1 de dez. de 2016

PALMA FORRAGEIRA NO NORDESTE DO BRASIL: ESTADO DA ARTE

Juliana Evangelista da Silva Rocha 
Pesquisadora, D. Sc., da Embrapa Caprinos e Ovinos 
Embrapa Caprinos e Ovinos Sobral, CE 2012
Apresentação 
A região semiárida é caracterizada pela instabilidade climática, limitando às atividades agropecuárias no Nordeste.  A concentração das chuvas em poucos meses do ano acarretam em estacionalidade de produção, com redução da disponibilidade de forragem no período seco e impactos negativos sobre a viabilidade técnica e econômica da produção animal. Neste cenário a palma forrageira se destaca como planta forrageira ideal para mitigar os efeitos do baixo rendimento da pecuária no semiárido. Se bem manejada, a palma é capaz de atingir altas produtividades, garantindo a suplementação dos animais. Pelas composições químicas não é recomendada em uso exclusivo, mas principalmente compondo o balanço nutricional da dieta e ofertando água aos animais. Por ser uma planta CAM, apresenta-se exigente em temperatura noturna amena e elevada umidade relativa do ar para o bom desenvolvimento, e estas características impedem que as atuais cultivares sejam plantadas em regiões de baixa altitude. Entretanto, existe variabilidade genética suficiente para ser explorada em programas de melhoramento, visando identificar materiais mais adaptados. Outro ponto focal nas pesquisas com palma forrageira é o desenvolvimento de cultivares resistentes à principal praga, a cochonilha. Mudanças climáticas, recuperação de áreas degradadas e múltiplos usos são perspectivas de aumento na área plantada e na procura por informações sobre a cultura. O Estado da Arte da Palma Forrageira no Nordeste do Brasil enfatiza a necessidade de incrementar as pesquisas com esta forrageira no semiárido. Evandro Vasconcelos Holanda Júnior - Chefe-Geral  da  Embrapa  Caprinos  e  Ovinos 
Introdução 
No Brasil sua introdução ocorreu no final do século XVIII (SIMÕES et al., 2005). A priori, era destinada à criação de uma cochonilha (Dactylopius cocus) capaz de produzir corante (LIRA et al., 2006). Logo em seguida, a planta passou a ser usada como ornamental. E somente no início do século XX, como planta forrageira. Esse último uso se intensificou na década de 90 quando ocorreram secas prolongadas no Nordeste (ALBUQUERQUE, 2000; SIMÕES et al., 2005).

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A área de cultivo no Brasil é superior a 500 mil hectares (MOURA et al., 2011), predominantemente no Nordeste. Adaptou-se bem ao semiárido por apresentar aspectos fisiológicos que permitem seu pleno desenvolvimento em condições adversas (TELES et al., 2002) e por se constituir alternativa energética de baixo custo (SILVA; SANTOS, 2006). Os aspectos fisiológicos que tornam a palma uma opção interessante para zonas áridas e semiáridas estão ligados à cutícula impermeável, ao menor número de estômatos e ao aparelho fotossintético. Classificada como planta CAM, tem a capacidade de captar a energia solar durante o dia e fixar o CO2 durante a noite, reduzindo a perda de água por evapotranspiração (RAMOS et al., 2011; SAMPAIO, 2005). Consequentemente, obtém maior eficiência no uso da água, sendo 10 vezes mais eficientes que numa planta C3 (LIRA et al., 2005). A cutícula impermeável garante a manutenção do equilíbrio hídrico, retendo água no interior da planta, protegendo contra o ataque de insetos e micro-organismos, refletindo a luz, reduzindo a temperatura interna e regulando a entrada e saída de oxigênio e gás carbônico. É considerada uma das melhores opções para a produção de forragem em sistema de sequeiro no semiárido, com capacidade de atingir altas produtividades de biomassa por área, sendo a cultura mais estável ao longo do tempo (MENEZES et al., 2005b). Sua estabilidade está associada à disponibilidade ao consumo dos animais, mesmo sob período de estiagem prolongada (SILVA; SANTOS, 2006), e pela capacidade de ser armazenada em campo.

A instabilidade climática é a grande limitação às atividades agropecuárias no Nordeste (CAVALCANTE; CÂNDIDO, 2003), gerando a estacionalidade na produção de forragem. Entretanto, a pecuária do semiárido possui outros entraves, como a falta de recursos do sertanejo, e a estrutura fundiária marcada pela predominância de propriedades de pequeno porte, possivelmente pela alta densidade demográfica (LIRA et al., 2005). Assim, custo e disponibilidade de forragem se tornam determinantes na composição da dieta dos animais. Por esses motivos, a palma integra o elenco de medidas comumente prescritas para mitigar os efeitos das secas através de esforços de programas federais desde a década de 1930 (SIMÕES  et al., 2005).

No Nordeste, o primeiro Estado a introduzir e pesquisar palma foi Pernambuco (LIRA et al., 2006), e até os dias atuais se destaca como grande líder na produção de conhecimento da espécie. O sucesso dos trabalhos no Estado é devido à boa adaptação da planta ao clima do agreste.

