Rodrigo
Gregório da Silva
Eng. Agrônomo, Doutor em Zootecnia,
Professor do
IFCE, Campus Limoeiro do Norte, CE.
(Ilustrações BRS
Na
definição de um negócio, entre as várias etapas realizadas no momento de sua
definição, temos como base, a identificação da combinação ótima dos fatores de
produção, que possibilitam a maximização do desempenho econômico. Silva (1977) ao
tratar dos temas
eficiência técnica e eficiência econômica demonstra que os
aspectos técnicos em si, não garantem a identificação do nível mais eficiente
de produção. Porém, a máxima eficiência econômica é dada onde há também a
máxima eficiência técnica e que esta é diferente da máxima produção física.
Rodrigo Gregório da Silva |
Dada
às características da atividade de produção de leite, que tradicionalmente
apresenta margens apertadas, associado ao elevado investimento necessário para
sua implantação e sua complexidade de funcionamento, há que se buscarem
informações que auxiliem os produtores/técnicos na tomada de decisão. Tais
informações podem fundamentar a definição do modelo de sistema de produção que
melhor se adeque às condições da fazenda, customizando seu planejamento,
aumentando a chance de sucesso e definindo os riscos associados ao negócio.
Desta
forma, na fase de planejamento, há possibilidade de determinação dos aspectos
que darão grande contribuição na sustentabilidade dos negócios, condições estas
relacionadas à competitividade, como exemplo, definição do modelo de sistema
que possibilite a obtenção do custo médio mínimo de produção. Isto aumentará a
chance de obtenção de lucro, para a condição de preço médio praticado no
mercado, visto que será neste ponto em que a curva de custo apresentará maior
distância da curva de preço, condição esta fundamental para permanência destes
negócios em funcionamento, de forma viável, ao longo do tempo.
Neste
sentido, ferramentas de simulação tomam corpo nesta etapa. Tais ferramentas
possibilitam entender melhor o negócio, gerando informações, como: identificação
das variáveis de maior impacto no negócio (análise de sensibilidade); realizar estimativas
de alterações nas variáveis de saída (por exemplo, margem líquida) dada
modificações nas variáveis de entrada (por exemplo, alterações nos índices de
preços dos insumos); realizar estimativas dos riscos associados ao negócio, nas
condições atuais e/ou sob estresse (por exemplo, ocorrências de secas).
Com
isso, abordar-se-á o uso, de forma exploratória, dos aspectos relacionados à maximização do lucro, peso corporal da vaca, produção de leite na lactação e teor de gordura do leite, na busca da
definição de um sistema de produção de leite, para as condições semiáridas.
Nogami
e Passos (2016) expõem de maneira clara as teorias da produção e dos custos.
Destas, observa-se a possibilidade do estabelecimento de conceitos básicos para
quem deseja planejar um negócio, que busca o melhor uso dos recursos, como
forma de maximização do lucro. Para isso, deverão ser definidos: receita
marginal e custo marginal, em cada condição possível, via simulação. Salienta-se
o estímulo ao crescimento do volume produzido enquanto for observado incremento
de receita marginal em maior proporção que o incremento do custo marginal.
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Então,
referindo-se à maximização do lucro, este será obtido no momento em que a
receita marginal se iguale ao custo marginal. Nesse sentido, as simulações
deverão ser realizadas com o objetivo de estimar as receitas marginais e os
custos marginais associados aos diferentes níveis de produção e/ou modelos de
sistemas de produção, na busca da combinação em que se maximiza o lucro do
negócio. Vê-se que os conceitos de receita e custo marginais, darão vigor nas decisões sobre os negócios, podendo salvá-los da condição de
ineficiência econômica.
Pelo
lado técnico, há que se realizar simulações sobre seus impactos no desempenho
do negócio. Neste texto, tratar-se-á das relações das variáveis peso corporal da vaca (300, 325, 350, 375 e
400 kg PC), produção de leite na
lactação (1.296, 1.811, 2.297, 2.804 e 3.302 L/lactação) e teor de gordura do leite (3,8, 4,2 e 4,6%),
com o desempenho econômico de modalidades de sistemas de produção (que usam
pastagens irrigadas, pastagens naturais, confinamento, capineiras irrigadas),
utilizados nas condições de semiárido cearense, com base em Silva (2013).
