Dr. Bonifacio Benicio de Souza: Graduação em Zootecnia pela Universidade
Federal da Paraíba (1982), mestrado em Produção Animal pela Universidade
Federal da Paraíba (1994) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de
Lavras (2000), Pós-Doutorado em Ambiência e Zootecnia de Precisão na
Universidade de São Paulo - USP (2008).
1. Introdução
As preocupações com vistas ao suprimento de
alimentos e produtos de origem animal em quantidade e qualidade, suficientes
para atender a demanda da população humana, sempre em crescimento, tem
provocado os diversos setores no sentido de aumentar a produtividade animal.
Seja através da seleção de raças mais produtivas, sistemas de produção que
permitam uma maior produção por área, melhoria nutricional e de ambiência,
visando exclusivamente o aumento da produtividade, muitas vezes sem a
preocupação com o bem-estar dos animais.
Adaptabilidade e bem estar animal. |
Atualmente dois aspectos importantes
estão em discussão a nível mundial: o aquecimento global, que como consequências está provocando mudanças acentuadas nos climas das diferentes
regiões do planeta, assim exigindo um melhor conhecimento das espécies e raças
que apresentem potencial genético com maior capacidade de adaptabilidade, sendo
capazes de sobreviver, produzir e reproduzir-se em condições adversas de clima,
principalmente nos ambientes tropicais e intertropicais; outro, diz respeito ao
bem estar-animal.
Determinadas práticas utilizadas no sentido de
aumentar a produtividade animal, mas que não correspondem à manutenção do
bem-estar para os animais vêm sendo combatidas, principalmente nos países
europeus. É necessário que sejam atendidas as exigências previstas nos direitos
dos animais, como a liberdade psicológica (de não estar exposto a medo,
ansiedade ou estresse), liberdade comportamental (de expressar seu
comportamento normal), liberdade fisiológica (de não sentir fome ou sede), liberdade
sanitária (de não estar exposto a doenças, injúrias ou dor) e liberdade
ambiental (de viver em ambientes adequados, com conforto) (NÄÄS, 2004).
Não estar exposto a doenças, injúrias ou dor. |
A produção animal nos trópicos é limitada
principalmente pelo o estresse calórico e há o agravante de que as raças
selecionadas para maior produção, no geral, são provenientes de países de clima
temperado, o que não permite a estas expressar o máximo da sua capacidade
produtiva. Desta forma, torna-se imprescindível o conhecimento da
capacidade de adaptação das espécies e raças exploradas no Brasil, bem como a
determinação dos sistemas de criação e práticas de manejo que permitam a
produção pecuária de forma sustentável, sem prejudicar o bem-estar dos animais.
Este texto procura discutir os aspectos da
adaptabilidade e bem-estar dos animais de produção, levando em consideração a
importância que estes temas representam na atualidade, para escolha, seleção e
preservação de espécies e raças que apresentem maior capacidade genética de
adaptabilidade a ambientes de temperatura elevada e outras adversidades
climáticas, que poderão surgir com o evidente aquecimento global.
2. Adaptabilidade
dos animais de produção ao clima tropical
Tolerância e adaptação dos animais são determinados pelas medidas fisiológicas da respiração, batimento cardíaco e temperatura corporal. |
• Adaptação biológica: refere-se às características
morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e de comportamento do
animal, que permitem o bem-estar e a sobrevivência em um ambiente específico.
• Adaptação genética: refere-se às características
hereditárias do animal, que favorecem a sua sobrevivência em um ambiente
específico e podem promover mudanças por muitas gerações (seleção natural) ou
favorecer a aquisição de características genéticas específicas (seleção
artificial).
• Adaptação fisiológica: é o processo de ajustamento
do próprio animal a outro ambiente.
• Aclimatização: refere-se a mudanças adaptativas
(normalmente produzidas em câmaras climáticas) em resposta a uma única variável
climática.
