Sabemos que o que se apresentava como solução há alguns anos atrás hoje pode ser considerado um problema, vemos isso todos os dias a nossa volta. Nas grandes cidades construções copiadas do padrão europeu ou norte americano se transformaram em verdadeiros problemas para quem é obrigado a conviver diariamente com elas. Muitas vezes arquitetos e engenheiros ao construir prédios destinados ao clima tropical, esquecem disso utilizando materiais que em vez de refrescar o ambiente o aquecem, e até o mau posicionamento de simples janelas ou portas podem levar um empreendimento a apresentar um custo exorbitante e pro resto da vida com o uso da energia elétrica para manter condicionadores de ar ligados o dia todo. É muito comum vermos isso também em veículos, máquinas e equipamentos, falta a criatividade de procurar soluções próprias.
Assim como na construção civil e na indústria, no campo é comum convivermos com esse mesmo problema, muitas empresas multinacionais que visam o lucro (delas) a qualquer custo oferecem produtos e técnicas mirabolantes que deram muito certo na Holanda, França, EUA e até na Dinamarca, porém será que são apropriadas para regiões como o semi-árido nordestino? Será que um animal que produz leite ou carne em regiões da França poderá ser economicamente viável nos sertões?
Não é segredo para ninguém que produzir alimento, tanto para humanos como para animais , no semi-árido é uma tarefa difícil. Sabemos que no sertão dispomos de apenas alguns meses de índices pluviométricos razoáveis. Especialistas da pecuária brasileira e da indústria da carne projetam que o ‘boi do futuro” deve ser um animal capaz de atender a crescente demanda mundial por proteína animal e corresponder também as exigências dos consumidores globais que não abrem mão dos princípios éticos e ambientais. O “boi do futuro”deve ser precoce,abatido no máximo aos vinte meses e em média com 450 quilos. A sua carne deve ser magra e ele deve ser fruto de fazendas orgânicas que o criam a pasto de maneira natural e saudável.
Como grandes fornecedores de proteína animal para o mundo despontam o Brasil e os Estados Unidos, o primeiro fornecendo carne magra a pasto e de baixo custo e o segundo ofertando uma carne gorda proveniente de confinamentos principalmente destinada ao mercado asiático. Com a crescente procura pelos combustíveis “verdes” que é plantado cada vez mais em áreas nobres, o semi-árido nordestino assume cada vez mais a sua vocação pecuária principalmente no criatório extensivo. Para que isso ocorra e podado pelas condições climáticas desfavoráveis o semi-árido deve adotar soluções próprias, e entre elas se encontra um rebanho de origem zebuína autêntica (touros provados), aliado a um manejo eficiente da caatinga preservando a sua estrutura básica e introduzindo novas alternativas de forrageiras consorciadas e perfeitamente adaptadas ao meio ambiente.
Foram muitos os desastres ambientais na caatinga quando projetos mirabolantes e mal planejados não respeitaram a biodiversidade existente e muito menos as condições adversas climáticas, e o que é pior, muitos desses ‘desastres’ ambientais foram financiados com juros subsidiados pelo próprio governo federal. É chegada a hora das universidades nordestinas, principalmente as públicas, concentrarem suas pesquisas em soluções viáveis para a região nordestina.O pensamento educacional brasileiro é tão original e primitivo quanto a arquitetura que recria o neoclássico parisiense no topo de espigões às margens de rios fétidos. Somos teoricamente livres da colonização mas, amarrados intelectualmente aos antigos senhores e incapazes de pensar sozinhos. Devemos formar profissionais formadores de opinião que conheçam de perto as necessidades do sertão e caso eles queiram seguir as doutrinas do sul ou do sudeste do país , que por favor não ocupem as cadeiras de nossas instituições públicas que já são poucas e deficientes. Na verdade quando o nordeste repensar o seu destino verá como é rico e como as soluções estão à nossa vista, bastando muitas vezes apenas abrir a cortina que os países desenvolvidos insistem em fechar nos negando o maior espetáculo da terra, que é a prosperidade de uma nação.
Cezar Mastrolorenzo
É produtor rural e criador de Sindi no sertão baiano.
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