Rivaldo Vital dos Santos1 ; Girlânio Holanda da Silva2 ;
Kely Dayane Silva do Ó2 ; Adriana de F. Meira Vital3 ; José Aminthas de Farias
Jr.
Resumo: O desmatamento, com o intuito de obter madeira
para fins energéticos, origina áreas degradadas com solo exposto ou com
dominância de extrato herbáceo formado por várias espécies, destacando-se a
malva (Herissantia crispa L.), a qual funciona como alternativa medicinal ou
fitomassa para o rebanho nas épocas de estiagem prolongada. Pelo exposto o
presente trabalho objetivou estabelecer o histórico das áreas com predominância
de malva branca e diagnosticar os atributos morfológicos, físicos e químicos dos
solos. O trabalho foi conduzido em cinco áreas com predominância de
malva-branca, onde inicialmente realizou-se sua caracterização geral e o
histórico de utilização agrícola. Em seguida fez-se a descrição do perfil,
quando coletou-se amostras de solo (0- 20 cm) para análises granulométricas e
químicas. Os resultados demonstraram que todas as áreas têm relevo suavemente
ondulado e apresentavam, originalmente, cobertura de Caatinga densa e
atualmente são utilizadas para pastejo, têm erosão em sulco, afloramento
rochoso e pedregosidade. A morfologia indicou solos rasos, com camadas
cimentadas, estrutura granular e em blocos, consistência variável, textura
areia franca no horizonte A e argilo-arenosa e areno-argilosa no horizonte B.
Os atributos químicos revelaram solos ácidos, com concentrações de fósforo
muito baixas e de potássio, cálcio e magnésio médias, com saturação por bases
variando de 65 a 78%. Palavras-chave: Erosão; Manejo de Solo; Granulometria;
Edafologia.
INTRODUÇÃO
A região semiárida caracteriza-se por
apresentar elevada temperatura e precipitação pluviométrica irregular e
intensa. Seus solos apesar de apresentarem, em média, fertilidade química
natural elevada são, na maioria rasos e pedregosos, exceto aqueles localizados
em áreas de pedosedimentação, de origem aluvional ou não, denominados pelos
produtores rurais solos de “baixio”, apresentando topografia plana, maior
profundidade edevido sua textura mais argilosa, têm maior capacidade de
retenção de água sendo os mais produtivos e de maior expressão econômica. Estes
contrastam-se com os solos de “tabuleiros”, localizados nas áreas mais altas em
relação ao relevo local, utilizados principalmente com agricultura de sequeiro,
e frequentemente cobertos com a formação arbórea Caatinga. Dessa forma, o uso e
manejo inadequado dos solos são apontados como as principais causas, de origem
antrópica, relacionadas com a desertificação. O extrativismo vegetal e mineral,
assim como o superpastoreio das pastagens nativas ou cultivadas e o uso
agrícola por culturas que expõem os solos aos agentes da erosão são as
principais causas dos processos de desertificação (ACCIOLY, 2000). Neste
contexto, a Caatinga é uma das regiões mais ameaçadas do globo pela exploração
predatória, tendo como principais causas da degradação ambiental no bioma a
caça, as queimadas e o desmatamento para retirada de lenha. Os estudos das
modificações em diferentes ecossistemas devem avaliar a estreita relação entre
a vegetação e o solo, em que primeiramente influencia as propriedades e a
dinâmica dos solos, quer diretamente, pelo suprimento de matéria orgânica, ou
indiretamente, na estruturação, capacidade de retenção de cátions, aeração,
fornecimento de nutrientes, e o comportamento hídrico, que consequentemente
influencia sobre o tipo de comunidade vegetal local (LONGO et al., 1999). No
semiárido da Paraíba é muito comum, após a retirada da vegetação nativa,
ocorrer a ocupação da área, especialmente na época das chuvas, com a espécie
herbácea malva-branca (Sida cordifolia). A Sida cordifolia é uma espécie
herbácea, perene, pertencente à família Malvacea, conhecida também como
guaxumabranco ou guaxuma. Caracteriza-se como uma planta nociva e infestante em
culturas e pastagens diversas. A espécie é considerada uma invasora (BIANCO et
al.,2008; MENEZES et al., 2009) e ocorre com mais frequência em áreas em fase
de degradação. Sida cordifolia, é uma planta nativa da América tropical
(KISSMANN & GROTH,2000). Atualmente a espécie apresenta larga distribuição
no Brasil ocorrendo nos estados do Amazonas, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e
diversos estados do Nordeste. De acordo Bianco et al., (2008) a planta tolera
solos pouco férteis e ácidos e pode ser
hospedeira de um microplasma, que causa
a doença conhecida como “virose das malváceas”. O objetivo do presente trabalho
é descrever um histórico e diagnosticar os atributos morfológicos, físicos e
químicos dos solos das áreas com predominância de malva branca (Sida
cordifolia) em ecossistema de Caatinga no semiárido da Paraíba. MATERIAL E
MÉTODOS
O trabalho consistiu inicialmente na identificação de cinco áreas com
dominância de malva branca localizadas entre os municípios de Patos, São Mamede
e Passagem, na região semiárida da Paraíba: Fazenda Nupeárido/UFCG Núcleo da
Embrapa/Patos-PB, Fazenda Santa Gertrudes, Fazenda São Mamede e Sítio Cacimba
de Pedra, onde foram realizadas a caracterização geral e o histórico de
utilização das áreas. A etapa seguinte consistiu da avaliação de atributos
morfológicos (profundidade, textura, estrutura e consistência), e químicos do
solo. Os atributos morfológicos foram obtidos através de descrição de perfil.
