1 de fev. de 2017

BIOCONVERSÃO DA PALMA FORRAGEIRA ALTERNATIVA ALIMENTAR PARA PEQUENOS RUMINANTES



Por: Lúcia de Fátima Araújo - Emepa / Evaneusa Alves de Brito - Emepa / Miguel Barreiro Neto - Embrapa/Emepa / Salvino de Oliveira Júnior - Emepa / Elson Soares dos Santos - Emepa

O crescimento e a modernização do agronegócio da ovinocultura de corte, com o uso de ovinos de raças especializadas e seus cruzamentos para produção de carne, exigem o
desenvolvimento de tecnologias alternativas para melhorar o valor nutricional de forragens que possam ser utilizadas na alimentação dos animais, visando à melhoria dos níveis produtivos dos rebanhos. Com o crescimento da ovinocultura no semi-árido paraibano, a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba vem aprimorando o nível técnico-científico e agilizando as condições de desenvolvimento dessa atividade na região, uma vez que há uma distribuição irregular das chuvas, associada a um manejo de pastagens deficientes, resultando em uma baixa disponibilidade de forragem no período seco do ano. Nesta época, os criadores da região recorrem ao uso de concentrados comerciais para uma suplementação protéica para suprir as necessidades nutritivas do rebanho. No entanto, os freqüentes aumentos dos preços dos concentrados industriais utilizados na suplementação
proteica da dieta animal, vêm tornando a atividade antieconômica, estimulando o aproveitamento de alimentos não convencionais. Dentre os produtos que podem substituir os suplementos convencionais, destacam-se os microrganismos: algas, fungos filamentosos e leveduras, considerados uma fonte unicelular de elevado teor proteico, além de possuírem um rápido crescimento e possibilidade de cultivo em diversos substratos. Em confronto com os concentrados comerciais, a palma forrageira enriquecida com fungos adequados pode equiparar seu valor nutricional, pois será acrescida de proteína microbiana e de minerais como fosfato, potássio, além de vitaminas do complexo B. As características da agropecuária na região demonstram a necessidade tecnológica para propiciar aumentos dos índices de produtividade dos rebanhos, por meio da aplicação do processo de bioconversão da palma forrageira, obtendo um produto de alto valor agregado. A palma forrageira enriquecida com
levedura Saccharomyces cerevisiae pode ser produzida na propriedade rural, uma vez que o processo utilizado é prático e economicamente viável, tornando-se uma alternativa de fácil incorporação nos sistemas de produção animal na região. A tecnologia da bioconversão da palma forrageira contribuirá para minimizar a carência alimentar na época crítica do ano, fazendo parte na alimentação de pequenos ruminantes em crescimento, nas dietas de mantença e desempenho corporal, no semiárido paraibano.

LOCAL DE REALIZAÇÃO DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada na Estação Experimental de Pendência, no semiárido paraibano, no período de janeiro a dezembro de 2006.

TÉCNICA PARA BIOCONVERSÃO DA PALMA FORRAGEIRA

A técnica para aumentar o valor nutricional da palma forrageira foi por meio do processo biotecnológico utilizando o crescimento da levedura Saccharomyces cerevisiae em fermentação semi-sólida (FSS). Na fermentação semi-sólida, o meio de cultura é composto de substratos sólidos, com um determinado teor de umidade. Assim, a água torna-se um fator limitante, uma das principais vantagens do processo. Quando comparada com a fermentação submersa (FSm), o processo em estado semi-sólido apresenta as seguintes vantagens operacionais: adição de pequeno volume de água, permitindo a recuperação do produto com baixos gastos de energia; baixa umidade requerida para obter-se um rendimento máximo do produto; o espaço requerido pelo reator ou fermentador é pequeno
em relação ao rendimento do produto; não é necessário tanque de germinação, uma vez que os microrganismos são inoculados diretamente no substrato - palma forrageira -; há necessidade de pouco controle do processo, a produção de enzimas, ácidos orgânicos e alimentos com fins lucrativos.

