28 de jul. de 2015

Núcleo Nordeste de Criadores de Sindi

No dia 18 de Julho, durante o dia D, na Fazenda Carnaúba  em Taperoá, foi fundado oficialmente o Núcleo  Nordeste de Criadores de Sindi.  Na ocasião diversos criadores de Sindi estavam presentes assim como os principais selecionadores nordestinos que fizeram questão de se fazer presentes para prestigiar a iniciativa. Nomes como Dr. Manoel Dantas Villar e seus filhos,  Dr. Paulo Leite e filho, Mario Borba, Pompeu Borba , Pompeu Maroja , Alexandre Brasil  entre outros aplaudiram entusiasmados as palavras de abertura proferidas pelo  ex-presidente da Abcsindi Dr. Paulo Leite  e pelo presidente eleito do núcleo,  o baiano Cezar Mastrolorenzo, ele e seu primo José Caetano formam na Bahia a Bahia Red Sindhi, que introduziu o gado Sindi oficialmente no estado  em 2009.
As ações do núcleo serão voltadas para preservar o gado Sindi rústico e produtivo, aproximando o produtor nordestino à raça que mais se adapta as inóspitas condições do sertão.
Abaixo transcrevemos o discurso de posse.
Senhoras e Senhores, amigos, criadores e autoridades aqui presentes,


LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!!
Quando em 2009 pela primeira vez avistei um rebanho Sindi na estação da EMEPA eu senti algo diferente, fui cativado imediatamente ao ver aquele rebanho vermelho  pastando tranquilamente no brejo de Alagoinha.  Não sabia eu que no fim daquele mesmo dia o Sindi entraria para a minha vida definitivamente.  Não sabia que cinco anos depois eu é que entraria para a vida do Sindi com a missão de divulgar e promover a raça em todo nordeste.
Mas será que a raça milenar vinda do deserto do Paquistão, aprimorada e melhorada durante milênios precisa realmente de que cuidemos para que não  sucumba ao imediatismo mercantilista moderno? Será que uma raça que resistiu aos piores terremotos, secas, guerras, precisa mesmo da nossa ajuda para continuar sobrevivendo? Sim amigos! Quando Felisberto Camargo , em sua viagem épica em 1952, enfrentou todas as diversidades para introduzir o Sindi no Brasil, talvez não imaginasse o tamanho do  benefício que estava fazendo á milhões de brasileiros que vivem no nordeste, jogados à própria sorte e contaminados com as receitas importadas, prontas, que o colonialismo insiste em nos jogar por guela abaixo. A raça Sindi chegou pronta, com dupla aptidão e com extrema rusticidade, é e será o grande norte que guiará todos os rebanhos brasileiros, do leite à carne, todos precisarão das qualidades que só a raça Sindi detém.
Sindiristas nordestinos, não me sinto preparado para a tarefa que me pedem, presidir um grupo que tem em sua composição grandes ícones da seleção do Sindi no nordeste, como Dr. Manoel Dantas Villar, Paulo Roberto de Miranda Leite, Pompeu Borba, Mário Silveira , entre outros, é para mim um desafio que só poderei enfrentar com a ajuda de todos. Não só os grandes selecionadores da raça mas, todos aqueles que de forma direta ou indireta promovem o Sindi, os pesquisadores, técnicos, tratadores e principalmente o produtor, aquele que acorda todo dia antes do sol nascer para tirar o leite , aquele produtor que vive diariamente a agonia das longas estiagens, que sobrevive apesar do mundo inteiro parecer conspirar para o contrário, esse produtor é que vai nos ajudar , pois é dos resultados dele que nosso núcleo sobreviverá e não dos artificialismos do boi de cocheira. Precisamos levar a raça Sindi para junto do produtor rural , onde em cada curral de pau a pique desse Brasil terá ao menos um torurinho vermelho reluzente, gordo e forte, transmitindo não apenas sua genética mas, acima de tudo levando esperança a milhões , levando leite para merenda escolar e proteína animal de baixo custo para a mesa do brasileiro.
Não poderia deixar de mandar um grande abraço ao Padrinho do sindi Baiano, Ricardo Granville, aos amigos, Joaquim e Daniel, Alexandre Brasil , José Otávio Silveira , Francisco Pordeus e  Pompeu Maroja,  todos juntos pelo mesmo ideal de preservar a genética vitoriosa do Sindi a qualquer custo. Não seremos um grupo preocupado apenas com os resultados financeiros mas, juntos trabalhando com a ABCSINDI, a nossa querida associação, temos que olhar para o futuro. O mundo precisa da genética do Sindi, e o Brasil tem hoje potencial para levar a raça aos quatro cantos do planeta.
Prezados amigos, tenho convicção que a jornada que nos espera é dura. Entre uma seca e outra o sertanejo vive e morre, ri e chora mas, sobrevive. Sobrevive e  viverá na esperança que se renova a cada dia. Esperança com os pés no chão , sem ilusões, como disse o saudoso poeta Ariano Suassuna,  “O Otimista é um tolo. O pessimista um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.


