22 de jun. de 2017

Quando o menor potencializou os ganhos e o marginal socorreu o negócio!



Rodrigo Gregório da Silva

Eng. Agrônomo, Doutor em Zootecnia, 
Professor do IFCE, Campus Limoeiro do Norte, CE.
(Ilustrações BRS
 
 Na definição de um negócio, entre as várias etapas realizadas no momento de sua definição, temos como base, a identificação da combinação ótima dos fatores de produção, que possibilitam a maximização do desempenho econômico. Silva (1977) ao tratar dos temas
Rodrigo Gregório da Silva
eficiência técnica e eficiência econômica demonstra que os aspectos técnicos em si, não garantem a identificação do nível mais eficiente de produção. Porém, a máxima eficiência econômica é dada onde há também a máxima eficiência técnica e que esta é diferente da máxima produção física.

Dada às características da atividade de produção de leite, que tradicionalmente apresenta margens apertadas, associado ao elevado investimento necessário para sua implantação e sua complexidade de funcionamento, há que se buscarem informações que auxiliem os produtores/técnicos na tomada de decisão. Tais informações podem fundamentar a definição do modelo de sistema de produção que melhor se adeque às condições da fazenda, customizando seu planejamento, aumentando a chance de sucesso e definindo os riscos associados ao negócio.
         Desta forma, na fase de planejamento, há possibilidade de determinação dos aspectos que darão grande contribuição na sustentabilidade dos negócios, condições estas relacionadas à competitividade, como exemplo, definição do modelo de sistema que possibilite a obtenção do custo médio mínimo de produção. Isto aumentará a chance de obtenção de lucro, para a condição de preço médio praticado no mercado, visto que será neste ponto em que a curva de custo apresentará maior distância da curva de preço, condição esta fundamental para permanência destes negócios em funcionamento, de forma viável, ao longo do tempo. 

Neste sentido, ferramentas de simulação tomam corpo nesta etapa. Tais ferramentas possibilitam entender melhor o negócio, gerando informações, como: identificação das variáveis de maior impacto no negócio (análise de sensibilidade); realizar estimativas de alterações nas variáveis de saída (por exemplo, margem líquida) dada modificações nas variáveis de entrada (por exemplo, alterações nos índices de preços dos insumos); realizar estimativas dos riscos associados ao negócio, nas condições atuais e/ou sob estresse (por exemplo, ocorrências de secas).

Com isso, abordar-se-á o uso, de forma exploratória, dos aspectos relacionados à maximização do lucro, peso corporal da vaca, produção de leite na lactação e teor de gordura do leite, na busca da definição de um sistema de produção de leite, para as condições semiáridas.

Nogami e Passos (2016) expõem de maneira clara as teorias da produção e dos custos. Destas, observa-se a possibilidade do estabelecimento de conceitos básicos para
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quem deseja planejar um negócio, que busca o melhor uso dos recursos, como forma de maximização do lucro. Para isso, deverão ser definidos: receita marginal e custo marginal, em cada condição possível, via simulação. Salienta-se o estímulo ao crescimento do volume produzido enquanto for observado incremento de receita marginal em maior proporção que o incremento do custo marginal. 

Então, referindo-se à maximização do lucro, este será obtido no momento em que a receita marginal se iguale ao custo marginal. Nesse sentido, as simulações deverão ser realizadas com o objetivo de estimar as receitas marginais e os custos marginais associados aos diferentes níveis de produção e/ou modelos de sistemas de produção, na busca da combinação em que se maximiza o lucro do negócio. Vê-se que os conceitos de receita e custo marginais, darão vigor nas decisões sobre os negócios, podendo salvá-los da condição de ineficiência econômica. 

        Pelo lado técnico, há que se realizar simulações sobre seus impactos no desempenho do negócio. Neste texto, tratar-se-á das relações das variáveis peso corporal da vaca (300, 325, 350, 375 e 400 kg PC), produção de leite na lactação (1.296, 1.811, 2.297, 2.804 e 3.302 L/lactação) e teor de gordura do leite (3,8, 4,2 e 4,6%), com o desempenho econômico de modalidades de sistemas de produção (que usam pastagens irrigadas, pastagens naturais, confinamento, capineiras irrigadas), utilizados nas condições de semiárido cearense, com base em Silva (2013).
        
         Para as condições gerais dos sistemas locais (Tabela 1), o peso corporal (kg PC), a produção de leite na lactação (L/lactação) e o teor de gordura (%) apresentaram relação com a variável RMCA (receita menos custo com alimentação, R$/ha/mês). Somente nos sistemas que usam pastagens naturais no período chuvoso e pastagens irrigadas no período seco, o teor de gordura não apresentou relação, bem como nos sistemas que usam pastagens naturais no período chuvoso e confinamento no período seco, não se observou relação com o teor de gordura e peso corporal. 

        Tabela 1 – Receita menos custo com alimentação (RMCA), em função das características produção de leite na lactação (Produção), peso corporal (PC) e teor de gordura do leite (Gordura), para os sistemas de produção: Pan-Pan, em que os animais seriam mantidos durante todo o ano em área irrigada, manejados em lotação rotativa; Caa-Pan, em que os animais seriam manejados em lotação rotativa, no período seco, em área irrigada, e em área de pastagem natural, no período chuvoso; Caa-Buf, em que os animais seriam mantidos em pastagem natural, no período chuvoso, e em pastagem diferida de capim buffel, durante o período seco
 
O peso corporal e o teor de gordura apresentaram relação inversa com RMCA. Ou seja, com o aumento do peso corporal e dos teores de gordura, há redução da RMCA, por hectare. Já a produção de leite, na lactação, apresentou relação direta, demonstrando efeito positivo da elevação de produtividade das vacas no desempenho do negócio (SILVA, 2013).

Tais efeitos, de forma resumida, se devem à: diminuição do número de animais, por unidade de área, quando do aumento do peso corporal; aumento das exigências nutricionais e dos custos de dieta quando do aumento da concentração de gordura no leite; aumento da produtividade, por unidade de área, com o aumento da produção por animal. Conclui-se que: a elevação do potencial de produção dos animais é
fundamental e resulta em ganhos na RMCA por hectare; elevar o teor de gordura do leite, sem que exista pagamento diferenciado, não apresenta vantagens para o produtor e diminuem a RMCA por hectare; e a escolha de animais de maior peso resulta em diminuição da RMCA por hectare. Ou seja, tamanho menor das vacas, possibilita atingir o ponto de maximização do lucro, por hectare.

Assim, com o exposto, acredita-se demonstrar a importância do uso das simulações no planejamento dos negócios que buscam a eficiência e sustentabilidade. Pois, ao se levantar as relações entre os diferentes componentes do sistema (como exemplo, peso corporal) com os resultados econômicos (por exemplo, RMCA), torna possível a definição de sistemas competitivos e capazes de remunerar mais eficientemente os proprietários, associado ao melhor entendimento do funcionamento destes, minimizando os riscos associados à atividade de produção de leite.

Referências bibliográficas

Nogami, O.; Passos, C.R.M. Princípios de economia. 7ª edição, revisada. São Paulo, SP. Cengage Learning, 2016, 670p.

Silva, G.L. Simulação das relações de tipos de alimentação com modelos de sistemas de produção de leite no semiárido brasileiro. 2013. 99f.  (Dissertação, Zootecnia). UFC, Fortaleza, CE.

Silva, P.R. Eficiência técnica vs eficiência econômica. Ciência agronômica, 7 (1-2): 157-163, Dezembro, 1977, Fortaleza, CE.




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