15 de nov. de 2018

Atributos do solo-paisagem em áreas degradadas com malva-branca (Sida cordifolia L.) no semiárido paraibano

Rivaldo Vital dos Santos1 ; Girlânio Holanda da Silva2 ; 
Kely Dayane Silva do Ó2 ; Adriana de F. Meira Vital3 ; José Aminthas de Farias Jr.
Resumo: O desmatamento, com o intuito de obter madeira para fins energéticos, origina áreas degradadas com solo exposto ou com dominância de extrato herbáceo formado por várias espécies, destacando-se a malva (Herissantia crispa L.), a qual funciona como alternativa medicinal ou fitomassa para o rebanho nas épocas de estiagem prolongada. Pelo exposto o presente trabalho objetivou estabelecer o histórico das áreas com predominância de malva branca e diagnosticar os atributos morfológicos, físicos e químicos dos solos. O trabalho foi conduzido em cinco áreas com predominância de malva-branca, onde inicialmente realizou-se sua caracterização geral e o histórico de utilização agrícola. Em seguida fez-se a descrição do perfil, quando coletou-se amostras de solo (0- 20 cm) para análises granulométricas e químicas. Os resultados demonstraram que todas as áreas têm relevo suavemente ondulado e apresentavam, originalmente, cobertura de Caatinga densa e
atualmente são utilizadas para pastejo, têm erosão em sulco, afloramento rochoso e pedregosidade. A morfologia indicou solos rasos, com camadas cimentadas, estrutura granular e em blocos, consistência variável, textura areia franca no horizonte A e argilo-arenosa e areno-argilosa no horizonte B. Os atributos químicos revelaram solos ácidos, com concentrações de fósforo muito baixas e de potássio, cálcio e magnésio médias, com saturação por bases variando de 65 a 78%. Palavras-chave: Erosão; Manejo de Solo; Granulometria; Edafologia.
INTRODUÇÃO 
A região semiárida caracteriza-se por apresentar elevada temperatura e precipitação pluviométrica irregular e intensa. Seus solos apesar de apresentarem, em média, fertilidade química natural elevada são, na maioria rasos e pedregosos, exceto aqueles localizados em áreas de pedosedimentação, de origem aluvional ou não, denominados pelos produtores rurais solos de “baixio”, apresentando topografia plana, maior profundidade edevido sua textura mais argilosa, têm maior capacidade de retenção de água sendo os mais produtivos e de maior expressão econômica. Estes contrastam-se com os solos de “tabuleiros”, localizados nas áreas mais altas em relação ao relevo local, utilizados principalmente com agricultura de sequeiro, e frequentemente cobertos com a formação arbórea Caatinga. Dessa forma, o uso e manejo inadequado dos solos são apontados como as principais causas, de origem antrópica, relacionadas com a desertificação. O extrativismo vegetal e mineral,
assim como o superpastoreio das pastagens nativas ou cultivadas e o uso agrícola por culturas que expõem os solos aos agentes da erosão são as principais causas dos processos de desertificação (ACCIOLY, 2000). Neste contexto, a Caatinga é uma das regiões mais ameaçadas do globo pela exploração predatória, tendo como principais causas da degradação ambiental no bioma a caça, as queimadas e o desmatamento para retirada de lenha. Os estudos das modificações em diferentes ecossistemas devem avaliar a estreita relação entre a vegetação e o solo, em que primeiramente influencia as propriedades e a dinâmica dos solos, quer diretamente, pelo suprimento de matéria orgânica, ou indiretamente, na estruturação, capacidade de retenção de cátions, aeração, fornecimento de nutrientes, e o comportamento hídrico, que consequentemente influencia sobre o tipo de comunidade vegetal local (LONGO et al., 1999). No semiárido da Paraíba é muito comum, após a retirada da vegetação nativa, ocorrer a ocupação da área, especialmente na época das chuvas, com a espécie herbácea malva-branca (Sida cordifolia). A Sida cordifolia é uma espécie herbácea, perene, pertencente à família Malvacea, conhecida também como guaxumabranco ou guaxuma. Caracteriza-se como uma planta nociva e infestante em culturas e pastagens diversas. A espécie é considerada uma invasora (BIANCO et al.,2008; MENEZES et al., 2009) e ocorre com mais frequência em áreas em fase de degradação. Sida cordifolia, é uma planta nativa da América tropical (KISSMANN & GROTH,2000). Atualmente a espécie apresenta larga distribuição no Brasil ocorrendo nos estados do Amazonas, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e diversos estados do Nordeste. De acordo Bianco et al., (2008) a planta tolera solos pouco férteis e ácidos e pode ser

hospedeira de um microplasma, que causa a doença conhecida como “virose das malváceas”. O objetivo do presente trabalho é descrever um histórico e diagnosticar os atributos morfológicos, físicos e químicos dos solos das áreas com predominância de malva branca (Sida cordifolia) em ecossistema de Caatinga no semiárido da Paraíba. MATERIAL E MÉTODOS 