Para Abi Saab e Sleiman (1995), os critérios de
tolerância e adaptação dos animais são determinados pelas medidas fisiológicas
da respiração, batimento cardíaco e temperatura corporal. A adaptação
fisiológica, dada principalmente por meio das alterações do equilíbrio térmico,
e a adaptabilidade de um rendimento, que descreve as modificações desse
rendimento quando o animal é submetido à altas temperaturas, são para MacDowell
(1989), as duas classes principais de avaliação da adequação a ambientes
quentes. A temperatura retal e a freqüência respiratória são para Bianca e Kunz
(1978), as melhores referências fisiológicas para estimar a tolerância dos
animais ao calor. Hopkins et al. (1978) afirmam que valores de temperatura retal
próximos à temperatura normal da espécie podem ser tomados como índice de
adaptabilidade. Animais que apresentam menor aumento na temperatura retal e menor
freqüência respiratória são considerados mais tolerantes ao calor (BACCARI JR,
1986). De acordo com Siqueira et al. (1993), a temperatura retal, a freqüência
respiratória e o nível de sudação cumprem um importante papel na
termorregulação dos ovinos. Segundo Baccari Jr. (1990) a maior parte das
avaliações de adaptabilidade dos animais aos ambientes quentes estão incluídas
em duas classes: (adaptabilidade fisiológica) que descreve a tolerância do
animal em um ambiente quente mediante, principalmente modificações no seu
equilíbrio térmico, e (adaptabilidade de rendimento) que descreve as
modificações da produtividade animal experimentadas em um ambiente quente. De
acordo McDowell (1989) a adaptação fisiológica é determinada principalmente por
alterações do equilíbrio térmico e da adaptabilidade que descreve determinadas
modificações no desempenho quando o animal é submetido a altas temperaturas.
Boer |
Mesmo considerando as espécies mais tolerantes ao
calor, como é o caso dos caprinos que é tida como menos susceptível ao estresse
ambiental, em temperaturas críticas reduzem a sua eficiência bioenergética
prejudicando o resultado de sua produtividade (LU, 1989). Por isso, o
conhecimento prévio do desempenho de raças exóticas introduzidas em ambientes diferentes
ao de sua origem torna-se indispensável. Neiva et al., (2004) ao avaliarem o
efeito do estresse climático sobre os parâmetros produtivos e fisiológicos de
ovinos Santa Inês, mantidos em confinamento em ambiente de sombra e sol, com
diferentes níveis de volumoso e concentrado na dieta, observaram que
o consumo de matéria seca foi superior para os animais mantidos à sombra
independente da quantidade de concentrado, os quais apresentaram maior ganho de
peso.
Com relação aos parâmetros fisiológicos foi observado que a elevação da
temperatura ambiente no turno da tarde exerceu influência sobre a temperatura
retal e freqüência respiratória. Portanto, mesmo no caso de animais de regiões
tropicais as interações entre o tipo de alimento, o consumo, o ambiente e
parâmetros fisiológicos devem ser determinados a fim de que o desempenho dos
animais não seja prejudicado. Santos et al., (2005) observaram que independente
da raça (exótica ou nativa) o turno influenciou sobre os parâmetros
fisiológicos. Com relação à temperatura retal
não houve diferença significativa entre as raças Moxotó e Boer. Para a freqüência respiratória a raça Boer apresentou maior valor quando comparada com as raças Anglo-Nubiana, Moxotó e Pardo-Sertaneja. Com base nos dados fisiológicos os autores concluíram que os animais da raça Boer e Anglo-Nubiana demonstraram um alto grau de adaptabilidade às condições semi-áridas quando confinados, assemelhando-se as raças naturalizadas (Moxotó e Pardo-Sertaneja), contudo, não quer dizer que estas raças estão adaptadas em todos os aspectos da região, necessitando de mais pesquisas, envolvendo o desempenho e reprodução por um período de tempo maior.
Anglo-Nubiana |
não houve diferença significativa entre as raças Moxotó e Boer. Para a freqüência respiratória a raça Boer apresentou maior valor quando comparada com as raças Anglo-Nubiana, Moxotó e Pardo-Sertaneja. Com base nos dados fisiológicos os autores concluíram que os animais da raça Boer e Anglo-Nubiana demonstraram um alto grau de adaptabilidade às condições semi-áridas quando confinados, assemelhando-se as raças naturalizadas (Moxotó e Pardo-Sertaneja), contudo, não quer dizer que estas raças estão adaptadas em todos os aspectos da região, necessitando de mais pesquisas, envolvendo o desempenho e reprodução por um período de tempo maior.
