujo
Produtor Rural em Ipirá-BA
Sócio da Bahia Red Sindhi |
Boa noite Sr. José Caetano, me chamo Vitor Manoel sou de Maringá - PR,estudante de medicina veterinária e me interessei pela raça Sindi a aproximadamente 2 anos. Estou para me formar daqui a 4 semestres e pretendo ir para o Piaui devido a disponibilidade de terras que ainda existe no estado, pretendo trabalhar com reprodução (IATF e FIV) e consultoria a propriedades rurais que trabalhem com cria e recria.
ResponderExcluirPercebi no gado Sindi a possibilidade de driblar a falta de chuvas que existe no nordeste do país, gostaria de algumas informações como: peso de desmama dos bezerros puros, peso aos 365 dias e aos 550 dias, no cruzamento Nelore x Sindi tem-se bons resultados?
Um abraço, Vitor Manel
Olá Vitor
ExcluirQuem bom que você tenha se interessado pelo Sindi. Com certeza está no caminho certo. Infelizmente não tenho as informações que me pede. Tenho feito o cruzamento Sindi X Nelore e o resultado é animador, mas não tenho um acompanhamento zootécnico preciso. Todos os trabalhos que encontro sobre o Sindi publicamos neste blog. Se você pesquisa-lo vai encontrar muita coisa. Há também o Livro do Rinaldo dos Santos – Sindi, o gado vermelho para os trópicos - este sim um verdadeiro tratado sobre a raça. Você poderá adquiri-lo entrando em contato com a ABCSindi ( joaopessoa@sindi.org.br abcsindi@sindi.org.br ).
Abraços
José Caetano
Gostaria de entrar em contato, para saber mais sobre a venda de matrizes Sindi
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