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Ipirá, março de 2012. |
Calma, O sindi não é fora da lei. Quando
dissemos que a raça Sindi ignorou um decreto municipal, não estamos falando em
nada ilegal. Para explicar melhor vou
relatar o que presenciei.
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Ipirá, março de 2012. |
Ao chegar ao município de Ipirá constatei
ainda na estrada diversos rebanhos bovinos pastando no acostamento. Isso
ocorria por que nas fazendas que passei não havia mais nada para os animais
comerem. Ainda constatei também diversas camionetes no acostamento cortando
e carregando o capim de beira de estrada para leva-lo às fazendas, pois já nada
havia lá para alimentar os animais. Vi também algumas carcaças de animais
mortos e outros perambulando pelas estradas parecendo zumbis esqueléticos
desnorteados. Reparei também que a maioria do rebanho era composto de mestiços de holandês.
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Faz. Brava, março de 2012. |
Na fazenda Brava, onde se encontra o
rebanho Sindi da BRS não era diferente. Logo na porteira da entrada percebi o
quanto a seca castigava o local. O campo era ressecado de uma cor pastel onde apenas se sobressaiam
em verde às folhas do icó. As aguadas estavam secas e tudo me pareceu um pouco
desolador. Também não era para menos. Há
meses não chovia em Ipirá e a prefeitura se viu obrigada a decretar estado de
calamidade pública devido à seca que assolava a região.
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Sindi na Faz. Brava em Ipirá, março de 2012. |
E como estaria o rebanho Sindi? Será que
encontraria animais abatidos e depauperados pela terrível seca que assolava a
região? Esperei paciente o vaqueiro juntar o gado no campo. De longe avistei
uma poeira levantando e embaixo dela um “bolo de pelo vermelho” era o rebanho
Sindi da BRS se aproximando. Mais alguns minutos e adentrou pelo curral um
imponente rebanho composto de vacas paridas com seus bezerros ao pé,
capitaneadas pelo extraordinário touro Vultan-E. Logo as minhas perguntas foram
respondidas. Esqueceram de informar ao rebanho Sindi que o município de Ipirá
estava em “calamidade pública”, esqueceram de dizer ao Sindi que existia uma
seca, com certeza não informaram a aquelas vacas que ali estavam amamentando seus
filhos e produzindo leite sem qualquer ração, que não chovia há meses.
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Sindi na Faz. Brava em Ipirá, março de 2012. |
Para nós ainda é uma surpresa ver um rebanho em condições de abate, amamentando e produzindo leite para ordenha, em
plena seca. Para o Sindi não. Afinal de onde ele vem isso é normal. Para uma
raça que sobrevive no deserto, nas piores condições de clima do planeta, o que
ocorre em Ipirá é apenas uma pequena estiagem. Nada que afete o seu organismo
adaptado e aperfeiçoado por mais de dois mil anos. O Sindi não vai deixar de reproduzir
e garantir a sua espécie, não vai deixar de amamentar e criar seus filhos e não
vai deixar de servir a seus senhores produzindo o leite e lhes dando a carne.
Pois isso é o que lhe garantiu até hoje a sua existência e é isso que vai
garantir o seu futuro nos próximos dois mil anos.
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Peso de um bezerro (7,5 meses) Sindi ao pé da vaca: 247 Kg. |
Foi essa a minha primeira experiência com o Sindi na seca severa e pude
constatar que tudo que haviam me dito era verdade. É verdadeira a afirmação que
o Sindi foi moldado para resistir às adversidades de um clima desértico. E digo
mais, além de preservar a sua espécie, mostra generosidade para com os que o
criam, abastecendo seus pastores com carne e leite demonstrando seu
agradecimento para com os que o cercam. Por isso posso dizer: O sindi não
obedece aos decretos, ele rege a sua própria lei. A lei da sobrevivência.
Cezar Mastrolorenzo
Sindicista e Secretário da ABCSindi.
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