29 de jan. de 2012

PASTAGEM ECOLÓGICA E SERVIÇOS AMBIENTAIS DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL

Jurandir Melado
Por: JURANDIR MELADO
Engenheiro Agrônomo - Consultor

O enfrentamento dos problemas relacionados ao aquecimento global e as ações para atenuar as suas causas e conseqüências serão provavelmente a primeira grande luta a envolver toda a humanidade, independente de raças, credos ou nacionalidades.

O aquecimento global, considerado até pouco tempo assunto exclusivo da comunidade científica (e para muitos, de ficção científica), tornou-se hoje tema de interesse geral, sendo discutido em todas as esferas, com os “vilões” se revezando no interesse dos estudiosos e da mídia. Os efeitos aparecem por toda parte; do derretimento de geleiras em todo o mundo ao furacão “Catarina”, ocorrido no Brasil em março de 2004, que tornou necessário re-escrever os livros de ciência que diziam: “É impossível haver furacões no Atlântico Sul” (Gore, 2006).
Recente relatório da FAO “Livestock’s long shadow” (Longa sombra da pecuária) colocou a produção pecuária mundial como uma grande vilã, colocando-a quanto a produção CO2 (ou equivalente), acima do sistema mundial de transportes, consumidor voraz dos combustíveis fósseis. Este relatório descreve em detalhes o impacto da criação de animais, ruminantes ou não sobre o aquecimento global.  
Longa sombra da pecuária
O principal estrago ocorre na hora do 
desmatamento e queimada.

Os valores se apresentaram assim tão elevados, por incluir no total não só todas as espécies animais da porteira para dentro, como também toda a cadeia produtiva da pecuária, incluindo o transporte, grande consumidor de energia fóssil. A realidade, porém é que a pecuária tem mesmo grande responsabilidade pelo aquecimento global, começando pelo desmatamento e queimada de florestas para o estabelecimento de pastagens e chegando à produção de metano pela fermentação ruminal e a fermentação anaeróbica dos dejetos.
O principal estrago ocorre na hora do desmatamento e queimada, já que a queima de cada hectare de floresta, com 250 T de matéria seca, lança ao espaço 500 T de CO2. Com a posterior lavra do solo para a agricultura, ocorre a “queima” da matéria orgânica reduzindo seu teor. Supondo uma redução de 3,50% para 1,5%, são mais 80 t de CO2 lançados no ar.

A fermentação ocorrida no rumem de um bovino de corte em pastejo, produz de 40 a 70 kg/animal/ano de metano (CH4), gás que tem um “efeito estufa” 25 vezes mais potente que o CO2., resultando entre 1 e 1,7 t/animal/ano de CO2 equivalente. No processo metabólico dos ruminantes, perde-se na forma de metano, de 2% (rações concentradas) a 18% (pastagem de má qualidade e baixa proteína bruta) da energia bruta fornecida pelos alimentos. Sendo um valor aceito como médio, em torno de 6% (Primavesi, 2007).

A fermentação ocorrida no rumem de um bovino de corte
 em pastejo, produz de 40 a 70 kg/animal/ano de metano (CH4),
 gás que tem um “efeito estufa” 25 vezes mais potente que o CO2.

Em sistemas com confinamento intensivo, onde a dieta pode chegar a 90% de alimentos concentrados, a produção de metano poderá ser reduzida para 2% da energia bruta ingerida. Porém, ocorre a transferência do problema para a área agrícola, produtora dos grãos. Estas áreas, quando ocorrem problemas de arejamento (compactação ou encharcamento) e o aporte de nitrogênio, sejam pela adubação mineral, orgânica ou mesmo pela fixação biológica, resultando em presença de nitratos, o óxido nitroso (N2O) que é 250 vezes mais eficiente na retenção de calor (efeito estufa) que o CO2. Outro problema sério das criações intensivas (confinadas) de animais é a grande quantidade de dejetos produzidos, cuja fermentação anaeróbica produz o metano.