O trabalho consistiu inicialmente na identificação de cinco áreas com dominância de malva branca localizadas entre os municípios de Patos, São Mamede e Passagem, na região semiárida da Paraíba: Fazenda Nupeárido/UFCG Núcleo da Embrapa/Patos-PB, Fazenda Santa Gertrudes, Fazenda São Mamede e Sítio Cacimba de Pedra, onde foram realizadas a caracterização geral e o histórico de utilização das áreas. A etapa seguinte consistiu da avaliação de atributos morfológicos (profundidade, textura, estrutura e consistência), e químicos do solo. Os atributos morfológicos foram obtidos através de descrição de perfil. Para as análises granulométrica (percentagens de areia, silte e argila) e química, o delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com cinco tratamentos e cinco repetições. Neste caso os tratamentos consistiram nas cinco áreas amostradas. Cada área foi dividida em cinco subáreas, nas quais foram coletadas aleatoriamente amostras simples na camada de 0-20 cm de solo. As amostras simples depois de misturadas entre si e homogeneizadas constituíram as cinco amostras compostas correspondentes às cinco repetições de cada tratamento. Após o solo ser seco ao ar e passado em peneira de 2 mm, foram determinados nas amostras compostas o pH em CaCl2 a 0,01 mol L-1 , Ca+2, Mg+2, H+ + Al+3, Na+ , K + trocáveis e P disponíveis (EMBRAPA 1997). Os teores de H+ + Al+3 foram estimados pelo método da solução tamponada SMP. Os teores trocáveis de Ca+2 e Mg+2 foram obtidos por complexação com EDTA, enquanto os teores de Na+ e K+ foram determinados por fotometria de chamas. Os teores de fósforo foram determinados colorimetricamente pelo método do azul do molibdênio (EMBRAPA, 1997). Para cada amostra composta foram calculados os valores de soma de bases (SB) capacidade de troca de cátions (CTC) e saturação por bases (V%). RESULTADOS E DISCUSSÃO Histórico e utilização O histórico das áreas revela que todas apresentavam há três décadas cobertura de Caatinga arbórea, sendo desmatadas para cultivo de
algodão arbóreo e consórcio milho-feijão. Atualmente apresentam como cobertura vegetal dominante a malva-branca, sendo utilizadas como áreas de pastejo dos rebanhos caprino, ovino e bovino. Em algumas áreas essa espécie encontra-se associada com escassas espécies arbóreas, principalmente a jurema-preta, como constatou-se na área do núcleo da Embrapa e na Fazenda Santa Gertrudes. Essa diferenciação na cobertura vegetal está associada ao tipo de manejo animal empregado na área, por exemplo, o pastejo caprino e ovino não permitem o crescimento de espécies arbóreas, diferentemente do bovino. Identificou-se que as áreas estão em relevo suave ondulado têm erosão em sulco e forte pedregosidade. No período da seca, com a queda das folhas da malva-branca, tais áreas ficam desprotegidas sofrendo forte processo erosivo, originando afloramentos rochosos, como verificou-se nas Fazendas Nupeárido e Santa Gertrudes (Tabela 1).


