28 de jan. de 2013

A expansão da fronteira do leite no nordeste semiárido: um vôo de galinha?!


Por Orlando Monteiro de Carvalho Filho
Pesquisador Aponsentado da Embrapa
Crise climática e exacerbada
pela estratosférica elevação dos preços
do farelo de soja e do milho
A insustentabilidade da cadeia produtiva do leite do Nordeste – concentrada na sua região semiárida – evidenciada na atual crise climática e exacerbada pela estratosférica elevação dos preços do farelo de soja e do milho, poderá evoluir para uma situação de colapso, se confirmada a repetição da seca com a intensidade ocorrida em 2011/12.
Desnecessário e fastidioso lembrar os impactos já fartamente repercutidos na mídia, bem como discorrer sobre o fenômeno antigo e recorrente das secas nordestinas, sempre tratadas com medidas governamentais intempestivas e paliativas, com eventuais efeitos mitigadores, porém pouco estruturantes. Até porque estruturar, para o longo prazo, gera menos dividendos políticos e também porque, uma vez estruturados, os produtores sertanejos perdem direitos de reinvindicação das “esmolas governamentais”, contidas nas múltiplas bolsas disponibilizadas sem qualquer condicionalidade minimamente virtuosa. Afinal, por conta dessas benesses o sertanejo euclidiano, já não é mais o mesmo, pois “ dar esmola a um homem são, ou mata de vergonha ou vicia o cidadão”1
 
Alto Sertão Sergipano
Tomando por base de referência o Alto Sertão Sergipano – território semiárido dos mais povoados do planeta, com alto risco de desertificação segundo o MMA, onde são (ou eram) produzidos 52% do leite em Sergipe, 5º lugar no ranking da região nordeste que, por sua vez, cresceu 83% no período 2000-2011 – observam-se, já há algum tempo, alguns sinais indicadores da insustentabilidade desse crescimento.
Nessa microrregião, a atividade leiteira está presente em 87% dos estabelecimentos rurais, 90% dos quais minifúndios produzindo, de forma pulverizada, pequenos volumes de leite de baixa qualidade, obtidos a custos elevados, por conta da demasiada dependência de compras externas para a alimentação dos rebanhos. Muito mais que uma atividade economicamente rentável, a pequena produção de leite cumpre papel basicamente social, constituindo-se em uma das poucas possibilidades de inserção no mercado e de geração de renda para centenas de milhares de pequenos produtores familiares.
A despeito da existência de estoque de tecnologias sustentáveis (Sistema Glória), desenvolvido pela Embrapa Semiárido, ao longo de décadas de pesquisa, para produtores familiares de leite, verifica-se, no semiárido sergipano, a destruição de pastagens perenes e a derrubada do remanescente arbóreo nos subsistemas cultivados – estorvo para a operacionalidade da mecanização pesada do monocultivo do milho, recentemente intensificado na região - , além do pouco que resta da vegetação nativa (caatinga).
Uso massivo e descontrolado de herbicidas
Nesse contexto, a recente expansão do milho nessa região, tem sido considerada um salto de modernidade, sobretudo pelos altos ganhos de produtividade alcançados, comparáveis aos de regiões climaticamente mais favorecidas, que o transformaram na principal cultura anual do Estado. Essa “modernização tecnológica” vem ocorrendo em acelerado processo de simplificação dos sistemas produtivos, abandonando-se a diversidade dos cultivos consorciados e o uso da tração animal, que restringia a área cultivada a cada

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