A temperatura corporal de animais homeotérmicos é
mantida dentro de limites estreitos por uma série de mecanismos de regulação
térmica, os quais incluem respostas fisiológicas e comportamentais ao ambiente.
Entre o animal e o meio existe uma constante transferência de calor dividida em
calor sensível e calor insensível. A perda de calor sensível envolve trocas
diretas de calor com o ambiente por condução, convecção ou radiação e dependem
da existência de um gradiente térmico entre o corpo do animal e o ambiente
(HABEEB et al., 1992). A perda de calor insensível consiste na evaporação da
água na superfície da pele ou através do trato respiratório, usando o calor
para mudar a entalpia da água em evaporação (INGRAM & MOUNT, 1975). Quanto
maior o gradiente térmico entre a superfície do animal e o meio, maior é a
capacidade de dissipação de calor do animal, a medida que diminui esse
gradiente ocorre uma redução na perda de calor da forma sensível e aumenta
através dos mecanismos de perda de calor insensível, como a sudorese e ou
freqüência respiratória (SOUZA et al., 2003).
A adaptabilidade dos animais aos trópicos tem sido
discutida por diversos autores (MCDOWELL, 1967; NUNES, 2002; BACCARI JR.,1986;
SANTOS, 2004 ) e vários métodos tem sido propostos para avaliar a capacidade
destes animais em se justarem às condições ambientais predominantes em regiões
de climas quentes. O interesse por
desenvolver uma técnica de alta
confiabilidade para medir a tolerância ao calor desdobra-se em dois aspectos
traduzidos pela identificação de raças ou linhagens que mantêm a homeotermia
quando em temperaturas elevadas, além do entendimento dos caracteres
anatomofisiológicos envolvidos na termólise (BACCARI JR., 1986). McDowell
(1967) ressalta a necessidade de que uma prova de tolerância ao calor deva
guardar alta correlação com a produtividade dos animais, de tal maneira que se
possa prever em animais jovens, através de medidas de adaptabilidade, o
desempenho destes e de seus descendentes. Para Olivier (2000) a avaliação de
uma raça ou grupo genético não pode ser baseada apenas na capacidade de ganho
de peso e no rendimento de carcaça, mas também na eficiência produtiva, adaptabilidade,
prolificidade e taxa de sobrevivência.
A temperatura corporal de animais homeotérmicos é mantida dentro de limites estreitos por uma série de mecanismos de regulação térmica |
No tocante a adaptabilidade, para Abi Saab e
Sleiman (1995), os critérios de tolerância e adaptação dos animais são determinados
pelas medidas fisiológicas da respiração e temperatura corporal.
A temperatura
corporal é o resultado entre a energia térmica produzida e a energia térmica
dissipada (LEGATES, 1991). Vários testes de tolerância ao calor foram
desenvolvidos, como os de Rhoad (1944) e de Dowling (1956), tendo porém sua
aplicação reduzida em função de algumas limitações. Nota-se que no teste
idealizado por Rhoad (1944), conhecido como teste de Ibéria, toma-se como base
de cálculo a temperatura retal de 38,3°C, tida como temperatura corporal
normal, não levando em conta diversas situações fisiológicas que alteram este
parâmetro. Neste teste são tomadas as temperaturas retais e as freqüências
respiratórias dos animais de manhã (10:00 h) e à tarde (15:00 h), durante 3
dias, e os dados médios são aplicados à fórmula CTC = 100 -[18(Tr -38,3)], para
cálculo do coeficiente de tolerância ao calor. O teste de Dowling (1956)
baseia-se na capacidade de dissipação do calor corporal, após os animais serem
submetidos ao exercício físico, sob radiação solar direta, até
que a temperatura corporal atinja 40,0°C. Quando então é marcado o tempo
necessário para que a temperatura retal volte ao valor inicial. Uma crítica a
este teste é que o calor adquirido nestas condições advém não só da radiação
solar, mas também do trabalho muscular, que envolve outros processos
fisiológicos e vias metabólicas não implicados naturalmente no mecanismo de
termorregulação da espécie. Segundo Neiva et al. (2004) a elevação dos
parâmetros ambientais durante o dia exerce efeito sobre a temperatura retal dos
ovinos Santa Inês, de tal forma que, na sua pesquisa, durante o período da tarde,
o valor médio foi significativamente superior ao da manhã, independentemente da
condição da instalação e da dieta fornecida.