Muito obrigado a todos.

2 de mar. de 2014

POR QUE SINDI?



O semiárido brasileiro abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais. Uma área geográfica de 969.589,4 km², delimitada com base em critérios técnicos que consideram a precipitação pluviométrica anual (inferior a 800 mm), o balanço hídrico (precipitações/evapotranspiração) e o risco de secas.

Toda a dinâmica desta imensa região esta subordinada à adversidade do clima. Além do fenômeno da “seca”, é comum chover num mês quase toda a chuva esperada para o ano, ou ainda, chover bem em determinado local e algumas centenas de metros adiante não cair uma gota. A esta “desarrumação” pluviométrica soma-se o elevado potencial de evaporação e transpiração vegetal que, inviabiliza a maioria das lavouras, tornando impraticável a agricultura intensiva (exceção feita à pequena área irrigável).

A atividade pecuária também é afetada pela má distribuição das chuvas. Como acontece em praticamente todo o Brasil, a pecuária do semiárido é fundamentalmente feita a pasto. Noventa por cento do total de animais abatidos são terminados a pasto e nas fases de cria e recria este percentual é próximo a 100%. Inclusive a produção de leite é feita predominantemente a pasto, com tecnologias simples e custos monetários reduzidos. Portanto, embora o ambiente arejado e seco da região seja benéfico aos rebanhos, os longos períodos de déficit hídrico limitam a capacidade de produção forrageira comprometendo a principal vocação das regiões secas que é a pecuária.

Como conviver com esta realidade? Como produzir de forma eficiente e sustentável neste ambiente? Para encontrar esta resposta precisamos considerar que a eficiência econômica dos sistemas de produção a pasto é alcançada com a maximização da produtividade primária (produção do pasto) e, paralelamente, da produção secundária (transformação do pasto em carne, leite e bezerros). Daí a necessidade de buscar:
a - forragens apropriadas ao tipo de solo e clima;
b - técnicas de manejo que propiciem maior produtividade ao pasto e
c - animais adaptados às condições biológicas e econômicas de produção (sistema de criação, tipo de alimentação, ambiente, etc.).
Assim como encontramos na Palma forrageira e nos capins Urochloa, Birdwood, Green Panic e Buffel Grass, alternativas para produzir forragem sob precipitação escassa, em solos rasos e pedregosos, precisamos encontrar animais adaptados ao clima quente e seco, eficientes na conversão do alimento e cuja demanda - por nutrientes e energia - seja possível atender com a limitada biomassa que nossos pastos conseguem produzir. Portanto, animais capazes de responder bem às condições naturais do semiárido.

Embasados na lógica da sustentabilidade e no principio da harmonia entre o animal e seu ambiente, acreditamos que uma das melhores alternativas para a pecuária das regiões mais secas do nordeste brasileiro veio do distrito de Las Bela na província de Baluchistão no Paquistão (Sindi, O Gado Vermelho para os Trópicos - Santos, 2011, pg.25). Uma região semidesértica, com precipitação entre 250 e 300 mm/ano, temperaturas que oscilam entre 2° e 48°C e ventos frequentes de até 54 km/hora. Para compreender porque a raça Sindi, com seus animais de pequeno ou médio porte, representa uma excelente alternativa para a pecuária do semiárido brasileiro, precisamos, antes, entender como os bovinos, de uma maneira geral, “funcionam” em condições de pastejo.

Os animais só atingem seu potencial de produção quando as exigências em proteína, energia, vitaminas e minerais são completamente atendidas. Em regime de pasto, estas exigências deverão ser supridas pelo consumo diário de forragem. O organismo animal determina uma ordem de prioridades para o uso do alimento. A “energia” do alimento é utilizada primeiro para mantença (manutenção do peso, respiração, circulação, trabalho muscular, etc.) e só depois para produção (crescimento, reprodução, engorda e lactação). Portanto, só haverá produção, quando o suprimento alimentar for superior às necessidades de mantença do animal.

