
Toda a dinâmica desta imensa região esta subordinada à
adversidade do clima. Além do fenômeno da “seca”, é comum chover num mês quase
toda a chuva esperada para o ano, ou ainda, chover bem em determinado local e
algumas centenas de metros adiante não cair uma gota. A esta “desarrumação”
pluviométrica soma-se o elevado potencial de evaporação e transpiração vegetal
que, inviabiliza a maioria das lavouras, tornando impraticável a agricultura
intensiva (exceção feita à pequena área irrigável).
A atividade pecuária também é afetada pela má
distribuição das chuvas. Como acontece em praticamente todo o Brasil, a
pecuária do semiárido é fundamentalmente feita a pasto. Noventa por cento do
total de animais abatidos são terminados a pasto e nas fases de cria e recria
este percentual é próximo a 100%. Inclusive a produção de leite é feita
predominantemente a pasto, com tecnologias simples e custos monetários
reduzidos. Portanto, embora o ambiente arejado e seco da região seja benéfico
aos rebanhos, os longos períodos de déficit hídrico limitam a capacidade de
produção forrageira comprometendo a principal vocação das regiões secas que é a
pecuária.
a - forragens apropriadas ao tipo de solo e clima;
b - técnicas de manejo que propiciem maior produtividade
ao pasto e
c - animais adaptados às condições biológicas e econômicas de produção (sistema de criação, tipo de alimentação, ambiente, etc.).
c - animais adaptados às condições biológicas e econômicas de produção (sistema de criação, tipo de alimentação, ambiente, etc.).
Assim como encontramos na Palma forrageira e nos capins
Urochloa, Birdwood, Green Panic e Buffel Grass, alternativas para produzir
forragem sob precipitação escassa, em solos rasos e pedregosos, precisamos
encontrar animais adaptados ao clima quente e seco, eficientes na conversão do
alimento e cuja demanda - por nutrientes e energia - seja possível atender com
a limitada biomassa que nossos pastos conseguem produzir. Portanto, animais
capazes de responder bem às condições naturais do semiárido.
Embasados na lógica da sustentabilidade e no principio da
harmonia entre o animal e seu ambiente, acreditamos que uma das melhores
alternativas para a pecuária das regiões mais secas do nordeste brasileiro veio
do distrito de Las Bela na província de Baluchistão no Paquistão (Sindi, O Gado
Vermelho para os Trópicos - Santos, 2011, pg.25). Uma região semidesértica, com
precipitação entre 250 e 300 mm/ano, temperaturas que oscilam entre 2° e 48°C e
ventos frequentes de até 54 km/hora. Para compreender porque a raça Sindi, com
seus animais de pequeno ou médio porte, representa uma excelente alternativa
para a pecuária do semiárido brasileiro, precisamos, antes, entender como os
bovinos, de uma maneira geral, “funcionam” em condições de pastejo.
Os animais só atingem seu potencial de produção quando as
exigências em proteína, energia, vitaminas e minerais são completamente
atendidas. Em regime de pasto, estas exigências deverão ser supridas pelo
consumo diário de forragem. O organismo animal determina uma ordem de
prioridades para o uso do alimento. A “energia” do alimento é utilizada
primeiro para mantença (manutenção do peso, respiração, circulação, trabalho
muscular, etc.) e só depois para produção (crescimento, reprodução, engorda e
lactação). Portanto, só haverá produção, quando o suprimento alimentar for
superior às necessidades de mantença do animal.
Bovinos SRD, que não estão conseguindo ingerir energia suficiente para suas necessidades de mantença. |
À medida que progride a estação seca os animais aumentam
o tempo de pastejo e, mesmo assim, o consumo diário de forragem diminui, já que
o aumento do tempo não consegue compensar a redução em densidade e qualidade do
pasto. Podemos simplificar dizendo que
o animal gasta cada vez mais tempo e energia, para comer cada vez menos, em um
pasto cada vez pior.
Nestas condições a suplementação com “misturas múltiplas”
e “proteinados” pouco ou nada resolvem, já que, não são fatores nutricionais
(digestibilidade, proteína bruta, teores de minerais, etc.) que estão limitando
o consumo e o desempenho animal. É, na verdade, a “estrutura física” do pasto
(massa, densidade, altura, relação haste/folha...) que esta limitando a
ingestão de forragem. Os animais, simplesmente, não estão conseguindo ingerir
energia suficiente para suas necessidades de mantença e produção.
A seleção natural (do ambiente) e dirigida (por
criadores, pastores e melhoristas) realizada ao longo de muitas gerações
conferiu á raça Sindi um genótipo perfeitamente ajustado às condições de
pastejo de ambientes quentes e secos. Por isso ela é eficiente na conversão de
forragem fibrosa e é precoce, tanto na reprodução como no crescimento e
terminação (acabamento de carcaça). O menor porte da raça é consequência de um
processo natural de adaptação, que se verifica tanto em animais como vegetais
de regiões semiáridas, necessário para que possam sobreviver e reproduzir apesar
da escassez de água e alimentos. A própria caatinga nordestina com seus
pequenos animais silvestres e vegetação característica é um exemplo deste
processo de adaptação.
De fato, o menor porte do Sindi, aliado à sua perfeita
adaptação ao clima, tornam mínimo seu dispêndio de energia para mantença,
possibilitando que, mesmo em pastagens pobres, “sobre” energia para produção de
leite, carne e bezerros. Não obstante, sua menor estatura, despertou e ainda desperta
resistência de uma parcela considerável de criadores. Preconceito que vem sendo
paulatinamente superado pelas qualidades da raça, constatadas por criadores,
técnicos e instituições de pesquisa. A Embrapa Gado de Leite, por exemplo,
exalta sua produtividade, considerando-a: “pelo melhor aproveitamento por área,
menor consumo absoluto de alimentos, eficiência reprodutiva [...] e excelente
adaptabilidade às condições do semiárido, [...] uma excelente opção para as
regiões adversas de manejo do Nordeste brasileiro, [...] como raça pura e em
cruzamento, principalmente, para pequenas explorações leiteiras típicas da agricultura familiar”.
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