O bem-estar dos animais, juntamente com as questões ambientais e a segurança dos alimentos é considerado um dos maiores desafios da agropecuária mundial. |
O bem-estar animal pode ser considerado uma demanda para que um sistema seja defensável eticamente e aceitável socialmente. |
O teste de adaptabilidade proposto por Baccari Jr.
et al. (1986) tem como princípio a capacidade de dissipação de calor e consiste
de uma primeira mensuração da temperatura retal dos animais em repouso de duas
horas à sombra (TR1) e, logo após a mensuração, os animais devem ser expostos
diretamente ao sol por mais uma hora, após essa exposição, os animais devem
retornar a sombra por mais um hora quando a segunda mensuração da temperatura
retal deve ser feita (TR2). As médias das temperaturas retais obtidas (TR1 e
TR2, respectivamente), devem então ser aplicadas na fórmula do Índice de
Tolerância ao Calor ITC= 10 – (TR2-TR1), a qual determina o grau de tolerância
ao calor dos animais pela diferença entre as temperaturas, e consta de uma
escala de 0 a 10, sendo o resultado mais próximo de 10, representado pelos
animais mais tolerantes ao ambiente. Silva et al. (2006) aplicando o teste de
Baccari Jr, para caprinos observaram um elevado grau de tolerância ao calor das
raças Boer e Savana assemelhando-se aos caprinos das raças Anglo Nubiana e
Moxotó que são reconhecidos como bem adaptados às condições do Semi-árido.
Souza et al. (2007), trabalhando com bovinos utilizando a mesmo teste
verificaram elevado índice de tolerância à radiação solar direta de animais
raça Sindi, que apresentaram ITC = 9,83, comprovando a elevada adaptação do
Sindi às condições do Semi-árido. Contudo, considera-se que a adpatabilidade
não deve ser avaliada apenas pela capacidade de tolerância ao calor, pois são
vários os fatores que interferem no processo de adaptação dos animais, de forma
que outros testes devem ser aplicados para se verificar com maior exatidão a
adaptação dos animais nos diversos aspectos, fisiológicos, produtivos e
reprodutivos.
1.2.Conceitos
e considerações gerais
Na conjuntura atual, a pecuária brasileira, embora
venha crescendo de modo satisfatório e utilizando novas tecnologias nos
diversos setores da produção animal, precisa atender ao mercado com produtos de
origem animal em quantidade e qualidade, provenientes de criações que atendam
as exigências internacionais, principalmente os países da União Européia (UE),
referentes ao estado sanitário e bem-estar dos animais. É urgente a necessidade
de divulgação das normas e técnicas de manejo adequadas aos sistemas de criação
empregados, bem como o treinamento de pessoal, no que diz respeito ao trato com
os animais, durante o período de criação, transporte e pré-abate.
O bem-estar dos animais, juntamente com as questões
ambientais e a segurança dos alimentos é considerado um dos maiores desafios da
agropecuária mundial. A convicção dos consumidores de que os animais utilizados
para a produção de alimentos devem ser bem tratados, ganha cada vez mais
importância, principalmente junto a União Européia (UE) e frente aos países
terceiros que colocam animais vivos ou produtos de origem animal nos estados
membros. Deste modo, a legislação da UE dirigida ao bem-estar dos animais
aumentou consideravelmente nos últimos anos. Essa tendência deverá ser
acelerada diante ao Tratado de Amsterdã e o estabelecimento relativo às normas
mínimas de proteção aos suínos (Diretiva 91/630/CEE) que consagra as ambições
de todas as instituições da UE de fazer mais para melhorar os padrões de
bem-estar, sendo cada vez mais reconhecido o fato de elevados padrões de
bem-estar terem impacto direto e indireto na segurança dos alimentos e na
qualidade final dos produtos, se fazendo necessário à adaptação dos atuais
modelos de produção animal (PANDORFI, 2005).
O bem-estar animal pode ser considerado uma demanda
para que um sistema seja defensável eticamente e aceitável socialmente. Warriss
(2000) citado por Pandorfi (2005), afirma que as pessoas desejam comer carne
com “qualidade ética”, isto é, carne oriunda de animais que foram criados,
tratados e abatidos em sistemas que promovam o seu bem-estar, e que sejam
sustentáveis e ambientalmente corretos.