Para
as condições gerais dos sistemas locais (Tabela 1), o peso corporal (kg PC), a
produção de leite na lactação (L/lactação) e o teor de gordura (%) apresentaram
relação com a variável RMCA (receita menos custo com alimentação, R$/ha/mês). Somente
nos sistemas que usam pastagens naturais no período chuvoso e pastagens
irrigadas no período seco, o teor de gordura não apresentou relação, bem como
nos sistemas que usam pastagens naturais no período chuvoso e confinamento no
período seco, não se observou relação com o teor de gordura e peso corporal.
Tabela
1
– Receita menos custo com alimentação (RMCA), em função das características
produção de leite na lactação (Produção), peso corporal (PC) e teor de gordura
do leite (Gordura), para os sistemas de produção: Pan-Pan, em que os animais seriam
mantidos durante todo o ano em área irrigada, manejados em lotação rotativa;
Caa-Pan, em que os animais seriam manejados em lotação rotativa, no período
seco, em área irrigada, e em área de pastagem natural, no período chuvoso;
Caa-Buf, em que os animais seriam mantidos em pastagem natural, no período
chuvoso, e em pastagem diferida de capim buffel, durante o período seco
O
peso corporal e o teor de gordura apresentaram relação inversa com RMCA. Ou
seja, com o aumento do peso corporal e dos teores de gordura, há redução da
RMCA, por hectare. Já a produção de leite, na lactação, apresentou relação
direta, demonstrando efeito positivo da elevação de produtividade das vacas no
desempenho do negócio (SILVA, 2013).
Tais
efeitos, de forma resumida, se devem à: diminuição do número de animais, por
unidade de área, quando do aumento do peso corporal; aumento das exigências
nutricionais e dos custos de dieta quando do aumento da concentração de gordura
no leite; aumento da produtividade, por unidade de área, com o aumento da produção
por animal. Conclui-se que: a elevação do potencial de produção dos animais é
fundamental e resulta em ganhos na RMCA por hectare; elevar o teor de gordura do leite, sem que exista pagamento diferenciado, não apresenta vantagens para o produtor e diminuem a RMCA por hectare; e a escolha de animais de maior peso resulta em diminuição da RMCA por hectare. Ou seja, tamanho menor das vacas, possibilita atingir o ponto de maximização do lucro, por hectare.
fundamental e resulta em ganhos na RMCA por hectare; elevar o teor de gordura do leite, sem que exista pagamento diferenciado, não apresenta vantagens para o produtor e diminuem a RMCA por hectare; e a escolha de animais de maior peso resulta em diminuição da RMCA por hectare. Ou seja, tamanho menor das vacas, possibilita atingir o ponto de maximização do lucro, por hectare.
Assim,
com o exposto, acredita-se demonstrar a importância do uso das simulações no
planejamento dos negócios que buscam a eficiência e sustentabilidade. Pois, ao
se levantar as relações entre os diferentes componentes do sistema (como
exemplo, peso corporal) com os resultados econômicos (por exemplo, RMCA), torna
possível a definição de sistemas competitivos e capazes de remunerar mais
eficientemente os proprietários, associado ao melhor entendimento do
funcionamento destes, minimizando os riscos associados à atividade de produção
de leite.
Referências bibliográficas
Nogami, O.; Passos, C.R.M. Princípios de economia. 7ª
edição, revisada. São Paulo, SP. Cengage Learning, 2016, 670p.
Silva, G.L. Simulação das relações de tipos de
alimentação com modelos de sistemas de produção de leite no semiárido brasileiro.
2013. 99f. (Dissertação, Zootecnia).
UFC, Fortaleza, CE.
Silva, P.R. Eficiência técnica vs eficiência econômica.
Ciência agronômica, 7 (1-2): 157-163, Dezembro, 1977, Fortaleza, CE.
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