23 de abr. de 2018

ESTUDO DA VARIABILIDADE ANUAL E INTRA-ANUAL DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

VICENTE DE PAULO RODRIGUES DA SILVA1 , EMERSON RICARDO RODRIGUES PEREIRA1 , RAFAELA SILVEIRA RODRIGUES ALMEIDA2 1 Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica Ciências Atmosféricas, Campina Grande, PB, Brasil 2 Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB, Brasil vicente@dca.ufcg.edu.br, ricardo@dca.ufcg.edu.br, rafinha_loka_fi@hotmail.com Recebido Setembro de 2010 - Aceito Dezembro de 2011

RESUMO Este trabalho analisou as séries temporais de precipitação e do número de dias de chuva na região Nordeste do Brasil com o propósito de identificar as áreas mais susceptíveis às estiagens mais prolongadas. Os dados utilizados neste estudo foram obtidos da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), para o período de 1935 a 2000. Foram construídos mapas do coeficiente de variação e do número de dias chuvosos para os períodos anual, seco e chuvoso. Os resultados deste trabalho permitiram concluir que os valores dos coeficientes de variação da precipitação e do número de dias chuvosos no semiárido são maiores do que no litoral, agreste e noroeste da região Nordeste do Brasil. Os maiores valores de coeficiente de variação são associados aos menores valores de precipitação e do número de dias chuvosos. A variabilidade da precipitação é maior no período seco do que no período chuvoso. A alta variabilidade da precipitação e do número de dias de chuva são fatores limitantes na agricultura de sequeiro nas microrregiões localizadas nas áreas semiáridas do Nordeste do Brasil. Palavras-chave: coeficiente de variação, número de dias de chuva, períodos secos e chuvosos.
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1. INTRODUÇÃO A precipitação é uma das variáveis meteorológicas mais importantes do ciclo hidrológico, pois influencia várias atividades humanas, tais como, a agricultura, a pesca, a pecuária e, principalmente, o abastecimento de água para o consumo humano. Essa variável tem sido bastante estudada em diferentes regiões do mundo em face de sua importância na manutenção dos ecossistemas naturais, tal como na Guiana (Shaw, 1987); Áustria (Ehrendorfer, 1987); Estados Unidos (Guttman et al., 1993; Arnaud et al., 2002); Iran (Modarres e Silva, 2007) e Brasil (Chaves, 1999; Chaves e Cavalcanti, 2001; Silva et al., 2003; Silva, 2004). As secas se constituem num sério problema para a sociedade humana e para os ecossistemas naturais (Dinpashoh et al., 2004). Nesse sentido, diferentes metodologias têm sido utilizadas para analisar a variabilidade da precipitação. Silva et al. (2003) estudou a variabilidade da precipitação no Estado da Paraíba com base na teoria da entropia. Dinpashoh et al. (2004) encontraram coeficientes de variação (CV) da precipitação pluvial no Iran variando entre 18% ao norte, onde se situam as regiões montanhosas, e 75% no sul do país. Modarres e Silva (2007) avaliaram a tendência da precipitação pluvial também no Iran e observaram que o CV médio da região é 44,4%. Apesar da precipitação média anual no Iran ser baixa, variando de 62,1 mm na estação de Yazd a 344,8 mm na estação de Shiraz, a sua variabilidade é baixa. Resultados semelhantes foram obtidos por Silva et al. (2003), quando analisaram a variabilidade da precipitação no Estado da Paraíba com base na teoria da entropia. Eles constataram que a variabilidade da precipitação é menor nos locais e períodos com baixa pluviosidade, do que no litoral e durante o período chuvoso no estado. Como a variação sazonal da precipitação exerce forte influência sobre as condições ambientais, muitos pesquisadores vêm desenvolvendo estudos com base no número de dias chuvosos (Brunettia et al., 2001; Seleshi e Zanke, 2004; Zanetti et al., 2006;
Modarres e Silva, 2007). Brunettia et al. (2001) observaram que o decréscimo no número de dias chuvosos na Itália é mais significativo do que a redução dos totais anuais da precipitação. Por outro lado, Silva et al. (2009), analisando a variabilidade anual e intra-anual da precipitação e do número de
