29 de ago. de 2021

Recuperação de áreas Degradadas com Pastagem (RAD-P) em propriedades agropecuárias


A Recuperação de Áreas Degradadas com Pastagens (RAD-P) busca recuperar tanto áreas que já eram utilizadas para pastagens, quanto áreas que foram degradadas por outras atividades, em relação às suas características físicas, químicas e biológicas, a fim de melhorar sua capacidade produtiva de alimentos e/ou de matérias-primas, isto é, torná-las capazes de garantir alimento para os rebanhos (PRS-I, 2018; BORGHI et al. 2020). As pastagens sofrem um processo evolutivo de perda de vigor, produtividade e capacidade de recuperação natural para sustentar os níveis de produção e de qualidade exigidas para a criação dos animais, e assim, começam também a não conseguir superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e espécies invasoras (MACEDO et al., 2012).
Dessa forma, segundo DIAS-FILHO (2006), a pastagem degradada pode ser definida como

uma área com acentuada diminuição da produtividade, podendo ou não ter perdido a capacidade de manter-se produtiva do ponto de vista biológico, isto é, conseguir acumular carbono. De forma complementar, RODRIGUES (2020) explica que o uso do termo pastagem degradada não significa necessariamente que o solo está descoberto, mas sim que já não é tão produtivo, independentemente de ter ou não espécies adaptadas. A Figura 10 apresenta possíveis origens da perda de qualidade e consequente degradação da pastagem, que levam também à perda da fertilidade do solo.


De acordo com BORGHI et al. (2020), há três tipos de técnicas de recuperação para as pastagens degradadas: i) recuperação (direta e indireta), ii) renovação e iii) reforma. Todas visam tornar a pastagem novamente produtiva e com vigor suficiente para garantir o sustento do rebanho. A escolha da técnica necessária depende do grau de degradação da pastagem, do objetivo do produtor, do sistema de produção pecuário adotado, das possibilidades de mercado na região e da disponibilidade de recursos financeiros e insumos. Nesse sentido, realizar um bom diagnóstico da área é fundamental para melhorar as chances de uma escolha adequada de qual procedimento adotar. Entre os benefícios da recuperação de pastagens e manutenção de sua produtividade estão: a redução na emissão de GEE, a redução do desmatamento para a criação de novos pastos, os ganhos de produtividade e o aumento na renda do beneficiário (PRS-I, 2018). De acordo com CERRI et al. (2012), pastagens bem manejadas atuam como drenos de carbono, enquanto as pastagens degradadas, ou de baixa produtividade, podem ter um balanço geral de emissões de GEE negativo. Uma questão fundamental dentro da recuperação com

pastagens é a continuidade do manejo da área, respeitando o crescimento das plantas, controlando pragas e doenças e otimizando a alimentação dos animais. O chamado “Manejo de Pastagem Ecológica” objetiva a utilização sustentável da forragem disponível na área para garantir o máximo de produtividade, sem prejudicar as plantas forrageiras e proporcionando um ambiente de bem-estar aos animais. Para atingir esse objetivo, consideram-se alguns requisitos (CALIXTO, 2019; SALMAN, 2007): Os quatro últimos requisitos compõem o chamado Método de Pastoreio Racional ou “Método Voisin”, que se baseia em quatro leis, que buscam respeitar a capacidade de rebrote das plantas e ainda o melhor aproveitamento do pasto (CALIXTO, 2019 e SALMAN, 2007). Busca por uma diversidade de forrageiras (gramíneas e leguminosas) adequadas ao solo e ao clima; 
- Arborização adequada das pastagens (com preferência por espécies nativas); 
- Exclusão do uso de adubações químicas altamente solúveis, herbicidas, roçadas sistemáticas e fogo; 
- Garantia do tempo de repouso necessário entre um corte (pastejo) e outro, permitindo a regeneração do pasto (armazenar reservas nas raízes para rebrota e produzir massa verde);
Garantia que o tempo de ocupação de um piquete (parcela do pasto) seja curto o suficiente para não permitir que uma planta cortada pelos animais no início da ocupação, seja novamente cortada antes que os animais deixem o piquete; 
- Auxílio aos animais com exigências alimentares mais elevadas, de modo que consumam mais pasto e de melhor qualidade; e 
- Permanência dos animais, um dia em cada piquete, para que tenham o máximo rendimento e se alimentem de uma vegetação de melhor qualidade. 
O cumprimento destes requisitos garante, entre outras questões, menor compactação do terreno, cursos de água mais limpos, menos gasto energético dos rebanhos, garantia do crescimento das plantas, entre outros. Vale ressaltar que a reforma de pastagem tem alto custo para o proprietário; portanto, o uso conjunto da agricultura no processo ajuda a reduzir despesas, pois com a venda dos grãos pagam-se os gastos com a correção do solo e o plantio do capim. Assim, a entrada da agricultura no sistema, somada à correção do solo com aditivos e à adubação necessária melhoram os aspectos químicos do solo, que serão aproveitados pela cultura forrageira. Portanto, os custos de adubação e o plantio do

capim/forrageira entram na conta da agricultura, que tem os grãos como receita, deixando um pasto estabelecido após a safra (EMBRAPA, 2013). Dessa forma, o terreno degradado, que está com baixa disponibilidade de forragem, é o ponto de partida para a instalação de sistemas como o ILPF, que permitem utilizar serviços ecossistêmicos para melhorar a estrutura química e física do solo, além de torná-lo mais resiliente. Outras tecnologias podem ainda ser utilizadas, como a FBN, para agregar maior valor nutricional às forragens. Além disso, o cuidado adequado e constante com a pastagem é importante não só para garantir sua estrutura e manutenção, mas também para propiciar uma digestão adequada dos animais, reduzindo, consequentemente, a liberação de gases pelo rebanho (ver seção 5.7). Ressalta-se ainda que o Programa ABC destinou 48% dos recursos contratados na safra 2017/18 para a recuperação de pastagens (ABC Recuperação), com R$ 746 milhões contratados, uma redução de 32% em comparação com a safra 2016/17 (R$ 1,1 bilhão) (OBSERVATÓRIO ABC, 2019). A chamada Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD) do Plano ABC tinha como meta estimular a recuperação de 15,0 milhões de hectares, contribuindo com a mitigação de 83 a 104 Mt CO2eq (BRASIL, Projeto Rural Sustentável Caatinga 47 2019b). Em relação à área de expansão, entre os anos de 2010 e 2018 foram recuperados entre 4,6 milhões de ha (dados de financiamento Programa ABC apud BRASIL, 2019b) e 10,45 milhões de ha (dados do SEEG apud BRASIL, 2019b), o que representa 18% e 70% de alcance da meta, respectivamente. A RPD mitigou nestes oito anos entre 16,9 Mt CO2eq (coeficientes definidos no Plano ABC apud BRASIL, 2019b) e 57,48 Mt CO2eq (coeficientes definidos por BUSTAMANTE et al. 2006 apud BRASIL, 2019b), o que representa 18% e 62% de alcance da meta, respectivamente. A partir de 2020, para o cumprimento da NDC, o Brasil pretende intensificar a pecuária, através do aumento da recuperação das pastagens degradadas, que toalizariam 74 milhões de hectares em 2050 e mitigariam até 7,4 Mt CO2eq (RÉGIS-RATHMANN et al., 2017).
 

Fonte: Tecnologias Agrícolas de Baixa Emissão de Carbono no Brasil e no Bioma Caatinga CADERNOS PRS CAATINGA https://prscaatinga.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Cadernos-PRS-Caatinga-Tec-ABC-na-Caatinga-25-jan_v2.pdf

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