5 de dez. de 2011

O SINDI É O REI

Geraldo Caboclo
REVISTA DO SINDI 2004.

Entrevista com Geraldo Caboclo
Publicada na REVISTA DO SINDI 2004.
.


Empolgado com o sucesso do Sindi nos sertões e na Primeira Exposição Nacional, o juiz e diretor de Registro Genealógico, de total vivência no semi-árido, diz que o Sindi é a última conquista da História da Zootecnia brasileira, tendo um grande futuro à frente, principalmente quanto à chance de ser exportado para muitos países.

1) No julgamento, o Sr. disse que o Sindi é o rei do sertão. Como explicar isso?
Geraldo Caboclo - Pela experiência que tenho nos sertões do Nordeste e observando o comportamento do Sindi nos períodos de seca é fácil observar que ele é imbatível diante das condições do semi-árido. No momento crítico, o Sindi mostra rusticidade, longevidade, produtividade, tudo isso com a pouca alimentação existente. Isso indica uma alta taxa de conversão de alimentos típicos de região seca e pobre em carne e leite. É um patrimônio valioso para as regiões pobres do mundo inteiro.


2) Esse não é o papel reservado para os mestiços chamados de “Pé-Duros” que têm 500 anos de seleção natural no semi-árido?
Geraldo Caboclo - Ninguém nega o papel do gado Pé-Duro, pois todos crescemos ao lado dele, mas eu nunca vi nada igual ao Sindi que, além de tudo, é raça pura. Antes, eu tinha fé numa seleção preservacionista e até regeneradora do Pé-Duro, mas vi que o Sindi é muito mais resistente, produtivo e lucrativo - e já está pronto. O Sindi veio decretar o ponto-final da longa história do heróico Pé-Duro.

3) O que significa “rusticidade” no caso do Sindi?
Geraldo Caboclo - É fácil de notar, por dois motivos: primeiro, na fazenda do Dr. Manelito, na seca de 92-93, morreram mais ovinos e caprinos do que gado Sindi - isso é rusticidade pra ninguém botar defeito. Um bovino melhor que caprinos e ovinos! Segundo, basta ver a quantidade de gente vendendo o gado antigo e comprando Sindi. Isso é sinal de que essas
pessoas já viram a rusticidade e adequação do Sindi ao sertão, já aprovaram e estão se adequando a uma realidade mais promissora. Por isso, eu me arrisco a dizer tudo de bom sobre o gado Sindi. Não há hipótese de errar, pois a Ciência e a voz do povo estão com ele.
 
4) Quer dizer que o Sindi dá mais rendimento que caprinos e ovinos? 
Geraldo Caboclo - Dá, sim! É preciso respeitar cada coisa em seu lugar, pois ninguém irá desbancar o
papel dos caprinos e ovinos do Nordeste, mas - no geral - o rendimento em carne e leite do Sindi é melhor do que em caprinos
e ovinos. Por isso, o futuro do Sindi é muito promissor.

5) E por que ninguém havia visto isso, antes?

Geraldo Caboclo - Muita gente viu, mas era cedo para tirar conclusões, pois muitos gados passaram pelo Nordeste e se acabaram, sozinhos. Depois de várias fases ruins, O Sindi sozinho se promoveu, sobrevivendo e produzindo. Então, agora, chegou a oportunidade.

6) O Sindi é, então, um presente para o sertanejo?

Geraldo Caboclo - Eu diria que o sertanejo teve as preces atendidas. Ele recebeu o que estava pedindo. Até hoje não vi ninguém que começou a criar Sindi e tenha desistido. Ninguém! Isso é raça boa, com certeza, para o sertão nordestino. Junto com as miúnças, ou seja, caprinos e ovinos, está montada a pecuária sertaneja. Agora é só selecionar as melhores raças caprinas, ovinas e o próprio Sindi. O caminho está traçado.

7) Quer dizer que ninguém segura o Sindi daqui para a frente?

Geraldo Caboclo - É verdade. Ninguém segura o Sindi, porque ele é a “verdade”. No semi-árido, com certeza, é a ferramenta final para levar o sertanejo para degraus superiores de existência. O Sindi dá adeus ao Pé-Duro, ao primitivismo. O Pé-Duro sobrevivia, mas não tinha lucratividade, porque era apenas fruto de uma seleção zoológica, onde os mais aptos e, geralmente, menos aperfeiçoados zootecnicamente resistiram. A prova disso é que o Nordeste sempre teve que importar carne na entressafra. Agora, o Sindi pode reverter essa posição centenária. É uma raça lucrativa, com condição total de seleção para carne e leite. Logo, centenas de empresários estarão criando Sindi, confinando crias para abate, etc. É raça para produzir rendimento.

8) Sendo ideal para o semi-árido brasileiro, o Sindi pode ser exportado?

Geraldo Caboclo - O Sindi é referência para climas similares no mundo. É raça para ser exportada, e logo, pois já está em bom nível zootécnico. Tem linhagens excelentes de carne e também de leite. Então pode ser enviada para qualquer país com clima semi-árido ou solo
fraco.

9) Como analisar uma Primeira Exposição Nacional da Raça Sindi?

Geraldo Caboclo - Esta 1a. Nacional precisava acontecer para homologar o passado grandioso e que, agora, torna-se firme. Estado do RN está de parabéns por ter compreendido o papel do Sindi, que bem merecia isso. Esta Expo Nacional vem resgatar mais de 500 anos de sofrimento e mais de 100 anos de seleção empírica sem o gado certo.