Bovinos SRD, que não estão conseguindo 
ingerir energia suficiente para suas 
necessidades de mantença.
Por sua vez, a “colheita” da forragem feita diretamente pelos animais (pastejo) é um “trabalho” e, como tal, consome energia. Quando é grande a disponibilidade de forragem por área e por animal, este pode comer à “boca cheia” e selecionar o que comer em termos de partes da planta e mesmo de espécies entre plantas. Já em pastagens muito baixas ou pouco densas o consumo de forragem fica limitado. Nestas condições, mesmo que o animal tenha uma grande área a sua disposição, é comum ele utilizar toda a “jornada de trabalho” (pastejo) sem conseguir colher forragem suficiente.

À medida que progride a estação seca os animais aumentam o tempo de pastejo e, mesmo assim, o consumo diário de forragem diminui, já que o aumento do tempo não consegue compensar a redução em densidade e qualidade do pasto. Podemos simplificar dizendo que o animal gasta cada vez mais tempo e energia, para comer cada vez menos, em um pasto cada vez pior.

Nestas condições a suplementação com “misturas múltiplas” e “proteinados” pouco ou nada resolvem, já que, não são fatores nutricionais (digestibilidade, proteína bruta, teores de minerais, etc.) que estão limitando o consumo e o desempenho animal. É, na verdade, a “estrutura física” do pasto (massa, densidade, altura, relação haste/folha...) que esta limitando a ingestão de forragem. Os animais, simplesmente, não estão conseguindo ingerir energia suficiente para suas necessidades de mantença e produção.

A seleção natural (do ambiente) e dirigida (por criadores, pastores e melhoristas) realizada ao longo de muitas gerações conferiu á raça Sindi um genótipo perfeitamente ajustado às condições de pastejo de ambientes quentes e secos. Por isso ela é eficiente na conversão de forragem fibrosa e é precoce, tanto na reprodução como no crescimento e terminação (acabamento de carcaça). O menor porte da raça é consequência de um processo natural de adaptação, que se verifica tanto em animais como vegetais de regiões semiáridas, necessário para que possam sobreviver e reproduzir apesar da escassez de água e alimentos. A própria caatinga nordestina com seus pequenos animais silvestres e vegetação característica é um exemplo deste processo de adaptação.

De fato, o menor porte do Sindi, aliado à sua perfeita adaptação ao clima, tornam mínimo seu dispêndio de energia para mantença, possibilitando que, mesmo em pastagens pobres, “sobre” energia para produção de leite, carne e bezerros. Não obstante, sua menor estatura, despertou e ainda desperta resistência de uma parcela considerável de criadores. Preconceito que vem sendo paulatinamente superado pelas qualidades da raça, constatadas por criadores, técnicos e instituições de pesquisa. A Embrapa Gado de Leite, por exemplo, exalta sua produtividade, considerando-a: “pelo melhor aproveitamento por área, menor consumo absoluto de alimentos, eficiência reprodutiva [...] e excelente adaptabilidade às condições do semiárido, [...] uma excelente opção para as regiões adversas de manejo do Nordeste brasileiro, [...] como raça pura e em cruzamento, principalmente, para pequenas explorações leiteiras  típicas da agricultura familiar”.

Também como

4 de fev. de 2014

SETE TESES SOBRE O MUNDO RURAL BRASILEIRO


Autores: Antônio Márcio Buainain é economista, doutor e pesquisador; Eliseu Alves é doutor e pesquisador; José Maria da Silveira é engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador; Zander Navarro é sociólogo, doutor e pesquisador. 
Introdução

Um artigo e uma coletânea escritos na década de 1960, respectivamente, por um sociólogo mexicano e um economista brasileiro, ofereceram à literatura sobre “o desenvolvimento” um conjunto de argumentos inovadores, ambos curiosamente coincidindo sobre o número sete, o qual englobaria os focos principais acerca dos temas que então os autores adiantaram para o debate público. O artigo
Rodolfo Stavenhagen
“Siete tesis equivocadas sobre América Latina”, de Rodolfo Stavenhagen, foi publicado no diário mexicano El Día, em junho de 1965. Já o economista Antônio Barros de Castro lançou seu livro Sete ensaios sobre a economia brasileira em 1969, publicação que representou uma criativa proposta analítica, introduzindo uma visão que, na ocasião, já prenunciava o futuro polemista e notável interpretador dos processos econômicos do país [1]. Em especial, foram autores que confrontaram as narrativas dominantes e a ortodoxia então prevalecentes. Já na abertura do artigo, uma advertência de Stavenhagen é ilustrativa sobre os motivos que animam o presente artigo, em face da similaridade com parte da bibliografia brasileira que atualmente discute o desenvolvimento da agricultura [2]. Na ocasião, alertava o sociólogo mexicano que: 
[...] En la literatura abundante que se ha producido en los últimos años sobre los problemas del desarrollo y del subdesarrollo económico y social se encuentram tesis y afirmaciones equivocadas, erróneas y ambiguas. A pesar de ello, muchas de estas tesis son aceptadas como moneda corriente [...] Pese a que los hechos las desmienten, y a que diversos estudios en años recientes comprueban su falsedad, o cuando menos hacen dudar de su veracidade, dichas tesis adquieren fuerza y a veces carácter de dogma” (STAVENHAGEN, 1965).