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dias chuvosos para o Estado da Paraíba, observaram que os coeficientes de variação da precipitação e do número de dias chuvosos nas microrregiões do Cariri, Seridó e Curimataú são maiores do que nas estações localizadas nas microrregiões do litoral, agreste e brejo paraibano. Com base no número de dias com chuva (NDC) é possível se ter uma idéia da intensidade da precipitação, pois ao se analisar a chuva em intervalos de tempo distintos é possível identificar qual a sua intensidade e variabilidade espacial em termos quantitativos e qualitativos (Fischer et al., 2008). A variabilidade da precipitação na região Nordeste do Brasil exerce forte influência na agricultura de sequeiro, que também é afetada pelas temperaturas elevadas e altas taxas de evaporação registradas na parte semiárida (Silva et al., 2006). A variabilidade intra e inter anual na precipitação é provocada por diferentes sistemas atmosféricos que atuam na região Nordeste (Silva et al., 2005), destacando-se os Vórtices Ciclônicos em Ar Superior, Distúrbios Ondulatórios de Leste, Zona de Convergência Intertropical, Zona de Convergência do Atlântico Sul e os Sistemas Frontais. Esses fenômenos influenciam diretamente e indiretamente a ocorrência de chuvas sobre a região do Nordeste do Brasil (Graef e Haigis, 2001; Silva, 2004; Andreoli e Kayano, 2007). Além disso, entre os eventos meteorológicos no Atlântico Norte, geradores de ondas que podem atingir o litoral do Brasil, estão os ciclones extratropicais e os distúrbios africanos de leste (Innocentini et al., 2005). A posição mais ao sul da Zona de Convergência Intertropical, nos meses de março a abril, provoca acumulados significativos de precipitação, e atinge sua posição mais ao norte nos meses de agosto e setembro, no período mais seco do norte do Nordeste (Graef e Haigis, 2001). Por outro lado, Chaves (1999), com base em dados diários de precipitação, dados da reanálise do NCEP e dados de TSM, observou que as anomalias positiva e negativa de precipitação sobre o sul do Nordeste são associadas, respectivamente, às fases positiva e negativa do fenômeno ENSO. E, ainda, que essa associação pode se dar diretamente através da variação zonal da célula de Walker ou indiretamente através dos efeitos desta variação sobre as condições atmosféricas da região Amazônica, ou ainda através de teleconexões. O padrão chuvoso está associado à intensa convecção sobre o leste da Amazônia e deslocamento da alta da Bolívia (AB) para leste, escoamento em baixos níveis da Amazônia para o sul do Nordeste e intensificação dos alísios de nordeste sobre a costa setentrional da América do Sul. No padrão seco verifica-se a AB a oeste da sua posição climatológica, escoamento em baixos níveis direcionado da Amazônia para latitudes ao sul e enfraquecimento dos alísios de nordeste sobre a costa norte da América da Sul (Chaves, 1999). A Zona de Convergência do Atlântico Sul geralmente provoca chuva acima da média nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Porém, quando ocorre uma variabilidade na sua posição média, esse sistema pode ocasionar anomalias de precipitação no sul da região Nordeste do Brasil (Chaves e Cavalcanti, 2001). O conhecimento da variabilidade inter e intra-anual da precipitação é bastante útil para vários propósitos, inclusive na formulação de estratégias para a implantação de culturas de sequeiro em regiões semiáridas. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo analisar a variabilidade espacial da precipitação e do número de dias chuvosos na região Nordeste do Brasil, com vistas à identificação das áreas mais susceptíveis às estiagens prolongadas. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Localização da área de estudo A região Nordeste do Brasil (NEB) está situada entre os paralelos de 01° 02’ 30” de latitude sul e 18° 20’ 07” de latitude sul, e entre os meridianos de 34° 47’ 30” e 48° 45’ 24” a oeste do meridiano de Greenwich. Essa região tem por limite ao norte e ao leste o Oceano Atlântico; ao sul os

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