10) Como descrever o papel do criador de Sindi nordestino?

Geraldo Caboclo - Houve alguns grandes passos na História da Zootecnia brasileira. Quando João de Abreu começou a selecionar Guzerá no Rio de Janeiro, em 1895, abrindo a porta para o futuro do Zebu; quando foi feito o touro Induberaba em 1926; quando surgiu o capim colonião no final da década de 1930, possibilitando a abertura de novas áreas onde só iria caber o Nelore; quando o Prof. Villares começou as Provas Zootécnicas em 1952; quando chegou o capim Buffel ao Nordeste na década de 1960; quando o Dr. Manelito resolveu sediar o gado Sindi no Nordeste. Assim, quando vários criadores fincam o pé ao lado do gado Sindi eles entram para a História, inaugurando uma nova fase para a Zootecnia do mundo tropical, e não apenas do Nordeste. Os criadores de Sindi estão fazendo História, vão ficar na História, eles são a própria História.

11) O Sindi não precisa passar por uma bateria de Provas Zootécnicas como as demais raças?

Geraldo Caboclo - O Teste Zootécnico do Sindi foi a bioclimatologia. Ele já passou no maior dos testes. O resto será adequação a um ou outro modelo econômico de exploração pecuária. Hoje a Zootecnia está exigindo repensamento, reflexão, para acertar os ponteiros do país. Não devemos, nem podemos querer que raça do semi-árido seja comparada por entidade alheia aos limites desse território. Os parâmetros de avaliação da raça devem ser ditados pela realidade local onde vive e não pela fantasia de regiões fartas.


12) Isso explica o porquê de a Tabela de Pesos da ABCZ ter sido abandonada nesta Primeira Exposição Nacional?

Geraldo Caboclo - Sim. A ABCZ ainda não acertou a Tabela do Sindi, até porque não teve chance de medir a existência da raça em seu hábitat. Essa Primeira Exposição mostra que a Tabela do Sindi é outra, muito diferente. Não podíamos deixar de levar em conta a “verdade” da raça e não um “papel” escrito sem averiguação dessa realidade. Valeu a Tabela da “nordestinidade”. Basta reparar na pista: os animais não estão magros, nem arrasados, estão saudáveis, com pêlo brilhante. A raça está bem, embora abaixo da Tabela de Peso! Isso deixa claro que a Tabela precisa ser ajustada. A ABCZ é uma entidade que respeita os criadores e os ditames da raça e, então, o Conselho Técnico vai admitir uma Tabela correta para o Sindi. Só com ela o Sindi manifesta toda sua beleza e pujança, sem artificialismo.

13) A Tabela de Peso para exposições é um fator de artificialismo?

Geraldo Caboclo - Sim, pois há muitas maneiras de se colocar peso em um animal, para ganhar troféus em exposições. Por outro lado, a quantidade de dados acumulados sobre as raças permitem traçar uma curva de evolução do peso, em regime de campo, e - então - os animais poderiam ser julgados a partir dessa curva indicadora da realidade. Também há as pesagens obrigatórias do Controle do Desenvolvimento Ponderal que indicam a curva do animal. Estas curvas, colocadas em computador, habilitariam o animal a entrar nas exposições com um peso realista.

14) Existem, então, duas exposições?

Geraldo Caboclo - Claro. A exposição converteu-se, no mundo inteiro, em um instrumento de marketing das raças e, então, vencem os animais entupidos de comida, com porte que jamais seria atingido no campo. Os animais de pista estão muito distantes dos animais do campo. Atrás disso, vem a indústria dos embriões e do sêmen. Isso não é ruim, pois - em região onde há fartura alimentar - poderá até fomentar o progresso. Principalmente, agomento a campo e não apenas em programas de Transferência de embriões ou coleta de sêmen. O Sindi tem os pés no chão e seu baixo peso, aliado a uma notável conformação de carcaça, precocidade e habilidade materna o transformam num dos mais formidáveis tesouros genéticos da modernidade. Tem passe-livre para muitos países. Esse tesouro frutifica - e muito bem! - no sertão nordestino, podendo dali ser exportado para muitas nações. ra, com resíduos de soja, milho, algodão, etc. nas fronteiras agropecuárias. O futuro mostra que o gado será um subproduto da agricultura de escala e, então, terá que ter o máximo de produtividade per cápita.

15) E onde fica o Sindi e o Nordeste?
Geraldo Caboclo - Bom! Uma coisa é o resto do país e outra muito diferente é o Nordeste. Não cabe artificialismo no semi-árido, embora possa caber em qualquer outro lugar do Brasil. Assim, o Sindi deve ser tabelado por cima e não por baixo. Não deve haver uma Tabela Mínima para o Sindi, mas sim uma Tabela Máxima, pois o gado muito pesado carrega consigo um fardo muito pesado e o semi-árido não perdoa essas fantasias. O sertanejo precisa de um gado realista que estará na Exposição e que também se sairá bem no cruzamento a campo e não apenas em programas de Transferência de embriões ou coleta de sêmen. O Sindi tem os pés no chão e seu baixo peso, aliado a uma notável conformação de carcaça, precocidade e habilidade materna o transformam num dos mais formidáveis tesouros genéticos da modernidade. Tem passe-livre para muitos países. Esse tesouro frutifica - e muito bem! - no sertão nordestino, podendo dali ser exportado para muitas nações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensamento do mês