1 de set. de 2017

Eficiência de produção, produção de leite e peso corporal

Rodrigo Gregório da Silva, Eng. Agrônomo, 
Doutor em Zootecnia, Professor do IFCE 
Campus Limoeiro do Norte, CE.
O resultado final do negócio, quando se objetiva lucro, é reflexo de uma gama de fatores que tornam a produção de leite uma das atividades mais complexas do meio rural. Especialmente quando se trata de
Rodrigo Gregório
sistemas mais intensivos, onde a oscilação das margens apresenta elevado risco de obtenção de valores negativos, há que se buscar elevação da eficiência.
A eficiência pode ser obtida de várias maneiras, sobretudo em duas direções: produzir mais, com os mesmos fatores de produção e/ou usar menos fatores para produzir as mesmas produções. Qual desta modalidade usar vai depender da situação do negócio, no momento da avaliação. De forma que haverá momentos em que as técnicas poderão ser direcionadas em diferentes direções, sempre buscando o melhor desempenho da atividade.
Tratando da eficiência de produção de leite e sua relação com os fatores peso corporal da vaca e produção na lactação, observamos (Figura 1a) dois aspectos relevantes em sua busca: incremento da produção de leite na lactação (L/lactação), resultando em maiores médias diárias por animal (L/vaca/dia) e diminuição de peso corporal, associado a incremento da produção de leite (L/lactação), via melhoramento genético, conforme podemos observar nos resultados obtidos pela Fazenda Carnaúba, localizada no município de Taperoá, PB.
F1 Sindi x Jersey
Outro fator que se apresenta significativo, para produção de leite, é sua composição. Pois, ao se incrementar, tem-se como resultado uma maior equivalência de produção quando comparado às situações de produção de leite com menores teores de sólidos (Figura 1b). Ou seja, um litro de leite mais concentrado, significando mais de um litro padrão (4% de gordura), aspecto fundamental para às situações de fazenda que beneficiam seu leite.
É também justo, que rebanhos que tenham seu leite com maiores teores de sólidos, recebam mais e que seus gestores avaliem seus animais por este aspecto, pois dele derivam demandas como ajustes de dieta e comparação entre os animais, com base na produção de sólidos. No trabalho de seleção apresentado pela Fazenda Carnaúba (Figura 2a), demonstra-se o papel fundamental da seleção no sentido do aumento da produção e da produtividade da produção de gordura.
Observa-se crescimento na produção total de gordura por lactação, resultado do crescimento da produção de leite (Figura 2b), associado ao aumento da produtividade da produção de gordura, resultado do crescimento absoluto na lactação, associado à diminuição do peso corporal dos animais, elevando-se o índice de kg de gordura/100 kg de peso corporal, saindo-se de valores de aproximadamente 30 kg para atuais 75 kg de gordura/100 kg de PC (Figura 2a). Com relação ao peso corporal, salientamos a

importância de sua redução, ao longo do tempo, garantido ganhos relacionados à eficiência de produção, dada em L/100 kg PC, conforme pode ser observado na Figura 2b. Caso não tivesse havido a redução do PC ao longo do tempo, este índice que hoje se aproxima de 5, estaria inferior a 4 L/100 kg de PC.

Outros fatores observados a partir do trabalho divulgado pela Fazenda Carnaúba, se relaciona ao consumo diário de matéria seca (MS) e da lotação esperada (Figura 3a), dada em vacas/ha, ao longo do tempo. Observa-se elevação do consumo de MS, como resultado do incremento do potencial de produção de leite do rebanho. Este comportamento de cresciemnto da demanda diária de MS poderia ter sido ainda maior caso houvesse manutenção dos pesos das vacas proximo aos valores iniciais (420 kg PC), como resultado das demandas de mantença, demonstrando novamente o papel da seleção para produção de leite, associação à redução e/ou manutenção do peso corporal dentro de uma faixa adequada.



Ainda tratando da Figura 3b, observa-se crescimento do potencial de produção de leite por área (L/ha/ano) e da receita menos o custo com alimentação (RMCA), por hectare ao ano. Tais condições foram possíveis em função do crescimento da produção dos animais (L/vaca/ano), com o controle de seu porte, possibilitando a manutenção da lotação (vaca/ha) variando entre 0,5 e 0,6 vacas.
Salientamos mais uma vez que a seleção para produção de leite sem a atenção para o porte dos animais, pode não resultar em incrementos da produção e lucro por área, tendo em vista as perdas ocasionadas pelo

aumento do porte dos animais, no componente lotação. Neste sentido, somente se obterá ganho por área, caso sejam observados os aspectos que garantam o crescimento da produtividade, por unidade de área. Onde a produção dos animais é um dos componentes, devendo ser observados outros relacionados à lotação e aos custos alimentares.
Por fim, corroborando com o exposto no parágrafo anterior, simulou-se (Figura 4) a evolução da RMCA para o rebanho da fazenda Carnaúba, na condição observada e da evolução da RMCA caso o peso corporal das vacas tivesse sido mantido em torno de 420 kg, como no início da seleção. Observa-se que a redução do peso corporal das vacas em associação ao crescimento da produção de leite na lactação, possibilitaram maiores valores de RMCA por hectare. Tal comportamento demonstra o ganho de eficiência

da fazenda, no tocante à produtividade por animal e por área. E isto foi possível graças ao ganho de produtividade com base na massa corporal e não só no volume medido por animal.
Ao final, conclui-se que há possibilidade de ganhos significativos nos parâmetros de eficiência da produção de leite para às condições de semiárido. Há que se avaliar o sistema levando-se em consideração não só as medidas tradicionais de produção de leite na lactação e produção diária de leite, por animal (balde). Devem-se incorporar os aspectos relacionados à massa corporal, que em associação às produções, possibilitam o estabelecimento de índices de eficiência com base na massa animal e por área.

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