25 de dez. de 2011

PUROS OU CRUZADOS? EIS A QUESTÃO!

Por: Kepler Euclides Filho




Vaca Nelore com bezerro 1/2 sange Sindi (Mundo Novo-Ba).
     A necessidade de se tomar decisões, de fazer escolhas faz parte de nosso cotidiano. No entanto, muitas vezes, a escolha por uma das opções com as quais nos confrontamos não exclui, necessariamente, as demais. O fiel da balança nem sempre pende obrigatoriamente para um dos lados. Apesar do ser humano ser movido por uma mescla de sentimentos que percorrem o espaço entre a razão e a paixão, não raro, há necessidade de se analisar as situações a luz de informações mais amplas e completas. Assim, na busca de uma resposta à pergunta colocada em epígrafe é necessário ter em mente que ela não será única por ser dependente de um contexto particular que, por sua vez, depende de vários fatores que influenciam a cadeia agroalimentar da carne bovina. Nesse caso, merecem destaque o sistema de produção e seus componentes como clima, solo, infraestrutura, pessoal, objetivos, metas e mercado a ser atendido.

      Com isso, a decisão não pode ser fundamentada somente em desejos ou tendências particulares. É preciso compreender que ela tem de ser tomada frente à consciência de que o objetivo do negócio deverá ser ditado pelo mercado e visar rentabilidade, mas que é, ao mesmo tempo, limitado pelo ambiente. Assim, o dilema apresentado não existe per se, pois a decisão não é, simplesmente, entre o animal puro e o cruzado. Ambos têm suas vantagens e desvantagens.


Meio sangue Sindi x Nelore (Mundo Novo - Ba)
     Os animais puros são a base para qualquer sistema de cruzamento que tenha como objetivo a produção eficiente. A seleção na população pura possibilita não só a melhoria das características sob seleção, mas também traz o reconhecimento a raça e contribui para a sua consolidação. Além disso, faz com que as vantagens de cada raça se constituam no padrão de escolha, isto é, no elemento decisivo para a escolha das raças a serem utilizadas em programas de cruzamentos. Vale ressaltar que para grande parte dos sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil, as raças puras, especialmente as adaptadas, são mais interessantes se considerarmos que tais sistemas produtivos possuem deficiências gerenciais e administrativas, carecem de pessoal capacitado e qualificado, possuem baixa capacidade, ou mesmo incapacidade, para promover os investimentos necessários. Outro aspecto diz respeito às características particulares das várias regiões, onde as condições de clima e solo não permitem o incremento da qualidade ou quantidade das forrageiras.
     Por outro lado, ao se acasalar indivíduos de grupos genéticos diferentes, em programas de cruzamentos bem estruturados, têm-se animais que expressam, em geral, para muitas características de importância econômica, o
vigor híbrido ou heterose. Tal fenômeno resulta, em muitas situações, em indivíduos que apresentam superioridade em
Vaca Pardo Suiço com 1/2 sangue Sindi ao pé (Ipirá-Ba)
relação aos pais. É importante ressaltar que apesar da heterose não ser a única vantagem do cruzamento, ela possibilita incrementos significativos no desempenho dos animais cruzados. Assim, cruzamentos entre zebuínos e taurinos resultam em heterose alta, principalmente para características como, por exemplo, quilogramas de bezerro desmamado por vaca exposta.
     A adequação do genótipo ao ambiente de produção com vistas ao aumento da eficiência eeficácia da atividade vem se constituindo em uma necessidade do setor de pecuária de corte. Essa tarefa é facilitada pelo uso de animais cruzados. No entanto, o cruzamento é um empreendimento difícil que exige alta capacidade gerencial e requer investimentos em pessoal e manejo. Ademais, os sistemas de cruzamento que possibilitam a utilização de maiores níveis de heterose só permitem o usufruto desse benefício em parte do rebanho, já que existe o risco de eliminação das fêmeas de reposição se houver o uso indiscriminado da técnica.

      Retornando a questão inicial, puros ou cruzados? Conclui-se que somente com a viabilização de uma coexistência equilibrada e o uso adequado de animais puros e seus

Garrote Sindi em vacada Nelore (Mundo Novo -Ba)
cruzamentos, a pecuária de corte brasileira poderá cumprir seu nobre papel de produzir empregos, assegurar renda, promover o desenvolvimento social, manter a produtividade dos sistemas para gerações futuras, ao mesmo tempo em que garante a oferta de alimento de qualidade tanto para o consumo interno, quanto para garantir uma posição de destaque do Brasil no mercado internacional.


Este artigo, escrito pelo pesquisador Kepler Euclides Filho, doutor em melhoramento animal, pesquisador da Embrapa Gado de Corte e coordenador de estudos sobre cruzamento industrial na Câmara Setorial da Carne Bovina,  foi publicado na edição de setembro de 2007 da Revista Gestão Pecuária.

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