Muitos elos analíticos poderiam unir a curta contribuição de Stavenhagen a alguns dos argumentos de Barros de Castro nos Sete ensaios, sendo o principal a refutação da existência de “sociedades duais” na América Latina (o notório“dualismo cepalino”) e a visão do economista sobre “as funções da agricultura” no processo de expansão capitalista
Antônio Barros de Castro
brasileiro — discutidas no segundo ensaio do livro. Para as teses então dominantes, os ambientes rurais representariam o epítome do atraso econômico e das práticas sociais e políticas conservadoras, materializando bloqueios estruturais à expansão de uma sociedade moderna. Castro, por seu turno, insistiu que na história nacional a agricultura não se constituíra em freio à industrialização, ainda que seu desenvolvimento não tivesse seguido uma via similar à dos países do capitalismo avançado. E advertiu, em premonitória observação de grande relevância: sem a democratização da propriedade da terra, as regiões rurais exportavam a desigualdade social do campo para a cidade, através de processos migratórios das famílias mais pobres. Adicionalmente, sua análise adiantava uma interpretação que os fatos posteriores comprovaram à exaustão, conforme a síntese de dois estudiosos de sua obra:
[...] O “Ensaio 2”, do livro Sete Ensaios..., é uma das mais instigantes interpretações sobre a relação de agricultura e indústria escrita no Brasil [...] Castro argumentou que a agricultura brasileira contribuiu com a industrialização por meio da geração e permanente ampliação de excedente de alimentos e matérias-primas, da liberação da mão de obra e da transferência de capitais. O autor mostrou que, apesar do crescimento da população e da renda brasileiras, o país não foi pressionado a aumentar significativamente suas importações de alimentos [...], não foi obrigado a reduzir a expansão de suas exportações agrícolas pela pressão da demanda doméstica de terras para a produção de alimentos e, ainda, a agricultura brasileira aumentou a oferta de alimentos liberando mão de obra para suprir a demanda de trabalhadores no setor urbano da economia [...] a contribuição do setor foi importante ao permitir que o mercado urbano, que surgia da substituição das importações e não do aumento da demanda das regiões agrícolas, se expandisse, sem que fosse estrangulado por problemas gerados na oferta de alimentos ou na incapacidade da agricultura de liberar mão de obra para as cidades ou capitais” (PRADO e BASTIAN, 2011, p. 245-246).


Essas observações iniciais, representativas de diminuta parte de um gigantesco debate sobre o desenvolvimento ocorrido meio século atrás, inspiram este artigo por várias razões [3]. Primeiro, porque assistimos hoje, tal como aqueles autores, ao distanciamento entre os processos concretos que demandam explicação, de um lado, e parte significativa das interpretações e da literatura, de outro lado. Trata-se de um hiato entre “teoria e realidade” que contribui para a persistência das “afirmações equivocadas, errôneas e ambíguas” (Stavenhagen), as quais poderiam ter tido alguma validade para explicar realidades que já foram transformadas, mas atualmente embaralham os debates sobre o mundo rural brasileiro.
Em segundo lugar, aqueles comentários do passado permitem destacar o impressionante contraste entre os contextos produtivos da época e os atuais. Os dois cientistas sociais citados realçaram, sobretudo, o atraso social, o primitivismo tecnológico e produtivo dos setores agropecuários, a natureza politicamente reacionária da vida no campo e a pobreza então disseminada. Meio século depois, o contraste, pelo menos em relação ao caso brasileiro, não poderia ser mais abissal, particularmente se concretizadas as projeções de médio prazo da produção agropecuária (BRASIL, 2013). As diferenças são admiráveis. A agricultura brasileira, tradicionalmente entendida como um binômio que articulava um enclave exportador e um setor de produção de alimentos baseado em pequenos produtores de baixa produtividade, destaca-se atualmente como um dos setores mais