É por isso que a UE entende que há uma necessidade
evidente de debater a questão do bem-estar dos animais no contexto da
Organização Mundial de Comércio (OMC). As questões
são reais, para produtores e consumidores, e a OMC, na sua qualidade de
principal organização comercial internacional, deve estar preparada para
abordar essas questões. Atendendo as relações existentes entre as medidas de
bem-estar dos animais e o comércio internacional de produtos agrícolas e
alimentares de origem animal, a UE considera que esta questão deve ser abordada
no contexto das negociações sobre agropecuária, visando ao estabelecimento de
um conjunto de normas que caracterize as exigências sobre o bem-estar na
exploração de animais domésticos, caracterizando-se efetivamente as barreiras
técnicas à comercialização (PANDORFI, 2005).
O bem-estar pode ser medido por métodos científicos e deve ser independente de quaisquer considerações éticas, culturais ou religiosas. |
O bem-estar pode ser medido por métodos científicos
e deve ser independente de quaisquer considerações éticas, culturais ou
religiosas. São usados vários indicadores para aferir o bem-estar de um animal,
como o dano físico, a dor, o medo, o comportamento, a redução de defesas do
sistema imunológico e a incidência de doenças conforme Meneses, 1999, citado
por Pandorfi, (2005). O bem-estar é avaliado por meio de indicadores
fisiológicos e comportamentais. As medidas fisiológicas associadas ao estresse
têm sido usadas com base em que, se o estresse aumenta, o bem-estar diminui. Já
os indicadores comportamentais são baseados especialmente na ocorrência de
comportamentos anormais, e daqueles que se afastam do comportamento no ambiente
natural.
1.3. Legislação
sobre bem-estar dos Suínos
Na União Européia, uma questão polêmica que se
coloca com freqüência cada vez maior na suinocultura são as novas
regulamentações sobre o bem-estar, podendo apresentar impacto sobre a suinocultura
brasileira à medida que podem afetar as importações européias de carne suína. A
proposta da Diretiva do Conselho COM(2001) 20 – C5-0039/2001 – 2001/0021(CNS)
que altera a Diretiva 91/630/CE, com base nas disposições do artigo 6º, tem os
seguintes objetivos: proibir a utilização de celas individuais para as porcas e
marrãs prenhes, bem como a utilização de amarras; aumentar a área livre destinada
às porcas e marrãs; permitir que as porcas e marrãs tenham acesso a materiais
para fuçar; elevar o nível de formação e a competência dos suinocultores e do
pessoal responsável pelos animais em relação às questões
relacionadas com a proteção; solicitar novos pareceres científicos sobre certas
questões do domínio da suinocultura.
As normas referentes às matrizes dependem da sua
fase no ciclo reprodutivo, pode-se distinguir porcas em crescimento, secas e em
gestação e porcas em preparação para o parto ou em fase de parto e cria. O
alojamento das matrizes em crescimento, secas ou em gestação, deve ser feito em
grupo, em estabulação livre, para permitir um adequado contato social. Desde a
data de primeiro de janeiro de 1996 foram proibidos, através da diretiva
européia, a construção ou reformas de instalações em que os animais sejam
mantidos em confinamento individual, através de celas individuais, coleiras ou
cintas. O alojamento individual nestas fases é apenas permitido antes da
cobrição, inseminação, ou para tratamento. Foi definido um período de transição
para as instalações já existentes, até 1 de janeiro de 2006. As matrizes em
preparação para o parto, ou durante a fase de parto e cria, devem ser alojadas
em maternidades que satisfaçam as necessidades da mãe e dos leitões.
1.4. Legislação
sobre bem-estar das Aves
A preocupação com o bem-estar em avicultura de
corte ou postura é uma realidade
atualmente na Europa, conseqüentemente todos os países produtores deverão rever
e
modificar as instalações, manejo e o sistema de criação, para atender a
legislação do bem estar animal. A União Européia (UE) através de legislação
estabelece as normas mínimas relativas à proteção das aves. Para as galinhas
poedeiras entre as principais mudanças propostas está a troca do sistema de
criação em bateria em gaiolas, por um sistema que possibilite às aves expressar
os seus comportamentos naturais, tais como: utilizar o ninho para a postura,
tomar banho de areia, empoleirar ou ainda bater e esticar as asas, sendo isso
uma conseqüência das mudanças e exigências de um novo tipo de consumidor cada
vez mais preocupado com as regras em prol do bem-estar dos animais de produção
e com a qualidade do alimento que consome (BARBOSA FILHO, 2004).