Para as análises granulométrica (percentagens de areia, silte e argila) e
química, o delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com cinco
tratamentos e cinco repetições. Neste caso os tratamentos consistiram nas cinco
áreas amostradas. Cada área foi dividida em cinco subáreas, nas quais foram
coletadas aleatoriamente amostras simples na camada de 0-20 cm de solo. As
amostras simples depois de misturadas entre si e homogeneizadas constituíram as
cinco amostras compostas correspondentes às cinco repetições de cada
tratamento. Após o solo ser seco ao ar e passado em peneira de 2 mm, foram
determinados nas amostras compostas o pH em CaCl2 a 0,01 mol L-1 , Ca+2, Mg+2,
H+ + Al+3, Na+ , K + trocáveis e P disponíveis (EMBRAPA 1997). Os teores de H+
+ Al+3 foram estimados pelo método da solução tamponada SMP. Os teores
trocáveis de Ca+2 e Mg+2 foram obtidos por complexação com EDTA, enquanto os
teores de Na+ e K+ foram determinados por fotometria de chamas. Os teores de
fósforo foram determinados colorimetricamente pelo método do azul do molibdênio
(EMBRAPA, 1997). Para cada amostra composta foram calculados os valores de soma
de bases (SB) capacidade de troca de cátions (CTC) e saturação por bases (V%).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Histórico e utilização O histórico das áreas revela que
todas apresentavam há três décadas cobertura de Caatinga arbórea, sendo
desmatadas para cultivo de
algodão arbóreo e consórcio milho-feijão. Atualmente apresentam como cobertura vegetal dominante a malva-branca, sendo utilizadas como áreas de pastejo dos rebanhos caprino, ovino e bovino. Em algumas áreas essa espécie encontra-se associada com escassas espécies arbóreas, principalmente a jurema-preta, como constatou-se na área do núcleo da Embrapa e na Fazenda Santa Gertrudes. Essa diferenciação na cobertura vegetal está associada ao tipo de manejo animal empregado na área, por exemplo, o pastejo caprino e ovino não permitem o crescimento de espécies arbóreas, diferentemente do bovino. Identificou-se que as áreas estão em relevo suave ondulado têm erosão em sulco e forte pedregosidade. No período da seca, com a queda das folhas da malva-branca, tais áreas ficam desprotegidas sofrendo forte processo erosivo, originando afloramentos rochosos, como verificou-se nas Fazendas Nupeárido e Santa Gertrudes (Tabela 1).
algodão arbóreo e consórcio milho-feijão. Atualmente apresentam como cobertura vegetal dominante a malva-branca, sendo utilizadas como áreas de pastejo dos rebanhos caprino, ovino e bovino. Em algumas áreas essa espécie encontra-se associada com escassas espécies arbóreas, principalmente a jurema-preta, como constatou-se na área do núcleo da Embrapa e na Fazenda Santa Gertrudes. Essa diferenciação na cobertura vegetal está associada ao tipo de manejo animal empregado na área, por exemplo, o pastejo caprino e ovino não permitem o crescimento de espécies arbóreas, diferentemente do bovino. Identificou-se que as áreas estão em relevo suave ondulado têm erosão em sulco e forte pedregosidade. No período da seca, com a queda das folhas da malva-branca, tais áreas ficam desprotegidas sofrendo forte processo erosivo, originando afloramentos rochosos, como verificou-se nas Fazendas Nupeárido e Santa Gertrudes (Tabela 1).
Atributos morfológicos e granulometria
A morfologia
dos solos indica a presença de solos rasos, com espessura do horizonte A variando de 0-20 a 0- 40 cm, textura areia franca, estrutura granular e consistência seca (solto a ligeiramente duro), úmida (solto a muito friável), molhado (plástico) e muito molhado (ausente a ligeiramente pegajoso). O horizonte B é de 20- 60 cm a 40-75 cm, textura argiloarenosa/arenoargilosa, estrutura em blocos e consistência a seco (macio a ligeiramente duro), úmido (muito friável), molhado (Ligeiramente plástico a muito plástico) e muito molhado (muito friável a pegajoso). Observou-se um alto gradiente textural entre os horizontes A e B, fato que explica a forte degradação dessas áreas pelo processo erosivo e consolida a necessidade de recuperar a cobertura original da Caatinga arbórea (Tabela 2).
dos solos indica a presença de solos rasos, com espessura do horizonte A variando de 0-20 a 0- 40 cm, textura areia franca, estrutura granular e consistência seca (solto a ligeiramente duro), úmida (solto a muito friável), molhado (plástico) e muito molhado (ausente a ligeiramente pegajoso). O horizonte B é de 20- 60 cm a 40-75 cm, textura argiloarenosa/arenoargilosa, estrutura em blocos e consistência a seco (macio a ligeiramente duro), úmido (muito friável), molhado (Ligeiramente plástico a muito plástico) e muito molhado (muito friável a pegajoso). Observou-se um alto gradiente textural entre os horizontes A e B, fato que explica a forte degradação dessas áreas pelo processo erosivo e consolida a necessidade de recuperar a cobertura original da Caatinga arbórea (Tabela 2).