dinâmicos da economia. É a base de cadeias produtivas que, no conjunto, produzem um quarto do PIB nacional e aproximadamente um quinto do emprego total, mas, sobretudo, são extraordinários vetores do desenvolvimento social do interior do país, tanto em territórios da fronteira como na reestruturação virtuosa de áreas de ocupação agrícola antigas e estagnadas. Tome-se, por exemplo, a produção da safra 2012/13, que embora pontual, oferece uma ideia da riqueza gerada e da importância para a economia brasileira: estima-se que o valor bruto da produção dos 20 principais produtos é de 305 bilhões de reais, soma que parece inacreditável. Se apenas uma parte do VBP previsto, por exemplo, for cotejada com o lucro líquido total das vinte maiores empresas brasileiras (públicas e privadas), obtido em 2012, somente a riqueza prevista na colheita de dois produtos (milho e soja) deverá ser quase 50% maior do que o total do lucro amealhado por aquelas vinte empresas que são as mais rentáveis do país (146 bilhões e 104 bilhões de reais, respectivamente).
O texto pretende arrolar alguns focos de análise sobre a agricultura (ou, lato sensu, sobre “o mundo rural brasileiro”) na forma de teses, mantendo assim a expectativa de estimular o debate sobre o estado atual das atividades agropecuárias e alguns aspectos da vida social rural, além de apontar algumas de suas tendências futuras. Há uma seção inicial, na qual três processos sociais são explicitados. Sem a sua aceitação, as sete teses, apresentadas sinteticamente nas seções seguintes, se tornariam ilógicas ou inconsistentes. São premissas que definem o contexto de mudanças do último meio século de transformações, semeando os pilares que anunciariam um novo período no desenvolvimento das atividades agropecuárias no Brasil.

As sete teses e seu contexto contemporâneo

É preciso, inicialmente, situar historicamente o debate proposto em relação a três dimensões
chave: a temporalidade do processo (quando), os atores e grupos sociais (quem) e os catalisadores e oportunidades (como) que concretizaram as transformações referidas pelo conjunto das teses apresentadas nas páginas seguintes.
O primeiro elemento de contextualização se refere ao ponto de partida do processo de desenvolvimento agrário que fomentou a formação de uma economia agrícola orientada, de fato, por um modo de funcionamento essencialmente capitalista. Quando teve início o processo, a que período histórico se refere? As perguntas poderiam gerar incontáveis debates (ver, por exemplo, Kageyama, 1990), mas, nesse texto, tal origem obedece a uma datação relativamente precisa. Não obstante marcantes histórias agrárias e agrícolas setoriais e regionais, especialmente o caso do café em São Paulo (mas também o arroz no Rio Grande do Sul, a cana-de-açúcar no Nordeste, o cacau no sul da Bahia, entre outras situações regionais), as raízes mais promissoras da moderna agricultura brasileira nasceram nos anos da década de 1960, com a instituição do sistema de crédito rural e a implantação de um modelo de modernização da agricultura largamente inspirado no caso norte-americano e fundado em um tripé indissolúvel: crédito rural subsidiado, extensão rural e pesquisa agrícola por instituições públicas. Ainda que tenha sido um processo discriminatório quanto às regiões, aos tipos de cultivos favorecidos e aos beneficiários, aquele esforço inicial assentou as condições tanto para a conformação da agricultura moderna tal como a conhecemos hoje como os debates em torno do processo de modernização cimentaram as bases da compreensão hoje dominante — com os seus acertos e equívocos — sobre a agricultura do país.

  

Uma segunda pergunta que situa o debate se refere a quem, em especial, ativou tal processo de mudança. Que grupos de

4 de nov. de 2013

ADAPTABILIDADE E BEM-ESTAR EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO




por Bonifácio
 Benicio de Souza

Dr. Bonifacio Benicio de Souza: Graduação em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba (1982), mestrado em Produção Animal pela Universidade Federal da Paraíba (1994) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (2000), Pós-Doutorado em Ambiência e Zootecnia de Precisão na Universidade de São Paulo - USP (2008).
1. Introdução

As preocupações com vistas ao suprimento de alimentos e produtos de origem animal em quantidade e qualidade, suficientes para atender a demanda da população humana, sempre em crescimento, tem provocado os diversos setores no sentido de aumentar a produtividade animal. Seja através da seleção de raças mais produtivas, sistemas de produção que permitam uma maior produção por área, melhoria nutricional e de ambiência, visando exclusivamente o aumento da produtividade, muitas vezes sem a preocupação com o bem-estar dos animais. 
Adaptabilidade e bem estar animal.
Atualmente dois aspectos importantes estão em discussão a nível mundial: o aquecimento global, que como consequências está provocando mudanças acentuadas nos climas das diferentes regiões do planeta, assim exigindo um melhor conhecimento das espécies e raças que apresentem potencial genético com maior capacidade de adaptabilidade, sendo capazes de sobreviver, produzir e reproduzir-se em condições adversas de clima, principalmente nos ambientes tropicais e intertropicais; outro, diz respeito ao bem estar-animal.