A preocupação com o bem-estar em avicultura de corte ou postura é uma realidade atualmente na Europa. |
Com as exigências impostas pela legislação vigente
em alguns países europeus, em relação ao espaço nas gaiolas e a extinção
destas, com vistas atender o bem-estar das aves, que na Diretiva
1999/74/CE do conselho de 19 de julho de 1999, Capítulo II, Artigo 5.º:
determina que a partir de 1 de Janeiro de 2012, seja proibida a criação em
gaiolas não melhoradas. O que permite ao Brasil aumentar as exportações de
ovos, considerando que o custo da produção extensiva poderá inviabilizar muitas
granjas em outros países. É crescente o número de pessoas em todo o mundo que
reconhece a importância do bem-estar animal como fator determinante para a
imagem e a qualidade dos produtos. Este fato torna necessário o emprego de
sistemas de controle do bem-estar e dos riscos dos animais nas explorações
pecuárias. A relação entre o bem-estar e a sanidade animal e, por extensão,
entre o bem-estar animal e a segurança e a qualidade dos alimentos está sendo
cada vez mais reconhecida (ALVES, 2007).
O Bem estar-animal não será atendido apenas com o
maior espaço disponível, pois são vários os fatores que podem prejudicar o
bem-estar animal, dentre eles os fatores nutricionais, sanitários e os
elementos do clima que têm efeitos direto como: a temperatura e a umidade
relativa do ar, velocidade do vento e a radiação. De acordo com a intensidade
desses fatores e sua inter-relação o ambiente pode apresentar-se desconfortável
para aves, prejudicando o seu bem-estar e ao mesmo tempo reduzindo os lucros
dos criadores, em função da redução do consumo de alimento, diminuição na taxa
de crescimento, queda na produção de ovos, piora na conversão alimentar e maior
incidência na produção de ovos com casca mole. Com relação a criação de frangos
de corte, Barbosa Filho e Silva (2004), relatam de acordo com as normas de
bem-estar que: "Os animais devem ser alimentados com uma dieta apropriada
a sua idade e espécie, e que esta alimentação seja em quantidade adequada para
manter a saúde do animal, satisfazer suas necessidades nutricionais e
proporcionar um estado de bem-estar". Quanto aos equipamentos de
alimentação e bebedouros as normas pregam que: "Os equipamentos de
fornecimento de ração e água aos animais devem ser projetados, construídos e
colocados em locais de modo a minimizar os riscos de contaminação dos alimentos
e da água e os efeitos lesivos que podem resultar de uma luta entre os animais
para o acesso aos mesmos". Quanto a possíveis substâncias ou compostos
promotores de crescimento que possam estar presentes na ração das aves a norma
é clara e diz que: "Não devem ser administradas aos animais quaisquer
outras substâncias, com exceção das necessárias para efeitos terapêuticos ou profiláticos
ou destinados ao tratamento zootécnico definido pelo artigo 1 da directiva
96/22/CE, a menos que estudos científicos de bem-estar animal ou experiências
constantes tenham demonstrado que o efeito dessas e de outras substâncias não
são lesivos a saúde e ao bem-estar animal".
Nos aspectos relacionados à ambiência ou ao
bem-estar térmico das aves as normativas dizem respeito aos aspectos
construtivos dos galpões e ao sistema de ventilação de forma que garanta a
qualidade do ar. Um ponto que também é muito focado quanto aos princípios de
bem-estar, é o direito dos animais à liberdade de movimento, segundo as normas
de bem-estar o direito ao movimento e à liberdade de expressão das
características e hábitos naturais é considerado um direito de todos os animais,
e os animais confinados deverão ter um espaço apropriado para que suas
necessidades fisiológicas e etológicas sejam satisfeitas, assim a legislação
cita que a densidade máxima de confinamento para frangos de corte deve ser de
34 Kg/m2. A captura e manuseio das aves deverá ser feita sem causar injuria ou
algum tipo de stress aos animais e o abate das aves deve ser o mais humanitário
possível, ou seja, devem ser evitados dores e sofrimentos desnecessários
durante os processos de abate.
