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Foto: Touros Nelore Qualitas em avaliação de eficiência alimentar no CIGNA – UNESP – Botucatu-SP |
Esta história começa em 2001, quando estivemos na
África do Sul, sob a tutela do Professor Daniel Bosman, nosso
conselheiro e consultor no Qualitas, em busca de vacas da raça Bonsmara
para coleta de embriões, a pedido da Fazenda Mariópolis de Itapira-SP.
Naquela ocasião, conhecemos o sistema de seleção
que o professor Daniel ajudou a implementar enquanto trabalhou no ARC
(Animal Research Center), centro de pesquisa responsável por implementar
tecnologias para o desenvolvimento da pecuária sul africana. Quando
digo pecuária, me refiro a todas as raças bovinas da África do Sul.
Consideramos este sistema um dos mais bem-sucedidos do mundo e aplicamos
o que aprendemos com o professor Daniel no Qualitas.
Afirmamos isso pois, já em 2001, o rebanho sul
africano, principalmente, da raça Bonsmara, estava avançado em termos de
desempenho e eficiência. Desde o início da década de 1980, além de
selecionar os bovinos para ganho de peso, eles já se preocupavam com a
eficiência alimentar. Como o país não tem uma aptidão agropastoril
favorável por questões climáticas, o custo alimentar dos animais é
elevado, tendo grande impacto na rentabilidade da atividade. Por isso,
naquela época iniciou-se a avaliação de eficiência alimentar,
primeiramente em centros de pesquisa vinculados ao ARC e, em seguida, em
fazendas particulares.
Quando estive na África do Sul, eles já tinham
avaliações genéticas para lucro no confinamento, principal sistema de
terminação dos bovinos, onde os bezerros são desmamados e vão
diretamente para cocho.
Apesar de ficar deslumbrado ao conhecer um desses
centros de avaliação, já totalmente automatizado, incluindo o
fornecimento de ração para os animais, aquilo me pareceu distante para a
realidade brasileira por dois fatores: o primeiro, por achar inviável
economicamente montar a estrutura necessária para a avaliação no Brasil e
segundo, por achar que não seria tão importante para o Brasil, com um
sistema de terminação majoritariamente a pasto.
Bom, este assunto ficou incubado em nossa cabeça
até 2007, quando trabalhamos em um projeto de engorda em confinamento de
mais de 30 mil cabeças. A enorme variação em eficiência alimentar dos
lotes engordados acendeu um alerta para o impacto sobre a lucratividade
da atividade.
Além isso, pesquisando sobre o assunto, estudos
realizados pelo Prof. Dr. Robert Herd, da Austrália, afirmavam que
animais que apresentavam melhor eficiência alimentar no confinamento
também eram mais eficientes no pasto.
Então, a partir de 2010 iniciamos a mensuração do
consumo individual de alimentos dos 120 melhores touros identificados no
Qualitas de cada safra de nascimento. Após 8 anos, 960 touros foram
avaliados, inicialmente no Confinamento Experimental da Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, sob a
coordenação do Prof. Dr. Juliano José de Resende Fernandes e, a partir
de 2016 o sistema de medição de consumo e pesagens dos animais foi
automatizado, com a utilização dos equipamentos desenvolvidos pela
Intergado, quando fizemos uma nova parceria com a UNESP de Botucatu, no
CIGNA (Centro de Inovação em Genética e Nutrição Animal) a cargo do
Prof. Dr. Josineudson Augusto II.
Os dados coletados neste processo servem para
avaliar a eficiência alimentar dos animais para duas características:
conversão alimentar (CA) e consumo alimentar residual (CAR). A CA
significa quantos quilogramas de matéria seca (MS) de alimentos foram
necessários para produzir um quilograma de ganho de peso. Quanto menor o
valor da CA melhor o animal para esta característica. Portanto, quanto
maior o ganho de peso e menor for o consumo de alimentos, melhor a CA.
Exemplo: um animal de CA de 5kg, comeu 5kg de MS para ganhar 1kg de peso
vivo.
Já o CAR significa quanto o animal comeu em relação
ao que estava previsto para ele comer, de acordo com o seu ganho de
peso e o seu peso. Este valor é sempre relativo ao consumo médio diário
de alimentos em MS durante o período de avaliação. Podemos ter animais
negativos ou positivos para CAR. Exemplo: animal A com consumo de 10kg
de MS por dia teve um CAR de -1,5kg. Isso significa que ele foi
eficiente pois comeu 1,5kg a menos do que estava previsto para ele
comer, pois o seu consumo previsto era de 11,5kg de MS, mas ele comeu
10kg de MS por dia. Já um animal ineficiente que comeu 11kg de MS por
dia e que apresentou um CAR positivo, por exemplo de + 1kg, tinha uma
previsão de consumo de 10kg de MS por dia, mas comeu 11kg.
Portanto, quando falamos em eficiência alimentar,
buscamos três características nos animais, alto ganho de peso, baixo
consumo de alimentos e CAR negativo. E ainda precisamos levar em
consideração as correlações destas características com outras de
importância econômica e produtivas.
Geralmente, animais de alto ganho de peso tendem a
apresentar peso ao nascimento elevado e também tamanho adulto elevado,
por isso, devemos nos atentar para a disponibilidade de alimentos onde
estes animais serão criados.
Animais com CAR negativo podem apresentar menor
acúmulo de gordura subcutânea e, também, pior qualidade de sêmen. O que
não invalida a seleção para o CAR, só é necessário avaliar estas duas
características também para selecionar os animais, pois existem exceções
às regras e são estes os animais que devemos multiplicar.
Na tabela 1, apresentamos dois
animais que nasceram com um dia de diferença e foram produzidos pela
mesma fazenda, nas mesmas condições, desde o nascimento até o sobreano,
quando foram enviados para o teste de eficiência alimentar do Qualitas,
no CIGNA da UNESP de Botucatu. O touro A foi o que apresentou o segundo
maior ganho de peso no confinamento e o touro B foi o que apresentou o
melhor CAR.
Quando olhamos os dados, o touro A, apresentou
maior desempenho desde a desmama até o final do confinamento, portanto,
ganhou mais peso, mas também comeu mais alimentos no confinamento, 26% a
mais em MS que o touro B. Os dois apresentaram CAR negativo, ou seja,
comeram menos do que o previsto. Sendo o touro B mais eficiente que o
touro A em 22%.
Do lado financeiro, isso significou um custo por
arroba produzida no confinamento mais barato para o touro A (15% menor
que o touro B), apesar do desembolso durante o período confinado ter
sido maior. Portanto, quando avaliamos a operação confinamento, o touro A
apresentou uma margem 46% maior que o touro B. Se um confinador tivesse
adquirido os dois animais pelo mesmo valor, digamos R$2 mil, e os dois
tivessem o mesmo peso, o touro A teria deixado R$363,17 de lucro e o
touro B, R$197,41. Portanto, por esta ótica, quem ganhou mais peso foi o
que gerou mais lucro, e não o que comeu menos!
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Fonte: elaborada pelo autor |
Mas, e se analisássemos os