Determinadas práticas utilizadas no sentido de aumentar a produtividade animal, mas que não correspondem à manutenção do bem-estar para os animais vêm sendo combatidas, principalmente nos países europeus. É necessário que sejam atendidas as exigências previstas nos direitos dos animais, como a liberdade psicológica (de não estar exposto a medo, ansiedade ou estresse), liberdade comportamental (de expressar seu comportamento normal), liberdade fisiológica (de não sentir fome ou sede), liberdade sanitária (de não estar exposto a doenças, injúrias ou dor) e liberdade ambiental (de viver em ambientes adequados, com conforto) (NÄÄS, 2004).

Não estar exposto a doenças, injúrias ou dor.
A produção animal nos trópicos é limitada principalmente pelo o estresse calórico e há o agravante de que as raças selecionadas para maior produção, no geral, são provenientes de países de clima temperado, o que não permite a estas expressar o máximo da sua capacidade produtiva. Desta forma, torna-se imprescindível o conhecimento da capacidade de adaptação das espécies e raças exploradas no Brasil, bem como a determinação dos sistemas de criação e práticas de manejo que permitam a produção pecuária de forma sustentável, sem prejudicar o bem-estar dos animais.

Este texto procura discutir os aspectos da adaptabilidade e bem-estar dos animais de produção, levando em consideração a importância que estes temas representam na atualidade, para escolha, seleção e preservação de espécies e raças que apresentem maior capacidade genética de adaptabilidade a ambientes de temperatura elevada e outras adversidades climáticas, que poderão surgir com o evidente aquecimento global.

2. Adaptabilidade dos animais de produção ao clima tropical

Tolerância e adaptação dos animais 
são determinados pelas medidas 
fisiológicas da respiração, batimento 
cardíaco e temperatura corporal.
A adaptabilidade pode ser medida ou avaliada pela habilidade que tem o animal em se ajustar às condições médias ambientais de climas adversos, com mínima perda no desempenho e conservando alta taxa reprodutiva, resistência às doenças e baixo índice de mortalidade (HAFEZ, 1973). De acordo com Baeta & Souza (1997) o conceito de adaptação a um determinado ambiente está relacionado com mudanças estruturais, funcionais ou comportamentais observadas no animal, objetivando a sobrevivência, reprodução e produção em condições extremas ou adversas e classificam da seguinte forma:

• Adaptação biológica: refere-se às características morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e de comportamento do animal, que permitem o bem-estar e a sobrevivência em um ambiente específico.

• Adaptação genética: refere-se às características hereditárias do animal, que favorecem a sua sobrevivência em um ambiente específico e podem promover mudanças por muitas gerações (seleção natural) ou favorecer a aquisição de características genéticas específicas (seleção artificial).

• Adaptação fisiológica: é o processo de ajustamento do próprio animal a outro ambiente.

• Aclimatização: refere-se a mudanças adaptativas (normalmente produzidas em câmaras climáticas) em resposta a uma única variável climática.

Mesmo considerando as espécies mais
 tolerantes ao calor, como é o caso dos 
caprinos que é tida como menos susceptível 
ao estresse ambiental, em temperaturas 
críticas reduzem a sua eficiência 
bioenergética prejudicando o 
resultado de sua produtividade.
Para Abi Saab e Sleiman (1995), os critérios de tolerância e adaptação dos animais são determinados pelas medidas fisiológicas da respiração, batimento cardíaco e temperatura corporal. A adaptação fisiológica, dada principalmente por meio das alterações do equilíbrio térmico, e a adaptabilidade de um rendimento, que descreve as modificações desse rendimento quando o animal é submetido à altas temperaturas, são para MacDowell (1989), as duas classes principais de avaliação da adequação a ambientes quentes. A temperatura retal e a freqüência respiratória são para Bianca e Kunz (1978), as melhores referências fisiológicas para estimar a tolerância dos animais ao calor. Hopkins et al. (1978) afirmam que valores de temperatura retal próximos à temperatura normal da espécie podem ser tomados como índice de adaptabilidade. Animais que apresentam menor aumento na temperatura retal e menor freqüência respiratória são considerados mais tolerantes ao calor (BACCARI JR, 1986). De acordo com Siqueira et al. (1993), a temperatura retal, a freqüência respiratória e o nível de sudação cumprem um importante papel na termorregulação dos ovinos. Segundo Baccari Jr. (1990) a maior parte das avaliações de adaptabilidade dos animais aos ambientes quentes estão incluídas em duas classes: (adaptabilidade fisiológica) que descreve a tolerância do animal em um ambiente quente mediante, principalmente modificações no seu equilíbrio térmico, e (adaptabilidade de rendimento) que descreve as modificações da produtividade animal experimentadas em um ambiente quente. De acordo McDowell (1989) a adaptação fisiológica é determinada principalmente por alterações do equilíbrio térmico e da adaptabilidade que descreve determinadas modificações no desempenho quando o animal é submetido a altas temperaturas.
Boer