4. Importância
do sombreamento sobre a produtividade e bem-estar animal nos trópicos.
O Brasil possui grande maioria do seu território,
cerca de dois terços, situado na faixa tropical do planeta, onde predominam
altas temperaturas do ar, consequüência da elevada radiação solar incidente
(PIRES et al. 2000). Segundo Ayoade (1991), trópico é a área situada entre os
Trópicos de Câncer e de Capricórnio, onde não há estação fria, baixa amplitude
térmica ao longo do ano, temperatura média ao nível do mar no mês mais frio
nunca inferior a 18ºC e temperatura máxima nas horas mais quentes do dia acima
de 30 ºC, chegando muitas vezes a uma faixa de 35 – 38ºC. Sendo assim
imprescindível o provimento de condições ambientais favoráveis a atenuação dos
efeitos diretos da radiação solar direta, através de instalações adequadas ao
sistema de criação. Os sistemas agrossilvipastoris que combinam
árvores, animais e culturas agrícolas, têm despertado o interesse de alguns
pesquisadores, pois além de aumentar a eficiência de utilização dos recursos
naturais, apresentam também fundamentos agroecológicos e equilíbrio do
ecossistema (MAGALHÃES et al., 2001).
De acordo com Silva (1988) a melhor sombra é
proporcionada pelas árvores, isoladas ou em grupos, porém na ausência dessas,
as sombras artificiais, do tipo móvel ou permanente, apresentam-se como
alternativa. A sombra móvel, como a tela (polietileno), em conjunto com
estruturas simples de metal ou madeira, pode prover de 30 a 90% de sombra, de
acordo com a malha. Já a permanente utiliza material como telha de cerâmica, de
chapa galvanizada ou de alumínio. Segundo Head (1995) a construção da estrutura
permanente apresenta-se com custo mais elevado, comparado à móvel e que esta
por sua vez, possui durabilidade de 5 a 10 anos. Para Baêta e Souza (1997) a
natureza da cobertura é o principal fator de ação nas trocas de radiação solar
entre o ambiente e o
animal, e influenciam diretamente o ganho de calor pelos
animais.
A utilização de
sombras para animais em pastejo é de fundamental importância |
De acordo com Johnson (1987) a utilização de
sombras para animais em pastejo é de fundamental importância, sendo procurada
pelos ovinos durante o verão, estejam eles tosquiados ou não. Para Leme et al.
(2005) a procura dos animais por ambientes sombreados durante o verão, mostra a
necessidade da provisão de sombra, especialmente usando-se espécies arbóreas
com copas globosas e densas, para que os animais possam viver em um ambiente
mais favorável. Martello et al. (2004) trabalhando com diferentes tipos de instalações
para bovinos: telha de cimento e amianto (ICO), proveniente da sombra do
comedouro com 37,2 m2, instalação climatizada, utilizando ventiladores e
instalação com tela, com 60 m2, composta de tela preta de polietileno com malha
para 80% de sombra, concluíram que dentre as instalações avaliadas, tanto a instalação
climatizada (ICL) como a instalação com tela (IT) apresentaram resultados
satisfatórios para proporcionar conforto aos animais. Andrade et al. (2005)
verificaram que os cordeiros Santa Inês procuram mais vezes a sombra natural,
mas, ao final do dia de pastejo o tempo que os animais permanecem na sombra independe
do tipo de sombreamento, indicando a possibilidade de sombreamento artificial
para melhorar o conforto térmico dos animais. Para Couto (2005)
nas condições de semi-árido, o uso de sombras tanto natural como artificial,
contribuem de forma favorável aos animais em confinamento, uma vez que minimiza
os efeitos climáticos e melhora a eficiência da produção. Damasceno et al.