Visto que a produção de metano não pode ser dissociada da pecuária e que a atividade pecuária não pode ser suprimida nem mesmo reduzida, o que então poderá ser feito, para reduzir os seus efeitos no aquecimento global? Muita coisa pode e está já sendo feita! Porém numa escala que ainda longe da desejável e necessária! Já existem tecnologias capazes de mitigar os efeitos da pecuária sobre o aquecimento global, algumas delas capazes mesmo de transformar a pecuária de vilã, em heroína, contribuindo para o seqüestro de carbono atmosférico.

Na realidade, o aumento da camada de gases de efeito estufa é apenas uma das causas do aquecimento global. Esta camada de gases funciona apenas como um cobertor, que não tem a capacidade de aquecer, mas sim de conservar o calor do corpo, neste caso a Terra. 

Na realidade, o aumento da camada de gases
de efeito estufa é apenas uma das causas do
aquecimento global.

Um solo sem cobertura vegetal ou com cobertura escassa, como ocorre com as pastagens degradadas ou em regime de super-pastejo, são verdadeiros espelhos devolvendo calor ao espaço na forma de ondas longas ou radiação infravermelha. Em todo o mundo existem muitas áreas que emitem calor em excesso (acima de 300 W/m2), contribuindo para o aquecimento global. No Brasil estas áreas se concentram no Semi-árido Nordestino e agora lamentavelmente também nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, em que a cobertura vegetal permanente foi substituída por culturas que não conseguem manter folhas verdes o ano todo e com isso o serviço ambiental de vaporização de água no ar (e que retira calor do ar), atendendo a demanda atmosférica. Para deixar mais claro, o que queima mais a sola do pé descalço às 13h da tarde, com o mesmo sol a pino: a areia

22 de jan. de 2012

ÁGUA NÃO É A ÚNICA SOLUÇÃO

Para desenvolver o semi-árido, é preciso enterrar a idéia de que a região só avançará se dispuser de água abundante, diz diretor do Instituto Nacional do semi-árido (Insa)
         O desenvolvimento do semi-árido brasileiro, região com quase 1 milhão de quilômetros quadrados na qual vivem cerca de 23 milhões de pessoas de nove estados brasileiros (metade delas na área rural), dependerá sobretudo de uma quebra de paradigma. Será preciso enterrar a idéia de que a região só avançará econômica e socialmente se dispuser de água em abundância.
         “Tão prejudicial como negar a miséria do semi-árido é a idealização da irrigação em toda a região”, afirmou o diretor do Instituto Nacional do semi-árido (Insa), Roberto Germano Costa, durante a conferência de abertura da Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN).
         Na conferência, Germano Costa mostrou que apenas 2% das terras do semi-árido são passíveis de receber sistemas de irrigação. Para agravar, os longos períodos de seca e a variabilidade das chuvas tendem a se intensificar com as mudanças climáticas. “Na região, 60% das chuvas ocorrem em apenas um mês, sendo que 30% em um só dia. Trata-se de uma dinâmica climática que ninguém conseguirá mudar”, frisou ele. Por isso, na sua avaliação, é necessário acabar com a visão de que a água é a única solução para os problemas do semi-árido, e passar a apostar nas potencialidades da região.
        Apostar em culturas xerófilas, adaptadas à escassez de água, pode ser um dos caminhos, uma vez que a agricultura na região é uma atividade de alto risco. “Historicamente, a cada dez anos se tem apenas dois anos de chuvas regulares”, disse o diretor do Insa. Além disso, as áreas de sequeiro utilizadas hoje correspondem a apenas 4,8% do território. A pecuária, por sua vez, apesar de ser de baixo risco, precisa avançar mais em manejo, nutrição, reprodução e melhoramento, sendo que o principal gargalo são as forragens.
      O semi-árido ainda tem o desafio de resolver a questão das pequenas propriedades. Com 2,5 milhões de estabelecimentos rurais, cerca de 1,9 milhões deles possuem menos que 20 hectares, área insuficiente para garantir a sustentabilidade de uma família. “O desafio é conviver com as peculiaridades da região, transformando a semi-aridez em uma vantagem”, ressaltou Germano Costa.
      Exemplos de potencialidades não faltam. É o caso da palma, que no México está sendo utilizada mais para alimentação humana do que animal. Do licuri, do qual é possível fazer azeite e até barra de cereais. Ou da faveleira, usada na produção de óleo. “A questão toda é agregar valor com inovação tecnológica”, resume, citando o exemplo do mel, cuja expansão da cadeia produtiva praticamente está na dependência da
quebra de barreiras fitossanitárias.
     Para transpor esse desafio, diz Germano Costa, será necessário haver uma educação de ensino superior contextualizada, focada nas reais potencialidades da região e na inovação, de forma que se possa gerar produtos e serviços com vantagens competitivas.
     Ele lembra que a economia do século XXI é pautada pela baixa emissão de carbono, por uma regulação ambiental mais severa, responsabilidade socioambiental, exploração de energia renovável e eficiência energética, e de novos materiais e processo produtivos. Nesse contexto, a exploração de culturas xerófilas, a agroecologia e a agropecuária devem estar também na pauta dos estudos das universidades e instituições de pesquisa. Assim como estudos que visem frear a desertificação do solo na região.
         O diretor do Insa destaca, porém, que os problemas do semi-árido não se limitam à exploração sustentável dos recursos naturais. “É necessário romper com a política de combate a seca, de clientelismo e manipulação da miséria, entre outros inúmeros problemas de ordem social, econômica e política”, ressaltou.
         “Trata-se de uma questão estratégica e de interesse nacional”, acrescentou ele, lembrando que, em todo o mundo, há uma tendência de as regiões áridas ou semi-áridas aumentarem de tamanho, enquanto que a porção agricultável tende a ser insuficiente para atender a demanda de alimentos causada pelo crescimento da população. “Não é difícil imaginar as conseqüências sociais e econômicas caso o semi-árido brasileiro, considerada a região semi-árida mais