Mesmo considerando as espécies mais tolerantes ao calor, como é o caso dos caprinos que é tida como menos susceptível ao estresse ambiental, em temperaturas críticas reduzem a sua eficiência bioenergética prejudicando o resultado de sua produtividade (LU, 1989). Por isso, o conhecimento prévio do desempenho de raças exóticas introduzidas em ambientes diferentes ao de sua origem torna-se indispensável. Neiva et al., (2004) ao avaliarem o efeito do estresse climático sobre os parâmetros produtivos e fisiológicos de ovinos Santa Inês, mantidos em confinamento em ambiente de sombra e sol, com diferentes níveis de volumoso e concentrado na dieta, observaram que o consumo de matéria seca foi superior para os animais mantidos à sombra independente da quantidade de concentrado, os quais apresentaram maior ganho de peso. 
Anglo-Nubiana
Com relação aos parâmetros fisiológicos foi observado que a elevação da temperatura ambiente no turno da tarde exerceu influência sobre a temperatura retal e freqüência respiratória. Portanto, mesmo no caso de animais de regiões tropicais as interações entre o tipo de alimento, o consumo, o ambiente e parâmetros fisiológicos devem ser determinados a fim de que o desempenho dos animais não seja prejudicado. Santos et al., (2005) observaram que independente da raça (exótica ou nativa) o turno influenciou sobre os parâmetros fisiológicos. Com relação à temperatura retal

10 de set. de 2013

Sucesso da Bahia Red Sindhi na Expofeira 2013


O stand da BRS foi muito visitado
 por criadores e autoridades.
Em mais um ano de participação na Exposição Agropecuária de Feira de Santana a Bahia Red Sindhi despertou grande interesse dos produtores rurais em relação à raça Sindi. Este ano a BRS participou com tourinhos provenientes de genética paquistanesa nascidos na Bahia.
     O stand da BRS foi muito visitado por produtores que desejavam conhecer a raça e por criadores que já a conheciam e vieram para adquirir animais. Vale destacar também a presença de autoridades  e profissionais ligados à agropecuária  que constataram a qualidade dos animais expostos.
José Caetano, Aurino Soares de Mello 
Junior e João Martins da Silva Junior
     O Sindi também foi notícia nos telejornais e rádios locais que divulgavam o evento, sempre destacando a rusticidade e a dupla aptidão dos animais, apropriados para enfrentar a seca.
    Os tourinhos expostos foram comercializados pela BRS e agora já pintam de vermelho outros municípios baianos, onde sem dúvida vão multiplicar a excelente genética paquistanesa que é a marca registrada do trabalho da BRS.
   A BRS agradece a todos que colaboraram para a qualidade do evento entre eles, a Prefeitura Municipal de Feira de Santana, o Sindicato dos Produtores Rurais de Feira de Santana, e o Núcleo do Guzerá  através do seu presidente Dr. Benício Cavalcante.

Cezar Mastrolorenzo, secretário 
da ABCSindi, satisfeito com o evento.
Professor Jorge Carlos Dias de 
Souza da UFRJ julgou os animais

Arquiteto Raimundo Pires (centro), um dos 
mais novos e entusiasmados sindiristas baianos.


Consequência do nosso trabalho de divulgação durante a Expofeira.

26 de jul. de 2013

Carta ao povo nordestino.