(1998) avaliando o efeito da disponibilidade de sombra sobre as respostas
fisiológicas e produtivas de vacas holandesas, concluíram que a proteção da
área de descanso dos animais contra a radiação solar direta resultou em redução
na freqüência respiratória e temperatura retal, aumento de 8,1% na produção de
leite e melhora na eficiência alimentar. Andrade et al. (2007) trabalhando com
ovinos da raça Santa Inês, com peso vivo médio de 21,5 kg e 120 dias idade, distribuídos
em três ambientes: sem sombra (SS); sombra natural (SN), proveniente de um
cajueiro; sombra artificial (SA), constituída por uma tela de polietileno com
80% de retenção (sombrite), e níveis crescentes de suplementação concentrada
(0, 1,0 e 1,5% do peso vivo PV ), concluíram que o provimento de sombras
natural ou artificial auxilia os ovinos a manterem a homeotermia com menor
esforço do aparelho termorregulatório.
Vacas que dispõem de
acesso à sombra no verão podem produzir, em geral 25% a mais de leite. |
Conclusões
Para aumentar a produtividade dos animais domésticos
nas regiões tropicais, é necessário a escolha correta de raças ou tipos raciais
com características favoráveis a adaptação aos rigores do clima destas regiões,
através da aplicação de testes bioclimáticos práticos realizáveis em nível de
campo. Deve-se devem aumento da produtividade animal, com vistas ao provimento
de proteínas e outros produtos de origem animal, para atender a demanda
crescente da população humana, respeitando os princípios de bem-estar dos
animais. A disponibilidade de sombra para os animais criados nas regiões de climas
quentes devem ser priorizadas, para favorecer o bem-estar e a produtividade dos
mesmos.
Resumo
Objetiva-se com este texto, apresentar os aspectos relevantes
da adaptação e do bem-estar dos animais de produção emambientes quentes. São
tratados com maior ênfase a adaptabilidade de espécies e raças, respostas
fisiológicas e os testes de avaliação da habilidade dos animais em tolerar os
rigores do clima tropical, levando em consideração as mudanças climáticas e a
introdução recente de novas raças no Brasil. Com relação ao bem estar animal,
são apresentados: conceitos, aspectos éticos, direito dos animais, legislação
específica para suínos e aves, alternativas para melhoria do conforto térmico para
os ruminantes. Esta matéria deverá auxiliar a todos que buscam o aumento da
produtividade animal nas regiões tropicais com vistas ao provimento de
proteínas e outros produtos de origem animal, para atender a demanda crescente
da população humana, respeitando os princípios de bem-estar dos animais.
Termos para indexação: Bioclimatologia, adaptação,
ambiente, tolerância ao calor.
Adaptability and welfare of
livestock
This text aims to put in
discussion the main aspects of the adaptation and welfare in animals of
production in hot environments. The emphasis is turned to the adaptation of
species andbreeds, physiological answers and the exams used to determine the
animal’s ability to handle the extremes of tropical climate,considering the climate
changes and the recent introduction of new breeds in Brazil.
About animal welfare are
showed: concepts, ethic aspects, animal straights, specific legislation for
pigs and poultry and alternatives to improve the thermal comfort to the
ruminants. This topic will help the persons involved in the search to improve
the animal productivity in tropical areas to provide the animal protein and others
products to the crescent human population, respecting the principles of the animal
welfare.
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INDEX TERMS:
Bioclimatology, adaptation,
environment, tolerance to heat.
Bonifácio Benicio de Souzapossui graduação em Zootecnia
pela Universidade Federal da Paraíba (1982), mestrado em Produção Animal pela
Universidade Federal da Paraíba (1994) e doutorado em Zootecnia pela Universidade
Federal de Lavras (2000). Atualmente éprofessor Adjunto IV, da Universidade
Federal de Campina Grande. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em
produção animal atuando principalmente nos seguintes temas: bioclimatologia,
adaptabilidade de raças de bovinos, caprinos e ovinos ao semi-árido. É
Professor permanente dos Programas de Pós-Graduação em Zootecnia e de Medicina
Veterinária em Pequenos Ruminantes, da UFCG, Campus de Patos PB, é coordenador
de Pesquisa e Extensão da Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária,
Conselheiro titular co Conselho Universitário da UFCG, Coordenador de grupo de
pesquisa da CPA da UFCG.
Contato: bonif@cstr.ufcg.edu.br
Dados para
citação bibliográfica(ABNT):
SOUZA, B.B. de Adaptabilidade e bem-estar em
animais de produção. 2007.
Artigo em Hypertexto. Disponível em:
.
Acesso em: 21/10/2011
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