Maria Janiele Ferreira Coutinho1
Maria Socorro de Souza Carneiro2
Ricardo Loiola Edvan3
Andréa Pereira Pinto2
RESUMO 
O semiárido brasileiro estende-se por aproximadamente um milhão de km2
, abrangendo
a maior parte dos Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do
Norte, Ceará e Piauí e parte dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Vivem nessa
região aproximadamente 21 milhões de pessoas, que representam 46% da população
nordestina e 13% da população brasileira distribuídas em 1.162 municípios. O clima
predominante na região semiárida nordestina brasileira é do tipo BSw’h’, conforme a
classificação de Köppen, ou seja, tropical seco com a evaporação excedendo a precipitação,
com ocorrência de pequenos períodos de chuvas sazonais (1).
Devido principalmente a essas características ambientais, a agricultura de sequeiro
acumula ao longo dos anos perda na produção e com isso prejuízos ao setor agrícola. O
semiárido brasileiro tem e teve como principal política
pública a do assistencialismo que não
soluciona o problema da região, pelo contrário, gera dependência governamental da
população (2).
Grande parte das políticas públicas para essa região foram implementadas de forma
assistencialista, ou então, voltadas para as grandes obras de engenharia hidráulica,
especialmente açudes, barragens e perfuração de poços que, quase sempre, obedeciam a
critérios políticos ou de engenharia, pouco atendendo a determinantes sociais que
complementassem o uso social dos recursos hídricos (3).
A região semiárida caracteriza-se pela prática de uma pecuária extensiva paralela a uma
exploração agrícola em seco. Explicando a importância econômica da pecuária no semiárido
nordestino (4) afirmou que a pecuária é a prioridade dada pelos criadores na tentativa de
salvação dos seus meios de subsistência em períodos de seca. Os animais criados possuem
outras utilidades para o dia-a-dia das famílias, seja como complemento alimentar proveniente
da produção de derivados animais ou do abate para consumo e/ou venda, seja como meio de
transporte de pessoas ou de carga.
Dessa forma, pretende-se com essa revisão discorrer sobre a pecuária como atividade
estabilizadora, como forma de atenuar o impacto social e econômico do cultivo agrícola
utilizado atualmente na região.
Fatores climáticos
Enquanto a temperatura, a radiação solar e os aportes de nutrientes nos ecossistemas do
semiárido variam relativamente pouco no ano, à precipitação comumente ocorre em eventos
descontínuos, em forma de pulsos de curta duração (5). Não é somente a seca que ocasiona
problemas na região semiárida, o oposto que são as enxurradas, quando ocorrem, originam
prejuízos em menor ou maior amplitude.
Os fatores climáticos sempre
foram decisivos na produção de sequeiro, principalmente a
precipitação pluviométrica, pois nesta atividade agrícola não existe fonte de água disponível
como ocorre em áreas irrigadas. A ocorrência de baixas pluviosidades ou chuvas mal
distribuídas acarreta decréscimo, ou até, perda completa da produção agrícola (6). Nas
palavras de Celso Furtado “O tipo da atual economia da região semiárida é particularmente
vulnerável a esse fenômeno das secas. Uma modificação na distribuição das chuvas ouredução no volume destas que impossibilite a agricultura de subsistência bastam para
desorganizar toda a atividade econômica. A seca provoca, sobretudo, uma crise da agricultura
de subsistência. Daí, suas características de calamidade social” (7).
Apesar de antiga a citação do autor ainda prescreve nos dias atuais, pois pouca coisa
mudou e todos os anos a irregularidade pluviométrica continua ocasionando prejuízos em
maiores ou menores proporções. Esse fato preocupa, já que a agricultura de sequeiro é
atividade predominante desse local, visto que, no ano de 2005 o estado do Ceará possuía
70.776 ha das áreas ocupadas pela agricultura irrigada (8) e 1.741.962 ha usados pela
agricultura de sequeiro (9) que é formado principalmente por produtores com pequenas
propriedades.
A base da economia da região é a agricultura, de sequeiro ou irrigado, em certas áreas.
Nas áreas de sequeiro, os riscos de prejuízos na colheita são grandes e aumentam nos períodos
de seca. Nas áreas irrigadas existe o risco de salinizar o solo, devido à elevada evaporação
existente na região (10). Celso Furtado em 1967 propôs que “A organização dessa unidade
agropecuária típica, de nível de produtividade razoavelmente elevado e adaptado às condições
ecológicas da região deveria constituir o objetivo central de toda política de desenvolvimento
econômico para a região semiárida. Por mais importante que venha a ser a contribuição da
grande açudagem e da irrigação para aumentar a resistência econômica da região, é
perfeitamente claro que os benefícios dessas obras estarão circunscritos a uma fração das
terras semiáridas do Nordeste” (7).
Densidade demográfica no semiárido brasileiro
Na região semiárida brasileira vivem aproximadamente 21 milhões de pessoas, que
representam 27,9% da população brasileira, de acordo com IBGE (11) é o semiárido mais
populoso do planeta, consistindo um problema para essa região, uma vez que é composta, na
sua maior parte, por pequenas propriedades agrícolas. O Nordeste é a região brasileira que
apresenta a menor área média por estabelecimento na agricultura familiar (12). Além disso, a
região semiárida nordestina é apontada como uma região que apresenta uma estrutura
histórica de concentração de renda, riquezas, água e terra. Neste contexto Lira et al. (13)
expuseram que a estrutura fundiária do semiárido nordestino é marcada pela predominância
de pequenas propriedades de base familiar, destacando-se que 77% estão entre 1 e 20
hectares.
Diante do exposto, percebe-se a importância de estabelecer um sistema de produção
correto para essas áreas onde as perdas sejam reduzidas e que a agricultura não dependa tanto
dos fatores climáticos. Regiões que apresentam irregularidade climática existem em todo o
planeta, mas nem por esse motivo deixam de ser importantes polos agrícolas e produtivos
para seu país. O deserto norte-americano abriga estados economicamente fortes, alguns deles,
como a Califórnia, com significativa participação da agricultura na geração de riquezas.
Exemplo de sucesso ocorre também na Espanha e na Austrália, dentre outros. O que devemos
fazer é aprender a conviver neste ambiente e não tentar modificá-lo demasiadamente (14).
O menor crescimento do setor agropecuário nordestino brasileiro em comparação com o
nacional se explica pelo desempenho inferior de sua lavoura temporária, bastante afetada pela
falta de chuvas no período crítico para o crescimento das culturas. As chuvas ocorrem fora do
período adequado, o que provoca a seca verde em alguns estados nordestinos. Essa Região é
bastante afetada por problemas climáticos, com a incidência de pouca chuva e em período
fora do previsto, afetando principalmente as lavouras temporárias. Os estados da Paraíba,
Ceará e Rio Grande do Norte foram os mais afetados no ano de 2009, com declínio de
produção de 53,6%, 40,4% e 32,4%, respectivamente (15).
O quadro político e institucional no semiárido nordestino não mudou o bastante para
que se