É com profunda tristeza que acompanho nos últimos anos esta que é a maior seca de todos os tempos.  Por onde andei presenciei desolação, morte, quebradeira, falência, êxodo rural, desespero e sofrimento de um povo que já carrega a cruz do descaso imposta pela falta de conhecimento de sua própria situação enquanto cidadão. Péssimos serviços oferecidos nas áreas de educação, saúde e segurança pública. E um eficiente sistema de cobrança de impostos, que arrecada os mesmos valores em percentuais de outras regiões que são muito mais ricas e favorecidas pelo poder público.
Por onde andei presenciei desolação, 
morte, quebradeira, falência, 
êxodo rural, desespero e sofrimento 
de um povo que já carrega a cruz do 
descaso imposta pela falta de
conhecimento de sua própria 
situação enquanto cidadão.
Esquecidos no descaso da terra do sol, nós nordestinos aprendemos desde cedo quem são os senhores engravatados que, no litoral, sentados em confortáveis poltronas de salas climatizadas, regem nossos destinos. Muitas vezes vendem nossa liberdade nos transformando em farrapos, enquanto engordam suas contas bancárias. Como disse o nosso querido Euclides da  Cunha: “O martírio do homem, ali, é o reflexo de tortura maior, mais ampla, abrangendo a economia geral da vida. Nasce do martírio secular da terra”.
Comparo a atual situação dos produtores nordestinos com a situação dos trabalhadores rurais que sofrem com o trabalho escravo. No Trabalho escravo o dono da fazenda utiliza o recurso de manter os trabalhadores sempre endividados, para isso são obrigados a comprar os víveres e ferramentas na fazenda e, como sempre ganham menos do que devem, não conseguem quitar suas dívidas, sendo obrigados, por toda a vida, a trabalhar em troca de comida e mais nada. Os produtores do nordeste vivem na mesma armadilha, contraem empréstimos nos bancos oficiais para comprar as ferramentas de trabalho e, quando vem a seca, são obrigados a trabalhar em troca de comida sob o chicote do feitor pelo medo de terem suas terras leiloadas, sem sequer ter o direito de defesa.
“O martírio do homem, ali, é o reflexo de 
tortura maior, mais ampla, abrangendo a 
economia geral da vida. Nasce 
do martírio secular da terra”.
Esta sórdida política do endividamento e prorrogação é muito utilizada pelos agiotas que preferem não receber o principal da dívida, escravizando, assim ,com os juros, aqueles pobres coitados que tomaram dinheiro em suas mãos. É muito mais conveniente para o governo prorrogar as dívidas do que resolver a questão do endividamento. Se o problema do endividamento dos produtores rurais do nordeste for resolvido, como o governo continuará a controlar as lideranças regionais e a bancada ruralista no congresso? Qual o poder de barganha teria o governo na câmara ou no senado se os produtores rurais nordestinos não lhes devessem obediência? Será que no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso   a sua reeleição seria aprovada pelo congresso sem o apoio da endividada classe ruralista? Será que o PT, acostumado a episódios como o mensalão , com um governo de um despotismo sem limites, resolveria por definitivo o histórico endividamento dos produtores nordestinos, sabendo que poderiam perder o antigo e eficiente “beija mãos” ? Lógico que não.  Não há o menor interesse em acabar com o endividamento do setor rural do nordeste, que existe há décadas, porque o governo precisa ter agrilhoadas as principais lideranças políticas da região.
Não há o menor interesse em acabar com 
o endividamento do setor rural do nordeste, 
que existe há décadas, porque o governo 
precisa ter agrilhoadas as principais 
lideranças políticas da região.
O que assusta em todo este plano maquiavélico é que ele envolve seres humanos que são escravizados em pleno século XXI sem o menor pudor. Quantos pais de família já se mataram por não conseguirem pagar suas dívidas rurais? Quantos morreram de enfarto ou derrame ao se verem envoltos nesta satânica teia financeira de propósitos escusos?  Não seria
mais fácil para o governo  criar políticas públicas diferenciadas para o nordeste que  funcionassem? Será que esta triste mancha em nosso país se perpetuará para as próximas gerações? Vamos ficar de braços cruzados esperando as migalhas e esmolas  que nos são dadas, e vendo nossos filhos trilharem os mesmos caminhos?
Irmãos nordestinos! Não devemos conhecer o medo, e sim o respeito. Acredito que um homem ao menos tenha que honrar as calças que o seu pai lhe deu e, em nome de nossos antepassados, não podemos envergonhar os nossos descendentes. Chegou a hora de não aceitarmos mais as sobras oferecidas por nossos algozes! Exigimos uma política agrícola totalmente diferenciada e exclusiva para o sertão! Vamos as ruas, vamos ao congresso nacional dar um basta a esta escravidão financeira que insistem em nos impor. Lembremos de nossos irmãos sertanejos que em Canudos mostraram ao governo  federal de qual material somos feitos. Terra, honra e sangue.
“Canudos não se rendeu. Exemplo único
 em toda a história. Resistiu até o 
esgotamento completo".
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história. Resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” (Euclides da Cunha)
Cezar Mastrolorenzo
Produtor Rural do Nordeste Brasileiro.
Secretário da Associação Brasileira dos Criadores de Sindi.

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