6 de jul. de 2020

A Entrada Oficial da Raça Sindi no Nordeste


(Artigo publicado por Leite (1991a), no Jornal Correio da Paraíba - retirado do livro: Sindi: O Gado Vermelho para o Semiárido)
A história da raça Sindi no Nordeste começou na Paraíba, quando em 1980, Virgolino de Farias Leite Neto, Diretor do Registro Genealógico da ABCZ no Estado, após contatos com o Embaixador do Paquistão, em Brasilia, DF, conseguiu vasto material da Universidade de Karachi sobre esta raça além de fazer contato pessoal com o Sr. José Cezário de Castilho em São Paulo, presidente da Associação Brasileira de Criadores da Raça Sindi e maior criador de Sindi do país. Na época, trabalhava-se com duas raças zebuínas para seleção leiteira, o Gir de Umbuzeiro-PB e o Guzerá de Cruz das Almas-BA, que já havia sido transferido pela Embrapa para a Paraíba. Foi discutida sempre a possibilidade de se introduzir a terceira raça leiteira zebuína na Paraíba. A universidade Federal da Paraíba, através do Centro de Ciências Agrárias de Areia, com intermediação de Virgolino de Farias Leite Neto e aprovação de técnicos daquele centro e da própria reitoria e com a disposição do Sr. José Cezário de Castilho de firmar um núcleo da raça Sindi no Nordeste, estabeleceram um convênio de Parceria Pecuária, para transferência de um grupo de animais da raça Sindi para avaliação no semiárido, no Campus da UFPB, em Patos, Sertão da Paraíba. O contrato foi assinado em 24 de janeiro de 1980. Em 20 de março de 1980, a Gazeta de Lins-SP publicava notícia sobre comissão de técnicos paraibanos, que a serviço da UFPB, escolheram lote da raça Sindi, e que era formada por Francisco Pereira Mariz (UFPB), Paulo Roberto de Miranda Lelte (Embrapa) e Virgolino de Farias Leite Neto (SR-ABCZ). Os animais foram: 2 touros (Veado e Balaio), 2 vacas com cria (Paladina e Fátia II) e 18 fêmeas (Capela, Ibitinga, Armanda, Dengada Frasqueira, Aliada, Eleição, Candidata, Poesia, Freta, Legislatura, Bissetriz, Duquesa, Aba, Aeronave, Astuta, Alvorada e Baiuca), todas registradas na ABCZ.
Em 1968, o autor estagiou na Estação Experimental de Ribeirão Preto do I.Z. de São Paulo, quando conhecemos os trabalhos que ali eram conduzidos com a raça Sindi para seleção leiteira, sob a orientação do Dr. Alberto Alves Santiago, então Diretor do Instituto de Zootecnia. Em 19 de março de 1980, de passagem pela Estação Experimental de Colina-SP tomou conhecimento da disposição
do Governo do Estado de São Paulo em desativar os trabalhos com a raça Sindi. Através de exposição de motivos endereçada à Secretaria da Agricultura e Abastecimento, a quem a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba está vinculada, fez-se proposta sobre a importância e oportunidade de negociar a transferência do rebanho ou parte dele.
Em 21 de março de 1980, foi conseguido do Governo do Estado da Paraíba, documento oficializando o pedido dos animais que se encontravam em Colina-SP. Em 16 de setembro de 1980, o Governo de São Paulo concordava com uma permuta e assim vieram para a EMEPA-PB, dois touros (Valor e Zebrado), 12 vacas (Tanali, Vaqueta, Turquia, Tara, Unção, Upa, Vacaria, Urca, Usura, Tijuca, Turquesa e Taberna), provenientes da seleção que o Instituto de Zootecnia vinha realizando há 20 anos, com animais da importação de 1930, cedidos do Sr. José Cezário de Castilho e da importação do Dr. Felisberto de Camargo em 1952, através da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", de Piracicaba. Foi recebido o que melhor havia da seleção do I.Z., porém, os animais não estavam mais sendo registrados pela ABCZ, devido às mudanças administrativas naquele instituto.