Clima e Solo

A palma forrageira é uma planta rústica que tem um bom desenvolvimento em região com pouca chuva. Entretanto, informações sobre umidade do ar e do solo, temperatura média do dia e da noite são determinantes na produção. Para determinar as faixas de aptidão para o cultivo de palma, Souza et al. (2008) elaboraram um zoneamento agroclimático, usando como ferramentas essenciais, as informações da fenologia e das características da cultura, associados às condições climáticas das regiões de origem e à dispersão comercial da palma forrageira. O zoneamento é de fundamental
CAVOUCO D
importância para o planejamento, a tomada de decisões e a identificação de áreas com potencial produtivo para ao cultivo de palma (MOURA et al., 2011). De acordo com esse zoneamento, o potencial produtivo ocorre em regiões cuja temperatura média oscila entre 16,1 °C e 25,4 °C; com máximas entre 28,5 °C e 31,5 °C e mínimas variando de 8,6 °C a 20,4°C. A amplitude térmica está situada entre 10,0 °C e 17,2 °C. A faixa ideal de precipitação se concentra entre 368,4 mm e 812,4 mm, embora possa ser cultivada com 200 mm, e o índice de umidade anual varia entre -63,1 e -37,3.

O crescimento da palma é favorecido nas maiores altitudes, devido à redução da temperatura do ar e ao aumento da umidade relativa no período noturno (55%-60%) (FARIAS et al., 2005). As espécies do gênero Opuntia não se adaptam a regiões de baixa altitude, às elevadas temperaturas noturnas e à baixa amplitude térmica. Isso ocorre em algumas regiões do semiárido e são a causa da baixa produtividade e até mesmo da morte da palma (SANTOS et al., 2006), a exemplos do município de Sobral no Ceará (LIRA et al., 2006) e das áreas baixas do Seridó e do Sertão Central do Rio Grande do Norte (LIMA et al., 2006). Relativamente exigente quanto às características físico-químicas do solo, o cultivo de palma pode ser indicado em áreas de textura arenosa à argilosa, sendo, porém, mais frequentemente recomendados os solos argilo-arenosos. Além da fertilidade, é fundamental, também, que o solo seja de boa drenagem, uma vez que áreas sujeitas a encharcamento não se prestam ao cultivo da palma (SANTOS et al., 2006). O cultivo também é inviável em regiões cuja precipitação anual é superior a 1100 mm (SOUZA et al., 2008).

Plantio e Manejo

A palma responde positivamente à melhoria nas práticas de cultivo. Portanto, quanto mais adequado for o seu manejo, maior será a sua produção (FARIAS et al., 2005).Para o preparo do solo, é recomendado aração, subsolagem, gradagem e profundidade dos sulcos de aproximadamente 20 cm (SILVA et al., 2004). O espaçamento a ser usado é variável com a fertilidade do solo, a quantidade de chuva (TELES et al., 2002), o número de plantas que se deseja por hectare e do uso isolado ou consorciado do campo (RAMOS et al., 2011). Na Tabela 1 constam alguns exemplos de espaçamentos e o número de plantas por hectare, devendo o agricultor definir suas prioridades.


Plantios mais adensados vêm sendo difundidos no Nordeste (mais de 60.000 plantas/ha) por produzirem maior quantidade de MS por hectare (LIRA et al., 2006), em função do maior número de brotações por unidade de área (DUBEUX JUNIOR; SANTOS, 2005). Entretanto, têm maior dependência de insumos externos (adubos químicos e corretivos) (TELES et al., 2002) e devem ser evitados nas regiões onde existe incidência da cochonilha do Carmim, pois podem garantir a permanência da praga e facilitar a infestação da cultura (ALBUQUERQUE, 2000).

Em contrapartida, a maior distância entre as fileiras permite trânsito de máquinas, facilidades nos tratos culturais (capina e fitossanitários), monitoramento sanitário e ainda permitem o consórcio do palmal com culturas anuais (FARIAS et al., 2000). Ramos et al. (2011) acrescentam como vantagem o menor risco na incidência de pragas e doenças pela maior exposição das plantas ao sol e aeração. A desvantagem é que a menor densidade exigirá maior controle das plantas daninhas (LIRA et al., 2005). A Figura 1 mostra um plantio mais adensado, usando 50 cm entre linhas e outro mais espaçado, com 1 metro de distância entre uma linha de plantio e outra. A utilização de culturas anuais, como milho, sorgo (Figura 2), feijão (Figura 3), mandioca etc., intercaladas com a palma, tem sido adotada com objetivo de viabilizar o cultivo em termos econômicos (SANTOS et al., 2006). O consórcio também pode ser feito em palmais mais adensados nos anos de plantio e de colheita. É importante enfatizar que a situação ideal de espaçamento é aquela em que a maior parte da luminosidade atinja as raquetes, sem haver sombreamento das mesmas (SAMPAIO, 2005).

Para adubação, Albuquerque (2000) encontrou melhor resposta no

Pensamento do mês