Não ocorreram diferenças entre os teores de argila nas
cinco áreas, quanto ao silte, às áreas Fazenda Nuperárido, núcleo da Embrapa e
Fazenda Santa Gertrudes apresentaram os maiores teores, porém, para a areia, a
Fazenda São Mamede indicou valores mais altos. Apesar de serem enquadrados em
uma mesma classe textural, houve diferenças significativas em suas
granulometrias (Tabela 3).
Atributos químicos Os atributos químicos indicam solos
apresentando valores de pH de 4,9 a 5,4, ou seja, alta acidez, baixos teores de
fósforo disponível, com diferenças significativas entre as áreas: o Sítio
Cacimba de Pedra, Município de Passagem – PB, apresentam valores mais altos,
entre as demais não há diferenças. Os teores de potássio foram altos apenas na
Fazenda Nupeárido, 160 mg dm-3 , nas demais não houve diferenças e exibiram valores
médios, de 78 a 140 mg dm-3 ; já o de cálcio foram médios nas Fazendas Santa
Gertrudes, 3,08 cmolc dm-3 e Sítio Cacimba de Pedra, 2,96 cmolc dm-3 e baixos,
1,64; 1,72 e 1,84 cmolc dm-3 , nas Fazendas Nuperárido, Núcleo da Embrapa e São
Mamede, respectivamente. Quanto aos teores de sódio e hidrogênio mais alumínio,
foram baixos e a saturação por bases foi considerada média, variando de 65 a
78% (Tabela 4).
CONCLUSÕES
Todas as áreas com predominância de Malva
possuem relevo suave ondulado, erosão em sulco, afloramentos rochosos e alta
pedregosidade. As áreas possuem em comum solos rasos, com camadas cimentadas,
estrutura granular e em blocos, consistência variável, textura areia franca no
horizonte A e argilo-arenosa e areno-argilosa no horizonte B. Em relação aos
atributos químicos, as áreas possuem solos ácidos, com concentrações de fósforo
e potássio muito baixas, cálcio e magnésio médias e saturação por bases
variando de 65 a 78%.
*Autor para correspondência Recebido para publicação em 30/07/2013; aprovado em 09/09/2013 1 Prof Dr. Departamento de Engenharia Florestal. Área: Solos UFCG/Patos-PB. E-mail: rvital@cstr.ufcg.edu.br. 2Estudande de Engenharia Florestal. Área: Solos e Silvicultura. UFCG/Patos-PB. E-mails: girlanio_holanda@hotmail.com; kely.dayane@hotmail.com. 3 Prof Dr. Departamento de Desenvolvimento Sustentável do semiárido Área: Solos. UFCG/Patos-PB E-mail: vital.adriana@cstr.ufcg.edu.br 4Msc. Engenheiro Florestal Área: Solos. UFCG/Patos-PB . E-mail: aminthas22@gmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACCIOLY, L.J.O. Degradação do solo e desertificação no
Nordeste do Brasil. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, Campinas, v. 25, n.1, p.23-25, 2000. BIANCO, S.; CARVALHO, L.B. and
BIANCO, M.S.. Estimativa da área foliar de Sida cordifolia e Sida rhombifolia
usando dimensões lineares do limbo foliar. Planta daninha, 26:807-813, 2008.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de
Janeiro, RJ). 1997. Manual de métodos de análise de solo. 2.ed. rev. atual. Rio
de Janeiro. 212 p. KISSMANN, K. G.; GROTH, D. Plantas infestantes e nocivas.
São Paulo: BASF, 2000. Tomo II. 725 p. LONGO, R.M.; ESPÍNDOLA, C.R.; RIBEIRO,
A.I. Modificações na estabilidade de agregados no solo decorrentes da
introdução de pastagens em áreas de cerrado e floresta amazônica. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 3, n. 3, p.
276-280, 1999. MENEZES, L.A.S.; LEANDRO, W.M.; OLIVEIRA JUNIOR, J.P.; FERREIRA,
A.C.B.; SANTANA, J.G.; BARROS, R.G. Produção de fitomassa de diferentes
espécies, isoladas e consorciadas, com potencial de utilização para cobertura
do solo. Bioscience Journal, 25:7-12, 2009.
FONTE:
Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento
Sustentável Artigo Científico http://revista.gvaa.com.br ISSN 1981-8203
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