A partir de 1980, criadores particulares entusiasmados com o que viam em Patos-PB (UFPB) e Riacho dos Cavalos-PB (EMEPA-PB), onde exemplares da raça Sindi demonstravam excelente adaptação ao meio ambiente do semiárido, justamente nas regiões mais áridas do Estado, estabeleceram contatos com o Sr. José Cezário de Castilho e com criadores de outros Estados e, assim, foram formados vários rebanhos, com destaque ao da Fazenda Carnaúba, em Taperoá-PB, do Sr. Manoel Dantas Vilar Filho. Merecem destaques hoje na Paraíba, também os rebanhos do Sr. Pompeu Borba em Campina Grande-PB, da Organização Saulo Maia, em Areia-PB, e do Sr. Mário Silveira, em Mogeiro-PB, além de diversos núcleos em formação.
Em 1982, em visita ao National Dairy Research Institute (NDRI) no Karnal, India, para conhecimento dos trabalhos com as raças Sindi, Sahiwal e Tharparkar, deparamo-nos com um trabalho de alto nível técnico e administrativo, com os rebanhos sendo acompanhados há mais de 25 anos por equipes técnicas bem preparadas e com um grande número de informações e trabalhos cientificos publicados sobre os animais daquele Centro de Pesquisa. Trabalhavam também com raças leiteiras de Búfalos e na formação de uma raça ou tipo leiteiro do cruzamento do Sahiwal com a raça Parda Suiça, que chamavam de "Karan Swiss". Os animais da raça Sindi que pertenciam àquele Centro, como das demais raças, eram submetidos a um manejo racional e os trabalhos visavam à
produção leiteira. A surpresa maior foi verificar-se quando da visita ao Pará, nas Estações Experimentais da Embrapa, a semelhança entre os exemplares do Kamal, India e aqueles remanescentes da importação do Dr. Felisberto de Camargo, em 1952.
Em 1984, após nosso retorno da India, quando foram analisados os resultados de diversos trabalhos sobre o desenvolvimento ponderal da raça Sindi na Índia e no Paquistão e surgiu a oportunidade de participar de várias Exposições no Brasil, verificou-se a inviabilidade de se manter uma equivalência de pesos entre as raças Sindi e Gir. O resultado era conhecido; exemplares da raça Sindi não entravam nas Exposições por apresentarem sempre pesos abaixo da tabela (a tabela oficial de pesos da raça Gir foi adotada para a raça Sindi). Em 1984, publicou-se um trabalho sobre a "Equivalência dos limites mínimos de pesos das raças Gir e Sindi" (Leite & Santos, 1984), e como resultado, a tabela sugerida foi homologada pelo Conselho Técnico da ABCZ e a partir da 52." Exposição Nacional do Gado Zebu de Uberaba, em 1986, foi a mesma incorporada no regulamento, permitindo assim uma participação efetiva da raça em todos os eventos realizados no país, incentivando os antigos e novos criadores a mostrarem seus animais, sem preocupação de transformarem a raça em um tipo de corte.
Em 1988, após várias negociações com a Embrapa, conseguiu-se autorização para escolher um lote de animais originários da importação de 1952, do Dr. Felisberto de Camargo e que se encontravam sob responsabilidade do Centro de Pesquisas Agropecuárias do Trópico Úmido (CPATU) e UEPAE de Belém, ambos da Embrapa, no Estado do Pará. Esta transferência representou o mais importante acontecimento para a raça Sindi na Paraíba e no Nordeste. Eram os exemplares mais puros que existiam da raça no Brasil e, após 4 anos de negociações, Vlagens, escolha e transporte dos animais, o projeto foi concretizado e, hoje, estes animais se juntaram aos que vieram do Instituto de Zootecnia de São Paulo, formando o melhor núcleo puro dessa raça no Brasil. Foram 4 touros (Abutilo, Bravo, Bando e Condor) e 30 fêmeas, sendo 4 paridas. Constitui um núcleo de animais que deveria ser assumido pelos órgãos de pesquisa, como material genético em preservação, podendo concomitantemente ser avaliado nas condições do semiárido nordestino. Entre a UFPB e a EMEPA-PB, existem mais de 200 animais da raça Sindi em constantes observações, constituindo-se numa das melhores reservas genéticas da pecuária bovina da região.



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