9 de jan. de 2012

OPÇÕES NO USO DE FORRAGEIRAS ARBUSTIVO-ARBÓREAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE

 Por:  Gherman Garcia L. de Araújo, Severino G. de Albuquerque
Clóvis Guimarães Filho - Pesquisadores da Embrapa Semi-Árido 
- Caixa Postal 23. 56300-970  - Petrolina, PE

"à medida que a estação seca progride,  há o aumento da 
disponibilidade de  folhas secas de arbustos e árvores"
RESUMO - Estudos têm revelado que acima de 70% das espécies botânicas da caatinga participam da composição da dieta dos ruminantes domésticos. No período chuvoso, as herbáceas perfazem acima de 80% da dieta dos ruminantes. Porém, à medida que a estação seca progride, há o aumento da disponibilidade de folhas secas de arbustos e árvores, as quais se tornam cada vez mais importantes na dieta dos animais, principalmente dos caprinos. Estrategicamente, as espécies lenhosas são fundamentais no contexto da produção e disponibilidade de forragem no Semi-Árido.
caatingueira 
(Caesalpinia pyramidalis;
C. bracteosa)
     As espécies nativas destacam-se pela alta resistência à seca, por já fazerem parte dos sistemas, pelo alto nível protéico (> 12 %) e pelo fato de a maioria produzir outros produtos, como madeira e frutos. Elas têm algumas desvantagens, como alto teor de tanino, e, por isto, nunca devem compor dietas exclusivas. As principais são caatingueira (Caesalpinia pyramidalis; C. bracteosa), umbuzeiro (Spondias tuberosa), maniçoba (Manihot spp.; M. pseudoglaziovii), camaratuba (Cratylia mollis), mamãozinho (Jacaratia corumbensis), e as cactáceas nativas mandacaru (Cereus jamacaru) e facheiro (Pilosocereus pachycladus). Algumas já estão sendo estabelecidas em plantios sistemáticos, como maniçoba e umbuzeiro. A caatinga, por seu lado, formada por espécies forrageiras como um todo, tem suas deficiências como pastagem nativa, mas é uma ótima pastagem na época chuvosa, e por razões de equilíbrio ambiental, estará sempre presente nos sistemas pecuários do Semi-Árido (AS). Daí a

Pensamento do mês