Atributos morfológicos e granulometria 
A morfologia
dos solos indica a presença de solos rasos, com espessura do horizonte A variando de 0-20 a 0- 40 cm, textura areia franca, estrutura granular e consistência seca (solto a ligeiramente duro), úmida (solto a muito friável), molhado (plástico) e muito molhado (ausente a ligeiramente pegajoso). O horizonte B é de 20- 60 cm a 40-75 cm, textura argiloarenosa/arenoargilosa, estrutura em blocos e consistência a seco (macio a ligeiramente duro), úmido (muito friável), molhado (Ligeiramente plástico a muito plástico) e muito molhado (muito friável a pegajoso). Observou-se um alto gradiente textural entre os horizontes A e B, fato que explica a forte degradação dessas áreas pelo processo erosivo e consolida a necessidade de recuperar a cobertura original da Caatinga arbórea (Tabela 2).
Não ocorreram diferenças entre os teores de argila nas cinco áreas, quanto ao silte, às áreas Fazenda Nuperárido, núcleo da Embrapa e Fazenda Santa Gertrudes apresentaram os maiores teores, porém, para a areia, a Fazenda São Mamede indicou valores mais altos. Apesar de serem enquadrados em uma mesma classe textural, houve diferenças significativas em suas granulometrias (Tabela 3).
Atributos químicos Os atributos químicos indicam solos apresentando valores de pH de 4,9 a 5,4, ou seja, alta acidez, baixos teores de fósforo disponível, com diferenças significativas entre as áreas: o Sítio Cacimba de Pedra, Município de Passagem – PB, apresentam valores mais altos, entre as demais não há diferenças. Os teores de potássio foram altos apenas na Fazenda Nupeárido, 160 mg dm-3 , nas demais não houve diferenças e exibiram valores médios, de 78 a 140 mg dm-3 ; já o de cálcio foram médios nas Fazendas Santa Gertrudes, 3,08 cmolc dm-3 e Sítio Cacimba de Pedra, 2,96 cmolc dm-3 e baixos, 1,64; 1,72 e 1,84 cmolc dm-3 , nas Fazendas Nuperárido, Núcleo da Embrapa e São Mamede, respectivamente. Quanto aos teores de sódio e hidrogênio mais alumínio, foram baixos e a saturação por bases foi considerada média, variando de 65 a 78% (Tabela 4).
CONCLUSÕES 
Todas as áreas com predominância de Malva possuem relevo suave ondulado, erosão em sulco, afloramentos rochosos e alta pedregosidade. As áreas possuem em comum solos rasos, com camadas cimentadas, estrutura granular e em blocos, consistência variável, textura areia franca no horizonte A e argilo-arenosa e areno-argilosa no horizonte B. Em relação aos atributos químicos, as áreas possuem solos ácidos, com concentrações de fósforo e potássio muito baixas, cálcio e magnésio médias e saturação por bases variando de 65 a 78%. 

*Autor para correspondência Recebido para publicação em 30/07/2013; aprovado em 09/09/2013 1 Prof Dr. Departamento de Engenharia Florestal. Área: Solos UFCG/Patos-PB. E-mail: rvital@cstr.ufcg.edu.br. 2Estudande de Engenharia Florestal. Área: Solos e Silvicultura. UFCG/Patos-PB. E-mails: girlanio_holanda@hotmail.com; kely.dayane@hotmail.com. 3 Prof Dr. Departamento de Desenvolvimento Sustentável do semiárido Área: Solos. UFCG/Patos-PB E-mail: vital.adriana@cstr.ufcg.edu.br 4Msc. Engenheiro Florestal Área: Solos. UFCG/Patos-PB . E-mail: aminthas22@gmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACCIOLY, L.J.O. Degradação do solo e desertificação no Nordeste do Brasil. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 25, n.1, p.23-25, 2000. BIANCO, S.; CARVALHO, L.B. and BIANCO, M.S.. Estimativa da área foliar de Sida cordifolia e Sida rhombifolia usando dimensões lineares do limbo foliar. Planta daninha, 26:807-813, 2008.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). 1997. Manual de métodos de análise de solo. 2.ed. rev. atual. Rio de Janeiro. 212 p. KISSMANN, K. G.; GROTH, D. Plantas infestantes e nocivas. São Paulo: BASF, 2000. Tomo II. 725 p. LONGO, R.M.; ESPÍNDOLA, C.R.; RIBEIRO, A.I. Modificações na estabilidade de agregados no solo decorrentes da introdução de pastagens em áreas de cerrado e floresta amazônica. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 3, n. 3, p. 276-280, 1999. MENEZES, L.A.S.; LEANDRO, W.M.; OLIVEIRA JUNIOR, J.P.; FERREIRA, A.C.B.; SANTANA, J.G.; BARROS, R.G. Produção de fitomassa de diferentes espécies, isoladas e consorciadas, com potencial de utilização para cobertura do solo. Bioscience Journal, 25:7-12, 2009.
FONTE: 
Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável Artigo Científico http://revista.gvaa.com.br ISSN 1981-8203


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