OBTENÇÃO DO PRODUTO DA BIOCONVERSÃO DA PALMA FORRAGEIRA

Selecionar os cladódios, retirando aqueles que não apresentarem bom aspecto fitossanitário. Como pré-tratamento físico, realizar a trituração da palma em máquina forrageira. O inóculo será efetuado a partir do fermento biológico (levedura) úmido mantido em refrigeração, tendo sua multiplicação obtida no próprio meio (substrato formado pela palma triturada). Realizar o cultivo em baldes plásticos - biorreatores sem aeração forçada e colocá-los em área coberta para evitar a penetração dos raios solares, chuvas e predadores. O substrato, após inoculado, ficará nos biorreatores por um período de 12
horas de fermentação para ser oferecido aos animais.

MICRORGANISMO UTILIZADO NO PROCESSO FERMENTATIVO

O microrganismo utilizado nas operações do processo foi a levedura Saccharomyces cerevisiae, prensada do tipo fermento biológico fresco, com umidade de 80% (b.u), com média de 45% de proteína bruta (PB). A eficiência da conversão proteica por leveduras depende de fatores como temperatura, suprimento de oxigênio e disponibilidade de nutrientes. O tempo médio para dobrar o teor proteico é de apenas 5 horas de fermentação. A escolha do microrganismo adequado é o resultado do sucesso da produção do bioproduto desejado. Portanto, a produção de leveduras pode ser resultante dos processos exclusivamente destinados a sua propagação, que são
denominados leveduras primárias, que é o caso do fermento biológico, enquanto as leveduras obtidas como subprodutos de outras indústrias
fermentativas são denominadas de leveduras secundárias, embora sejam da mesma espécie. O crescimento de microrganismos por fermentação em meio semi-sólido, buscando-se tecnologia adaptada às condições rurais, está se tornando atrativo, com chances reais de chegar a um processo economicamente viável, principalmente, para minimizar as graves distorções regionais que afetam o país. Além disto, poderá facilitar a fixação do homem do campo na região do semiárido do Nordeste.

Substrato

O substrato utilizado foi palma forrageira (Opuntia fícus-indica Mill) da variedade gigante, que tem se constituído em fonte potencial de água e forragem para os animais, nos prolongados períodos de estiagem da região semiárida. Nesta região está plantada grande área de palma forrageira, cerca de 550 mil
hectares. Embora possua características adaptáveis ás condições adversas da região, a palma forrageira apresenta limitações em relação ao teor de matéria seca, fibra, proteínas e vitaminas, mostrando-se inferior as outras culturas forrageiras como o sorgo, milho, capim e outros. Portanto, a palma forrageira é rica em carboidratos solúveis que são utilizados pelos microrganismos para síntese de proteína.

RESULTADOS

Pela Tabela 1, a dieta contendo 20% palma forrageira com 2% de inoculação da levedura, na terminação de cordeiros, proporcionou melhores resultados de ganho de peso diário (0,494 kg animal- 1), conversão alimentar (2,5) e consumo diário de matéria seca (1,2 kg
Entenda porque Bahia Red Sindhi
animal-1), obtidos no período de 14  dias de confinamento. A palma forrageira enriquecida com levedura resulta em um bioproduto de alto valor agregado para ser utilizado na alimentação de cordeiros em terminação. Obteve-se teor proteico de 9,7 a um custo de R$ 0,15 por quilo do bioproduto, inoculando a levedura a 2% do total de substrato (Tabela 2). Comparativamente, uma tonelada do bioproduto custa R$ 150,00 enquanto a mesma quantidade de milho e sorgo, em grãos, custa R$ 800,00 e R$ 520,00, respectivamente, demonstrando a viabilidade econômica do processo de bioconversão da palma forrageira por meio da levedura Saccharomyces cerevisiae.

CONCLUSÕES

·A bioconversão da palma forrageira em bioproduto de alto valor agregado, similar ou melhor do que alguns concentrados convencionais, é uma alternativa alimentar para os sistemas de produção animal no semiárido.

·O tratamento da palma forrageira com inoculação de 2% de levedura é economicamente viável e proporciona um enriquecimento cerca de 100% do teor de proteína bruta em relação ao valor encontrado na forma in natura.
Fonte: Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.1, n.1, p.59-61, set. 2007

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